quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sabonete Líquido



Eu já sei que não sou muito certa da cabeça mesmo. Do nada, começo a pensar em coisas que, pra quem olha de fora, devem parecer algo de mulher que não tem o que fazer da vida. Só que eu sempre tenho muito o que fazer na minha vida, muito mesmo. E, ainda assim, minha mente é bombardeada por pensamentos que tomam um pouco desse meu tempo tão curto. 

Estava eu tomando banho ontem de manhã quando meus olhos se prenderam no sabonete infantil proteína do leite da Johnson que o Miguel usa. Peguei o sabonete e cheirei. Imediatamente senti o cheirinho do meu filho. E me dei conta de que Miguel está com 4 anos e que não precisa mais usar um sabonete diferente do sabonete que eu e o pai usamos. Miguel não é mais um bebê. E fui invadida pelo mesmo sentimento que tomou conta de mim quando tirei o berço dele do quarto e coloquei a cama. Um sentimento de perda. 

Pessoa analisada que sou, comecei a racionalizar a coisa toda porque sou louca mas ainda não rasgo dinheiro. Meu filho está crescendo e é natural que passe a não usar mais sabonete liquido de bebês. Assim como não há nada demais em continuar usando até a idade adulta, se ele desejar. Racionalizando um pouco mais, acho que o que incomoda é ver o tempo passando e, mais além, saber que essa idade tão gostosa, tão mágica, está passando com o tempo. Eu não tenho saudade do meu filho bebezinho de colo. Fato e não vou mentir pra parecer bonito. Nem tenho saudade do meu filho com 1 ano, começando a andar, de um lado pro outro, metendo a mão em tudo o que encontra pela frente. Não tenho saudade mesmo das noites sem dormir, do choro chatinho de bebê. Mas tenho a certeza, assim como sei que o dia vai clarear todas as manhãs, de que sentirei saudade desse Miguel de 3, 4 anos: engraçado, falante, ganhando certa independência, que pede o que quer e diz o que não quer, que acha graça de coisas que eu não acho, que manifesta opiniões e que já me dá umas respostinhas atravessadas e que me faz muito carinho. Dessa fase eu vou sentir, sim, muita saudade. 

Na minha cabeça maluca, essas pequenas decisões como trocar o berço pela cama, ou parar de comprar sabonete especial pro meu filho, significam muito. São os sinais de que meu filho está crescendo e por mais que isso seja maravilhoso, me dá um arzinho de melancolia. Não sei se fico me ligando nessas coisas porque decidi ter apenas um filho e, por isso, tento aproveitar tudo ao máximo, não deixando ou pelo menos tentando não deixar passar nada despercebido por mim. Ou talvez seja apenas porque sou uma pessoa que se liga em sinais. 

Meu filho me ensina tanto e, ontem a noite, enquanto estávamos na cozinha jantando, foi dele que veio o desfecho simples pra essa melancolia. Estava olhando pra ele daquele jeito que só as mães olham pros seus filhos, com aquele olhar perdido em tantos pensamentos, e falei:

-"Filho, mamãe vai sentir tanta saudade de você quando você ficar grande que nem o papai..."

E aí o Miguel perguntou:

-" Por que, mãe? Eu vou ficar grande que nem o meu pai logo?"

Eu respondi que não, que ainda iria demorar um pouco, mas que um dia ele não seria mais o meu bebê. E aí Miguel, daquele jeito de falar comigo olhando bem dentro dos meus olhos, como se sentisse que fosse me dizer algo importante, falou:

-" Mamãe, eu vou sempre ser o seu bebê. Vou ser o seu bebê, só que grande."

E assim foi encerrada a melancolia repentina por causa de um pote de sabonete líquido. Meu filho disse o que todos sabem: que o elo entre mãe e filho não se rompe com a maturidade, com o tempo, nem com a distância, se o relacionamento foi construído com base no amor e na verdade. 

Pode o mundo girar mil vezes, pode haver guerra ou paz. Miguel será do mundo, mas sempre será um pedaço de mim. E eu sempre serei dele. 


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