segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A mulher do sinal

Ando pensando muito ultimamente no porquê de certas pessoas terem sempre um pensamento negativo com relação à quase tudo, estarem sempre com um olhar endurecido pra enxergar situações e pessoas e estarem sempre com uma certa aspereza no falar ou na escolha de suas palavras. Eu não sou dessas que gostam de florear a vida, eu procuro mesmo enxergar as coisas como elas são. Já disse aqui que um copo pela metade é pra mim um copo pela metade. Não é um copo vazio, mas também não é um copo cheio. Meu esforço vai sempre pra como fazer o copo que está pela metade encher. Aí mora meu otimismo: em acreditar que minhas ações e estratégias pra encher o copo darão super certo. 

Por ser assim é que me incomodam pessoas que não sabem rir de situações, tudo sempre é tão levado à sério, tão sem brincadeira e cor. Pra citar um exemplo, sábado foi jogo do VASCO no maracanã. Jogo que se o Vasco empatasse já garantiria sua volta pra série A. O time jogou super mal e não passou do empate mesmo. Mas, pra mim, o objetivo foi alcançado e eu me sentia com vontade de festejar. Só que a maioria das pessoas só falava que o time jogou mal, que era uma vergonha não ter ganho o jogo com o Maraca lotado e que festejar a volta pra série A também era vexatório. Bom, pra mim, esse argumento é a mesma coisa que não comemorar com um filho que repetiu de ano na escola o fato de, agora, enfim, ele ter passado. Esse foi um exemplo bobo, estou aqui falando do meu time de futebol mas poderia estar falando de qualquer outra coisa. Fato é que a nuvem negra que mora sobre a cabeça de alguns seres é tão intensa que não permite ver o bom em nada. Acho que críticas construtivas tem lugar e momento pra serem feitas, até porque acredito que uma crítica fora de hora não leva ninguém a lugar algum. 

Continuei pensando nessas posturas mais duras que algumas pessoas adotam em relação à vida, sempre tendo uma crítica, sempre fazendo questão de pontuar o negativo de uma situação. E, nesse caso, esse comportamento é escolha. Você pode escolher valorizar o bom, valorizar a vitória, a conquista. Independente do que haja de errado em qualquer situação, sempre há alguma coisa bacana. Acho importante ter a consciência de que o que não deu certo, o que está fraco ou ruim, merece atenção, não podemos ignorar. São essas coisas que nos farão crescer ou buscar o acerto. Mas também não podemos escolher olhar só o erro, só o fracasso. 

Então, quando estava indo pra casa do meu primo no sábado passado, parei em um sinal de trânsito. Estava um calor danado e havia vários carros parados nesse sinal. Uma senhora estava distribuindo panfletos publicitários e ela andava com certa dificuldade debaixo daquele sol quente porque estava bem acima do peso. Além disso, visivelmente tinha problemas no joelho o que tornava sua locomoção mais dolorida. Ela passou pelos três carros na minha frente e nenhum deles abriu o vidro para receber o panfleto. E eu falei pra minha mãe, Namorado e Miguel que estavam no carro comigo, enquanto ela vinha em minha direção:

- Vou abrir o vidro pra ela, vou ajudá-la em seu trabalho. Afinal, não deve ser fácil trabalhar com um sol desses na cabeça.

Assim, abri o vidro e a recebi com um sorriso. Ela me entregou o panfleto e me disse devolvendo-me um sorriso maior ainda:

- Muito obrigada! Que você tenha uma tarde maravilhosa e que sua família seja abençoada. Um feliz Natal pra vocês e que Jesus os acompanhe.

Agradeci por suas palavras tão cheias de amor, desejei o mesmo a ela e fiquei pensando naquela atitude enquanto observava sua caminhada na direção dos outros carros através do retrovisor do meu carro. Três carros atrás de mim, alguém também abriu a janela pra ela e eu vi que ela também desejou as mesmas coisas pra pessoa que abriu a janela pra receber aquele panfleto. 

