terça-feira, 29 de julho de 2014

Derrotas

Sexta-feira estava na festa da amiguinha do Miguel da escola quando uma amiga e eu estávamos conversando animadamente. Eu e Ana nos damos muito bem, poderia ser somente porque nos encontramos unidas pela geração a que pertencemos, mas é mais que isso. Temos muito em comum, mesmo. E, então, nessa conversa, às gargalhadas, Ana comentou:

- É por isso que gosto da Paula! Porque ela não conta só vitórias, ela conta as derrotas dela sem medo.

E isso é, de fato, uma verdade. 

A impressão que tenho hoje é que todo mundo tem que parecer muito feliz, se mostrar maravilhoso, ter uma vida perfeita onde tudo dá certo. E, vamos combinar, alguém acredita que seja assim o tempo todo? E o pior não é ter que parecer feliz o tempo todo. Pra mim, péssimo mesmo é achar que não se pode ser feliz quando as coisas não dão certo ou fogem do planejado. Muitas vezes as pessoas se sentem diminuídas nas adversidades, não gostam de falar de coisas que possam macular a imagem que outros formaram a respeito dela. A fraqueza não é algo a ser valorizado. Tem gente que não chora em público porque não quer parecer frágil ou vulnerável. Acontece que ninguém é perfeito e a vida de ninguém é perfeita. Aliás, se tudo desse sempre certo pra algumas pessoas ou se elas nunca errassem ou fizessem besteiras, não estariam mais no mesmo plano espiritual que eu. 

O fato de eu ter riso fácil, não quer dizer que seja idiota. O fato de ter cara de boazinha, não quer dizer que eu seja estúpida. O fato de gostar de coisas boas, não quer dizer que seja rica. E o fato de ser feliz, não quer dizer que não fique triste, sofra ou que não passe por situações ridículas.

Não tenho medo de contar minhas derrotas, embora muitas vezes eu fique parecendo uma boba perante alguns. Tem gente que não quer ouvir tropeço, só vitória. Eu vejo na cara das pessoas o que se passa na cabeça delas: como ela tem coragem de falar disso? As pessoas tem vergonha de contar fraqueza. Só que todo mundo já levou um tombo na rua, já cometeu uma gafe, já deu um fora, já esteve péssima e tratou mal um amigo, todo mundo já teve que pedir desculpas ou perdoar, já deu com os burros n´água, já nadou, nadou e morreu na praia. Eu não sou a única. 

E tem outro ponto importante pra mim: eu falo das minhas neuroses, até pra exorcizá-las. É minha opção. Dou risada de mim mesma. Aprendo com meus vacilos, mas não morro por causa deles. Não tenho medo do que vão pensar de mim quando conto que meti os pés pelas mãos ou quando estou neurótica com uma situação tão besta. Lembro de quando bateram no meu carrinho novo, apenas 3 dias depois de ter saído da concessionária. Meu carro estava paradinho na rua atrás de onde trabalho quando um doido perdeu o controle e entrou na lateral do meu carro. Fiquei tão, tão triste que comecei, neurótica, a pensar que eu devia ter feito algo de ruim pra merecer isso. Enfim, cheia de neura, liguei pra um amigo e quase chorando perguntei:

- Levi, coisas ruins acontecem pra pessoas boas?

E o Levi, muito fofo, primeiro deu uma risada. Já deu aquela descontraída. Depois, com toda paciência do mundo que as pessoas neuróticas demandam, me aliviou respondendo que SIM!! COISAS RUINS ACONTECEM COM PESSOAS BOAS. Era tudo o que eu precisava ouvir. Mas ele ainda teve saco pra me dar várias outras explicações que acalmaram meu coração. Desliguei o telefone e uma professora entrou na minha sala e me falou pra não ficar triste, contou 2 casos semelhantes ocorridos com ela e disse que eu consertaria meu carro e que ele ficaria novinho em folha. Enfim, se eu tivesse me mantido quieta, não teria recebido ajuda. Talvez tivesse ficado triste mais tempo do que fiquei. Por isso é que eu tenho medo é de quem passa a imagem de que nunca perde o controle ou nunca se estressa com nada. Tenho medo daqueles que são tão inabaláveis em suas convicções que nunca erram, que tiram tudo de letra, que nunca fraquejam. Estou com Nietzsche: "Odiarmos a fraqueza? Porquê? Na maioria das vezes, porque somos necessariamente fracos."  




quinta-feira, 24 de julho de 2014

O dia em que envelheci





Sim, tenho consciência plena que não sou mais uma mocinha. Ótimo que esteja bem pra minha idade, tanto física quanto mentalmente, mas o tempo é implacável e ele chega pra todos, mais cedo ou tarde. Entretanto, algumas coisas fazem você cair na real de que o tempo passou MESMO e isso é um pouco chocante. Ou muito chocante. Sei lá. Ainda não sei. 

