domingo, 22 de dezembro de 2013

Irmã - Prima






Todos os dias tenho uma lista imensa de agradecimentos a fazer, mas ultimamente tenho agradecido demais pela existência da Rafa na vida do Miguel. Meu filho não tem muitos primos de primeiro grau: são 4. Desses quatro, três já são maiores. O Lucas já está com 17 anos, a Natália com 15 e a Duda fará 14 anos agora em janeiro. Esses são os primos que mimam o Miguel, que protegem, que fazem tudo o que ele quer. E aí sobra a Rafa.

Rafaela tem 10 anos, são 6 de diferença pro Miguel, mas é uma moleca. Gosta de brincar com ele e tem com o Miguel uma relação de irmãos mesmo: brigam o tempo todo mas querem estar junto o tempo todo também. Rafa mete a porrada no meu filho, depois já estão aos beijos. Miguel implica com a Rafa, faz de tudo pra irritá-la e consegue, na maioria das vezes. Mas o que seria do Miguel sem a Rafa? 

A Rafa é a prima-irmã que faz o Miguel entender que não é o centro do universo, que, apesar de filho único, existe disputa por espaço e que ele nem sempre é o mais forte. Graças a Rafa meu filho sabe lutar pelo que quer, sabe competir e está aprendendo a saber perder. A presença da Rafa na vida do Miguel é uma dádiva, um presente de Deus pra mim que não pretendo ter mais filhos. Se hoje luto pra meu filho não virar um desses monstrengos mal educados que vemos todos os dias por aí, não luto sozinha. Eu tenho a Rafa pra me ajudar. Sem saber que me ajuda, a Rafa está contribuindo pra meu filho se transformar em um ser humano melhor. 

Miguel responde sempre, quando é perguntado a respeito de querer irmãos, que não precisa deles porque já tem "prima". A relação deles é tão próxima quanto a de dois irmãos mesmo. Rafa é carinhosa com ele, pega em sua mão, quando os deixo na escola, para que subam juntos as escadas. Rafa carrega a mochila do Miguel. Rafa também bate e grita com ele. Diz que ele é chato e outras coisas mais... Mas se amam muito e não se desgrudam. Por isso, hoje, só quero agradecer a Deus por a Rafa existir!

sábado, 21 de dezembro de 2013

Bichos










Nunca fui amante de bichos. Nunca quis tê-los quando criança. Esse querer sempre foi o da minha irmã, que sempre adorou bichos e, por causa dela, sempre os tivemos em casa.

Nosso primeiro bichinho foi um cachorrinho muito fofo, todo pretinho, a quem batizamos de Veludo. E ele era o cão mais gostosinho ever! E talvez seja ele o responsável por eu nunca mais ter me apegado a bicho algum depois que ele morreu, quando eu devia ter uns 8 anos. Depois dele, tivemos papagaios, canários, rato branco (eca!!) e até micos. E voltamos a ter cachorros também. Kika e Sofia eram nossas poodles e tivemos uma Sheepdog, a Amine. Ainda tivemos a Godiva, que passou por quase todas as casas da família e veio pra ficar aqui com a gente. Godiva era muito esperta, também poodle, mas ao contrário de todos os cães dessa raça, não latia, era calma e não perturbava ninguém. Parecia até que sabia que não podia incomodar, porque estava sempre correndo um sério risco de ser mandada pra outra casa de repente. Tem vezes que acho que cachorro só não fala pra não ter que trabalhar, como já dizia meu pai.

Todas essas cadelinhas morreram de velhas e jurei que nunca mais queria bichos em casa. Não é nem por mim porque nunca cuidei de nenhum desses bichos mesmo. É pela minha mãe que se apega e sofre, o que é perfeitamente natural quando se convive com esses seres tão carinhosos. Sofia era apaixonada por minha mãe. De um jeito que quando minha mãe tinha crises de coluna e passava as noites em claro, Sofia também não dormia e ficava ao lado dela o tempo todo sem pregar os olhos. A Amine gostava de tirar um soninho da tarde no quarto com meu pai. Mal meu pai acabava de almoçar, ela já olhava pra ele e começava a andar a caminho do quarto. Chegando no quarto olhava pro meu pai e pro ar condicionado e seguia fazendo isso até meu pai ligar o aparelho. E dormia feliz com o fresquinho.

