Um dos passeios que fiz em Quebec foi ir até a Basílica de Sant´Ana, padroeira de Quebec. Fomos até lá pra apreciar a arquitetura - a igreja é mesmo uma das mais belas que tive a chance de conhecer. Em nenhum momento me passou pela cabeça que me emocionaria tanto ao estar lá dentro, ao observar aquelas imagens, ao sentir aquela energia.
Sant´Ana é a mãe de Maria, por isso, a mãe de todas nós, mães. Acho que se eu tivesse ido até lá antes de ser mãe, não teria sentido metade da emoção que senti. O marido de Sant´Ana era Joaquim e ambos eram muito criticados pela igreja por não terem filhos. Só que Ana já era mais velha e estéril e Joaquim vivia conflituado entre a esperança de acontecer um milagre e a triste realidade que parecia não querer lhe conceder a graça de ter filhos. Diz a Bíblia que São Joaquim, então, foi para o deserto para ficar só e rezar e que um anjo apareceu dizendo a ele que Deus havia escutado suas orações e lhe daria o que pedia. Joaquim voltou pra casa e pouco tempo depois Ana descobriu-se grávida. Ana seria mãe de ninguém menos que Maria, mãe de Jesus.
Quando entrei na igreja de Sant´Ana senti meu coração acelerar, me senti abraçada e protegida. Caminhava pela igreja chegando perto do altar, atraída por aquela imagem linda da mãe de Jesus bebezinha. Maria envolta em uma manta azul - simbolizando o manto de Nossa Senhora - no colo de sua mãe Ana. Alí mesmo ajoelhei e chorei. Chorei por saber da graça que é receber a benção de ser mãe, carregar dentro de si um filho e ser responsável pela formação de seu caráter, de sua educação, de seu respeito ao próximo e pela natureza. Senti na pele um arrepio pelo simples fato de, em um aspecto simples, ser igual a Ana e a Maria. E agradeci porque em todos os momentos em que fraquejei e me senti desesperada ou incapaz de dar conta dessa missão tão grandiosa, pedi colo a Maria e recebi amparo dentro da minha fé. A sensação era a de estar em um lugar que lhe diz a todo instante: aqui há uma energia de compreensão com as dores maternas, aqui se entende o sofrimento inerente a maternidade por mais que lhe digam que esse sofrimento não existe, aqui enxergamos todas as mães com suas virtudes e seus defeitos.
Hugo, entendendo que eu estava vivendo um momento muito meu, me deixou a sós com minhas orações e percebeu que eu estava muito emocionada. As vezes eu acho que só Maria seria capaz de me entender, só Maria seria capaz de entender as neuras que invadem minha mente vez ou outra, meus medos, minhas aflições. E alí estava eu, pertinho de Maria, sendo protegida pelos braços de sua mãe, vivendo o carinho que só uma mãe pode proporcionar ao seu filho.
Na parte lateral da igreja existe uma escultura que representa a dor maior: é a imagem de Maria sentada abraçando Jesus desfalecido em seus braços. Nunca uma imagem falou tanto, mais que todas as palavras que poderiam ser ditas. Não existe dor maior nesse mundo que a dor de uma mãe que perde seu filho. Essa igreja é maternidade pura. Feita por homens que, tenho certeza, foram orientados por Deus em cada pedacinho da construção, para que uma mãe que alí entrasse sentisse isso. Em meu peito, estando alí, senti a felicidade de Ana ao dar à luz Maria. Senti a segurança de Maria por estar nos braços de Ana. Senti a força de Maria por toda a sua existência. Senti a dor de Maria pela perda de seu filho. Como mãe, hoje, só peço a Deus que Jesus não tenha morrido em vão. Que a humanidade aprenda a viver melhor, que saibamos respeitar nossa vida, nosso corpo, nossa família, nossos irmãos. Porque uma mãe nunca deveria perder um filho à toa e, por isso, peço que a morte de Jesus sirva, através dos tempos, para nos levar a uma reflexão e nos ajudar a evoluir espiritualmente. Peço que Maria nos ajude a criar nossos filhos deixando para este mundo seres humanos melhores.