quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Mãe é mãe


É muito cansativo essa coisa de julgar e ser julgado. Minha opção é diferente da sua e deveria estar tudo bem. Mas não. Eu acabo achando você uma chata porque fez algo diferente do que eu acho "correto". Eu sou considerada idiota porque tento resolver as pendengas na conversa ou "tenho paciência demais". Você é julgada agressiva porque dá umas palmadas. Se trabalha fora, os filhos são largados. Se fica em casa o tempo todo, não tem objetivo de vida. Cansativa essa coisa de julgamento.

A gente esquece que o que deu certo pra mim pode não dar pra você e seu bebê. A gente esquece que independente de nossas crenças, opções de vida, de educação ou criação, todas queremos a mesma coisa pra nossos filhotes: o melhor. 

Esse "melhor" obviamente vai variar. Não vai ser igual pra todo mundo, depende de tantas coisas... Depende do que trouxemos da educação recebida de nossos pais - se queremos repetí-la ou não. Se vamos aproveitar o que foi bacana com a gente e mudar o resto. Depende da nossa bagagem cultural, dos nossos valores. Depende do ambiente em que vivemos. Mas não posso achar que sua opção lhe diminua perante a minha. Eu não sou melhor que a mãe que não trabalha. Você não é louca porque carrega seu bebê pra todo canto enquanto eu preciso de um tempo pra mim. Você que amamentou seu filho no peito não é melhor que eu que não o fiz. Cada história é uma história. 

O video diz tudo. O mais importante temos em comum: um amor imenso por nossa cria, uma vontade enorme de fazer tudo o que pudermos por seu bem-estar, pra que vivam uma vida de amor. É isso o que nos torna mães. E fim de papo. 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Projeto Camiseta

Olha, não sei dizer quando foi que parei de ir pra academia usando só top e calça ou só macacão. Faz tanto tempo que não lembro mesmo. Se eu fosse chutar, diria que deve ter uns 4 anos. Não importa a roupa que esteja usando pra malhar, uma camiseta por cima sempre me acompanha de casa até a academia e eu não tiro quando chego lá. 

Então, durante uma das aulas, quando a professora falou que gostaria que a gente viesse malhar com roupas mais justas e, de preferência, com a barriga de fora para que ela pudesse ver se estávamos contraindo o que tinha que contrair e também pra que nós não relaxássemos os músculos abdominais durante todo e qualquer exercício, achei que fazia sentido o pedido. Mas pensei também que seria um pedido impossível, ou quase, de eu atender. 

E aí fico me perguntando o porquê disso. E a única resposta que me vem a cabeça é que não me sinto confortável sem a camiseta, me sinto exposta. Aí me lembro que nem sempre foi assim. Já malhei muito com a barriga de fora, de shortinho curto até, já usei macacões super decotados e chegava na academia muito "cheia de mim". O que aconteceu comigo? 

Bom, primeiro acho que minha vida mudou muito nesses últimos 5 anos. Eu engravidei, tornei-me mãe, minha perspectiva de mundo mudou, meu olhar pra esse mundo mudou e mudou também o meu olhar para comigo mesma. Não vejo nada demais em colocar minha barriga de fora, afinal de contas, uso biquini. Mas não estou mais a fim de ficar me olhando no espelho e nao me sentir bem, ter que ficar puxando a roupa aqui e ali, enfim. Quero malhar me sentindo bem e lá está minha camiseta de segurança pra isso. Não quero ter que olhar no espelho o tempo todo o que não me agrada. E academia é cheio de espelho né, gente? Acho que só perde pra motel. Não tem como fugir da sua imagem. E chega um ponto da vida da gente que você sabe que tem coisas que não vão mudar, então melhor passar por cima delas e não ficar olhando o tempo todo né? Tenho colegas de malhação mais velhas que eu e que malham usando macacão sem camiseta por cima e fica muito bem nelas e, o mais importante: vejo que elas estão se sentindo bem. Estão usando a roupa apropriada pra ocasião. A questão não é essa. Talvez seja uma questão de estar bem com o próprio corpo em todos os aspectos.

