Tinha marcado de fazer uma mamografia pra hoje e lá fui eu. Véspera de Carnaval, estava tudo muito calmo. Cheguei lá na hora certinha e fiquei aguardando pra ser chamada. A moça que me chamou para realizar o exame devia ter uns 25 anos e eu fiquei imaginando a quantidade de peitos que ela vê todos os dias. Peitos de vários tamanhos, cores e formatos. Pensei também na quantidade de mulheres nervosas ou apreensivas que ela atende todos os dias. E, por último, pensei que pra muitas deve ser meio chato tirar a roupa na frente de uma mulher tão mais nova, que, provavelmente, deve ter seu peitinho super no lugar.
Entretanto, não tenho do que me envergonhar. É óbvio que meus seios não são mais tão lindos como já foram um dia, nem tão redondinhos. Se tem uma coisa que acaba com a forma redonda dos seios é gravidez. E não é pra menos: o pobre do peito incha desesperadamente, fica cheio de leite. Tanto que fica parecendo uma bola de boliche, tão maior que o tamanho normal que parece algo a parte do seu corpo. Depois, ele desincha e é claro que a pele que estica dessa maneira, por mais que volte, não volta a ser do jeito que era antes. Isso é fato. É como um elástico: depois que você esticou, pode até demorar pra ele arrebentar, mas voltar ao que era antes de esticar, isso não volta não... Mas, retornando ao assunto, tirei minha blusa e o sutiã confiante, porque meus peitos podem não estar olhando pro céu, mas ainda olham pra frente com dignidade!
Aí a jovem começou a me perguntar tudo o que eu já tinha respondido no questionário escrito antes mesmo de entrar na sala de exame. Perguntou se tinha caso de câncer na família, se eu já tinha tido câncer, feito cirurgia, posto silicone e blábláblá. Pra quê responder um questionário no papel e entregar pra ela, se ela não vai ler? Mas, tudo bem, continuei respondendo. Aí, chegando ao fim das perguntas, ela me perguntou a idade. Disse a ela, orgulhosa: 42. Mas a menina só podia estar a fim de me deprimir porque perguntou logo depois de eu dizer a idade, assim a queima roupa: "Ainda menstrua?"
Putz. Quis mandar a garota pr´aquele lugar, perguntar pra ela o que ela achava, se estava de sacanagem com a minha cara ou o quê mais. Em questão de segundos pensei em vários desaforos pra dizer pra menina, mas minha boca, sábia e educadamente, não me obedecia. Minha cabeça girava e girava, pensando mil coisas e eu só consegui responder: "Sim, menstruo."
Arrasada, só pensava que devia estar muito velha mesmo enquanto colocava o peito direito pra ser esmagado pelo aparelho. Puta da vida, só conseguia pensar que essa garota só pode ser muito sem noção pra me perguntar se ainda menstruo depois de eu ter dito que tenho 42 anos. Será que ela sabe que há mulheres que são mães aos 42 anos? Enquanto colocava o peito esquerdo pra ser espremido que nem laranja na maquininha, tentava me convencer que era apenas uma pergunta comum, que ela precisa fazer a todas as pessoas. Só que eu já fiz mamografia outras duas vezes e ninguém me perguntou antes se eu ainda menstruava!! Caraca... Que merda.
Cheguei orgulhosa de mim pra fazer o exame e saí indignada. Na boa, fico tentando me convencer que não estou com cara de maracujá de gaveta e até acho que estou muito bem, mas essa perguntinha foi um golpe na minha auto estima. Poxa, não teria sido melhor ela me perguntar qual foi a data da última menstruação? Assim, eu diria a data, simplesmente, sem passar por isso. Do contrário, se eu não menstruasse mais, eu diria isso a ela sem ficar achando que ela me achou uma idosa que não tem mais períodos mensais. Falta de sensibilidade.
E assim começa o meu Carnaval. E viva a menstruação que ainda tenho, sim, e vai muito bem, obrigada!!