Que o Miguel adora uma bagunça e que fala pelos cotovelos todo mundo sabe. As professoras, desde o Jardim I (acreditem!), já relatam essa facilidade do meu filho em se comunicar, digamos assim. Estamos na primeira semana de aulas na escola - a semana antes do Carnaval nem conta, né? - e a professora, quando fui buscá-lo na escola, já falou:
- Olha, esse bonitinho fala pra caramba!
Ok, nenhuma novidade. Eu já sabia disso.
Essa semana recomeçaram também as aulas do CCAA e no primeiro dia de aula o novo professor da turminha, já disse:
- Nossa, Paula! Como seu filho fala!
É, nenhuma novidade. De novo. Mas achei melhor conversar com Miguel antes que as coisas se compliquem. Comentei com o Namorado e ele foi logo dizendo:
- Isso é coisa da sua família, você sabe né? Lembra da Eduarda (filha mais velha da minha irmã)? Quando eu conheci você, ela tinha 4 anos. Lembra que eu a chamava de "burro falante" por causa do filme SHREK? Ela não parava de falar! Depois veio a Rafaela (filha mais nova da minha irmã) ... A mesma coisa! A garota me deixava atordoado com o tanto de histórias que sempre tinha pra contar! O genética terrível essa de vocês! E agora, temos o Miguel, Paula. Já reparou que eu chego do trabalho e mal tenho tempo de dizer boa noite? Ou perguntar como foi o dia? O garoto já sai me metralhando e se eu não pedir pra ficar um pouquinho em silêncio, acho que ele é capaz de falar madrugada adentro! Chega a me dar um desespero!
Depois dessa, falar mais o quê? Namorado tem razão mesmo. E, pra ele que é bem mais fechado e calado que eu, deve ser desesperador lidar com tanta falação.
Então, à noite, na hora em que estávamos deitados juntinhos, antes de dormir, puxei o assunto com o Miguel.
- Filho, eu sei que conversar com os amigos é muito bom.
Miguel ficou me olhando com cara de "iiiiihhhhhh, lá vem ela!" Mas ficou caladinho aguardando o que viria a seguir. Continuei:
- Só que tem hora certa pra gente conversar com os amigos. Não pode ser toda a hora. Na escola, por exemplo, você não pode ficar falando durante a aula. É hora de prestar atenção ao que a professora está dizendo, ao que ela está explicando. Além disso, não é educado ficar conversando enquanto a professora explica as coisas. Você deve conversar na hora do recreio ou antes de entrar na sala de aula, enquanto está esperando sua professora para levar você e seus amigos pra aula. No CCAA, a mesma coisa! É preciso ficar calado na hora que seu professor Edmar for contar a historinha da lição, tem que ficar de boquinha fechada, com atenção para falar na hora em que o professor pedir, tá bom?
Fiquei falando esse tempo todo, explicando tudo pra ele e ele olhou pra mim e respondeu com um simples e breve:
- Tá bom.
Na hora do menino falar, dialogar comigo, não quer. Mas quer falar durante as aulas. Ok. Entendi perfeitamente que Miguel não estava a fim de ficar rendendo a questão. Ele sabe a mãe que tem... Assunto encerrado, fomos dormir.
Hoje cedo, quando acordei pra ir pra academia, Miguel me viu acordando e levantou atrás de mim. Perguntou onde eu estava indo e respondi. Disse que queria ir comigo pra aula de ginástica, "pra ficar mais um tempinho juntinho". Me arrumei, arrumei meu filho e lá fomos nós. Ele ficou quietinho sentado em um colchonete a aula toda, não atrapalhou nada. (Mãe orgulhosa!)
Quando estávamos já no carro, voltando pra casa, Miguel puxou conversa:
- Mãe, ontem você me falou que não posso conversar na aula da escola e do CCAA. Mas eu já sei porque eu sou assim, porque eu falo muito...
- É , filho? Por quê?
Miguel se aproximou do banco do motorista do carro e com seu dedinho indicador me deu 3 cutucadas e falou:
- Puxei a você, mãe! Você fala pra caramba também! Falou muito na sua aula de ginástica!
Ainda pensei em mandar o famoso e antigo "faça o que eu digo e não faça o que eu faço" que escutei tantas vezes, mas achei que não tinha nada a ver com o tipo de educação que venho dando ao meu filho. Acredito que o exemplo seja sempre o melhor modo de educar. Por fim, meio desbundada, falei só que uma aula de ginástica é muito diferente das outras aulas e deixei morrer o assunto. Mas na verdade, na verdade mesmo, Miguel tem toda a razão. Eu falo muito e ele é igual a mim.
Durma com um barulho desses, Senhora Paula!