Esse lance da camiseta me mostrou que, apesar de eu me aceitar muito bem, com todos os meus defeitos, eu ainda tenho um padrão de beleza na minha cabeça ao qual eu não pertenço. Talvez eu ainda ache que poderia ter menos barriga, menos celulite ou mais bunda, mais peito. Sei lá. Mas também pode ser apenas que eu não queira mesmo colocar minha barriga de fora na academia e pronto. Eu não tenho que usar maiô só porque tenho 43 anos. Eu não tenho que deixar de usar short porque acham que já passei da idade pra isso. E não tenho que tirar a camiseta se isso não me fará feliz. Tenho que fazer o que me faz feliz. Exatamente como a adolescente gordinha que resolveu participar de um concurso de beleza:


Ela tinha um sonho de desfilar, foi lá e mandou os padrões de beleza pra cucuia e foi ser feliz. Ganhou? Não. Mas isso não importa. Ela realizou o sonho dela. E estava confortável dentro da sua pele. Eu quero estar confortável dentro da minha. Talvez eu chegue a tirar a camiseta na academia em breve. Talvez não. Talvez ainda use minha camiseta como escudo protetor. Quem vai saber? A escolha tem que ser minha. Penso que a única coisa que não pode faltar na minha estrada são as bifurcações, porque a pior coisa que pode acontecer num caminho é não ter opção. 

O ponto é que nem sei se quero tentar colocar a barriga de fora na academia, sabe? Mas estou com esse "projeto camiseta" dentro da minha cabeça. Minha professora plantou a semente. Nâo sei se ela colherá frutos disso. A ideia está amadurecendo aos poucos. A única coisa que tenho certeza é que só eu posso decidir me libertar da minha camiseta ou seguir livre dentro dela.  O tempo dirá. 


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Rose Sand Beach










Vi uma foto da Rose Sand Beach que uma querida postou em sua página. E sabe quando, de repente, você é levada pro passado - nesse caso nem tão distante - e pra dias de pura delícia em um lugar maravilhoso? Pois foi exatamente o que aconteceu comigo. 

Olhando a foto da praia que fica nas Bahamas, fui remetida a um dos anos mais importantes da minha vida. O ano do nascimento do Miguel, em 2009. Era abril, tiramos férias e Namorado e eu estávamos muito felizes com tudo o que estava acontecendo na nossa vida. Estávamos com vontade de sermos pais, era um menino (vontade que eu nutria secretamente meio sem esperanças porque na minha família só nascia mulher) e minha gestação seguia tranquila apesar dos meus 37 anos. Eu me sentia envolvida por uma áurea de sonho, tranquilidade e paz. As inquietações e medos que vivi nos primeiros 5 meses de gestação já tinham ido embora. Sentia-me muito corajosa no meu sétimo mês de gestação. Nem minha ´gordice´, o tamanho da minha bunda ou meu nariz inchado conseguiam abalar minha confiança no futuro.

Bahamas são várias ilhas e por isso mesmo é que acho um pecado as pessoas fazerem um cruzeiro de um dia por lá e dizer que é suficiente. Não é. Se você quiser conhecer mesmo, melhor ficar por lá - em Nassau - e fazer os vários passeios que levam você de barco pras ilhas e, desse jeito, você fica um dia em cada uma delas, normalmente com um carrinho pra se locomover a vontade e no seu tempo. E a Harbour Island é imperdível. Lá fica a Rose Sand Beach e foi especial pra gente porque nessa praia única passamos a tarde mais inesqueível da viagem. É, sem dúvida, a melhor praia das Bahamas e olha que fomos à muitas com toda calma. Como se não bastasse ter a areia em tom de salmão e rosa, Rose Sand Beach tem as águas, que completam o ar de paraíso, em seus tons de azul turquesa. E, mais, você tem a impressão em vários momentos que a praia é só sua, porque não é frequentada por muita gente. Inacreditavelmente lindo. Inacreditavelmente inspirador. O lugar parece ilusão. 

Ali o tempo parou pra gente. Apenas nós dois e meu barrigão de 31 semanas existíamos. Eu não fazia a menor noção de que 15 dias depois eu estaria vivendo as 2 semanas mais angustiantes da minha vida, quando Miguel resolveu chegar prematuramente. De qualquer jeito, o gosto daquele dia, a brisa morna no meu rosto, a lembrança de nós dois deitados na areia cor de rosa e mergulhando juntos naquele mar turquesa, vai morar pra sempre dentro da gente. Que lugar!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Os Filhos Maravilhosos do Facebook



Estava conversando com minha irmã sobre filhos. É um assunto recorrente entre nós e quem tem filho sabe bem porquê. Essas criaturinhas ocupam nossos minutos e nosso pensamento quase o tempo todo - ou seria o tempo todo mesmo? Às vezes acho que já me acostumei a isso, a não ter meu pensamento só pra mim, a dividí-lo o tempo todo com o Miguel. Às vezes, ainda me assusto. Pois bem, estávamos conversando que eu e ela - apesar de termos filhos fofos, carinhosos, bacanas e tal - não temos esses filhos que a gente chama de "os filhos maravilhosos do facebook". 

