Há uma semana estava parada em um posto de gasolina pra abastecer meu carro quando uma moça que devia ter 25 anos, não mais, bateu no vidro me oferecendo bala. Eu agradeci e disse que não queria. Sabe, tem dias em que meu saco enche de tanta gente pedindo. Só que o jeito de ela me oferecer a bala ficou martelando na minha cabeça ainda uns segundos: "compra um Mentos pra me ajudar?" Ela não tinha perguntado se eu estava a fim de uma bala, se eu queria comprar bala. Ela estava sendo clara: estava me pedindo ajuda. Mesmo que eu não quisesse a bala, será que eu não poderia comprar só pra dar uma ajuda? E eu disse que não. Com esse 'não' eu estava dizendo a ela que não estava com vontade de ajudar e isso bateu meio estranho em mim.
Bom, a moça não era do tipo insistente, logo se virou com uma cara de quem está muito acostumada a receber "nãos" e deu uns passos na direção da frente do carro. E aí eu vi que ela estava grávida de uns 6 meses, talvez. Grávida, com um barrigão e pedindo na rua, vendendo bala. Que futuro? O que esperar da vida? E aquele bebê que vai nascer? O que vai ser daquela criança? Eita, meu coração apertou forte. Mais forte ainda quando ela andou mais um pouco rumo a outro carro parado e apareceu uma menininha, também segurando uma caixa de Mentos, indo a seu encontro, que a chamou de mãe.
A menininha que também estava vendendo balas estava sendo mais bem sucedida nas vendas e entregou um dinheiro pra mãe. Nossa, ela era do tamanho do Miguel... Quer dizer, deve ter a idade do meu filho e já sendo posta a tantas provas. Andando em um calor absurdo, ao lado da mãe, sem poder brincar, tendo que ganhar dinheiro pra comer desde cedo e com um irmão a caminho. Fiquei mal.
Não sei se fiquei mal por ver o desgaste daquela menina, se foi por comparar a vida dela com a vida boa que meu filho tem ou se foi por não ter ajudado, não ter comprado a bala. Só sei que me deu vontade de levantar do carro e atravessar a rua atrás dela e dizer que tinha mudado de ideia e que queria, sim, comprar a bala. Uma bala pensando nos pés cansados e sujos daquela menina de 3 anos, com seus chinelinhos pequenos e gastos, com perninhas sujas e suadas. Uma bala pra ela poder ter um pãozinho pra comer à noite. Só que eu não saí do carro, eu não saí correndo atrás dela. Continuei com minha bunda sentada no banco do carro. Eu peguei meu cartão de crédito devolvido pelo frentista, ainda olhando mãe e filha se afastarem rumo a outros carros. Guardei minha carteira na bolsa e voltei pra minha vida confortável, onde também existe um menino de 3 anos que não sabe o que é dificuldade, que não sabe o que é andar o dia inteiro pra ter o que comer. Voltei pro meu mundinho cor de rosa com um gosto amargo na boca, um aperto no peito diante de tamanha desigualdade, arrependida por não ter ajudado. Afinal de contas, era só uma bala.
Oi, Paula, lindo texto. Moro no interior de Santa Catarina, onde, ainda, não vemos tanto dessas coisas. (mas há sim, principalmente aqueles bolivianos com bebês às vezes na calçada). Mas quando fui ao Rio, e só fui à Barra da Tijuca, deu para sentir a desigualdade social na pele. Milionários, carros maravilhosos, condomínios inimagináveis...e gente na calçada, como vi, uma mãe também com 2, um de uns 2 anos e outro mamando no peito, no chão. Tava muito friozinho aí quando eu fui. Aquilo me abalou, e olha que, devido à minha profissão, eu sou casca grossa...chorei um pouco quando cheguei no hotel, pensando no meu filho, na fragilidade de um bebê, uma criança, passando a noite numa calçada. Mas por outro lado a gente sabe que às vezes tem toda uma questão de hábito, às vezes até de resistência a ajuda de programas sociais, etc. Aqui onde moro, por exemplo, a prefeitura dá casas para esses bolivianos mas eles não querem, querem ficar no centro. É tudo muito complexo. Mas eu entendo tua dor, e deve ser duro ver isso todos os dias. Um beijo.
ResponderExcluirPior é que a gente se questiona se não pode fazer alguma coisa e esbarra na nossa impotência diante dessas tantas variáveis que, muitas vezes, impedem que se faça alguma coisa... Beijo pra você também, Ana!!
ResponderExcluir