Cheguei a conclusão de que simplesmente é a atitude que adotamos perante a vida que nos define, que define o que somos, o que queremos ser, o que queremos pro nosso semelhante. Aquela mulher, por estar trabalhando debaixo de sol quente e com dificuldade pra andar, poderia entregar 5 panfletos iguais pra cada carro que abrisse a janela pra ela, como ja vi acontecer um sem número de vezes. Ela poderia ter entregue o panfleto e não ter dito nada. Poderia ter seguido adiante sem nem olhar pra mim. Poderia caminhar com uma nuvem carregada sobre sua cabeça. Mas não. Ela não quis ter aquele olhar de quem lamenta. Ela não quis ter uma nuvem negra sobre si. Aquela mulher do sinal, cujo nome não sei mas de quem nunca me esquecerei, escolheu olhar nos meus olhos, escolheu sorrir e, mais que isso, escolheu tirar um tempo pra me desejar coisas boas de todo o seu coração. A mulher do sinal escolheu olhar pro que há de bom, escolheu valorizar o que há de positivo em cada situação, escolheu amar a vida que tem. E isso, meus amigos, é o que mais importa.  

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Esqueceram o Miguel



Minha família é uma bagunça muito gostosa. Parecemos um bando quando estamos juntos. Todo mundo fala ao mesmo tempo, todo mundo ri às gargalhadas, o volume é tão alto que parece que os vizinhos vão chamar a polícia a qualquer momento quando a macacada está toda reunida. Então, dá pra concluir que não somos muito normais mesmo, mas também não chegamos a ser loucos. Pode acreditar, nós não rasgamos dinheiro. Só que eu acho que na escola do meu filho eles devem achar que a gente deveria estar no hospício. Como se não bastasse a mãe da criança mandar merenda com data de validade vencida há mais de 1 mês pro filho lanchar, ontem a situação conseguiu ficar pior ainda.

Miguel sai da escola às 17:20. Às segundas-feiras, Itallo - o "Dido" querido do meu filho - vai buscá-lo. Terças e quartas são os meus dias. Quintas e sextas são os dias do Hugo. Em algumas ocasiões, de acordo com os compromissos de trabalho, fazemos um troca-troca, mas, em geral, é assim que a banda toca. Pois é. Ontem foi segunda. Dia do padrinho. Paula estava relaxada, sem correria em seu trabalho porque não precisava sair cedo, quando às 18h meu celular tocou.

Era a Simone ligando da escola. Assim que ela se identificou, olhei pro relógio e pensei que naquela hora Miguel estaria cansado de já estar em casa e que ela deveria estar me telefonando pra contar alguma coisa que tivesse ocorrido na escola. Sei lá, alguma besteira que Miguel tivesse feito ou pra falar que esqueceu a merendeira ou que rasgou o uniforme. Enfim, pensei várias coisas, menos o que ela me diria depois:

- Paula, é que Miguel está aqui na escola.

Oi??? Como assim? Olhei pro relógio meio abobadamente, eram 18h e ninguém tinha ido buscar meu filho?? Minha mente estava processando a informação em câmera lenta e eu tentava raciocinar se tinha confundido o dia da semana, se o Itallo tinha me dito que não poderia ir buscar o afilhado e eu, sabe-se lá porque razão, havia deletado a informação da memória. Estava tentando ainda me situar no espaço e tempo quando ouvi a voz do meu filho ao fundo conversando calmamente com alguém. E aí entendi que, sim, Miguel ainda estava na escola. Então consegui perguntar tentando parecer um pouco menos idiota:

- O Miguel está aí? Ainda?

Talvez a Simone tenha tido vontade de dizer: "Dããããããããããã!!!! Claro, né, Paula. Se estou ligando pra você..." Mas não foi isso o que ela fez, óbvio. Muito educadamente, respondeu:

- Sim, Paula. Ninguém veio buscá-lo.

Bom, consegui dizer que estava indo pra lá e peguei a chave do carro que estava em cima da minha mesa. Antes de sair correndo feito doida em direção ao meu carro, peguei também o celular e liguei pro Itallo. Ele atendeu e eu falei:

- Itallo, você me avisou que não iria buscar o Miguel hoje?

Itallo respondeu:

- Não, Paula... Desculpe... Eu esqueci completamente! Já estou aqui na esquina da escola. Perdi a noção do tempo e não lembrei mesmo... Mas já estou chegando!! Não precisa sair do trabalho!

