sexta-feira, 29 de abril de 2011

E agora?



Desde que Miguel nasceu, eu e o namorado tínhamos em mente um propósito muito firme de que não traríamos o bebê pro nosso quarto e que não dormiríamos no dele. Por mais trabalho que desse, ele seria acostumado, desde o início, a dormir sozinho no quartinho dele. Assim fizemos.

A ajuda da babá eletrônica com monitor foi fundamental porque muitas vezes escutávamos o barulhinho dele e quando olhávamos pra telinha ele estava apenas se ajeitando, de olhos fechados, ou ranhetando. Meu filho é um bebê ranhetador demais!! Se não fosse a babá teríamos levantado da cama ainda mais vezes além das que levantamos para percorrer o corredor que separa o nosso quarto do quarto do Miguel.

Esse tempo todo ele dormiu muito bem, obrigada, sozinho na cama dele. Até chegar o verão desse ano. Como o verão foi de matar, decidimos que, como Miguel já está acostumado em seu quarto e já está grandinho, poderíamos dormir algumas noites no quarto dele para economizar a energia do ar condicionado do nosso quarto. Acontece que passamos a dormir lá, deitados no colchonete no quarto dele e ele em sua caminha, não apenas algumas noites. Dormimos o verão inteiro!! O calor não dava trégua e no calor eu não durmo de jeito nenhum!

Enfim, essa semana o tempo deu uma esfriada e não ajeitamos os colchonetes no quarto do Guel, dormimos em nossa cama mesmo. Quer dizer, tentamos dormir... Na primeira noite, Miguel levantou às 2 da manhã e saiu pela casa a  nossa procura. Foi até a sala e a cozinha e como não nos encontrou, começou a chorar. Dei colinho, o colocamos de volta na cama só que, depois disso, ele passou a acordar de meia em meia hora pra ver se a gente estava no quarto com ele. Constatando que não, voltava a chorar. Às 4 da manhã, sem aguentar mais, decidi me jogar no chão e falei pro Hugo se jogar lá também - sem o marido ao lado, já é demais, né? - e Miguel se acalmou.

Tentamos de novo na noite seguinte, e, por incrível que pareça, Miguel que não adormecia mais no meu colo há quase 1 ano, ia direto pra caminha dele pra dormir, pediu colo. Ok, fiquei com ele no meu colo até ele pedir pra ir pra cama e dormir. Uma da manhã, o tormento começou novamente. Dessa vez, ele já começou a chorar antes mesmo de nos procurar fora do quarto.

De ontem pra hoje, além de ele chorar quando acordava e não nos via, toda vez que estava quase caindo no sono, abria os olhos pra verificar se ainda estávamos lá. Ai. Canseira. Vencida pelo meu cansaço, arrumei nossa cama no quarto dele e dormimos. Acredita que o Miguel acordou várias vezes pra verificar se estávamos lá? Chamou "mamãe" e "papai" de olhos fechados em vários momentos  pra que a gente respondesse "estou aqui, filho".

Resumo da ópera: não sei o que fazer para voltar a dormir no meu quarto. Meu filho nem sonha com a possibilidade de dormir lá, em compensação não quer que a gente deixe de dormir no dele. E agora?  Conselho para as futuras mamães: nada de economizar dinheiro com a conta de luz!!!! Ligue o ar condicionado dos dois quartos antes que seja tarde. Será que joguei fora o esforço de tanto tempo? Só quem tem bebê de meses em casa sabe quantas vezes durante a noite a gente levanta pra socorrer esses pequeninhos...  E eu resisti tão bravamente pra colocar tudo a perder agora? Será que estraguei tudo?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Língua fala...



A gente tem filhos por vários motivos: tem vontade de ser mãe, ama crianças, quer experimentar o sentido de construir uma família e por aí vai. Tenho certeza de que um dos  motivos de a gente ter filhos é que é o caminho mais rápido pra entender milhões de coisas da nossa vida e de quem nos cerca, é um exercício de tolerância e aceitação de diferenças que nem que eu vivesse mais uns 20 anos sem o Miguelito eu compreenderia.

Quanta coisa a gente fala, quanta coisa a gente critica, até se deparar com as atitudes do próprio filho ou com nossas próprias atitudes no que tange educação e até os fatos mais corriqueiros do dia-a-dia. Hoje, quando leio livros cheios de teorias de como fazer isso ou aquilo ou quando assisto a programas de televisão que ensinam desde estabelecer rotinas ou ensinar o filho a adormecer sozinho no quarto, fico pensando que tudo, na prática, é muito diferente. Por mais que eu me esforce, muitas coisas não consigo fazer seguindo os manuais.

