Quantas vezes a gente se preocupa com coisas tão pequenas e acaba se esquecendo de que tudo passa nessa vida. Os pais da gente falam isso o tempo todo e, na maioria das vezes, não damos atenção ou não acreditamos porque estamos tão envolvidos em determinada situação que não conseguimos colocar nem o nariz pra fora e abrir os olhos pra enxergar o que é muito certo: nada dura pra sempre. Nem bem e nem mal.
Lembro que quando Miguel era um bebezinho de uns 2 meses, em uma das muitas noites insones que passei com ele, o menino não parava de chorar. Estava com muita cólica e gritava demais e eu já não sabia o que fazer porque todas essas besteiras que ensinam pra gente (funchicórea, colocar o bebê no peito da mãe/pai, saco de água morna perto da barriguinha, massagem) não davam certo, não faziam meu filho calar a boca e voltar a dormir. Nada que o Hugo tentava adiantava. Nada que eu fazia calava o garoto. Minha mãe, que raramente se levantava do quarto dela pra ver o que estava acontecendo, resolveu vir nos acodir. Eu estava em um estado lamentável, a ponto de chorar também. Minha mãe entrou no quarto do Miguel e falou:
- Nossa, filha, Miguel hoje está chorando muito, né?
Eu, maluca já, nem me dei ao trabalho de responder. Saí gritando feito pessoa perturbada mentalmente:
- "Eu não aguento mais, mãe! O que foi que eu fiz da minha vida??? Eu quero minha vida de volta!!! Não aguento mais, não aguento, não aguento...
Minha mãe, percebendo que se tratava de uma séria crise de desespero, calmamente me disse pra passar o bebê pra ela. Pegou o Miguel no colo e começou a conversar comigo como só as mães sabem fazer:
- Minha filha, você está muito cansada. Precisa arranjar um jeito de dormir durante o dia ao invés de ficar resolvendo as coisas do trabalho. Mãe precisa dormir quando o bebê dorme. Não fique nervosa assim. Paula, tudo passa nessa vida. Essa fase vai passar também. Acredite. Agora sai daqui e vai tomar uma água.
Fui beber água com uma única palavra martelando na minha cabeça: QUANDO? Quando isso passa? Quando vou deitar e dormir uma noite inteira de sono? Quando, meu Deus? Quando? Interrompendo meus pensamentos contínuos de quando, quando, quando, lembrei-me da minha irmã me falando que depois dos 2 anos melhora muito. Putz! Pra que, no meio dessa situação limite fui me lembrar disso? Depois dos 2 anos? Gente, mas o menino estava com 2 meses!! Naquele momento, me pareceu uma eternidade essa espera pra recomeçar a viver.
Entrei no quarto e depois de uns 40 minutos, já mais calma, falei pra minha mãe que me devolvesse o Miguel e que fosse dormir. Eu já estava mais tranquila e ela não precisava ter medo que eu fosse cometer alguma insanidade. Minha mãe, como tantas outras vezes ao longo de sua vida, me resgatou naquela noite. E, como tantas outras vezes também, me disse com toda sapiência, que passaria. E passou.
Hoje quando fui levar o Miguel na escola, quando saímos do carro, ele me disse que queria ir sozinho. Achei que fosse fogo de palha porque ele tem ido pra escola com a prima nessas últimas duas semanas e como hoje a prima foi um pouco antes, imaginei que fosse querer minha companhia até a quadra da escola. Não dei ouvidos e peguei sua mochila pra entrarmos juntos. Só que Miguel não é criança que se finge não escutar. Meu filho se faz ouvir. Muito firme, repetiu:
- Mãe, eu disse que quero ir sozinho.
- Tudo bem, filho, só vou até a porta da escola, tá?
Coração apertado, achando que na última hora meu filho iria pedir que subisse com ele, entreguei sua mochila. Miguel pegou sua mochila com uma mão, o boneco do Ben 10 com a outra, olhou pra mim e disse do alto de seus 4 anos:
- Tchau, mãe!
Me abaixei rapidinho antes que esse homenzinho fabricado por mim me virasse as costas e disse o que sempre digo antes de me despedir e de dar-lhe um beijo:
- Te amo, filho. Fica com Deus.
- Também te amo, mãe.
Dei-lhe um beijo naquela bochecha gostosa e fiquei parada na porta da escola olhando meu filho subir. Coluna reta, não olhou pra trás nenhuma vez se quer. Muito senhor de si e da decisão tomada.
Eu com cara de pastel. E eu, que há pouco tempo escrevi aqui um post justamente sobre a chegada do dia em que meu filho não precisaria mais de mim pra acompanhá-lo até a porta da sala de aula, me vi assistindo de camarote a chegada desse dia, um pouco mais cedo que eu esperava, é verdade. E, como manteiga derretida que sou, chorei. Definitivamente, a porta dessa escola, testemunha do desenvolvimento do Miguel e de muitas das minhas lágrimas, é quase como minha mãe me dizendo que tudo passa. E que tudo tem seu tempo.
Voltei pro meu carro caminhando devagar, ainda com meus pensamentos no meu filho. Pra que tanta preocupação boba se o tempo é o senhor da razão? Pra que comparar uma criança com outra? Pra que acelerar tanto independência se estou criando meu filho exatamente pra que seja independente e essa independência vai chegar, inevitavelmente, mais dia menos dia? Se cada ser tem sua velocidade pra vida ... Se cada um tem sua cota de paciência e seus prazos e limites pessoais...
Abri a porta do carro, entrei e dei partida. Meu filho está crescendo. E eu estou vendo cada detalhe desse processo entre risos e lágrimas. E estou gostando. Muito.
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