Do jeito que o Itallo estava desarvorado, deu até pra sentir pena dele. Coitado. Tem coisas que é melhor que aconteça com o filho da gente que com o filho dos outros. 

Eu fiquei ansiosa pra falar com o Miguel, pra saber  como ele estava, se tinha se sentido mal por ter ficado esquecido na escola, se tinha chorado. Afinal, eu vejo essa situação acontecer com certa frequência aqui no trabalho. Os pais, às vezes, esquecem da hora de buscar os filhos mesmo. Só que a maior parte das crianças fica bem angustiada, sem saber o que aconteceu. Muitas choram, se desesperam, ficam inconsoláveis. Não foi o caso do Miguel. Pra minha surpresa, Miguel estava ótimo. Conforme eu ouvi pelo telefone, ficou na escola muito tranquilo, conversando. Ficou um pouco preocupado quando ele viu que não havia mais nenhuma criança pra ser apanhada pelos pais, só restava ele. E Simone disse que a única insatisfação que demonstrou foi dizer que não queria dormir na escola. Ai, meu Deus. ´Tadinho do meu filho. Deve ter pensado: "Eu não me importo de ficar aqui, ok. Eles podem até demorar mais umas 3 horas pra vir me buscar, mas, por favor, dormir aqui já é demais!"

Itallo falou que pediu desculpas ao Miguel, mas que foi recebido por ele com o mesmo sorriso de sempre, a mesma alegria.

A escola deve achar que Miguel nasceu na família errada. Ou achar, no mínimo, que somos todos surtados. A mãe manda merenda vencida pro filho. O padrinho esquece do menino na escola. E ele nem desesperado ficou. Miguel é mesmo um garoto bacana. E a verdade é que no meio dessa loucura toda, meu filho tem certeza de que é MUITO amado. E, no final das contas, é isso que vale.



terça-feira, 11 de novembro de 2014

Mãe Leoa



Já falei várias vezes, sem me orgulhar disso, que sou uma mãe que grita. E sei que gritar talvez seja o mesmo que bater, mas que atire a primeira pedra quem nunca perdeu a cabeça. Muitas vezes condenei quem bate em filho e hoje vejo que filho tira mesmo os pais do sério e minha vontade é dar uma palmada, sim, quando o Miguel está passando dos limites. Felizmente, como sempre fui péssima de briga desde a época da escola e como bater nos outros nunca foi meu forte, Miguel nunca levou uma porrada mas achei um caminho pra estabelecer limites com ele. 

Quando estou normal (entenda: dentro do que pode se chamar de sanidade), falo baixo e engrosso o tom de voz e já basta. Agora quando estou anormal (entenda: nível de estresse elevado ao máximo e criança tirando o restinho de paz que ainda lhe resta), algo se apodera da minha pessoa e grito ferozmente. Daí, outro dia, depois de passada uma crise animalesca da minha parte e de estar tudo em perfeita calma novamente, ouço meu filho falando pra prima:

- Sabe, Rafa, minha mãe é que nem um leão! Quando ela está "nervosinha" (estaria ouvindo direito Miguel usar um certo ar de deboche ao falar a palavra "nervosinha"??), ela começa a gritar que nem um leão!

Rafa desatou a rir quando Miguel começou imitar meus urros e volume quando estou "raivosa".

Gente, tem como manter a raiva com um garoto gaiato desses na minha vida? Ele sempre arranca de mim um sorriso, sempre me faz esquecer rápido as besteiras que faz, sempre me pede desculpas quando vê que fechei a cara e vem logo pra perto de mim cheio de "eu te amo, mamãe", "você é minha lindinha", "não fica com essa carinha de brava não..." e "minha gostosinha da minha vida!". 