Meu filho vai fazer dois anos e mama 1 litro de suco por noite! Eu sei, eu sei, os entendidos de plantão vão dizer que não pode, estraga a dentição e tal mas eu não sei o que fazer!! O garoto simplesmente não quer mais tomar leite e pede suco de olhos fechados. Já sei que vão dizer que a culpa é minha, que fui eu que acostumei mal, mãe é sempre culpada! Mas outro dia conversando com minha irmã que tem duas meninas, ela me disse para eu pensar no caso dela: duas meninas criadas da mesma forma pelos mesmos pais. A primeira mamou até os 3 anos, mais ou menos, 1 litro de leite toda noite. A mais nova, dorme direto desde os 3 meses de idade. Enfim, isso me leva a crer que muita coisa é loteria sim.

A gente precisa ter muito cuidado com a língua. Eu falava tanto de uma amiga, a Dedeca, que come como uma desesperada. Dizia (e digo...) que ela deve ter passado fome em outra vida porque ela pode estar comendo a coisa mais gostosa do mundo, se chegar alguém perto dela comendo algo diferente e igualmente gostoso, ela vai ficar urubuzando a refeição alheia com aqueles olhos famintos. Credo! Ela come que nem homem, quem conhece sabe que não estou exagerando. Mas, enfim, falo tanto e fui ter um filho que parece filho dela!!  Miguel não pode ver ninguém comendo nada, gente. Está a mesa com a família comendo bolo, se me vê comendo pão, pede o pão. Se vê a prima comendo biscoito, pede o biscoito e por aí vai. Castigo pra quem falou demais...

Eu falava muito da filha mais nova da minha irmã, minha afilhada linda Rafaela. Dizia que era olhuda porque mesmo comendo um salgadinho, por exemplo, se preocupava em segurar outro com a outra mão. Adivinha quem faz exatamente a mesma coisa? Miguel.

Tenho outra amiga, a Cacau, que adora usar os tais dos Crocs. Virgem Maria, não consigo entender uma mulher sair a rua usando esses sapatos. Minha sogra comprou o primeiro par de crocs pro Miguel e quer saber o que aconteceu? Eu, euzinha, já comprei mais dois pares desse sapatinho infame porque, simplesmente, são os favoritos do meu bebezão. Tenho que convencê-lo a  usar tênis ou sandália dependendo da roupa porque o moleque abre o armário e pega, invariavelmente, os crocs quando vamos sair. E quem entende?

Como diz minha sábia mãe, "língua fala, ... paga". Sei que estou apenas no princípio, ainda tenho muito o que pagar. Medo.

sábado, 16 de abril de 2011

O que eu não entendo

Nunca consegui digerir coisas que minha compreensão não alcançava. Pra mim, sempre foi muito difícil. Sei que a vida ensina e a espiritualidade faz a gente ser mais resignado e entender que acima de nós existe algo muito maior e que nada nesse mundo acontece sem ter um motivo. Entretanto, por mais que eu tenha fé muitas vezes acho certas coisas inexplicáveis.

Quando estava na escola e até mesmo na faculdade, quando faltava a alguma aula e precisava copiar a matéria de algum colega, eu nunca conseguia simplesmente copiar a matéria se antes eu não lesse e entedesse do que se tratava a aula. Simplesmente não conseguia, precisa entender. Acho que desde nova eu precisava parar um pouquinho antes, racionalizar e, então, a cópia saía bem mais rápido. Apesar de ouvir muito meu coração, tentar atender minhas intuições, deixar o caminho aberto para que meus guias espirituais ou anjos de guarda ou sinais de Deus, como queiramos chamar, falem comigo, gosto de procurar entender meus atos, meu comportamento de uma forma racional e faço isso com os outros também, tentando entender porque uma pessoa agiu dessa ou daquela maneira.

Sinceramente, nesses últimos dias está sendo bem difícil fazer isso. Desde que aquele louco entrou na escola e matou crianças do nada, em nome sabe-se lá de quê, estou com um certo aperto no coração porque estou de cara com meu antigo problema: o de não conseguir entender. Não entendo isso, não entendo também pais que sempre quiseram ter filhos e lutaram por uma inseminação sabendo que sempre há a chance de terem dois, três ou até quatro bebês, desistirem, depois de olharem pra carinha deles, de levar os três pra casa. O que é isso? Eu não sei. Essa semana dois bebês recém-nascidos foram achados mortos em uma lata de lixo na rua. Como é que pode?