A Kika dormia na cama com meus pais e gostava de ficar colada às costas do meu pai. Não importava o quanto meu pai chegasse pra beirada da cama, a Kika sempre chegaria pra perto dele. Quando meu pai morreu, Kika cansou de ir até a garagem verificar se, de fato, meu pai não tinha vindo. Era como se esperasse pela volta dele a qualquer momento. E, desde o dia de sua morte, Kika não subiu mais na cama dele. Nunca mais a Kika dormiu na cama com a minha mãe. 

Por essas e outras é que sei o quanto um bichinho é amigo da gente e o quanto é gostoso ter um por perto. Só que não tenho tempo e nem paciência pra cuidar. E, se não vou cuidar direito, prefiro não ter. Nunca maltratei um bicho, mas se não posso tratá-los do jeito que merecem, prefiro não tê-los. Por sorte, minha irmã e meu cunhado - loucos!! - decidiram ter em seu apartamento uma cadela muito fofa demais, uma American Staffordshire Terrier, que é grande. E o Miguel ama essa cachorrinha demais. Enquanto ele se diverte com a Leda, não insiste muito em ter seu próprio cão. Ele já me pede um cachorro e diz que "adora cachorro grandão!". Mas isso não está, definitivamente, em discussão. Não terei mais bichos em minha casa e isso é certo. 

Miguel gosta muito de bichos e convive com os cães desde bebê porque a Godiva ainda era viva quando Miguel nasceu. A bichinha sofreu na mão dele e, por isso, Miguel nunca teve medo. Ele se enrosca com a Leda, persegue a bichinha o dia inteiro quando minha irmã a deixa aqui em casa e se diverte muito. Uma coisa é certa, bichos são como crianças: alegram uma casa, enchem de vida. E também dão trabalho. Mas dão muito amor, muito carinho em retorno. Dá gosto ver a carinha do meu filho enquanto brinca com a Leda. Dá gosto de ver essa amizade entre gente e bicho. E isso está claro até pra mim.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Porque envelhecer é vida




Outro dia ouvi alguém me perguntar se eu não pensava em fazer um lifting, uma cirurgia de pálpebras, bolsas de gordura abaixo dos olhos, silicone e por aí foi... Minha primeira resposta foi dizer que não, não penso, ainda, nessas possibilidades embora não as descarte caso venha a ser algo que me incomode. Mas aquelas perguntas - ou seriam sugestões? - me deixaram com uma sensação estranha, como se alguém estivesse vendo algo em mim que até agora eu não tinha visto. 

Tenho 42 anos e não fico me esforçando para parecer mais nova porque sou uma mulher de 42 anos e não 25. Talvez, por isso, receba tantos elogios e caras de surpresa quando falo, abertamente e sem o menor constrangimento, minha idade. Sou, junto com outra mãe do grupo de mães da turminha do Miguel, a mais velha. E não sinto diferença nenhuma entre mim e qualquer uma delas, nem fisicamente, nem mentalmente. Não sinto a diferença de até 15 anos que me separam dessas outras mães. Ao contrário, acredito que a idade só vem me trazendo muitos pontos positivos. Tantos, que me prender em aspectos físicos torna-se banal, até bobo. 

Mas a gente é obrigada a viver em uma sociedade em que uma mulher de 40 tem que parecer ter 30. Uma mulher de 30 tem que parecer ter 20 e por aí vai. E isso é muito lamentável. Eu sou uma mulher de 40 e é isso aí. Tenho rugas? Sim. Flacidez? Sim. Minha pálpebra começa a cair? Sim. Mas não tenho obrigação com ninguém de querer entrar na faca. A única obrigação que tenho é comigo mesma: a de me olhar do espelho e ser gentil com o que vejo. A de me olhar no espelho e agradecer por minha aparência. A de me olhar do espelho e ver que meu corpo não é mais o mesmo de 20 anos atrás, e daí? Não poderia mesmo. Esse meu corpo me permitiu fazer dança toda a minha infância até o início da vida adulta. Um corpo castigado com sapatilhas de ponta e treinos e ensaios sem fim. Um corpo que me permitiu chegar até aqui. Um corpo que passou por uma gestação: esticou, inchou, encolheu. Tenho seios que amamentaram e viraram bolas de basquete pra depois virarem bolinhas de ping pong. Mas é um corpo MUITO meu. 