Ah... Se sou mãe ou sou leão, não sei. A única coisa que tenho certeza nessa vida é que Miguel foi a mais bela benção que já recebi. Miguel é a maior responsabilidade a mim confiada por Deus e eu amo ser a mãe do Miguel. Meu filhote de leoa.  Meu leãozinho.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Natal de Novo



Amo Natal e sempre tive mil motivos pra isso. Minha família sempre reunida, muita alegria, bagunça, barulho. Desde que me entendo por gente tenho lembranças lindas de vários natais em família, todos muito animados e felizes. Aquela trabalheira toda pra arrumar a casa, fazer aquele monte de comidas gostosas e decorar tudo, comprar e ganhar presentes. Sempre um cheiro de felicidade no ar. Morávamos em um apartamento em Olaria e em muitas ocasiões a família dormia toda alí, um em cima do outro, sem conforto, espalhados pelo chão, mas ninguém ligava. Queríamos era ficar juntos e prolongar ao máximo aquela sensação de união.

Engraçado que depois que a gente se mudou pra Ilha, passamos um tempo sem ter mais Natais tão divertidos como aqueles passados em Olaria. Fomos morar em uma casa que é, pelo menos, 10 vezes maior que o apartamento e não ficávamos mais tão juntos quanto antes. Sempre tivemos Natal, nunca deixamos de celebrar essa data tão especial pra nós, mas o fato é que o Natal só voltou a ser parecido com o que era antes de nos mudarmos quando conheci o Hugo. A família dele e a minha se entenderam perfeitamente até porque eles também são barulhentos e bagunceiros e desde 2004 todos os Natais voltaram a ter um gosto doce porque ficamos reunidos. 

Miguel já demonstra que também adora essa farra natalina, adora o amigo-oculto, as brincadeiras, as risadas. Adora os enfeites e as luzes e, é claro, adora o Papai Noel. Ano passado nossa casa estava em obras e Miguel estava preocupadíssimo porque não colocamos nenhum enfeitinho de Natal. Ele reclamou que não montamos uma árvore e me perguntou como o Papai Noel iria entrar na casa dele pra deixar seu presente se nossa casa não estava arrumada pra esperá-lo. Expliquei pra ele que eu já tinha escrito pro velhinho contando que nossa casa estava em obras e que eu havia pedido pra ele não esquecer de nos visitar porque no próximo ano a casa estaria linda e enfeitada para recebê-lo. Interessante o Miguel ter feito essa colocação a respeito de preparar a casa pro Papai Noel porque, de certa forma, ao preparar nossa casa para o Natal estamos nos preparando também pra esse amor todo que invade o mês de dezembro, mês do aniversário de um dos homens mais admiráveis da história da humanidade. É como ter, a cada dezembro, a oportunidade de receber essa energia toda pra fazer com que ela perdure por todo o ano que se aproxima. 

Bem, então por todos esses questionamentos do Miguel,  esse ano tive que cumprir a promessa feita. Casa linda, do jeito que a gente queria, faltava apenas uma árvore de Natal novinha, grande e bonita. Essa semana, comprei a árvore e enfeites e Miguel não se continha de tanta alegria e queria montar a árvore assim que ela chegou. Ontem, vencida pelo cansaço, começamos a montar nossa árvore de 2,10m e Miguel estava empolgadíssimo, ajudou muito, escolhia o lugar dos enfeites. Minha mãe, Hugo, eu e Miguel às voltas com a árvore de Natal. Durante três horas ficamos alí reunidos e me deu uma vontade enorme de chamar minha irmã, minhas afilhadas e meu cunhado pra virem também. Todos envolvidos na mesma tarefa, rindo e falando besteira. O espírito da paz presente, quase palpável. Do jeito que deve ser. Do jeito que deveria ser em todo lar. 

A árvore ficou linda e mais lindo ainda era a felicidade do meu filho. Quem tem criança em casa sabe que o Natal é ainda mais precioso por isso. Os valores do Natal, o amor de Cristo e por Cristo, a união familiar, a fé na vida, enfim, são as coisas mais importantes e que devem ser passadas de geração pra geração. A ansiedade do Miguel pra acender a árvore e ver suas luzes piscando foi emocionante. Promessa cumprida, árvore de Natal pronta, casa na expectativa do Papai Noel, Natal chegando e o amor se renovando. Olhando pro meu filho tão feliz arrumando pela primeira vez a sua árvore de Natal, voltei a ser criança e lembrei de mim, cheia de felicidade e com a mesma ansiedade pra arrumar a árvore de Natal do apartamento pequeno de Olaria. As luzes da árvore de Natal acesas e meu coração piscando amor. 

