quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Grito de Alerta



Sem sombra de dúvida, a música do Gonzaguinha que mais gosto é "Grito de Alerta". Entre tantas músicas boas e letras fortes, essa é a que mais mexe comigo. E hoje, ao entrar no meu carro, voltando pra casa depois da aula na academia, liguei o rádio e estava tocando essa música cantada pela maravilhosa Maria Bethânia. Na hora, tantas lembranças e momentos vieram à minha cabeça e vi que essa música deve se encaixar na vida de quase todo mundo... 

Quem nunca quis falar esse tanto que é dito na letra da música? Quem nunca quis dar um ultimato, um aviso de que as coisas não iam bem? Quem nunca viveu um relacionamento onde se machucou dando espaço demais ao outro? Quem nunca esperou que alguma coisa acontecesse, algo decisivo, que resolvesse sua vida, desse uma guinada no curso da sua história? Quem nunca se viu imprensado entre o que o coração quer e o que a razão recomenda? Quem nunca avisou, discutiu, tentou mostrar seu ponto de vista ou deu o seu "grito de alerta" na esperança de que as coisas ficassem diferentes? 

Enfim, música linda que me remete a uma fase da minha vida nem tão bonita assim, mas que tenho orgulho de ter vivido e aprendido muito com toda a experiência pela qual passei. E, depois, recordar é viver ... Não é isso que dizem por aí?

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Antes de dizer, pense.

Sou uma pessoa de fé. Fui criada na igreja católica e gosto, por mais que muitos achem estranho, de missa. Gosto de cantar, gosto de rezar, gosto de ouvir o padre. Entretanto, como acredito em vida após a morte, reencarnação, sou espírita. Não gosto de nenhuma crença ou religião que deixe as pessoas burras, que tirem o poder de reflexão. Sigo o que disse Allan Kardec: "Não aceite nada que sua razão não aceitar." E, como diria minha querida Katia Barbosa, "acho muito digno" que alguém considerado o fundador da doutrina espírita tenha divulgado esse pensamento, o pensamento de que devemos sempre questionar e não apenas aceitar o que é dito por seja lá quem for, padre, pastor, ancião, medium ou pai de santo. 

Por isso, é que, muitas vezes, quando estou em uma missa e vejo que o discurso do padre segue uma linha tacanha, de pensamento estreito que não acompanha todas as muitas modificações desse nosso mundo, me dá vontade de começar a falar ou de, simplesmente, ir embora. Tem gente que poderia ficar calado ou pensar vinte mil vezes antes de falar tanta besteira. Já fui à missas com padres inteligentes que envolvem a comunidade em uma discussão ampla sobre todo o tipo de assunto, sem medo. E já estive em missas e até em casamentos em que o padre falou tanta besteira que tive pena de quem estava alí, junto comigo, ouvindo aquelas atrocidades. Exemplo: já fui à um casamento em que o padre falou de traição o tempo todo. Já fui à missa em que o padre falou que ter cachorro em casa é como ter o demônio em sua residência. Já ouvi padre condenar fervorosamente o uso de preservativos na relação sexual já que sexo seria só e tão somente para procriação. Enfim, existem padres da idade das cavernas e pessoas para acreditarem que o que falam é o certo. 

Domingo passado, durante a missa das crianças (a Rafa, minha afilhada, está fazendo catequese) a catequista, na hora de organizar as crianças dentro da igreja, disse que as meninas que estivessem usando vestido, por estarem, segundo ela, "mais bonitas", ficariam sentadas na frente e as que estivessem de calças ou bermudas, ficariam na parte de trás. Achei isso de péssimo tom, algo muito fora de propósito. Tudo bem, eu sei que ela precisava adotar um critério na hora de arrumar as crianças, mas não poderia ser ordem alfabética ou tamanho? Tinha mesmo que adotar um critério baseado no tipo de roupa usado por cada criança? Não poderia ser algum critério menos segregador?

Não é o caso da Rafa que, graças a Deus, tem muitos vestidos, mas todo mundo sabe que em uma catequese as turmas são muito heterogêneas - e que bom que seja assim - e existem crianças com realidades diferentes das da Rafa, crianças que, simplesmente, não estavam usando vestido porque não têm nenhum. E aí? Essas nunca poderão ficar na frente? Nunca terão a oportunidade de ocupar a primeira fileira? Terão sempre que amargar os últimos assentos por causa de um critério de ordem infeliz estabelecido pela catequista? 

