segunda-feira, 21 de março de 2016

Coelho da Páscoa



Quando pequena, minha mãe sempre escondeu os ovos de Páscoa dizendo que o coelho os havia trazido. Nunca fiz isso com o Miguel. Sempre comprei o ovo de chocolate pra dar a ele, a família toda sempre o presenteou com ovos de Páscoa, mas realmente nunca fiz a brincadeira de domingo de Páscoa com ele. Esse meu jeito muito prático de ser, muitas vezes atrapalha. Eu faço o estilo "a vida nua e crua" e deixo a desejar no que diz respeito à fantasias. Até porque tenho preguiça dessas coisas, sabe? Fazer pegadinhas de coelho com adesivos pela casa ou com talco, fazer o rastro do coelho pra levar até os ovos de chocolate, deixar pistas pela casa... aff... Canso só de pensar. Podem me julgar, mas não tenho o menor saco pra essas coisas. 

Esse ano, com o preço do ovo de Páscoa nas alturas, fui conversar com meu filho e lhe disse:

- Filhote, esse ano a mamãe não vai comprar ovo de Páscoa pra ninguém, estão muito caros. Além disso, a gente tem sempre chocolate em casa e não vale a pena gastar esse dinheiro só pra comer chocolate em forma de ovo. Seria uma bobagem. Tudo bem, Miguel?

Aí, meu filho que me escutava atentamente, manda essa pérola, muito sério:

- Tá bom, mãe. Também... Esse coelho da Páscoa NUNCA me trouxe um ovo mesmo... Se nem ele me trouxe ovo, eu não vou ficar chateado se você não me der.

Fiquei olhando pra cara dele, sem ter o que dizer. Me dei conta, naquele instante, que o fato de eu nunca ter escondido os ovos de Páscoa pela casa na intenção de fazer meu filho acreditar que tinham sido trazidos pelo coelho, não fez Miguel não acreditar no tal coelho, apenas fez com que ele acreditasse que o coelho, sabe-se lá por que motivo, nunca esteve lá em casa, nunca lembrou de trazer o ovo dele. 

Decidi que esse ano serei "uma mãe melhor" e que vou esconder o ovo "trazido pelo coelho". Conversando com o Miguel, disse que tinha passado um email para o coelho da Páscoa - tempos modernos! - pra conferir se ele sabia exatamente onde ficava nossa casa. E que o coelho disse que estava com o endereço errado por todos esses anos, mas que dessa vez acharia nossa casa, com toda certeza. Aí, Miguel me perguntou:

- Mãe, por onde será que o coelho vai entrar na nossa casa?

Respondi:
- O Coelho da Páscoa sempre acha um jeito, eles são muito rápidos e espertos. 

Miguel continuou:
- Mas, mãe, você pode passar outro email pro coelho pra gente pedir outra coisa pra ele?

Meu Deus, pensei, o que mais esse garoto vai querer que o tal do coelho faça? Entretanto, mediante a culpa de ter deixado meu filho sem a fantasia lúdica do ovo de Páscoa trazido pelo coelhinho por todos esses anos, disse ao Miguel que tudo bem, poderia passar outro email e perguntei o que ele queria que eu escrevesse pro coelho. Miguel respondeu:

- Mãe, será que você pode pedir pro coelho esconder meu ovo em um lugar bem fácil de encontrar? Fala pra ele, mãe, que eu sou um menino preguiçoso pra ficar procurando muito tempo...

Resumo da ópera: eu sou a mãe perfeita pro meu filho. Eu com preguiça de esconder os ovos, ele com preguiça de procurá-los. Deus é ou não é maravilhoso?




terça-feira, 15 de março de 2016

Aniversário de CCAA




Entrei no CCAA com 13 anos. Nem pensava em estudar inglês fora da escola, onde tinha sérios problemas pra entender o verbo TO BE. Minha irmã surgiu com a ideia em casa e minha mãe nos matriculou. Desde a primeira aula, achei o máximo. Entendia tudo o que passei anos achando dificílimo. Nunca pensei que essa escola marcaria tanto a minha vida. Tive professores maravilhosos (Edna, Mansur, Soraya Farage) e, mesmo já cansada por tantos anos de estudo, devo a eles a alegria de ir pras aulas durante 6 anos e meio. Nunca imaginei que o CCAA não mais sairia da minha vida. Lá se vão 32 anos. 

