Essa semana fui almoçar com amigos do trabalho de quem gosto muito. E é sempre muito bom estar com pessoas legais e passar momentos rindo, compartilhando esse momento feliz e jogando conversa fora. Lógico que um dos assuntos foi sobre filhos. Mesmo que Malu e Renata não os tenham, são rodeadas por amigos e familiares com crianças e o assunto não é problema pra elas.
Quanto à Malu, não sei se um dia terá filhos. Ainda não conversei com ela sobre isso. Entretanto, durante aquele almoço, durante aquela conversa toda sobre tantos assuntos, vi nos olhos na Renata algo diferente, algo que não via antes. Acho que está chegando a hora de ela e seu marido trazerem um bebê fofo pra vida deles. Não estou falando isso por ser vidente, ter bola de cristal ou coisa que o valha. Falo porque nela enxerguei a mim mesma há alguns anos. Falo porque vi em seus olhos um brilho que via nos meus quando me decidi, quando decidi que ser mãe seria uma experiência válida e que traria, entre tantas coisas, ainda mais amor pra mim e pro namorado nessa vida que estamos construindo. Os olhos da Renata são olhos de quem está sentindo que a vontade é maior que o medo, são olhos de quem pressente que a mudança por vir vai ser boa, olhos de quem quer pagar pra ver.
E eu, que não romantizo maternidade, que não acho tudo lindo nem fico floreando meu dia-a-dia, que tento ser o mais verdadeira possível, comigo e com os outros, tenho que falar do lado bom também. Porque ele existe! O lado bom de ser mãe é quase um estado de espírito. Do mesmo modo que a culpa me acompanha sempre, o sentimento divino de amar de um jeito inexplicável também está sempre comigo.
Minha vida mudou tanto desde que o Miguel nasceu. Muito mesmo. Mas não foi pra pior. Mudou e pronto. O nascimento do meu filho significou o surgimento de uma vida diferente pra mim. Vivo outra vida, é fato. Só que mesmo que sinta saudade da vida antiga, não quero mais voltar pra ela. Acordar e olhar pro rosto do Miguel não tem substituição pra mim. Não há nada que se compare ao meu coração TODOS os dias quando estou chegando na porta da creche pra buscá-lo. O coração bate mais feliz porque quando o Miguel ouve minha voz, sai correndo sorridente pra me abraçar e diz pra mim: "vamos pra casa, mamãe." Naquele momento, Miguel me resgata. Resgata do pior estresse que eu tenha tido no trabalho, me faz esquecer uma briga, uma preocupação qualquer. O olhar do meu filho tem o poder de tornar todo o resto pequeno, sem importância.
Quando estamos deitados juntos, na hora de dormir, algumas vezes ele pede: "Me dá a mão, mamãe." Nesse instante eu me sinto a mulher mais importante do mundo. O ser mais desejado, mais amado do planeta. Mesmo que ele cresça e não precise mais da minha mão tão frequentemente, a lembrança desses dias vai alimentar minha alma pra sempre. Quando Miguel está com sono e olha pra mim com seus olhinhos rasgados e diz: "Qué colinho, mamãe..." Como posso dizer não? O cheirinho do corpo dele, o contato com sua pele macia, me faz pensar que o mundo é bom e, por um instante, esqueço as maldades da vida. Quando Miguel acorda e, ao invés de pedir pão e suco como café da manhã, diz que quer "papá" e vai batendo na geladeira onde guardamos a comida, pede macarrão, ou feijão com arroz e carninha, ele me ensina que devemos acordar assim todos os dias: com fome de viver. Miguel tem fome. Meu filho não pára um minuto e come bem. Acordar com fome é maravilhoso! E ver meu filho comendo também. Enfim, o lado bom de ser mãe é que, mesmo tendo milhares de momentos cansativos, dolorosos, preocupantes, mesmo sem dormir, sem a quantidade de sexo que desejamos, sem a liberdade que tínhamos em nossa vida antiga, somos felizes. O lado bom de ser mãe é que a gente passa por tudo isso e, se pudesse voltar atrás, passaria por tudo de novo. É uma experiência da qual não abriria mão.
Nem todas as mulheres escolhem viver isso. Tudo bem. Não acredito que precisamos de filhos pra sermos felizes. Miguel não me completa, Miguel não me realiza como mulher. Não acredito nisso. Ele é apenas uma parte da minha vida. Não sou mais feliz hoje que era antes de tê-lo. Sou feliz de um jeito novo, um jeito único. Apenas a escolha de ser mãe transformou minha vida, muito. Mas preciso deixar claro que ter filhos é uma estrada sem volta. Uma estrada que começa com esse olho brilhando que está na cara da Renata, muito antes até de se engravidar. Começa quando a idéia não sai da cabeça da gente. É estrada sem fim, que não tem mão dupla, estrada só de ida. Mas, de verdade? Nem precisa de mão pra voltar. Quando o filho nasce a gente sente, assim, simplesmente, sente, que não tem outro caminho. Só nos resta aproveitar a paisagem e, pode acreditar, Renata, eu não mentiria pra você: é gostoso. Vai por mim.
Lindooo texto! adorei!
ResponderExcluirObrigada, Renatinha!!! Volte sempre!!!!
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