Feliz Natal pra todos!!

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Livros



Esse final de semana minha amiga Ana Portela me fez um desafio no facebook no qual a pessoa deve relacionar os 15 livros que marcaram sua vida de alguma forma. Sem pensar muito, eu devia relacionar os livros citando o título e o autor. E então comecei a lembrar deles, um a um. E como foi delicioso fazer isso porque lembrar de livros que foram importantes pra você, é como escutar uma música: você é remetido a uma situação, a um momento da sua vida, as lembranças vêm tão fortes que é quase como se pudéssemos viver de novo o passado. 

A leitura chegou pra mim muito cedo. Eu amo ler desde muito nova. E acho que nesse ponto, não ser hiperativa como minha irmã, me ajudou. Ler era uma "atividade" excelente pra mim e que combinava perfeitamente com meu jeito de ser. Eu podia ficar quieta, na minha cama ou sentada confortavelmente em uma cadeira e passar horas vivendo outras vidas e outras situações, conhecendo outros lugares, sem sair do meu lugar, sem me mexer. Era perfeito pra mim. Assim, enquanto meus amigos da escola reclamavam e muito de ter que ler os livros recomendados pela professora, eu agradecia. É claro que alguns títulos não eram tão legais, mas a verdade é que através da escola eu conheci o prazer de ler e, depois, de escolher outros livros, de acordo com meus interesses e crescente gosto literário.

Então, vamos aos livros dos quais me lembro assim, de supetão. 

O primeiro livro do qual não me esqueço foi "A Casa da Madrinha", de Lygia Nunes. Não é o nome completo da autora mas não estou me lembrando dele todo... Ganhei o livro da minha madrinha e lembro que era a história de um menino pobre que tinha que trabalhar pra ajudar nas despesas da casa e que encontrava na professora da escola - que usava métodos nem um pouco tradicionais de ensino - uma caminho pra ser mais feliz. 

Livro 2: O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon. Devo ter lido com uns 12 anos e me tocou profundamente. Acho que foi a primeira vez que entendi o amor como um caminho pras coisas erradas do mundo. Lembro de ter chorado muito no final da história. Engraçado que mês passado ao levar minha afilhada na "Esteira Cultural" da escola, havia vários livros pra cada família escolher pra ler e deixar depois em um lugar público pra que outra pessoa pudesse ler e bati os olhos nesse mesmo livro. Não pensei duas vezes e trouxe o livro pra casa. Li novamente pra tentar entender o que me tocou tanto. É um livro muito maior que uma menina de 12 anos poderia entender.

Aliás, existe isso: um livro pode ser considerado chato em determinada fase da vida. Entretanto, quando o lemos novamente mais tarde, podemos mudar totalmente de ideia a respeito daquela leitura porque muitas vezes um livro cai nas nossas mãos sem que estejamos prontos pra ele. É preciso estar aberto pra certos livros e em um momento de vida que lhe permita o entendimento. Além disso, muitas vezes o que nos marca em um livro quando o lemos com 15 anos é totalmente diferente do que nos marcará ao lê-lo com 25 ou 40. Nossa perspectiva vai mudando e esse é outro encanto que amo na leitura.

Livro 3: O Escaravelho do Diabo, de Lucia Machado de Almeida. Quem nasceu nos anos 70, com certeza leu pelo menos um livro dessa coleção que acho que se chamava "Vagalume". Nossa, eu li muitos livros dessa coleção!! Eu ADORAVA. Mas desse eu não me esqueço porque foi a primeira vez que li um livro de mistério. 

Livro 4: As Brumas de Avalon, Marion Zimmer Bradley. Tinha uns 13 anos e não foi recomendação da escola. Não esqueço dele porque foi o primeiro livro que pedi pra minha mãe comprar pra mim. Eram 4 volumes e li os quatro. Amei porque contava a história do rei Arthur sob a perspectiva feminina.

Livro 5: O Grande Mentecapto, Fernando Sabino. Achei divertidíssimo e muito inteligente. Lembro de ter parado pra pensar que tudo na vida tem uma consequência enquanto estava lendo esse livro. 