Só sei que a Rafa saiu da igreja falando que não irá mais à missa usando bermuda, disse que vai querer usar apenas vestido todo domingo. Ok. Ela tem vestidos pra isso, vestidos que garantem seu passe para ocupar a primeira fileira. De forma simples, sem pensar em igualdade social ou problemas mais complexos, ela resolveu seu problema imediato. E as outras? O que pensaram? Será que saíram conformadas com o que a vida lhes reservou até agora? Será que saíram da missa acreditando que o mundo pode ser mesmo um lugar onde todos são iguais? Será que acham que foi esse o legado deixado por Jesus? 

Enfim, gente idiota existe em todo lugar, mas existem coisas que precisam ser mais pensadas antes de ser ditas. Ou, talvez, tenha sido apenas um critério escolhido e que só eu esteja vendo complicação nele. Talvez essa minha mente que pensa demais e questiona demais e com tendência pra desenrolar consequências futuras em tudo o que se faz agora só complique minha vida e o modo como enxergo as coisas. Talvez esse meu jeito só complique as coisas pra mim. A catequista pode não ter tido maldade nenhuma, mas não poderia ter pensado um pouquinho mais antes de divulgar esse seu critério entre as crianças? 

Sei não... Só sei que não consigo evitar pensar no desdobramento de atitudes e palavras e isso é meio enlouquecedor. Agora responde aí: a vida é louca assim mesmo ou será que tudo está, a cada dia, mais louco? Sei não... Não sei mesmo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mais um Natal sem foto





Uma das coisas que todas as crianças, ou quase todas, têm é uma foto com o Papai Noel. É quase tradição nessa época tirar a eterna foto com o bom velhinho. Eu gostaria muito que meu filho também achasse isso.

No primeiro Natal do Miguel, ele tinha apenas 7 meses e nem pensei em levá-lo pra tirar a foto por ser ainda muito pequeno. A foto não teria muita graça. Deixei para seu segundo Natal. Miguel estava com 1 ano e 7 meses e fui encontrar duas amigas no shopping para trocarmos os presentes de nossas crianças. Tanto a Rafa quanto o João - mais velhos que Miguel - tiraram as fotos e fui conversando com o Miguel que estava no meu colo, fazendo uma preparação psicológica até colocar o Miguel no colo do Papai Noel. Pronto. Foi o que bastou pro menino desandar a chorar, abrir o maior bocão e não tirar a foto.

Repeti pra mim mesma que ele ainda era pequeno, meio que pra me consolar, com esperanças de que o próximo ano fosse bem melhor. Ano passado, Miguel estava com 2 anos e 7 meses, já entendia melhor o significado do Natal e já reconhecia o bom velhinho nas fotos a quem chamava e chama até hoje, sabe-se lá porquê, de "Pai Noel". Por isso, pensei que seria moleza fazer a tal da foto. De novo, lá estava eu no shopping, enfrentando uma fila cheia de crianças ansiosas pra tirar a foto. Miguel estava na fila comigo muito distraído com a decoração natalina e nem se dava conta de que caminhávamos em direção ao homem gorducho de barbas longas e brancas vestido de vermelho. Quando chegou a vez dele, pra minha decepção, o garoto parecia que tinha visto o demônio e me puxava pela mão pra direção contrária, demostrando, mais claramente impossível, que preferia estar em qualquer outro lugar da face da terra além de ali, de frente com o papai Noel. Deixei algumas mães passarem a minha frente na tentativa de fazer meu filho se acalmar e mudar de ideia. As outras mães com suas crianças calmas e sorridentes, doidas pra ficar ao lado do Papai Noel e dando seu melhor sorriso pra câmera foram passando e Miguel a me puxar com uma força de leão pra bem longe dali. Desisti sob os olhares de curiosidade - ou seriam olhares de espanto? - das mamães com seus filhos que estavam amando estar ali pra fazer seus pedidos de Natal. 