Fico com uma sensação de que está tudo errado, de que não estou entendendo nada e de que não tenho a menor noção de pra onde essa nossa raça humana está indo. E isso é desesperador, principalmente depois que a gente tem filho, depois que a gente resolveu colocar mais um serzinho nesse mundo louco. Por um momento penso que, assim como Renato Russo, "quero me encontrar, mas não sei onde estou. Vem comigo procurar algum lugar mais calmo, longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita. Tenho quase certeza que eu não sou daqui..."

Depois, minha fé me lembra de que se estou aqui é porque mereço estar. Humildemente, aceito que aqui é o meu lugar e que devo procurar viver da melhor forma possível e que posso eu amar e tratar as pessoas da forma como eu gostaria de ser tratada e que, sim, não entendo milhões de coisas, mas que há de ter alguma explicação pra tanta loucura. Há de ter. Eu é que não entendo. Ainda não entendo. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Zoológico







Esse final de semana ficamos sem a ajudante para o domingo e logo comecei a pensar no que faríamos com o Miguel nesse dia. Parece coisa de gente louca, mas sem ficar brincando com o Miguel o tempo todo, correndo que nem louca de cá pra lá, jogando bola ou brincadeiras afins, o domingo vira uma loucura. Ou será loucura andar atrás dele o tempo todo? Sei lá. A essa altura já não sei de mais nada... Só sei que meu filho é rueiro pra caramba, adora "assiáááá" como ele mesmo diz e é só falar as palavrinhas mágicas "rua", "carro" ou "passear" que o garoto sai correndo pro quarto procurando a roupa, segurando os sapatos (normalmente agarra os Crocs) e senta pra tentar calçá-los. Enfim, eu e Hugo precisamos pensar sempre em um jeito de gastar a energia do moleque e ela parece interminável.

Primeiro veio a idéia de irmos até a Fazendinha, mas como choveu no sábado concluí que além de aguentar cheiro de bosta de vaca e cavalos, ainda teria que ficar com os pés sujos de lama e acabei deixando essa idéia para outro dia. Aí pensei no jardim zoológico. E lá fomos nós. Miguel gostou muito. Na verdade, Miguel gosta de qualquer lugar onde possa correr, pegar uns matinhos no chão, olhar coisas novas. Gostou muito dos "cacacos" (macacos...) e chamou urso, onça e hipopótamo de "au au". Não me lembro que bicho foi, mas foi chamado de "peixe" erroneamente. "Peixe" ele fala a toda hora, já que peixe ele conhece bem por causa da decoração do quartinho dele. Todos os pássaros eram chamados de "piu piu". Já era tempo mesmo de apresentar outros bichos pro meu filho ao vivo e em cores.

Perto das girafas, resolvemos parar pra fazer um lanchinho. Eu tinha levado o suquinho do bebezão, Pringles e biscoito. Ao nosso lado estava uma família bem simples, o pai era deficiente e andava com dificuldade mas estava no controle de 4 meninos. A mãe ia segurando uma menininha de colo que devia ter, no máximo, uns 6 meses. Miguel já tinha comido, bebido e estava sentado no carrinho olhando tudo quando, de repente, escutamos o barulho de um pacote desses biscoitos salgadinhos sendo abertos. Miguel pulou do carrinho dele e já saiu andando na direção da família.

Eu já imaginava o que Miguel faria, "conheço o meu gado", diria minha mãe,  mas a gente não quer acreditar... Miguel já tinha comido e bebido o que quis, a família de 7 pessoas estava dividindo um pacote de biscoito genérico, desses que a gente não sabe a marca nem a procedência, e meu filho caminhava lentamente em direção ao pai que segurava o tal do biscoito, olhando fixamente para o pacote aberto com aquele olhar de gato olhando pro peixe dentro do aquário. Rapidamente fui atrás e ao chegar já vi o pai oferecendo o biscoito ao Miguel que, sem a menor cerimônia, enfiou a mão no pacote não para pegar um biscoitinho, mas para encher a mão mesmo. Pedi desculpas pela intromissão do meu filho, agradeci muito a gentileza dele e me despedi sob os olhares desconfiados dos quatro meninos. Miguel ainda virou e disse "tchau" com a boca cheia!!

