Duas pessoas diferentes falarem a mesma coisa pra você em dois dias é motivo para se considerar o que foi dito. Ontem, recebemos a visita da minha querida amiga Luciana e, enquanto estávamos no quarto da minha delícia, ela olhou pra mim e falou: "Paula, você está tão diferente!! Seus olhos estão diferentes, você olha pro Miguel de um jeito diferente..."
Hoje, estava conversando no trabalho e a Fernandinha falou: "Paula, é nítido a diferença de intensidade do seu amor pelo Miguel. Qualquer pessoa que acompanha seus posts no blog desde o princípio pode notar."
Fiquei me perguntando se é assim tão grande a diferença, afinal, sim, sei que mudei muito, mas será que a diferença é tão grande do jeito que essas duas queridas falaram? Tanto a Luciana quanto a Fernanda puderam acompanhar a chegada do Miguel em minha vida e estiveram comigo desde que o Miguel nasceu, acompanharam todas as modificações que ocorreram na minha rotina e a revolução que foi a chegada desse bebê que eu amo mais que tudo nesse mundo. E acho que o que elas querem dizer com "diferente" é que além de eu não ser mais a mesma pessoa, o amor que tenho por meu filho também foi se modificando ao longo desses 2 anos e 5 meses.
É impossível uma mulher permanecer a mesma depois que se torna mãe. Tudo muda. Muda sua vida, desde a hora em que abre os olhos até a hora em que consegue fechá-los pra dormir, muda seu jeito de ver o mundo, mudam suas prioridades, mudam as coisas às quais decide dedicar tempo maior ou menor, muda o seu tempo, muda sua programação do final de semana, mudam os pensamentos e as preocupações. Existe uma Paula antes do Miguel e depois dele. A maternidade, acredito eu, é a experiência de vida mais capaz de operar modificações em um ser humano, por dentro e por fora. Sempre digo que não sei se é difícil pra todo mundo, mas pra mim foi, muito. Não tive depressão pós parto, nunca quis jogar meu filho pela janela nem tive falta de vontade de cuidar dele, deixá-lo de lado. Aquele bebezinho estava acima de qualquer obrigação minha, era o topo da minha lista em qualquer circunstância. Mas tive uma certa melancolia, uma tristeza ao observar que todos a minha volta acordavam de manhã e iam pro trabalho, tomavam banho e vestiam uma roupa pra sair, pra viver suas vidas. A impressão que eu tinha era de que o mundo de todo mundo continuava girando e que o meu mundo estava parado. E o que não saía da minha cabeça era a pergunta: "Quando vou ter minha vida de volta? Será que algum dia vou ter minha vida de volta?"
Então, é muito lógico que a gente se modifique pra se adaptar a essa nova rotina. É o caso de escolher: ou muda e se adapta ou se lamenta. E eu não sou dessas que se lamentam. Eu sou das que se modificam e hoje, quando me sinto conseguindo colocar o nariz pra fora do oceano pra respirar, vejo o quanto a maternidade lhe obriga a viver em tão curto espaço de tempo. São tantas escolhas, tantos caminhos, tanta vontade de acertar... E uma vontade imensa de se encontrar dentro desse turbilhão de novidades. Eu tinha muita vontade de voltar a ser eu! E demorei pra entender que eu nunca mais voltaria a ser a Paula de antes. Demorei a entender que uma mãe nasceu junto com o nascimento do Miguel e que essa nova mãe era uma parte de mim que eu não conhecia. Entender que o nascimento do meu filho representava a felicidade de poder viver algo totalmente novo, mas que veio misturado com a dor do luto pela morte de uma vida que deixei pra trás foi difícil. Demorei a entender que não tinha mais que procurar a Paula antiga entre uma mamadeira e outra, na verdade, eu tinha que conhecer a Paula nova, entender essa nova dinâmica da minha vida e vivê-la da melhor forma possível.
A maior modificação de todas é o amor que sinto pelo Guel. Também não sei se com todo mundo é assim, e não me condenem, mas eu não era apaixonada pelo meu filho assim que ele nasceu. Eu tinha um instinto maternal forte, que me fazia querer tirá-lo da UTI o mais rápido possível, um instinto que me fazia protegê-lo, alimentá-lo, um instinto animal mesmo de querer que ele estivesse bem, que não chorasse, que estivesse calmo e feliz. Mas se isso era amor, não sei. Talvez fosse sim. Mas não é o amor que sinto hoje. Isso posso assegurar. Eu estava muito envolvida com tantos conflitos internos que talvez não me permitisse viver esse sentimento da forma mais plena e também porque acredito mesmo que meu amor por meu filho foi crescendo e crescendo e não pára de crescer com a convivência, em todos os momentos em que estamos juntos. Ele é meu primeiro pensamento do dia e é também o último. Quando saio do trabalho pra buscá-lo na creche, vou ansiosa pra saber do seu dia, das suas gracinhas, das novidades que descobriu. Quero ouvir sua voz, quero olhar aquela carinha sorridente louco pra me abraçar me dizendo "Que sodade, mamãe!" Eu morro pelo Miguel e seu sorriso me faz sentir como se estivesse nascendo de novo, me faz sentir mais viva que nunca.
É, Lu...
É verdade, Nanda.
Vocês têm toda razão. Eu não sou a mesma. E como poderia?