Entretanto, como passado é passado e esperança de mãe é mesmo a última que morre, ontem me dei conta que poderia tentar de novo. Miguel está quase com 3 anos e 7 meses, está mais lindo que nunca (a mãe do Miguel está mais babona a cada dia) e a foto ficaria ainda melhor agora. Conversei com ele e ele ficou animadíssimo!! Pensei: "Oba, dessa vez vai!" Miguel me encheu o domingo inteiro pra levá-lo pra tirar a foto, muito seguro, só que acabou dormindo. Acordou às 19:30 e a primeira coisa que fez quando abriu os olhos foi perguntar se não iríamos tirar a foto com o "pai Noel". Liguei pro shopping e me informei que o velhinho estaria lá até as 21h. Tínhamos tempo. Troquei de roupa rapidamente, arrumei o Miguel, liguei pras minhas afilhadas que haviam dito que queriam ir comigo e saí pra buscá-las. Chegamos ao shopping e Miguel não falava de outra coisa. Não olhamos pra lado nenhum, descemos todas as escadas rolantes a caminho do tão esperado encontro. Nem fila havia! Mal chegamos e era a vez do Miguel. E aí... Bom, e aí que sem choro nem vela, sem puxões na minha mão, nem berros, muito calmamente e com uma firmeza que me fez ter vontade de socar meu filho, Miguel vira-se pra mim e diz: "Não quero, mamãe. Não gosto de foto com o 'Pai Noel'". De boca aberta, disse a ele: "Mas meu filho, você queria tanto... Pediu tanto pra mamãe trazer você aqui hoje... Vamos com a Rafa, ela tira a foto junto com você, vai..." E Miguel, irredutível, afirmou: "Não vou, não. Não quero."

E é isso. Não adiantou eu ficar alí falando alguns minutos, não adiantou a "mamãe Noel" segurando a câmera vir falar com ele, se oferecer pra levá-lo pra perto da cadeira do Papai Noel, não adiantou as meninas falarem que TODOS têm foto com o papai Noel menos ele, que elas não dariam mais pirulito ou bala pra ele nem hoje nem nunca mais. Miguel não quis tirar a foto. E eu juro, desisto. Não toco nesse assunto de foto com o Papai Noel nunca mais. Se algum dia estiver passeando pelo shopping em época de Natal e Miguel me pedir, ok. Mas eu não vou mais insistir nesse desejo muito mais meu que desse meu filho louco. Fazer o quê? Papai Noel pro meu filho é muito lindo, muito fofo, mas só a distância. Que venha o presente, mas o Papai Noel não precisa entrar lá em casa. Papai Noel perto do Miguel, nem pensar. 

domingo, 18 de novembro de 2012

Confiança

Conversando com uma amiga outro dia, ela me perguntou se confio no Namorado plenamente. Minha resposta, sem nem precisar pensar, foi "SIM". Não é que ponha minha mão no fogo ou confie de olhos fechados, numa confiança cega, não é isso. Sou espertinha e sei, sim, enxergar algo que pode ser uma ameaça em potencial, mas não fico enxergando chifres em cabeça de macaco até porque nunca demos motivos um pro outro pra agirmos de forma diferente. 

Não faço a linha bisbilhoteira que parece procurar um motivo pra ser infeliz. Ao contrário, não procuro, não fuço celular, bolsos, carteira. Eu e o Namorado somos assim, simplesmente. Confiamos um no outro com o coração pleno, com a alma tranquila. E esse relacionamento de confiança me deixa muito à vontade pra ser eu mesma, pra fazer as coisas que gosto, pra não fingir, não mentir, não me esconder. 

Ainda durante a conversa com minha amiga, falei a ela que se um dia eu descobrir que o Namorado rompeu nosso pacto de fidelidade, ficaria sem chão. Mas nunca me arrependeria de confiar nele porque hoje não tenho um motivinho se quer para pensar que não vale a pena tudo o que vivemos, tudo o que nos respeitamos. 

Existem pessoas no mundo que não sabem dar essa segurança a quem está ao lado. Tem gente que alimenta a vaidade causando ciúme no parceiro, tem gente que ameniza sua insegurança deixando o outro inseguro, tem gente que se sente melhor diminuindo quem está ao lado. Eu e Namorado somos eu e o Namorado. Não somos um. Ele está esperando o show do KISS começar agora, tomando sua cervejinha e eu estou aqui, em casa, feliz por ele estar feliz, em companhia do nosso filho. Ele faria o mesmo por mim. Acredito que me ama, acredito na força desse nosso amor muito real, muito possível, muito dia-a-dia, muito são. E não consigo nem me imaginar dentro de um relacionamento que não seja assim, que não me deixe solta. Não consigo me imaginar com alguém que não me enxergue, que me diminua, que não me deixe brilhar. 

Confio, sim, porque não se pode confiar muito nem pouco. Apenas confio. Sem medo de me arrepender depois ou de parecer idiota aos olhos dos patrulheiros do amor de plantão. Esse amor, posso afirmar, me faz um bem danado, é um amor que cresce e faz crescer. Até quando? Não sei. Até quando durar. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Amor que não se mede



Quando vi esse video fiquei profundamente tocada. O menino é lindo, canta muito bem, mas o que me tocou é que o video vem carregado desse sentimento que conheci com a existência do Miguel em minha vida: o sentimento que mora no peito das mães. 