E meu rosto? Ah, esse rosto já riu horrores... De tantas besteiras, de tantas situações hilárias. Já chorou também. Demais. Choro demais até hoje. Emociono-me, entristeço, saro. Pra rir de novo. E minhas rugas e marcas que, lógico, às vezes me assustam por estarem, sim, chegando, são minhas provas do tanto que estou vivendo. Então, sinto-me totalmente livre pra assumir meu rosto sem nenhuma plástica, sim. Faça-me o favor! E fico me perguntando em que mundo certas pessoas vivem... Um mundo onde se fala de procedimentos cirúrgicos (estéticos) com uma naturalidade espantosa. Como se entrar na faca fosse como uma ida à farmácia da esquina. Como se natural fosse ter peitões siliconados, como se aberração fosse chegar aos 40 sem silicone. 

Acho que qualquer um tem o direito de se sentir bem e livre. Se ter peitos pequenos está impedindo uma pessoa de se relacionar socialmente, se ter uma barriga flácida está atrapalhando a vida de uma pessoa, ou ter seios enormes está gerando uma série de transtornos na coluna ou até mesmo pras roupas caírem bem, sou a favor de procedimentos cirúrgicos. Sou a favor de tudo que faça uma pessoa feliz, que faça com que vivamos melhor. Sem neuroses. Afinal, a medicina está evoluindo pra isso. Mas não vou considerar a possibilidade de mexer no meu rosto apenas porque estou com 42 anos e a maior parte das mulheres, hoje, entra nessa de ter que parecer bem, gostosa, mais nova, "inteira". Eu sou única. Eu sou especial. Cheia de defeitos: uns sempre tive, nasceram comigo. Outros ganhei ao longo do tempo. E eu gosto deles. Quando chegar o dia em que me olhar no espelho e só conseguir notar as bolsas de gordura abaixo de meus olhos gritando, nesse dia, por mim e por mais ninguém, procurarei um cirurgião plástico sem medo de ser feliz. Por enquanto, continuo me achando linda e poderosa. E ninguém dessa sociedade louca vai me convencer do contrário. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A porta da escola



Quantas vezes a gente se preocupa com coisas tão pequenas e acaba se esquecendo de que tudo passa nessa vida. Os pais da gente falam isso o tempo todo e, na maioria das vezes, não damos atenção ou não acreditamos porque estamos tão envolvidos em determinada situação que não conseguimos colocar nem o nariz pra fora e abrir os olhos pra enxergar o que é muito certo: nada dura pra sempre. Nem bem e nem mal.

Lembro que quando Miguel era um bebezinho de uns 2 meses, em uma das muitas noites insones que passei com ele, o menino não parava de chorar. Estava com muita cólica e gritava demais e eu já não sabia o que fazer porque todas essas besteiras que ensinam pra gente (funchicórea, colocar o bebê no peito da mãe/pai, saco de água morna perto da barriguinha, massagem) não davam certo, não faziam meu filho calar a boca e voltar a dormir. Nada que o Hugo tentava adiantava. Nada que eu fazia calava o garoto. Minha mãe, que raramente se levantava do quarto dela pra ver o que estava acontecendo, resolveu vir nos acodir. Eu estava em um estado lamentável, a ponto de chorar também. Minha mãe entrou no quarto do Miguel e falou:

- Nossa, filha, Miguel hoje está chorando muito, né?

Eu, maluca já, nem me dei ao trabalho de responder. Saí gritando feito pessoa perturbada mentalmente:

- "Eu não aguento mais, mãe! O que foi que eu fiz da minha vida??? Eu quero minha vida de volta!!! Não aguento mais, não aguento, não aguento... 

