Tem dias em que me sinto sozinha.
No meu trabalho, estou sempre rodeada de muita gente, de todas as idades, pessoas alegres, divertidas, mas, em se tratando de trabalho, não é nenhuma novidade dizer que rolam uns estresses normais de qualquer lugar onde muitas pessoas trabalham juntas e desempenham diferentes funções. Nada que não possa ser resolvido com uma boa conversa, vontade de acertar e bom senso.
Acontece que ocupo o cargo de chefe e a verdade é que ninguém, ou quase ninguém, nunca pensa no que o chefe sente, ninguém nunca tenta se colocar no lugar dele. Sendo mais específica, as pessoas de secretaria, por ocuparem a mesma função, podem se consolar, desabafar entre si, vão sempre se entender, vão compreender as dificuldades de seu dia-a-dia. Os professores também encontram-se unidos pelas mesmas tarefas, pelos mesmos problemas e, na maioria dos casos, vão procurar compreender as reclamações, críticas e conversas em geral inerentes a profissão que surgem quando estão juntos. Mas e o chefe? Com quem ele fala quando está descontente? Quando está inseguro? Com quem ele divide uma angústia relativa ao seu trabalho, um medo? Ele que é o responsável por manter o grupo unido, por apaziguar conflitos, colocar panos quentes em situações e fechar os olhos pra outras? Ele que é o responsável por estimular o time a prosseguir, a incentivá-los a ir além? Com quem ele partilha essa carga?
Quando a Bianca Way estava comigo, quando era minha coordenadora de ensino, era mais fácil. Podíamos dividir as preocupações, pensávamos juntas na melhor solução, conversávamos sobre o trabalho e tínhamos uma visão semelhante por ocuparmos um cargo semelhante. Ela entendia minhas dores. E me ajudava a aliviá-las. Trabalhar com ela tornava um pouco mais fácil tomar grandes decisões, muitas vezes de supetão. Não é simples quando uma situação se apresenta e você mal tem tempo de refletir porque tem que decidir na hora, tomar uma atitude no momento e arcar com suas consequências sozinha. Por isso sinto tanto a falta dela... Porque além de minha amiga, ela me ajudava a não enlouquecer quando as coisas complicavam muito. Bianca, por ter uma visão mais fria de tudo, me ajudava a não sofrer com atitudes egoístas, de gente que não consegue enxergar o todo.
Apesar de a Bianca não estar comigo há bastante tempo - sei lá, 4, 5 anos? - tenho a impressão que sempre sentirei sua falta. Ainda sinto o choque que levei no dia em que ela me falou que ia para o Departamento de Ensino. Tenho consciência de que não poderia haver pessoa mais capacitada que ela para o cargo e que sua contribuição para a empresa é muito maior estando onde ela está. Sei também que, se ela alguma vez não me compreendeu, hoje, com a vivência de líder de equipe, ela compreende.
Bianca, por ver as coisas de forma diferente de mim, contribuía muito, é uma mulher de muitas ideias criativas e eu sou uma mulher de execução, por isso era tão bom. Não concordávamos em tudo, mas nos respeitávamos demais, sabíamos que tínhamos a sorte de estarmos trabalhando juntas, crescendo, aprendendo uma com a outra. Eu não tenho a carinha doce da Bianca, a fala mansa e a voz baixinha, nem o jeito discreto dela, mas meu coração é uma manteiga. Ela sempre soube ser mais durona que eu, contrariando sua aparência e seu jeito. Enfim, por tudo isso é que em muitos momentos me sinto só. E por mais que eu saiba que a vida é assim mesmo e que estamos aí pra lutar todo dia nossas batalhas pessoais, ainda me dói, pelo amor enorme que tenho por ela, saber que a gente era muito feliz juntas e que hoje, muitas vezes, minha amiga se sente como eu: sozinha.
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