Talvez só uma mãe, ou quem ame alguém como se mãe fosse, possa entender uma mãe que corre pra abraçar seu filho em um momento de dificuldade, sem medir lugar, sem  pensar no que os outros vão pensar e no que sua atitude pode acarretar. Só o amor que mora nesse abraço de mãe e filho pode amparar, acalmar, socorrer da angustia e do medo. 

Talvez só uma mãe, ou quem ame alguém como se mãe fosse, possa dimensionar o valor do apoio que um filho recebe dessa mãe desde cedo. O quanto o encorajamento de alguém que acredita no seu potencial mais que tudo no mundo pode fazer por sua auto estima, o quanto essa mão que empurra pra frente pode ajudar um filho a encontrar seu lugar no mundo ou a lutar por ele. 

Talvez só uma mãe, ou quem ame alguém como se mãe fosse, possa sentir essa vontade louca de colocar no colo esse menino e se ver ali, no lugar dessa mãe, sabendo que, no seu íntimo, também entraria correndo em um palco onde quer que fosse pra abraçar seu filho que chora. 

No fundo, todas as mães do mundo estão e estarão através dos tempos unidas pelo mesmo sentimento enorme que não cabe no peito e transborda. O amor inesgotável, incondicional. 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O fura filas


Domingo fomos à Fazendinha com o Miguel. Na verdade, além de mim, Namorado e Miguel, levei as minhas afilhadas Rafa e Duda e Berê – minha sogra, Gabriela – minha cunhada e Natália, prima do Miguel nos encontraram lá. Foi um dia muito agradável, Miguel estava feliz da vida e adorou estar em contato com tantos bichos. Tudo corria muito bem até decidirmos ir pra fila da charrete.

Natalia, Duda e Miguel foram pra fila e eram os terceiros. Eu ainda estava na parte dos cavalos com a Rafa e Berê, Hugo e Gabriela ainda estavam se encaminhando para o local da charrete. Quando cheguei lá, a fila já estava longa. Rafa se juntou à Duda, Natalia e Miguel e ficamos ao lado esperando e observando chegar a vez deles para tirarmos fotos. Pouco antes da vez deles, notamos um menino, pouco mais velho que Miguel, sentado como se fosse o próximo da fila. Perguntei-me de onde tinha aparecido aquele menino, já que não estava lá quando as meninas chegaram mas deixei pra lá.

Quando a charrete retornou e o condutor perguntou quem eram os próximos, o menininho levantou a mão e eu procurei os pais da criança e não os vi. Perguntei pra Duda e Natalia se o menino, de fato, havia chegado antes delas e elas me olharam com cara de bobas e não falaram nada. O condutor perguntou novamente e o menino continuava com o bracinho levantado dizendo que era o próximo. Aí, a mãe do menino saiu lá de trás da fila e foi entrando na charrete com o garoto. Achei estranho a mãe deixar o garoto na fila lá na frente e ela ficar lá atrás, ocupando outro lugar na fila, estava claro que havia algo errado, mas um homem se pronunciou dizendo que o garoto estava mesmo na fila e em vista do testemunho dele, acreditei.

Qual não foi minha surpresa quando o garoto chegou de volta com sua mãe e o mesmo homem que foi em sua defesa anteriormente, ao vê-lo descendo da charrete, disparou: “Quer andar na charrete de novo, filho? Se quiser, entra aqui na fila comigo.” Opa, como assim?? A mãe do garoto era a esposa dele e eles somente haviam colocado o garoto na área coberta na frente da fila, mas, mediante a hesitação das minhas meninas, encontraram uma ótima ocasião para furar a fila e o fez. Fiquei muito indignada.

Minha indignação foi grande principalmente por perceber que esses pais já estão ensinando uma criança tão pequena a desde cedo não respeitar ordem, estão ensinando a transgredir. Chamei as meninas de idiotas na frente de todo mundo porque elas sabiam que o menino não estava ali quando chegaram mas não quiseram falar nada. Agiram errado. Devemos falar sempre quando estamos vendo algo errado e injusto. Eles só foram espertos porque elas foram otárias.

Pra terminar, a senhora que estava atrás do ‘fura filas’, depois que minhas meninas já estavam na charrete ainda confirmou: “Eles furaram fila, sim, porque estavam bem na minha frente. Eu não falei nada porque eles iriam andar antes de mim de qualquer jeito, não importava em qual ordem fosse. Mas se eles estivessem furando a minha frente, eu teria falado algo pra lhe ajudar.” Pode isso? Que absurdo! Quer dizer que se o meu estiver na reta, eu me manifesto, se for só o dos outros, aí me calo porque “não tenho nada com isso” e os outros que se lasquem. Será que ninguém enxerga que se hoje fazem com quem está ao seu lado, amanhã será com você?