Quando terminei o curso, sentia que ainda não era a hora de ficar longe do idioma pelo qual me apaixonei. Resolvi fazer o Teacher´s Course. No meio do caminho, senti um fogo aquecendo meu coração. Fazia faculdade de Relações Públicas, mas só pensava em dar aulas. Por isso, quando em 13 de março recebi o telefonema me oferecendo uma turminha que começaria no dia seguinte, eu exultava de felicidade. Depois, soube que a tal turminha era em Niterói e fiquei meio murcha. Tinha 21 anos, filhinha de mamãe, não tinha a menor ideia de como chegar em Niterói, mesmo assim aceitei. Telefonei pra minha mãe e contei a novidade dizendo que achava que não tinha feito muito bem em aceitar, afinal de contas, nem sabia como chegaria no CCAA de Niterói. Minha mãe, sempre sábia, disse o que eu precisava ouvir:

- Filha, não interessa se você não sabe. Se não sabe, aprende! Você começa com uma turminha longe de casa, amanhã estará com outras mais perto. O importante é começar. Vai aceitar, sim!!

Lógico que aceitei. O CCAA de Niterói foi um local de muito aprendizado pra mim. Não só dentro da sala de aula, onde cada vez me sentia mais feliz, mas porque lá conheci pessoas que me incentivaram e ensinaram muito. Meu primeiro diretor, o Mauro, sempre foi muito bacana e educado, sempre teve um jeito tranquilo de colocar suas críticas, sempre buscando o crescimento de quem estava a seu redor. No CCAA de Niterói fiz amigos pra vida toda. Dei risadas deliciosas, chorei, vivi momentos que ficarão pra sempre. Tive outros diretores nos muitos CCAAs onde tive o prazer de trabalhar, Ana Lucia, de Ramos, Marisa, de São Cristóvão, Marcia, aqui da Ilha. Sempre serei grata pelo tanto que aprendi com essas pessoas.  

O CCAA sempre acreditou em mim. As pessoas do departamento de ensino, do departamento de coordenação, sempre viram em mim algo que eu não enxergava na época. Sempre vivi a vida sem pensar tanto no futuro, sem muito planejamento de carreira. Eu estava feliz e pronto. Por causa de uma das coordenadoras, a Jane, sou diretora hoje. Ela foi quem me chamou e disse que eu seria excelente diretora quando isso nem de longe passava pela minha cabeça. Devo muito ao antigo diretor de RH, o Nielson. Depois de 6 meses no progama trainee cobrindo a licença maternidade da querida Valnice, o cara simplesmente me chamou pra dizer que eu assumiria a unidade da Ilha do Governador, unidade muito maior que Del Castilho, onde eu estava. Quando sai da sala dele com essa notícia, achei que não fosse conseguir chegar até meu carro. Minhas pernas tremiam com o peso da confiança absurda depositada em mim e que eu sempre fiz questão de honrar. E no CCAA Ilha estou até hoje. São 18 anos aqui.

Olhando pra esses 23 anos como funcionária do CCAA, sinto uma enorme vontade de agradecer. Aos meus professores de TC: Thomaz, Eliana Borges e Eloisa Cardoso. A todos do Departamento de Ensino da época em que eu estava dando aulas por tantos aprendizados a cada aula minha assistida, a cada treinamento e em cada conversa: Deise, Lobato, Rosangela Ferreira, Leticia...

