terça-feira, 13 de outubro de 2015

Benção

Tem uma cena que vejo, seja onde for: novela, filme ou qualquer programa sobre maternidade, que me faz feliz e triste ao mesmo tempo. Sabe quando o bebê nasce e o pai leva o filho até aquele vidro do berçário pra toda família conhecer seu novo membro? Pois é. Eu choro. 

Eu choro de felicidade por aquela família que está tendo a chance de viver essa emoção. Choro porque é muito lindo assistir a chegada de uma nova pessoa no mundo, alguém esperado, desejado e que nasceu com saúde. Mas não posso deixar de admitir que choro por mim também. Por alguns poucos minutos, entro em um processo de autopiedade e choro mesmo. Choro por não ter vivido isso com o Miguel, choro pela angústia que me invade quando lembro do nascimento dele de forma tão inesperada, tão antes do tempo. Choro porque não pude mostrar meu filho pra ninguém quando ele nasceu porque ele foi direto pra UTI neonatal. E choro porque saí do hospital sem carregar meu filho comigo.





Depois de me dar o direito de chorar, olho pro meu filho hoje e paro. As coisas são do jeito que devem ser. Eu precisava de tudo o que vivi, com certeza. Deus sabia que seria um importante aprendizado pra mim e me deu a chance de começar a valorizar a maternidade naqueles dias de angústia em que vi meu filho na UTI, lutando pra se fortalecer. Naqueles dias em que passei horas no lactário tentando arrancar dos meus peitos algum leite pra ele. Naqueles dias em que passei dentro da UTI com meu filho observando o sobe e desce de seu peito, um sobe e desce cheio de esforço, pra se manter comigo. Naqueles dias em que ver o Miguel sugar 10 ml em 45 minutos era uma vitória enorme. Naqueles dias em que tínhamos medo que o telefone tocasse durante a noite porque poderia ser alguma notícia ruim. Naqueles dias em que acordávamos bem cedo e a primeira coisa que fazíamos era ligar pro hospital, tremendo por dentro, pra saber como o Miguel estava. A cada sonda retirada, a cada movimento mais firme, a cada mamada mais forte e rápida, a cada grama que ganhava, a cada respiração sem tanto esforço, a cada aparelho sendo desligado, eu o amei mais. Eu senti a presença de Deus. Eu tornei-me mãe em meio ao meu sofrimento, meu e o de tantas outras mães.  

Por isso tudo é que quando vejo cenas assim ou reportagens como a do Fantástico, sobre bebês prematuros, de domingo passado, eu choro. É que isso me leva de volta àqueles dias e a todas as emoções que senti. Tanto amor e tanta dor e medo, tudo misturado. Na reportagem, eles estavam mostrando um trabalho muito lindo de um fotógrafo registrando a criança quando nasceu prematura e como está hoje. E enquanto eu assistia, foi passando esse filme todo pela minha cabeça. Foi passando tudo o que eu e o Hugo vivemos juntos, sempre de mãos dadas, nos tornando mais fortes a cada vitória do nosso bebê. Naquele domingo, com a televisão ligada, recebi uma mensagem de uma amiga querida que acompanhou meu desespero naqueles dias de UTI, assim como as demais pessoas que viveram minha gestação junto comigo sempre me dando incentivo e força. Ana Maria Sales escreveu assim:

"Estou vendo a reportagem do Fantástico sobre crianças prematuras vencedoras e outras que ainda não conseguiram e lembrei de você, de sua luta e o quanto você foi abençoada com esse menino lindo, saudável, que faz vocês tão felizes. Lembrei de você, mulher vitoriosa e fiquei feliz por isso. Bençãos divinas."

Através da Sales, percebi o que meu coração já sabia: que sou abençoada por ter vivido o que vivi. Hoje, aquele pequenininho que nasceu antes do tempo, com 32 semanas e 6 dias, sem respirar direito, é um menino lindo, forte, alegre, gentil, carinhoso. Miguel é inquieto, é vivo e é minha paz. É sensível, solidário, nunca está alheio ao mundo, ao sentimento do próximo. É cheio de saúde, raramente fica gripadinho! Meu filho é um touro! Olhar pra ele hoje faz com que eu agradeça a Deus por sua vida e pela oportunidade de ser sua mãe. Olhar pro Miguel me faz agradecer a Deus pela oportunidade de ter sido eu a escolhida pra viver tudo o que vivi com ele. 

Você está certíssima, Sales... Bençãos divinas!!





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