Assim que chegamos ao nosso banquinho, falei pro Hugo: "Vamos sair logo daqui porque tenho certeza de que quando Miguel acabar de comer esses biscoitos, ele vai ter a cara de pau de ir até lá novamente pra pedir mais. E, assim, continuamos nosso dia feliz no zoo, com a sensação de que, por menos que se tenha, sempre é possível repartir.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Filhos são do mundo - José Saramago

Recebi esse texto do José Saramago e adorei. Nessa minha tentativa de criar o Miguel pro mundo, tenho tentado me preparar pras muitas ocasiões em que me separarei dele, pras várias situações em que não poderei estar ao seu lado par defendê-lo. Preciso respeitar suas escolhas e o tanto em que será diferente de mim. Por isso, adorei o texto e estou dividindo aqui:

"Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autônomos, libertos, até de nossas ordens. A partir de certa idade, só valem conselhos. Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto aquele bebê que um dia levamos na barriga. E a maioria de nós pais
acredita e tenta fazer isso. O que não nos impede de sofrer quando fazem escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios sofrem pelas escolhas que recomendamos.
Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.

Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo! Então, de quem são nossos filhos? Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.

E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento? Não deveriam retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice? Pensar assim é entender os filhos como nossos e eles, não se esqueçam, são do mundo!

Volto para casa ao fim do plantão, início de férias, mais tempo para os fllhos, olho meus pequenos pimpolhos e penso como seria bom se não fossem apenas empréstimo! Mas é. Eles são do mundo. O problema é que meu coração já é deles. Santo anjo do Senhor...
É a mais concreta realidade. Só resta a nós, mães e pais, rezar e aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das nossas 'crias', que mesmo sendo 'emprestadas' são a maior parte de nós !!!"

Que Deus me ensine a aceitar e a criar um filho que saiba se defender das agruras do mundo...


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Papo de mãe

Antes de ter filhos eu achava um saco essas conversas de mãe, que só falam o tempo todo dos bebês. Hoje, não raro, me pego falando do Miguel a maior parte do tempo. Mesmo que eu trabalhe, tenha milhões de interesses e objetivos que não estejam vinculados ao Miguel, vira e mexe estou falando nele, nas suas gracinhas, nas pirraças, risos. Falo sobre o que ele come, o que ele gosta, o que não gosta. E o fato é que me sinto muito parecida com as outras mães que eu julgava chatas e sem muitos interesses. O fato é que todas as mães, tirando uma coisa aqui e outra ali, são muito parecidas.

Todas nós sentimos esse amor sem fim, sentimos essa relação intensa que vai do amor extremado ao desespero total. Desespero de cansaço, desespero por sua vida estar de cabeça pra baixo, desespero por um serzinho tão miúdo tomar conta de todo o seu tempo. Todas nós sentimos esse amor descabido, incansável, louco. Amor de mãe é louco. Nada se compara a isso. Não há amor no mundo que seja mais resistente, mais à prova de tudo. E aqui estou eu falando da minha delícia de novo.

Tudo o que diz respeito a nossos filhos nos deixa feliz, insandecida, querendo avançar no pescoço de quem faz sofrer e abraçar quem acarinha os filhos da gente. Minha mãe sempre diz que "quem beija meu filho, minha boca adoça." E é a mais pura verdade. Hoje quando entrei na creche com o Miguel e ele entrou todo contente correndo pra brincar no parquinho, fiquei mais uma vez feliz por ele gostar de estar ali. Fiquei agradecida pelas pessoas que cuidam dele terem tanto carinho. Normalmente ele não quer nem me dar tchau, dá as costas e entra na salinha dele pra brincar com os amigos. Hoje ele saiu correndo em direção a tia Mirian e deu um abraço nela tão gostoso, feliz, e o sorriso da Miriam pra ele foi tão genuíno que fiquei feliz também.

Ao sair da creche o rapaz que trabalha lá abriu a porta pra mim e disse: "Igual ao seu filho, não existe!" E eu perguntei: "Miguel é muito figura, né?" E ele me disse: "Sim, muito engraçado, muito cheio de vida." E eu saí de lá mais feliz ainda por essa minha vida, por todas as escolhas que fiz até aqui porque todas elas, erros e acertos, me trouxeram até o dia de hoje quando me sinto feliz e abençoada de ter o Miguel comigo. Todos os filhos são especiais para suas mães e o meu é especial demais pra mim. Não importa o que vem pela frente hoje. Miguel me fez ganhar o dia.