Essa semana estava eu saindo às 8 da manhã da academia, logicamente desgrenhada e suada. Acho que estou dizendo que estava desgrenhada em uma tentativa inútil de justificar o acontecido. Bom, voltando ao fatídico assunto, sempre saio na correria pra me arrumar e ir pro trabalho. Como tenho que atravessar uma rua pra chegar no local onde deixo o carro estacionado, tem dias que alguns carros buzinam, tem homem que fala uma besteira, enfim, aquelas coisas de sempre que a mulher brasileira já está acostumada. Homem é homem em qualquer nacionalidade, mas latinos, em especial, são mais chegados a mostrar que acharam uma mulher bonita/interessante/gostosa falando alguma coisa que nem sempre é bacana. Ok. 

Acho que estava em um dia bom até. Não sou das pessoas que nasceram pra usar roupa de malhar. Ao contrário, acho que esse tipo de roupa não me favorece. Não sou dessas mulheres que ficam ainda mais bonitas quando estão com roupa de ginástica. Isso acontece pra quem tem corpo escultural. Por isso, estranhei que estava recebendo muita buzinada, muito elogio em um curto trajeto da academia pro carro. Pensei eu: "Gente... Esses homens estão bem atacadinhos hoje. Ou eu é que estou em um bom dia..." Só que quando estava me aproximando do meu carro, descendo a rua vinha uma pick-up com 2 caras dentro. Como eu subia a rua e eles desciam, deu pra ver que eram rapazes novinhos, deviam ter, no máximo, uns 20 anos. O motorista ficou me olhando e o carona abriu o vidro, colcocou a cabeça pra fora do carro e gritou. Ainda estou com aquelas palavras martelando minha mente. Foi um choque. Quase um susto, sabe? Preparados? Aí vem a bomba que me atingiu sem dó nem piedade:

- " Que isso, heim, coroa!"

Pára tudo, pleaseeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!

Parte da minha cabeça dizia que eu não podia ter escutado direito, a outra parte dizia que eu ainda não estava surda - apesar de coroa - e que era isso mesmo o que eu havia escutado. Entrei no carro e fiquei lá dentro uns 5 minutos sem conseguir me mexer, só me refazendo daquela informação que me foi jogada nos peitos em forma de elogio esdrúxulo. A primeira parte da frase que me atingiu (Que isso, heim...) não tinha mais a menor importância, afinal de contas, veio acompanhada de uma palavra que é quase um xingamento, pior que um palavrão! Essa segunda parte... Ah, meu Deus. Essa sim, a palavrinha que me deu a certeza de que estou velha, ficou lá na minha cabeça, como se fosse um tic-tac de relógio de parede. Nesse momento, virei o retrovisor do carro pro meu rosto e fiquei me olhando, ainda incrédula de que esse dia em que envelheci tivesse chegado. Olhei bem a minha cara, olhei minhas rugas e me vi velha, pior, me senti velha. 

Hoje, passados 2 dias desse acontecimento infeliz, já estou refeita. Pro diabo aquela pick-up com dois garotos de 20 anos que acham que isso é elogio pra alguma mulher. Já me levantei da lona onde eles me jogaram! HAHHAHAAAAA 

Então hoje, sem mais nem menos, lá vem outro elogio de um desconhecido na rua:

- "Você é muito linda, parece uma modelo!"

A primeira parte da frase, aceitei. Acho um elogio sem baixaria quando dizem que somos lindas sem enfiar a cara no nosso pescoço ou no pé do ouvido. Já a segunda parte, me deu vontade de rir. Modelos são magras e altas. Qualidades que não se aplicam a mim. Mas, pelo menos, verdadeiro ou não, esse elogio não doeu. 


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Marcelo Anjo




Cheguei ao estúdio do Marcelo há 10 anos sem nenhuma indicação, sem conhecer ninguém que já tivesse feito algum evento com ele. Estava pesquisando fotógrafos para meu casamento e já tinha ido ao estúdio de 3 deles antes de chegar no Marcelo Anjo. Todos os outros eram renomados e conhecidos no mercado, mas sem saber direito o porquê, não me sentia inclinada a fechar com nenhum daqueles nomes famosos. Deixei o Marcelo por último porque era o menos conhecido, era minha última opção porque não tinha nenhuma referência dele, nem positiva, nem negativa. Ele era uma folha em branco pra mim. E é engraçado pensar que minha última opção foi minha melhor escolha.