Preciso agradecer ao pessoal do antigo DECOR por cada vez que vinham fazer uma auditoria, com eles aprendi muito. Madalena, Elaine, Jane, Sandra... A Sandra me deu o maior esporro que tomei na vida. Um esporro classudo, sem levantar a voz, sem se alterar, dentro da minha sala, essa mesma sala onde estou agora escrevendo esse texto. Porta fechada, me "descascou". Devo muito a ela por conta dessa bronca. Quando a lavagem de roupa suja acabou, prometi que NUNCA MAIS cometeria os mesmos erros. E cumpri. Cometo erros, sim, nunca os mesmos. 

Sou tão grata a essas pessoas que não tenho como colocar em palavras. Só posso dizer que devo a todos eles pela profissional que sou hoje, devo também aos professores meus colegas e aos diretores meus colegas com quem trabalhei e com quem trabalho até hoje e de quem "roubei" tudo o que achava bacana em cada um deles. Agradeço aos professores e secretários que fazem parte do meu time, com quem aprendo diariamente. E agradeço a todos os que foram meus alunos porque com eles aprendi demais, com certeza mais que ensinei.

No último domingo, dia 13 de março, fiz aniversário de empresa. Aqui estou contribuindo e dando meu sangue há 23 anos. Nunca trabalhei em outro lugar. Sempre fui muito feliz aqui. O CCAA é a minha casa. Tão minha casa quanto a casa onde durmo todas as noites. Tenho um amor enorme por esse lugar, um respeito absurdo. Tudo o que tenho e que conquistei, o fiz enquanto estava aqui dentro. O CCAA é uma parte importante da minha vida, aqui sou extremamente satisfeita. Por isso é que quando meu filho me perguntou hoje de manhã porque é que eu trabalho, fiz questão de lhe dizer:

- Porque eu amo meu trabalho, filho! Eu sou feliz trabalhando no CCAA! 

segunda-feira, 7 de março de 2016

O que tem valor pra você?




Dia desses eu estava nas redes sociais e me deparei com essa frase aí de cima. Nada poderia ser mais distante de mim. Não porque não dê valor a tudo que é difícil de conseguir ou conquistar, mas porque não consigo compreender achar que SÓ o que é difícil vale a pena ou tem valor. Na minha vida muitas coisas muito valiosas vieram com facilidade.

Vamos pensar. Será que aquela viagem que você planejou por um ano inteiro ou mais, pra qual você economizou cada centavo e fez várias horas extras no trabalho se privando, muitas vezes, de saídas e mais horas de sono vai ser mais legal que aquela de última hora, pra qual você é convidada assim, sem esperar, e mete as caras e vai? 

Será que aquela pessoa que você considera maravilhosa e que amaria que fosse seu companheiro, por quem você fica nutrindo uma paixão platônica por meses e que, finalmente, resolve lhe chamar pra sair ou aceitar um convite seu vai ser um parceiro melhor que aquela pessoa que surgiu do nada, quase sem querer, sem sentir, fácil, fácil? 

Será que aquela oportunidade na empresa, a promoção com a qual você tanto sonha e pra qual você vem se preparando há tempos, será mais gratificante que aquela promoção que chega pra você de surpresa?

Eu acho que não, sinceramente. Não estou dizendo aqui que não devemos sonhar, nos preparar pra uma oportunidade, buscar caminhos, estudar. Acho que precisamos estar prontos pra entrar quando a porta que queremos que se abra pra nós finalmente se abrir. Mas valorizar só o que é difícil, só o que chega após um longo caminho percorrido, após uma estrada cheia de obstáculos, depois de muito esforço, é deixar de lado tantas coisas maravilhosas que se apresentam na vida da gente e que muitas vezes não vemos porque estamos preocupados demais olhando o que está ou o que parece estar tão longe. 

O dar ou não dar valor a alguma coisa ou alguém está muito mais em nós que no objeto de desejo. Nós é que atribuímos valor a tudo que nos cerca. E esse valor é relativo. Difere de pessoa pra pessoa. Mas quando aprendemos a dar valor ao que está perto de nós, ao possível, ganhamos a consciência de que sonhar é muito bacana mas que a realização de um sonho não terá mais valor que aquele presente que recebi sem pedir ou lutar por ele. Eu agarrei todas as oportunidades que apareceram pra mim e muitas delas cairam no meu colo, sem muito esforço da minha parte. 