Esse pensamento de só enxergar o próprio umbigo me enerva ao extremo. Detesto injustiça. Não quero nada que não seja meu, mas também não deixo ninguém tirar de mim o que me pertence, o que é meu por direito. Se vejo alguém furando uma fila na frente de alguém e essa pessoa está reclamando, não penso duas vezes antes de me juntar a ela e dizer, em alto e bom tom,  que vi sim o espertinho tentando levar vantagem. Como me calar? Simplesmente, não consigo. Procuro ser justa em tudo o que faço. Lógico que erro, não sou perfeita, mas busco a justiça em todas as minhas atitudes. Não desrespeito o espaço alheio, não passo por cima de ninguém e acredito que dessa forma todos viveriam em um mundo com mais respeito e amor. Além disso, sou exemplo para um menino que precisa aprender que o espaço dele vai até onde começa o de seu colega, que a vontade dele não é nem mais nem menos importante que o do próximo e que devemos respeitar para sermos respeitados. Não posso nem pensar em criar um filho que venha a acreditar que é possível “levar vantagem” em tudo. Ainda penso que a melhor forma de ensiná-lo a ser justo é fazer meu discurso ser coerente com minhas atitudes. Tarefa difícil já que estamos vivendo em um mundo onde os espertinhos e os fora da lei estão sempre sendo valorizados e desculpados. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Desigual




Há uma semana estava parada em um posto de gasolina pra abastecer meu carro quando uma moça que devia ter 25 anos, não mais, bateu no vidro me oferecendo bala. Eu agradeci e disse que não queria. Sabe, tem dias em que meu saco enche de tanta gente pedindo. Só que o jeito de ela me oferecer a bala ficou martelando na minha cabeça ainda uns segundos: "compra um Mentos pra me ajudar?" Ela não tinha perguntado se eu estava a fim de uma bala, se eu queria comprar bala. Ela estava sendo clara: estava me pedindo ajuda. Mesmo que eu não quisesse a bala, será que eu não poderia comprar só pra dar uma ajuda? E eu disse que não. Com esse 'não' eu estava dizendo a ela que não estava com vontade de ajudar e isso bateu meio estranho em mim. 

Bom, a moça não era do tipo insistente, logo se virou com uma cara de quem está muito acostumada a receber "nãos" e deu uns passos na direção da frente do carro. E aí eu vi que ela estava grávida de uns 6 meses, talvez. Grávida, com um barrigão e pedindo na rua, vendendo bala. Que futuro? O que esperar da vida? E aquele bebê que vai nascer? O que vai ser daquela criança? Eita, meu coração apertou forte. Mais forte ainda quando ela andou mais um pouco rumo a outro carro parado e apareceu uma menininha, também segurando uma caixa de Mentos, indo a seu encontro, que a chamou de mãe. 

A menininha que também estava vendendo balas estava sendo mais bem sucedida nas vendas e entregou um dinheiro pra mãe. Nossa, ela era do tamanho do Miguel... Quer dizer, deve ter a idade do meu filho e já sendo posta a tantas provas. Andando em um calor absurdo, ao lado da mãe, sem poder brincar, tendo que ganhar dinheiro pra comer desde cedo e com um irmão a caminho. Fiquei mal.

Não sei se fiquei mal por ver o desgaste daquela menina, se foi por comparar a vida dela com a vida boa que meu filho tem ou se foi por não ter ajudado, não ter comprado a bala. Só sei que me deu vontade de levantar do carro e atravessar a rua atrás dela e dizer que tinha mudado de ideia e que queria, sim, comprar a bala. Uma bala pensando nos pés cansados e sujos daquela menina de 3 anos, com seus chinelinhos pequenos e gastos, com perninhas sujas e suadas. Uma bala pra ela poder ter um pãozinho pra comer à noite. Só que eu não saí do carro, eu não saí correndo atrás dela. Continuei com minha bunda sentada no banco do carro. Eu peguei meu cartão de crédito devolvido pelo frentista, ainda olhando mãe e filha se afastarem rumo a outros carros. Guardei minha carteira na bolsa e voltei pra minha vida confortável, onde também existe um menino de 3 anos que não sabe o que é dificuldade, que não sabe o que é andar o dia inteiro pra ter o que comer. Voltei pro meu mundinho cor de rosa com um gosto amargo na boca, um aperto no peito diante de tamanha desigualdade, arrependida por não ter ajudado. Afinal de contas, era só uma bala.