Minha mãe, percebendo que se tratava de uma séria crise de desespero, calmamente me disse pra passar o bebê pra ela. Pegou o Miguel no colo e começou a conversar comigo como só as mães sabem fazer:

- Minha filha, você está muito cansada. Precisa arranjar um jeito de dormir durante o dia ao invés de ficar resolvendo as coisas do trabalho. Mãe precisa dormir quando o bebê dorme. Não fique nervosa assim. Paula, tudo passa nessa vida. Essa fase vai passar também. Acredite. Agora sai daqui e vai tomar uma água. 

Fui beber água com uma única palavra martelando na minha cabeça: QUANDO? Quando isso passa? Quando vou deitar e dormir uma noite inteira de sono? Quando, meu Deus? Quando? Interrompendo meus pensamentos contínuos de quando, quando, quando, lembrei-me da minha irmã me falando que depois dos 2 anos melhora muito. Putz! Pra que, no meio dessa situação limite fui me lembrar disso? Depois dos 2 anos? Gente, mas o menino estava com 2 meses!! Naquele momento, me pareceu uma eternidade essa espera pra recomeçar a viver. 

Entrei no quarto e depois de uns 40 minutos, já mais calma, falei pra minha mãe que me devolvesse o Miguel e que fosse dormir. Eu já estava mais tranquila e ela não precisava ter medo que eu fosse cometer alguma insanidade. Minha mãe, como tantas outras vezes ao longo de sua vida, me resgatou naquela noite. E, como tantas outras vezes também, me disse com toda sapiência, que passaria. E passou.

Hoje quando fui levar o Miguel na escola, quando saímos do carro, ele me disse que queria ir sozinho. Achei que fosse fogo de palha porque ele tem ido pra escola com a prima nessas últimas duas semanas e como hoje a prima foi um pouco antes, imaginei que fosse querer minha companhia até a quadra da escola. Não dei ouvidos e peguei sua mochila pra entrarmos juntos. Só que Miguel não é criança que se finge não escutar. Meu filho se faz ouvir. Muito firme, repetiu:

- Mãe, eu disse que quero ir sozinho. 
- Tudo bem, filho, só vou até a porta da escola, tá? 

Coração apertado, achando que na última hora meu filho iria pedir que subisse com ele, entreguei sua mochila. Miguel pegou sua mochila com uma mão, o boneco do Ben 10 com a outra, olhou pra mim e disse do alto de seus 4 anos:

- Tchau, mãe! 

Me abaixei rapidinho antes que esse homenzinho fabricado por mim me virasse as costas e disse o que sempre digo antes de me despedir e de dar-lhe um beijo:
- Te amo, filho. Fica com Deus. 
- Também te amo, mãe.

Dei-lhe um beijo naquela bochecha gostosa e fiquei parada na porta da escola olhando meu filho subir. Coluna reta, não olhou pra trás nenhuma vez se quer. Muito senhor de si e da decisão tomada. 

Eu com cara de pastel. E eu, que há pouco tempo escrevi aqui um post justamente sobre a chegada do dia em que meu filho não precisaria mais de mim pra acompanhá-lo até a porta da sala de aula, me vi assistindo de camarote a chegada desse dia, um pouco mais cedo que eu esperava, é verdade. E, como manteiga derretida que sou, chorei. Definitivamente, a porta dessa escola, testemunha do desenvolvimento do Miguel e de muitas das minhas lágrimas, é quase como minha mãe me dizendo que tudo passa. E que tudo tem seu tempo. 

Voltei pro meu carro caminhando devagar, ainda com meus pensamentos no meu filho. Pra que tanta preocupação boba se o tempo é o senhor da razão? Pra que comparar uma criança com outra? Pra que acelerar tanto independência se estou criando meu filho exatamente pra que seja independente e essa independência vai chegar, inevitavelmente, mais dia menos dia? Se cada ser tem sua velocidade pra vida ... Se cada um tem sua cota de paciência e seus prazos e limites pessoais... 

Abri a porta do carro, entrei e dei partida. Meu filho está crescendo. E eu estou vendo cada detalhe desse processo entre risos e lágrimas. E estou gostando. Muito.