Bom, aí eu comecei a conhecer os clássicos da literatura brasileira. Minha mãe trabalhava no Banco Central e lá havia uma biblioteca maravilhosa! Eu virei rato de biblioteca. Que paraíso era aquele onde eu poderia pegar os livros que quisesse pra ler sem pagar? Meu Deus! Foi a descoberta do ano pra mim! Minha primeira tentativa foi logo com Machado de Assis e preciso dizer que foi um fracasso! Machado não é pra qualquer um, principalmente se esse "qualquer um" for novo. Eu tinha uns 15 anos e ainda não estava preparada pra tanto detalhe. Mas não me rendi. Voltei ao Machado depois de uns anos. 

Livro 6: O Tempo e o Vento, Erico Veríssimo. Sete volumes lidos vorazmente tamanha minha paixão pelo Capitão Rodrigo. 

Livro 7: A  Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo. Estava numa fase romântica e o livro veio bem a calhar. 

Livro 8: Vidas Secas, Graciliano Ramos. Foi uma chamada de despertar pra mim. Lembro que ainda estava na fase romântica quando ela foi interrompida por Vidas Secas. Sim, porque esse foi um dos livros que li por conta da escola. E eu não estava muito a fim. Mas o livro me encantou. 

Livro 9: O Cortiço, Aluísio Azevedo. Gente, que livro divertido!! Eu gargalhava. 

Livro 10: Olhai os Lírios do Campo, Érico Veríssimo. Voltei pro romance em grande estilo.

Livro 11: Violetas na Janela, psicografado por Vera Lucia de Carvalho. Foi meu primeiro livro espírita e foi dividor de águas pra mim. Por causa desse livro, li Nosso Lar, logo depois. 

Ai, meu Deus... Já está acabando e ainda tem tanto livro pra relacionar... Deixa eu colocar logo um do mestre Sidney Sheldon!!! Poderia dizer todos porque sou apaixonada por seus livros, mas vou escolher um.

Livro 12: A Ira dos Anjos, Sidney Sheldon.

Livro 13: Helena, Machado de Assis.

Livro 14: Senhora, José de Alencar.

E não posso deixar de citar porque amo MUITO:

Livro 15: Harry Potter, J. K. Rolings Todos os livros, do primeiro ao sétimo. Já li duas vezes e lerei mais algumas, de certo. 

Aaaahhhhh Já acabaram os 15... Como assim?? Ainda tenho tantos pra livros maravilhosos pra relacionar... Nossa, faltou "O Caçador de Pipas", Khaled Rosseini. Livro que me fez chorar baldes. Meu Deus, faltou "O Velho e o Mar", Hemingway. Esse deveria ter colocado entre os 15, sem dúvida. Que livro maravilhoso... O Nome da Rosa, Umberto Eco, também deveria estar entre os 15, além de Razão e Sensibilidade, Jane Austin; A Revolução dos Bichos, George Orwell; Perdas e Ganhos, Lya Luft; Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago; Crônica de uma Namorada, Zélia Gattai; Capitães de Areia, Jorge Amado; O Diário de um Mago, Paulo Coelho; A Distância entre Nós, Thrity Umrigar; e por aí vai... 

Querida Ana Portela, desafio cumprido. Mas, olha, poderia citar tantos, mas tantos livros... Esse foi um desafio maravilhoso. E só me deu mais vontade de ter muito tempo pra ler todos os livros que ainda quero ler!! 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Gordinha



Nunca fui gordona mas também nunca fui magrela. Sempre gostei de comer e amo doces, mas, por ter tendência pra engordar, tenho que tomar cuidado. Quando criança eu era muito desligada dessas coisas de tipo físico considerado ideal, peso, dieta. Só que convivia com minha irmã que SEMPRE foi ligadérrima nessas coisas e eu não conheço ninguém com cuidado maior com o peso que ela. Por isso, acabei vendo que tinha que tomar cuidado pra não engordar.

