sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Porque envelhecer é vida




Outro dia ouvi alguém me perguntar se eu não pensava em fazer um lifting, uma cirurgia de pálpebras, bolsas de gordura abaixo dos olhos, silicone e por aí foi... Minha primeira resposta foi dizer que não, não penso, ainda, nessas possibilidades embora não as descarte caso venha a ser algo que me incomode. Mas aquelas perguntas - ou seriam sugestões? - me deixaram com uma sensação estranha, como se alguém estivesse vendo algo em mim que até agora eu não tinha visto. 

Tenho 42 anos e não fico me esforçando para parecer mais nova porque sou uma mulher de 42 anos e não 25. Talvez, por isso, receba tantos elogios e caras de surpresa quando falo, abertamente e sem o menor constrangimento, minha idade. Sou, junto com outra mãe do grupo de mães da turminha do Miguel, a mais velha. E não sinto diferença nenhuma entre mim e qualquer uma delas, nem fisicamente, nem mentalmente. Não sinto a diferença de até 15 anos que me separam dessas outras mães. Ao contrário, acredito que a idade só vem me trazendo muitos pontos positivos. Tantos, que me prender em aspectos físicos torna-se banal, até bobo. 

Mas a gente é obrigada a viver em uma sociedade em que uma mulher de 40 tem que parecer ter 30. Uma mulher de 30 tem que parecer ter 20 e por aí vai. E isso é muito lamentável. Eu sou uma mulher de 40 e é isso aí. Tenho rugas? Sim. Flacidez? Sim. Minha pálpebra começa a cair? Sim. Mas não tenho obrigação com ninguém de querer entrar na faca. A única obrigação que tenho é comigo mesma: a de me olhar do espelho e ser gentil com o que vejo. A de me olhar no espelho e agradecer por minha aparência. A de me olhar do espelho e ver que meu corpo não é mais o mesmo de 20 anos atrás, e daí? Não poderia mesmo. Esse meu corpo me permitiu fazer dança toda a minha infância até o início da vida adulta. Um corpo castigado com sapatilhas de ponta e treinos e ensaios sem fim. Um corpo que me permitiu chegar até aqui. Um corpo que passou por uma gestação: esticou, inchou, encolheu. Tenho seios que amamentaram e viraram bolas de basquete pra depois virarem bolinhas de ping pong. Mas é um corpo MUITO meu. 

E meu rosto? Ah, esse rosto já riu horrores... De tantas besteiras, de tantas situações hilárias. Já chorou também. Demais. Choro demais até hoje. Emociono-me, entristeço, saro. Pra rir de novo. E minhas rugas e marcas que, lógico, às vezes me assustam por estarem, sim, chegando, são minhas provas do tanto que estou vivendo. Então, sinto-me totalmente livre pra assumir meu rosto sem nenhuma plástica, sim. Faça-me o favor! E fico me perguntando em que mundo certas pessoas vivem... Um mundo onde se fala de procedimentos cirúrgicos (estéticos) com uma naturalidade espantosa. Como se entrar na faca fosse como uma ida à farmácia da esquina. Como se natural fosse ter peitões siliconados, como se aberração fosse chegar aos 40 sem silicone. 

Acho que qualquer um tem o direito de se sentir bem e livre. Se ter peitos pequenos está impedindo uma pessoa de se relacionar socialmente, se ter uma barriga flácida está atrapalhando a vida de uma pessoa, ou ter seios enormes está gerando uma série de transtornos na coluna ou até mesmo pras roupas caírem bem, sou a favor de procedimentos cirúrgicos. Sou a favor de tudo que faça uma pessoa feliz, que faça com que vivamos melhor. Sem neuroses. Afinal, a medicina está evoluindo pra isso. Mas não vou considerar a possibilidade de mexer no meu rosto apenas porque estou com 42 anos e a maior parte das mulheres, hoje, entra nessa de ter que parecer bem, gostosa, mais nova, "inteira". Eu sou única. Eu sou especial. Cheia de defeitos: uns sempre tive, nasceram comigo. Outros ganhei ao longo do tempo. E eu gosto deles. Quando chegar o dia em que me olhar no espelho e só conseguir notar as bolsas de gordura abaixo de meus olhos gritando, nesse dia, por mim e por mais ninguém, procurarei um cirurgião plástico sem medo de ser feliz. Por enquanto, continuo me achando linda e poderosa. E ninguém dessa sociedade louca vai me convencer do contrário. 

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