Quando vi a capa da revista Época do final de semana passado com a manchete "Filhos e Felicidade" pensei logo que aquela matéria me interessava muito. Em um mundo onde tudo aponta para a felicidade absoluta que é ou deveria ser o fato de se ter filhos, ler algo que questione essa "verdade" divulgada aos quatro cantos do mundo por gerações e gerações é como sentir uma brisa fresca batendo no rosto, é como um suspiro de alívio. No sábado não tive tempo de ler a matéria, mas o fiz no domingo.
Na matéria, alguns casais, com sinceridade e coragem, mostravam suas dificuldades desde que tiveram filhos, dificuldades que passam por falta de sexo, falta de tempo (pra ler um livro, assistir a um programa, tomar um banho, ficar quieto com quem se ama no sofá de mãos dadas), falta de dinheiro, brigas com o parceiro que reclama sua atenção ou porque ele/ela não lhe ajuda como gostaria, frustração na carreira, frustração com a rotina cansativa e entediante, frustração por ter se preparado tanto para o momento que o filho chega na nossa vida e se deparar com uma realidade totalmente diferente, saudade dos programas adultos, saudade de ouvir sua música preferida (não, galinha pintadinha, backyardigans ou Xuxa não valem), e por aí vai essa lista sem fim.
Confesso que fiquei feliz por ver que muitas outras pessoas estão deixando de lado o medo de serem julgadas como péssimos pais e se abrindo pra falar o que acontece, na realidade, dentro da gente quando temos um filho. As pessoas estão admitindo que não são só maravilhas como quase todo mundo fala e colocando os pés no chão pra enxergar que filhos são, na maior parte do tempo, uma loucura, quase um inferno. Só não é um inferno porque existem momentos de pura magia que apagam as chamas do inferno que teimam em nos envolver. Existem momentos, rápidos como um piscar de olhos, em que um sorriso, um beijo, um carinho, faz toda essa loucura valer a pena. Vale a pena, sim, é uma experiencia única. Mas nunca pude fechar meus olhos pra todas as coisas ruins que acompanham a maternidade, mesmo que eu tenha precisado de coragem pra expor o que vai em meu coração quando sinto vontade de largar tudo e sair correndo. Ainda preciso de coragem pra falar que muitas vezes me sinto sufocar.
Legal saber que não sou a única mãe na face da terra a dizer que não é tão simples como me fizeram acreditar. Bom saber que não sou a única que sente necessidade de falar sobre a insatisfação gerada por tantas mudanças advindas do fato de ter filhos. Quem sabe os próximos pais terão uma ideia melhor, mais perto da realidade sobre o que, de fato, significa ter um bebê em sua vida. Assim, quando as pessoas decidirem ter filhos, o farão esperando também o tsunami que vem com eles. Não serão mais pegos de surpresa por terem alimentado a vida toda uma ideia falsa de felicidade absoluta, de alegria serena por criar uma família completa. Deixando tudo às claras podemos, pelo menos, ter uma noção do que nos aguarda e, embora a realidade sempre seja bem pior que os piores avisos, haverá menos culpa, frustração e surpresa.
Os casais da reportagem estão até agora procurando o tal do paraíso da frase que diz que "ser mãe é padecer no paraíso". Tenho vontade de passar um e-mail pra eles, telefonar, fazer um sinal de fumaça qualquer implorando pra eles me falarem onde está o paraíso se o encontrarem. E ainda me comprometo a fazer o mesmo por eles. Se esse paraíso existe, ainda não apareceu pra mim. Se aparecer por aqui, podem ter certeza que aviso.
Também adorei a reportagem: direta, sem rodeios, sem frescura. Acho que é algo que está apenas começando, admitir tudo isso, etc, mas que bom que começou. Para mim o que mais pesa é o isolamento social, mas venho procurando meios de driblar esse sofrimento. E a cada dia que passa, apesar de tudo, ainda acho que vale muito à pena! Adorei o teu último parágrafo, me inclui nessa, hehe. Beijos, Paula!
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Beleza, Ana, já sei que se encontrar o paraíso antes de mim, vai me falar!!! Já é uma força!!! Beijos!!!
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