terça-feira, 10 de maio de 2016

7 anos




Miguel, hoje é seu sétimo aniversário. Não consigo evitar me emocionar nesse dia tão importante pra mim. Na verdade, um dividor de águas na minha vida porque seu nascimento separou a Paula de antes do Miguel da Paula de depois do Miguel. 

Então vou falar de mim, das mudanças que sua presença em minha vida operou. 

Você virou tudo de cabeça pra baixo e confesso que quase enlouqueci. Foram 3 anos sem dormir uma noite inteira porque você sempre foi bom de boca e acordava pra mamar. Eu não tinha mais tempo pra mim, eu só tinha olhos pra você e sentia falta da minha vida livre e descompromissada de antes de você. Tudo parecia muito pesado, a rotina extenuante. Eu que sempre devorei livros, passei quase dois anos inteiros sem ler nada. Pra algumas mulheres é fácil, filho. Pra mim, foi bem complicado. 

Mas a mágica da maternidade começou a atuar na minha existência. De pouquinho em pouquinho, me descobri uma mulher diferente, com meu coração e olhos ligados em você. Cheia de interesses diversos dos seus, mas com um amor capaz de me fazer abrir mão de muita coisa pra estar perto de você e pra ver você feliz. Hoje sou uma Paula muito chorona, uma Paula cada vez mais ciente de minhas limitações e com muita vontade de superá-las porque você existe. Eu quero ser melhor pra poder deixar você livre, quero ser melhor pra poder deixar você voar sabendo que seu ninho sempre estará guardado no quentinho do meu colo. 

Ontem, quando você cismou que queria comer sonho e eu dei um jeito de achar o tal do sonho pra você, feliz por ver você feliz se lambuzando de doce de leite, lhe disse:

- Essa sua mãe sempre dá um jeitinho de fazer você feliz, né, Guel?

Muito pé no chão, muito maduro, me deu aula na resposta, como está virando costume:

- Sim, mãe. Mas, olha, nem sempre você consegue.... Mas eu sei que você sempre tenta me fazer feliz. Você sempre se esforça, você nunca desiste, mãe... 

Filho, uma vez desejei que você soubesse  que não sou a mulher maravilha, que sou humana e cheia de falhas. E você me mostrou que aos 7 anos já entendeu isso. Sou somente uma mulher que se tornou mãe ao seu lado e que se esforça arduamente em cada minuto do seu dia pra acertar. E é verdade, Miguel... Nem sempre consigo. Que maravilha saber que você sabe que eu tento, sempre e muito, com todas as minhas forças, fazer você feliz. 

Obrigada por esses 7 anos ao meu lado. Te amo mais que tudo. Você é minha vida, meu presente.

Feliz aniversário!!

Mamãe

sábado, 7 de maio de 2016

O mais importante



Essa nossa última viagem de férias foi uma grata surpresa. Recebemos tantos presentes do universo, foram tantos momentos felizes, divertidos e encantadores que fica difícil escolher um. Uma sequência de dias lindos que incluíram ver neve caindo e baleias pulando no mar da costa do Oregon enquanto tomávamos café da manhã. E o inesperado é sempre tão mágico, tão delicioso. Não dá pra esquecer.

No último dia de viagem estávamos jantando e foi inevitável que a conversa girasse em torno de tudo o que tínhamos tido a oportunidade de viver, de conhecer, de aprender durante nossas férias. Na conversa, houve um momento em que me lembrei desse video aí do post. Nele, pergunta-se a vários pais quem eles escolheriam para jantar se pudessem escolher qualquer pessoa, viva ou morta, para viverem esse momento de partilharem uma refeição. A mesma pergunta foi feita para os fihos desses adultos minutos depois. 

Lembrei do video porque em dado momento cada um de nós começou a pontuar seu momento preferido ou lugar preferido da viagem. Namorado disse que seu momento preferido foi ter conhecido a fábrica da Boeing em Seattle. Berenice disse que amou o Crater Lake National Park (que é mesmo de tirar o fôlego de qualquer um!) e eu disse que amei ser surpreendida pela baleia saltitante em sua rota de retorno depois do inverno em nosso café da manhã em Yachats. Aí chegou o momento do Miguel dizer o que mais havia gostado em toda a viagem. E aí meu bebê, aquele que outro dia ficava no meu colinho o dia inteiro, usando fraldinhas, dormindo em seu berço, falou assim:

- Nossa... Eu gostei de tudo, sabe, mãe? Nossa viagem foi linda. Mas o que eu mais gostei mesmo foi de ter passado todos esses dias juntinho com a minha família!

Eu, Namorado e Berê trocamos olhares emocionados. Todos preplexos com a pureza da resposta e sua grandiosidade. Eu chorei. A lágrima pulou do meu olho sem eu querer. E eu quero, de novo e de novo e de novo, agradecer a Deus por ter um filho como o Miguel. Alguém que me faz lembrar o que realmente é importante na vida. Como eu amo esse menino....

