quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Menino e Menina



Não sei bem quando foi, mas sei que em uma reunião familiar começamos a discutir a respeito de comportamentos de hoje, de meninos e meninas. A conversa foi pro lado de quando começam a se relacionar e iniciam sua vida sexual. E eu me vi meio de boca aberta com a seguinte situação: a de observar que pessoas esclarecidas e de bom nível cultural ainda esperam que meninos "peguem" todas as meninas e que as meninas não "peguem" todos os meninos. Fiquei ali naquela conversa pensando que quase ninguém se assusta se um menino iniciar sua vida sexual em um relacionamento casual, em uma noite ou dia qualquer, com uma menina com quem não tem um relacionamento estável ou afinidade, mas ainda se espera que as meninas iniciem sua vida sexual com um namorado, depois que conhecem bem o parceiro. Oi? Por que tanta diferença?

Se hoje o comportamento de ficar com dois meninos ou meninas, ou mais, em uma mesma festa é considerado normal, não me cabe julgar. Sou de outra geração, quando ficar com um menino hoje e outro amanhã, já dava o que falar, mas os tempos mudam, se pra melhor ou pior, não sei dizer e nem acho que vem ao caso. O que me chama mesmo a atenção é a coisa de que, por mais que os tempos mudem, o julgamento pra cima da mulher ainda seja tão carrasco. Se você me perguntar o que penso, posso dizer que não acho legal nem pra um menino e nem pra uma menina beijar mais de uma boca por noite. Não acho legal pra nenhum dos dois sexos. Mas o que eu acho mesmo horrendo é que vejo mães que têm tanto menino quanto menina em casa, educando de forma diferente um e outro no sentido de que o menino pode, sim, exercer sua sexualidade e sua condição de "macho", sendo inclusive enaltecido por isso, enquanto à menina é negada essa possibilidade. A menina deve "se preservar". Nessa hora eu acho tudo muito estranho.

Menino não é igual a menina. Eu sei. O olhar pra vida é diferente, os interesses são diferentes e eu observo todos os dias isso em minha casa. Meninos e meninas não são iguais e nunca serão. Perdoem-me as feministas, mas existem, sim, diferenças inerentes ao gênero que não há evolução que apague. Meninos, em geral, têm mais força física que as meninas. Isso é fato. Nossos cérebros funcionam de forma diferente mesmo e sempre digo que ter útero e ovários faz muita diferença no jeito de encarar o mundo. Mas acho total perda de tempo continuar achando que homem tem que pagar tudo dentro de casa ou que a mulher é que tem que ter a responsabilidade de manter a casa arrumada. Pagar as contas não me torna menos mulher e se meu marido for o responsável pelas tarefas de casa não será menos homem por isso. Porém, algumas mães não pensam que as diferenças são apenas o jeito de encarar o mundo, afinidades diferenciadas ou força. Algumas mães continuam disseminando hábitos antiquados que tornam a nossa vida muito mais difícil de ser vivida. Ainda vejo mães permitindo que seus meninos façam xixi na rua, enquanto falam para suas meninas segurarem o xixi até chegar a um banheiro. Ainda vejo mães permitindo que seus filhos mexam nos genitais na frente de qualquer pessoa enquanto se a menina tiver uma coceirinha e colocar a mão lá, pedirão na mesma hora que não façam isso, por ser feio. Bolas, é feio pros dois! Por uma regra social, não é de bom tom coçar nossos genitais em público. Mas por essa permissividade dentro da casa dos pais é que vemos montes de homens na rua se coçando ou se "ajeitando" sem o menor pudor.

Enfim, nós, pais, somos responsáveis por criar seres humanos mais elegantes. Somos responsáveis por deixar pro mundo mulheres mais guerreiras, que lutam pelo que querem, que ganham a mesma coisa que seu marido - ou mais, por que não? - sem perder sua essência feminina que faz com que goste de ser mimada, cortejada, que faz com que goste de cuidar de seu companheiro e de ser tratada com todo o carinho e respeito. Nós, pais, somos responsáveis por deixar pro mundo homens mais parceiros, que trocam fralda, que são ativos na vida escolar de seus filhos, que preparam mamadeira e dão banho. Homens que saibam ser parceiros nas tarefas cotidianas e que se permitam chorar, sim,  sem perder sua essência masculina que faz com que gostem de proteger, conquistar e de racionalizar quando a coisa ameaça fugir do controle. 

Quando era criança, lembro de ter amigas que tinham  irmão e, não raro, ao acabarmos de lanchar, o irmão levantava da mesa e se mandava enquanto minha amiga e as outras meninas tinham a tarefa de tirar a mesa e lavar a louça. Morando na mesma casa, criados pelos mesmos pais, o menino podia coisas que a menina não podia. Mas isso foi há 30 anos! Como, nos dias de hoje, ainda continuamos a educar meninos e meninas de forma diferente? Como continuamos enaltecendo o menino "pegador" e inibindo a menina "pegadora"? Ainda temos medo de que nossas filhas sejam julgadas? Volto a repetir, esse comportamento de pegar todo mundo pode não ser legal, mas se assim for considerado, que seja pra qualquer sexo. Se achamos que menino pode, por que a menina não? Até quando isso vai? 

Bem, estou tentando fazer a minha parte dentro de casa. Mas eu não tenho um menino e uma menina. Tenho apenas um menino. Mas quero muito que esse meu menino cresça aprendendo a respeitar as mulheres e que ele entenda que se ele pode beijar várias meninas em uma mesma festa, não pode julgar a menina que faz o mesmo. Espero que ele entenda que se quiser que uma menina fique apenas com ele, deve dar o exemplo. Porque para ser cuidado, é preciso cuidar. E porque pra ser respeitado, é preciso respeitar. 

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