quinta-feira, 19 de maio de 2011

Infância

Ontem a noite cheguei tarde em casa por causa de uma reunião de trabalho. O Hugo pegou o Miguel na creche e estava cuidando dele quando cheguei em casa. Depois de tomar banho e comer, fui me juntar a eles no quarto do Miguel e, de repente, muitos pensamentos a respeito da minha infância invadiram minha mente.

Quando eu era menina, nunca vi meus pais andarem de mãos dadas, nunca os vi se beijando, ou assistirem televisão sentados um ao lado do outro ou fazendo carinho. Também nunca vi meu pai falar que minha mãe estava bonita com essa ou aquela roupa. Não os via sairem sozinhos, fazendo um programa a dois. Meu pai era meu pai e minha mãe era a minha mãe. Eles não eram namorados. Não sabia que pais podiam ser namorados e só um tempo depois comecei a perceber que alguns pais de amigos namoravam. E percebi, também, que adoraria ter "pais namorados". Mas, enfim, nunca tive esse modelo de relação em casa e não estou me lamentando. Cada família é de um jeito e estou aqui vivinha da silva. Com sequelas? Acho que sim. Mas quem não tem?

Bom, o fato é que ontem, lá no quarto do Miguel, sentei ao lado do Hugo e encostei minha cabeça em seu ombro e ele ficou mexendo nos meus cabelos, como é seu costume. Hugo é extremamente carinhoso e estamos sempre de mãos dadas. Quando olhei pro Guel ele estava nos observando e sorrindo e imediatamente me lembrei de quantas vezes eu desejei presenciar essa cena entre meu pai e minha mãe. E pensei que, talvez, meu filho nunca vá saber o que é não presenciar esses momentos de carinho entre pai e mãe. Fiquei imaginando a sensação de segurança que deve ser pra uma criança ter "pais namorados". Como deve ser gostosa a sensação de ter nascido de um pai e uma mãe que se gostam tanto. Pensei também como Deus foi bom comigo... Eu não vivi isso na infância, mas estou vivendo isso agora, apenas desempenhando outro papel. E me sinto tão plena, tão feliz, que não dá pra explicar.

Mais bonitinho ainda é que, na maior parte das vezes em que eu e Hugo estamos juntinhos e que nos abraçamos e beijamos, Miguel pára, fica olhando com cara de satisfação e ri. Normalmente, o namorado fala pro Guel: "Vem, filho, vem dar abraço na família!" E o Guel vem correndo e ficamos os três, abraçados e rindo, com total noção de que isso é que é ser feliz.

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