quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mãe de UTI

Eu sou mãe de UTI. E, como todas as experiências na vida, por mais que a gente imagine como seja, só quem passa é que sabe mesmo. Vira e mexe eu penso nisso e embora o Miguel já esteja com 1 ano e meio, só de lembrar daquele período meus olhos se enchem de lágrimas e é difícil não chorar.

Sou programada desde meu nascimento para ser feliz e isso é muito bom porque me faz enxergar o lado positivo das coisas e também é muito ruim porque estou sempre achando que tudo pra mim vai dar certo. No final das contas, é melhor pensar positivo mesmo e ir em frente, mas tenho um pouco de dificuldade em lidar com as coisas e acontecimentos quando eles fogem do meu controle, quando não estão ao alcance das minhas mãos, por mais que eu me estique. E foi assim com o Miguel.

Quando voltei da casa da tia Bá naquele domingo, dia das mães, estava ótima, me sentindo muito bem e feliz com meu barrigão. Primeiro dia das mães com o Miguel. Verdade que pela manhã já tinha sentido umas cólicas e cheguei até a ligar pra minha médica. Como ela perguntou se eram fortes e eu disse que não - não eram mesmo - ela disse pra eu relaxar e ligar pra ela se a intensidade aumentasse. Já estava entrando no oitavo mês, havia feito uma ultra na sexta-feira anterior e estava tudo perfeito. Miguel já estava em posição de nascimento, peso e tamanho normais, enfim, tudo ok.

Quando minha bolsa rompeu eu não acreditava que meu filho iria nascer mesmo, antes do tempo. Minha ficha não caía até minha irmã falar: "Paula, acorda, sua bolsa rompeu e seu filho vai nascer. Se arruma logo porque as contrações vão começar. Não tem nenhum remedinho pra segurar o bebê aí dentro não!" Dito e feito. Logo as contrações começaram e Hugo saiu que nem louco dirigindo pela linha amarela. Ainda pegamos uma blitz e Hugo buzinava tanto que chamou a atenção dos policiais que abriram caminho pra que a gente passasse. Em 20 minutos eu estava na Perinatal na Barra.

Eu ainda não tinha percebido que as coisas seriam diferentes pra mim. Eu parecia envolta em uma espécie de neblina que me impedia de enxergar as coisas do jeito que são. Meu bebê nasceu e foi pra UTI. E aí, coisas tão sem importância começaram a chamar minha atenção como uma simples plaquinha na porta de todos os quartos de bebês recém-nascidos. Sabe aquelas plaquinhas com o nome do bebê que a gente leva pra colocar na porta do quarto da maternidade? Pois é. A do Miguel não estava pronta. E, mesmo se estivesse, eu não teria lembrado de levá-la. As pessoas chegavam pra visitar e meu bebê não estava no quarto comigo, ninguém podia ver meu bebê e, para meu desespero, quando tive alta na terça-feira de manhã, soube que meu bebê não iria pra casa comigo. Ai, não consigo descrever essa sensação. Não consigo expressar o que é voltar pra casa sem o seu bebê nos braços. Não, eu não consigo.

Foram 15 dias. Os 15 dias mais longos de toda a minha vida. Dias em que chorei muito, sorri muito todas as vezes que chegava na UTI e encontrava meu bebê bem. Senti muito alivio todas as manhãs quando ligava pro hospital pra saber como ele havia passado a noite e tinha notícias boas. Comemorei muito com o Hugo todas as vezes em que voltava do lactário e tinha conseguido tirar mais 10ml do meu leite pra deixar pro Miguel. Se não fosse o Hugo, nem sei. Ele é que segurou meus rompantes de loucura, mesmo quando, em um sábado à noite, ao voltar do hospital, cismei que queria o quartinho do meu filho todo pronto porque ele ia chegar a qualquer momento. Fomos dormir de madrugada, mas terminamos tudo.

A mãe de UTI se culpa muito também. Eu questionava se havia feito algo errado, se tinha malhado demais, viajado demais. Mas todos os exames foram feitos no Miguel e em mim para tentarmos descobrir o que pode ter provocado o parto prematuro e não houve nenhum indício, foi assim porque tinha que ser. Lembro de todas as mães que estavam naquela UTI junto comigo e de seus bebês. Conheci mães que estavam lá há 6 meses, 2 meses, dias ou semanas. Todas nós unidas em uma mesma torcida. Vi vitórias de bebês miudinhos, vi chegadas de bebês cheios de complicações, vi altas, vi cirurgias, vi morte. E quando penso naquele período da minha vida, sempre peço a Deus que todos aqueles que dividiram comigo aqueles 15 dias estejam bem.

Hoje quando olho as fotos do meu filho tão pequeno quando nasceu, parecendo um bonequinho, sinto um orgulho dele imenso. Vejo o quanto meu filho é guerreiro e já nasceu lutando. E eu que não sabia nem se queria experimentar esse amor de mãe um dia na vida, descobri que quando ele chega é a coisa mais visceral que pode existir nesse mundo. O amor de mãe é capaz de tudo. E a diferença das mães de UTI para todas as outras é que ela descobre isso na pancada, na base do tapa na cara. Eu descobri na UTI que esse amor é enorme mesmo, maior que eu.

2 comentários:

  1. Uau, adorei o post.
    Minha filhota nasceu com 2.100kg e teve que ir pra uti, minha ficha ainda não caiu. Ela está na perinatal da barra tbm. Olha, realmente é indescritível a sensação de sair do hospital sem nossos pequenos. Fiquei meio sem rumo. Os dias estão longos. Mas sei que Deus mais uma vez irá nos honrar.
    Bjs

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  2. Sei que é duro e que bate um desespero. Mas não perca a sua fé e aguente firme!! Logo ela estará em casa com você. Estou torcendo e rezando por vocês!!!

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