Muitos não sabem, mas não moro desde que nasci na Ilha do Governador. Só me mudei pra cá em 1994 e, portanto, minhas lembranças na infância e da adolescencia não se encontram aqui. Elas estão lá, na Leopoldina, mas precisamente em Olaria, na rua Conselheiro Paulino, exatamente 4 ruas abaixo do pé do complexo do Alemão.
Naquelas ruas do bairro estão muitas das minhas mais gostosas lembranças: caminhadas até o ballet, até a escola, até o CCAA. Brincadeiras no meio da rua mesmo, até tarde durante as férias, festinhas, paqueras, beijos. Meu pai tomando sua cervejinha no botequim com os amigos de sempre, meu pai se preparando pra desfilar pela nossa escola de samba - a Imperatriz, e a quadra... A quadra da Imperatriz! Até hoje, quando ouço a bateria da minha escola do coração, sinto um arrepio, uma onda de nostalgia e emoção que só quem tem saudade e amor sabe o que é. Meus amigos de infância não são os da Ilha: embora já tenha feito muitos amigos por aqui ao longo desses 17 anos, são os que fiz lá.
Enfim, estou dizendo tudo isso porque hoje é com muita alegria que vejo aquele povo de lá ficar livre dos traficantes, ganhando seu direito de ir e vir há muito tolido. Quando olho aquelas ruas todas as vezes que vou até lá pra votar, as lembranças só chegam a minha mente pela sensação de estar ali, mas as ruas, as casas, as pessoas não são as mesmas. O local se deteriorou, ficou cinza, feio. A visão que eu tinha do morro do Alemão quando abria a janela do meu quarto era de uma montanha quase toda verde com algumas casinhas. Hoje, a montanha é tomada de casas e tenho a sensação que ao abrir a janela daquele mesmo quarto onde dormi e sonhei durante tantos anos, eu me sentiria oprimida e com a impressão de que as casas estariam invadindo meu espaço, quase caindo lá dentro do quarto. E o povo de lá não merece isso.
Esse final de semana fiquei feliz por ver a ação da polícia, tão preparada, tão certa, devolver a comunidade a quem pertence de fato. E meu coração se enche de alegria porque parte de mim vai morar ali naquele lugar pra sempre. Serei sempre suburbana, daquelas que cresceram vendo os vizinhos colocarem as cadeiras na calçada pra conversar. Parte de mim pertence àquelas ruas, àquela gente, àquela escola de samba. Por isso, meu coração não pára de cantar "Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós! E que a voz da igualdade, seja sempre a nossa voz!"
http://www.youtube.com/watch?v=pD1MJYC2nsw&feature=related
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