Já repararam que o filho de todo mundo no facebook é perfeito ou quase? Os filhos do facebook amam estudar. São organizados, arrumam seus quartos, fazem suas tarefas ao primeiro comando dos pais, não esquecem de nada, comem tudo. Ai... Eu canso disso sabe? Ou será que tenho inveja? Cara, não sei. Quando penso nisso e uso minha razão concluo, mais uma vez, que ninguém quer contar derrota né? E concluo, também, que perfeição não existe, não nesse plano espiritual no qual estamos todos nós. Mas essa coisa de todo mundo enaltecer seus filhos o tempo todo me dá um nervoso... 

Chego em casa e encontro o quarto do Miguel parecendo que um furacão passou por alí. Peço pra ele arrumar. Uma, duas, três mil vezes, talvez. E ele só se mexe quando estou virando uma bruxa. Se é que vocês me entendem. Se eu não falar pro meu filho escovar os dentes, ele é capaz de ficar dias sem lembrar que dentes existem! Banho?? O garoto parece um bode! Tenho que ficar em cima, do contrário ele mente pra mim dizendo que já tomou banho quando nem perto do chuveiro passou. Quando finalmente vai pro banho, tira a camiseta e joga pra um lado, tira o short e joga pro outro. Tira a cueca e sai dançando pelado com a cueca na cabeça até decidir jogá-la pro alto também.  Ele nunca coloca a roupa suja no lugar destinado a elas. Eu sempre tenho que pedir que o faça. Agora que está de férias, só o que sabe me dizer é que está rezando pra elas não terminarem nunca. Ai, gente... Ele só tem 5 anos. Por aí já dá pra avaliar o tamanho do meu sofrimento nos anos vindouros.

Lidando com tudo isso na minha casa, ao abrir o facebook e olhar posts e mais posts de gente falando que o filho é a oitava maravilha do mundo, é preciso ter muito discernimento pra não me abalar. Muitas vezes acho que a melhor solução é eu pensar que é mentira. Ok. Mas e se for verdade? Seriam essas pessoas super mães e pais? Seria eu uma bosta de mãe? Seria eu uma criatura que não sabe controlar o filho ou fazê-lo entender a importância de tarefas simples? Olha, não sei não. Eu sou do jeito que aprendi com minha mãe. E eu cresci ouvindo minha mãe reclamar um monte de mim e da minha irmã desde crianças até depois da fase da adolescência. Reclamava que a gente não tirava o uniforme assim que chegava da escola. Reclamava que só queríamos comer besteira. Reclamava se o quarto não tinha sido arrumado. E reclamava MUITO e principalmente aos domingos, quando a gente não tinha empregada, de que não tínhamos nem tido a decência de fazer a cama. 

Até por causa de uma dessas brigas, passamos uma vergonha danada uma ocasião. Era dia de domingo e a gente morava em uma rua, como em todo subúrbio, com certo movimento nas manhãs de domingo de gente que ia ou voltava da missa, gente que estava indo pra padaria comprar os últimos ingredientes pro farto almoço de domingo e gente que já estava indo pro boteco tomar sua gelada. Enfim, janela do quarto aberta pra vida entrar. Onze horas da manhã. Minha mãe, já estressada, entra no quarto aos berros perguntando se nós não íamos arrumar a cama. Sem nos dar chance de resposta, ela começou a gritar ainda mais alto aquelas coisas de mãe:

- Vocês não têm consideração comigo! São duas parasitas! Nem em dia de domingo arrumam as camas! Quero ver como vai ser a casa de vocês! Vão viver no chiqueiro! 

Enquanto esbravejava, resolveu começar a arrumar as nossas camas, afinal eu e minha irmã já tinhamos levantado delas há muito tempo na intenção de começar logo a fazer alguma coisa antes que nossa mãe tivesse um treco. Só que minha mãe sempre teve mania de almofadas e cada uma de nós devia ter umas 12 almofadas em formato de coração em cima da cama. E acho que todo mundo sabe o que acontece quando uma pessoa está com raiva e começa a gritar só que ninguém que está perto fala nada, não é mesmo? Pois é. A pessoa fica com mais raiva ainda. E aí, enfurecida, minha mãe começou a tacar as almofadas em formato de coração na gente. E nós estávamos perto da janela - aberta. Obviamente, toda vez que uma almofada vinha em nossa direção, nós nos esquivávamos e as almofadinhas de coração iam, uma a uma, parar no meio da rua, caidas do terceiro andar do prédio. Corações caindo do céu, diretamente para uma rua de Olaria. Minha irmã e eu tentávamos avisar a minha mãe sobre o que estava acontecendo, mas a doida não parava e a rua já estava cheia de corações fofos e cor de rosa. Até que um cabra que vinha passando resolveu começar a gritar lá de baixo:

- EEEEEIIIII!!!! Meninaaaaaaaaaaaa!!!! As almofadas estão caindo aqui em baixo!!!!