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Intimidade



Intimidade é algo construído dia-a-dia. Não é algo que se adquire de uma hora pra outra. Desconfio muito de relacionamentos que parecem íntimos de repente, do nada. Na minha cabeça, é difícil eu conhecer alguém hoje e amanhã ser a melhor amiga de infância. Na minha casa convivia com meu pai muito mais tempo que com minha mãe (meu pai passava mais tempo em casa que minha mãe), mas tinha muito mais intimidade com minha mãe que com meu pai. Minha mãe estava disponível pra me escutar, meu pai representava o imprevisível, era o que eu não conhecia e isso me dava medo. A bebida interferiu muito na nossa relação uma vez que qualquer pessoa torna-se duas se bebe: uma quando está sóbria e outra quando está sob efeito do álcool. Eu ficava um pouco perdida, meio sem saber como agir e isso só mudou quando eu já era bem adulta, com maior compreensão. Conforme fui perdendo a revolta pelo tempo perdido, mais fácil foi perdoar e seguir em frente. 

Desde que Miguel nasceu, tenho em minha cabeça esse objetivo: de que meu filho tenha confiança em mim, que a gente possa ter intimidade pra me contar suas dificuldades, suas faltas, suas vitórias, seus medos, seus anseios. E como sei que intimidade se constrói todo dia um pouquinho, nas pequenas atitudes, nas coisas bobas do nosso cotidiano, fui procurando estar dispoível pra ele, ao alcance de sua mão, mesmo longe fisicamente, por vezes, mas presente na qualidade do nosso tempo. 

Eu quero conhecer meu filho e me surpreendo e me chateio com tudo o que vou aprendendo sobre ele. Ele não veio ao mundo pra satisfazer minhas expectativas, não veio ao meu encontro pra mostrar pro mundo o quão boa mãe eu sou. Ele veio pra ser ele e eu repito isso como um mantra para que possa aprender e respeitar. 

Sempre procuro saber do dia do meu filho. O que aconteceu na escola, o que o fez feliz, o que o fez dar risada e sei, só de olhar pra ele, se viveu algum momento de tensão, insatisfação. Se brigou com algum amigo, se está com raiva por alguma razão. Na maior parte das vezes, quando não quer falar na hora que eu pergunto, sei que mais tarde ele virá me contar o que houve, no tempo dele. Todos os dias antes de dormir rezamos e conversamos. A conversa gira em torno das coisas bobas do dia, o que vamos fazer no final de semana, o que gostaríamos que acontecesse. E é no escurinho do quarto que nos abrimos mais. Ele fala muito dele mesmo porque eu pergunto muito o que ele pensa disso e daquilo. Sobre a escola, assunto recorrente em nossas conversas, pergunto sempre se tem ficado de boquinha fechada (ele conversa muito e é agitado), se tem se atrasado pra fazer as atividades propostas pela professora (com tanta conversa, algumas vezes se atrasa pra copiar as atividades), se conseguiu ir pro recreio (às vezes ele perde o recreio pra colocar suas tarefas em dia), enfim, busco saber dele e dou conselhos. 

Essa semana, depois dessa nossa conversa que acaba quando já estou com os olhos fechando de tanto sono (não raro ele ainda quer continuar a conversa quando já nem aguento mais abrir minha boca), fui dizer boa noite e ele falou:

- Não, mãe... Peraí... Quero saber umas coisas de você. Posso perguntar? 

Respondi que sim e esperei. Miguel começou:

- E no seu trabalho, mãe? Como foi o seu dia? Os alunos estão indo pra escola? Tem alguém que está faltando muito? Você teve que conversar com muitos pais hoje? Você fez todas as suas atividades ou tem alguma atrasada? Você conversou com seus amigos do trabalho?

Nossa... Fiquei rindo por dentro e fui respondendo cada uma daquelas perguntas muito impressionada por meu filho saber tanta coisa do meu local de trabalho. As perguntas que me fez são muito pertinentes ao meu dia-a-dia, ele escuta minhas conversas com o Namorado e sabe muita coisa sobre o meu dia. E também sabe transferir as preocupações que mostro ter com sua escola para o meu trabalho. 

Eu achei tão lindo ele demonstrar essa preocupação, querer saber de mim, do meu dia, da minha rotina. Senti uma parceria bonita crescendo, fazendo parte do nosso relacionamento. Senti um carinho verdadeiro, uma entrega. Ele se importa comigo, tanto quanto me importo com ele. E isso é tão bom de sentir, principalmente no relacionamento mãe e filhos. Estamos tão acostumadas a nos doar sem esperar NADA em troca que ficamos surpresas quando vemos que o filho se importa com a gente. Talvez porque pra mãe o mais importante é ver o filho feliz, não estamos acostumadas a pensar em retorno quando tratamos desse tipo de relacionamento. Por isso que dizem por aí que é o único amor incondicional. E é a mais pura verdade. 

Eu e Miguel estamos construindo nosso relacionamento um pouquinho a cada dia. E é muito bonito de ver que sinto estar indo pro caminho certo nesse sentido. Estamos ficando íntimos, de pouquinho em pouquinho. Miguel me devolve, em suas atitudes, muito, muito amor. E ele nem sonha o quanto sou feliz só por ele existir em minha vida...