Sempre fiz atividade física e isso devo também à minha irmã. Foi dela a ideia de entrarmos no ballet e desde os 6 anos nunca mais deixei de ter uma atividade física, graças a Deus. O ballet também é uma coisa muito louca porque a criança é meio que adestrada, logo que começa a ter entendimento de seu tipo físico, que nem sempre querer é poder. Quero dizer que embora eu amasse dançar, nunca tive o tipo físico de bailarina e vivia em briga com a balança não pra ser magra, mas pra ser muito magra e me enquadrar no padrão exigido no meio. Era chato. Imagine que hoje tenho 57 quilos e quando fazia ballet pesava 52 quilos e ainda era considerada gorda. É muito ruim. Só pararam de encher o meu saco quando eu pesei 49 quilos e, vou lhe dizer, eu estava um horror. Não gosto nem de pegar fotos dessa época porque eu parecia um pirulito. Minha cabeça ficou gigantesca porque era a única coisa que eu tinha. Além disso, pra piorar, uma cabeça gigantesca com dentes gigantescos. Enfim, a visão do inferno.

Desde então, tomo cuidado com o que como. Não sou de grandes quantidades e com uma irmã nutricionista fica mais fácil tirar as dúvidas e se aconselhar. Aprendi que comer várias vezes ao dia e em pequenas quantidades é melhor que ficar horas sem comer nada e bater aquele pratão de estivador. Como toda hora, é verdade. Sinto fome toda hora. Mas como pouco. Não abro mão do meu chocolate todos os dias, eu amo. Acho que se desistisse desse prazer seria mais magra, mas existem coisas na vida das quais não estou disposta a abrir mão e meu sagrado chocolate é uma delas. Hoje mantenho meu peso sem muito esforço e acredito que a ginástica de todos os dias, bem cedo, é a minha fórmula. 

Detesto quando engordo, não me sinto bem, as roupas não ficam bem, enfim, não me gosto mais gordinha. Achei a paz com 57, 58 quilos e não quero pesar mais. Se eu gostaria de pesar menos? SIM!!!! Gostaria de pesar os 53 quilos da época do ballet, mas às custas de tanto sacrifício que me dá muita preguiça e me contento com esse peso mesmo. Malhar, pra mim, já é uma questão de saúde, nem passa pela minha cabeça ficar gostosona porque não tenho mais idade pra pensar nisso, né? Se o corpinho se mantiver como está e eu puder atrasar a ação da gravidade, já me dou por satisfeita. 

Fazendo todas essas colocações, deve-se imaginar que ser chamada de "gordinha" é péssimo pra mim. Está aí um adjetivo com o qual não simpatizo. Seja de que jeito for, né? Sim, porque as pessoas tem o dom de inventar modos alternativos de lhe chamar de gorda sem usar a palavra em si. Dizem que você está "mais fortinha", "mais cheinha", "fofinha", "mais bochechuda" e até, em último caso, dizem que você está "diferente". Mas como a vida tem suas surpresas e como diria Lulu Santos "tudo muda o tempo todo no mundo", ontem eu estava deitada na minha cama e lá vem meu filho delicadinho que só:

- Mamãe!! Quero ficar grudadinho com você!! Vamos ficar abraçadinhos? 

Ai, que amor... Mãe devidamente derretida e achando o filho a coisa mais gostosa desse mundo, abri o maior sorriso e disse ao Miguel que isso certamente é a melhor coisa da vida. Aí, Miguel veio e praticamente se derrubou em cima de mim e me apertou até tirar meu ar. Abriu aquela boquinha delícia da minha vida e falou:

- Deixa eu te abraçar, gostosinha! Vou te encher de beijos, minha gordinha lindaaaaaaa!!!!! 

G O R D I N H A. Sim, foi exatamente essa a palavra que meu filho amado usou. Em meio a tantos beijos, ele diz que sou sua gordinha linda. E quer saber? Eu nem liguei! Foi um "gordinha" tão gostoso, tão feliz, que não me importei. Pra ele, posso ser gordinha. Serei sempre a "gordinha do Miguel". E posso afirmar que estou gostando. De ninguém eu gostaria de ouvir esse adjetivo, mas ele... Ah... "Gordinha" tem sabor de "magrinha". Na boca do meu filho, "gordinha" tem sabor de "bonitinha". E se o "gordinha" continuar vindo acompanhado de tantos beijos e de tanto amor, eu estou querendo é mais!!! E viva as gordinhas bem amadas e doces como chocolate!!