Ai, meu Deus. Que vergonha. Com a cara mais sem graça do mundo, chegamos perto da janela e eu disse fingindo surpresa:

- Aaaaaahhhhh.... Tá bom. Obrigada!

Enfim, tivemos que descer e catar as almofadas espalhadas pela nossa rua morrendo de vergonha. 

Lembrando desse episódio, vejo que minha mãe deve ter sofrido muito com a gente também. E hoje estamos aqui: vivas, organizadas, arrumamos nossas camas, não perdemos nossos compromissos, somos responsáveis e cumpridoras de nossos deveres. De alguma forma, a insanidade da minha mãe deu certo. A canseira dela pra nos educar funcionou. Eu e minha irmã não tínhamos o menor perfil desses "filhos maravilhosos do facebook", mas estamos aqui, somos gente normal (ou quase), gente que se importa com o mundo, com o próximo e que gosta de viver. E é nisso que vou me agarrar agora. Eu hei de vencer! O Miguel ainda vai me agradecer por tanta loucura e esforço pra torná-lo um cara maravilhoso. Não para o facebook. Pra vida. 



sábado, 10 de janeiro de 2015

É isso mesmo??




Pessoas matam em nome de Deus. Você compra um presente e quando a pessoa vai trocar, é tratada de forma diferente do que você seria tratada, sem dúvida alguma porque a julgaram pela cor da pele ou condição social. Sua tia vai ao mercado com seu primo altista e duas mulheres, descaradamente, resolvem "passar o tempo" da fila rindo dele. Tudo na mesma semana. Na boa? Está puxado viver.

Eu não sou padrão de comportamento ou atitudes. Vivo em luta comigo mesma, em luta com a parte bestial que existe em mim. Luto contra meus preconceitos, principalmente aqueles que acho que não tenho. Esses são os mais difíceis de irem embora. Mas já entendi, e faz um tempinho, que a dor do próximo é também a minha dor. E eu não consigo entender quem mata em nome de seja lá o que for. Eu não consigo entender quem trata diferente pessoas que não tem a mesma condição social, quem tem a cor da pele diferente, quem tem algum problema físico ou mental. Não consigo entender quem ri, quem debocha da dor humana. 

Eu sei, isso acontece todos os dias. Às vezes, descaradamente, na nossa frente, pra todo o mundo ver. Às vezes, pior, de forma velada, sem deixar às claras. Preconceito e ignorância disfarçados de mal entendidos. E parece que o certo vira o errado. O errado vira o esperto. O certo vira o bobinho que segue a vida sem sair dos trilhos e não ri do seu semelhante... E nunca "se dá" bem. Ninguém ridiculariza a bem vestida, de nariz em pé, que entra na loja e rouba e sai andando com cabides na mão como se nada tivesse feito. Ao contrário, ficam com vergonha por não terem visto, por terem sido "otárias". Ninguém ri do cara sem noção que quer furar fila, melhor rir do altista mesmo. Ninguém quer perder tempo ajudando um idoso a atravessar a rua, mas pode perder 20, 30 minutos, olhando uma briga sem nem pensar em fazer alguma coisa pra acabar com a barbárie. Ninguém se revolta ao ver alguém sendo rude com o porteiro do prédio. Quem é ele afinal? Melhor tratar bem o chefe, de quem poderá tirar algum proveito. Ninguém quer ensinar ao filho o que são limites, regras sociais, melhor criá-lo sem se dar o trabalho, afinal de contas, "o mundo é dos espertos" e está cheio de otários por aí. Ninguém quer entender que o outro fez uma coisa errada, que lhe magoou e buscar o entendimento mostrando, no diálogo, civilizadamente, seu diferente ponto de vista. Vamos lá e vamos matar quem é diferente ou pensa diferente de mim. 

E a vida segue e o mundo gira e eu rezo pra isso tudo mudar. Começo por mim mesma. Policiando minhas atitudes e meus pensamentos. Porque não posso interferir na sua atitude, mas posso mudar a minha.