Veja bem, para ocupar o cargo de direção que tenho hoje, fui praticamente inscrita por uma terceira pessoa que disse que eu TINHA que participar porque eu tinha todo perfil de administradora quando nem pensava nisso, estava muito feliz com minha vida dentro da sala de aula, obrigada. Participei do processo seletivo sem tanta gana, porque dava muito valor ao que tinha já e... Pronto. Fui selecionada. O cargo caiu no meu colo e eu não poderia dar mais valor a ele. Sou extremamente feliz e não fico querendo pular de galho em galho porque me sinto satisfeita aqui. Não acho que se eu tivesse participado de 5 processos seletivos, na ânsia de um cargo administrativo e depois de tempos, finalmente, ter conseguido eu daria mais valor que dou ao papel que ocupo dentro da empresa. Uns me chamam de acomodada, eu me chamo de satisfeita. 

Enquanto eu insistia em procurar o cara que eu achava que tinha o perfil pra ser meu companheiro, meu amigo, meu namorado, em caras que claramente não tinham nada a ver comigo, enquanto buscava alguém que quisesse dividir a vida comigo em pessoas distantes, inalcansáveis pra mim naquele momento de vida, continuava sozinha. Um belo dia resolvi olhar pra quem estava ali pertinho, ao alcance da minha mão, querendo estar comigo e... PUM! Era o cara certo! Enquanto eu olhava para o que parecia tão difícil e que supostamente teria um gosto todo especial de conquistar, perdia a beleza do viver um "amor tranquilo, com sabor de fruta mordida". 

Hoje valorizo muito tudo o que tenho. Minha vida, minha casa, meus amigos, minha família, meu amor. Valorizo o vestido que pude comprar e nem ligo se achei um vestido lindo totalmente fora do meu bolso. Esse eu deixo pra lá. Não me interessa. Querer ler um livro que não tenho, me arrumar,  pegar o carro e ir ao shopping pra comprá-lo não faz o livro ser mais bacana que ganhá-lo, do nada, de presente de um amigo. Você pode não acreditar em mim, mas esse é o valor que dou às minhas conquistas e aos presentes que recebo da vida.

Já reparou quando você pergunta pra alguém onde vai passar as férias e a pessoa vai pra algum lugar próximo, ela fala: "Vou ali pra Cabo Frio mesmo..." Quase se desculpando por não falar um "lugar melhor" ou mais excitante, sei lá. E daí como muitas pessoas conhecem Cabo Frio, raras as pessoas falam: "Nossa, mas as praias de lá são maravilhosas, areia fininha e branca... Aproveite ao máximo aquelas belezas!!" Entretanto, quando a pessoa vai pra um lugar distante, badalado, considerado bacana, tipo Ibiza, por exemplo, logo se seguem os comentários: "Uau! Arrasou! Tá rica! Chiquérrima! Aproveite muito. Divirta-se!"

Se não posso viajar pro Caribe, de verdade, serei feliz em Maceió. Porque todos esses lugares tem valor se você os valorizar. O dia em que eu visitar Paris não será mais feliz que o dia em que visitei Gramado. Eu sou feliz quando estou em Arraial do Cabo e valorizo muito estar deitada na minha cama, dentro do meu quarto. Não acho que viajar pra Europa tenha mais valor que conhecer Machu Pichu. E não acho que comprar uma bolsa Chanel me dê mais prazer que comprar uma Arezzo. E se não posso comprar nada, aquela bolsa que está distante de mim, na vitrine, não faz as bolsas que tenho em casa valerem menos. Eu luto pelo que quero mas não acho que só o que chega pra mim com esforço vale a pena. 

Pode ser que você ache muito simplórias essas minhas comparações, mas pra mim viver é simples. A gente é que complica querendo que "as melhores coisas sejam as mais difíceis". Acho que não é isso, não. Vai por mim.