Quando fui recebida por ele, com o sorriso aberto e simples, que é sua característica, me reconheci. A conversa fluiu naturalmente enquanto me mostrava seu trabalho e me falava de sua carreira da qual eu nada conhecia ou havia ouvido falar. Falei da minha vida, falei da minha história. Falei do que queria, do que não queria. Rimos muito, desde o primeiro instante, descobrindo naquela gostosa conversa vários pontos em comum: signo, bairro da infância, time. Fora o jeito de pensar e a leveza no levar a vida. Enfim, que eu seja perdoada por Simone, sua esposa linda, mas o fato é que me apaixonei. Só não fechei ali, no ato, porque queria voltar com o Namorado pra saber se ele sentiria o mesmo que eu, se ele também teria a certeza de que ele era a pessoa certa pra dividir com a gente um dos momentos mais importantes da nossa vida. 

Dias depois, lá estava eu com o Hugo entrando pelo estúdio. De novo, a mesma sensação. E, pra meu alívio, Hugo que é mais fechado que eu e que fala bem menos, também se sentiu em casa. Foi um dos nossos maiores acertos entre tantos em uma fase tão mágica das nossas vidas, uma fase tão especial em que o universo, definitivamente, conspirou pra tudo dar muito certo. 

No dia do meu casamento, não vou me esquecer nunca que, antes de ouvir do Hugo "você está linda" quando cheguei perto dele no altar, ouvi do Marcelo, quando desci as escadas da Vila Cabral já pronta pra fotografar, um espontâneo e sincero "Nossa, como você está bonita!". E fiquei ainda mais confiante de ser a mulher mais radiante do mundo naquele momento. 

Durante meu casamento, nem parecia que havia um fotógrafo atrás de mim. Dancei e me diverti a festa toda sem nem dar bola pra ele. Quando a festa acabou, perguntei ao Marcelo: "Você conseguiu tirar fotos suficientes pra fazer um álbum?" E ele olhou pra mim e riu, com seus olhos brilhantes de quem tem alegria e prazer extremo no que faz e disse: "Você enlouqueceu? É claro que sim! Quero ver você escolher depois!!" Simples, direto, sem afetação, sem rodeios. 

Bom, estou contando tudo isso porque você, Marcelo, entrou na minha vida totalmente por acaso, só que não sairá mais dela. Você vem registrando momentos importantes da minha existência, da minha família. É uma pessoa com ótimo astral, que exala alegria, o que é muito importante pra mim. Talvez, por isso, nossas fotos fiquem sempre tão lindas. Talvez seja porque o bem reconhece o bem, o amor se encaixa no amor e felicidade contagia. Que maravilha olhar pra trás e ver que meu filho tem crescido sob seu registro e que, muito provavelmente, estou entregando a você parte de uma outra geração de fãs. E de amigos. Sou muito, muito grata por tê-lo em meu círculo de amizades, por poder compartilhar de momentos tão felizes ao seu lado, nem que seja com você atrás da câmera fotográfica, rindo e falando besteira, sem parar de fazer o que você mais gosta e que é o motivo de sua existência: fotografar. 

domingo, 20 de julho de 2014

A primeira dor de amor




Manoela é a melhor amiga da Duda, prima do Miguel. Elas estão sempre juntas, estudam na mesma escola, dormem uma na casa da outra e, é claro, sendo assim, essa é a amiga da prima que mais convive com o Miguel. 

Manoela é muito carinhosa e sempre brincou muito com o Guel. Agarra, beija, corre atrás dele, enfim, faz tudo o que criança gosta que faça com ela: bagunça. E Manoela toda vez que encontra Miguel, estejamos onde for, grita: "Meu namoradoooooooo". E Miguel levou a sério essa história. 

Outro dia, Manoela e Duda foram a uma festa juntas e Duda telefonou de lá aqui pra casa. Disse que queria falar com o Miguel. Na festa onde elas estavam, estava também o "TOM" (nome do personagem que o ator mirim representa no programa "Detetives do Prédio Azul - DPA" que o Miguel adora). A prima/irmã carrasca do meu filho ligou pra falar que o "Tom" estava na festa e que ele, sim, é que era o namorado da Manoela. Meu filho desligou o telefone meio intrigado e olhou pra mim e pro Hugo e falou:

- "Se a Manoela é minha namorada, ela não pode estar na festa com outro. Não é, mãe?"

Eu respondi que a Duda só queria implicar com ele quando ligou, e que a Manu não era namorada do Tom. Miguel continuou:

- "Se ela está namorando com o Tom e diz que é minha namorada, vai ser complicado..."

Eu e Hugo rimos muito do jeito que o Miguel falou que "vai ser complicado" e deixamos pra lá. 

Nos dias que se seguiram, Duda continuou a implicar com o primo, dizendo que a Manoela não era mais namorada dele e que estava namorando o tal do Tom. Miguel nada falava. 

Até que na semana passada Duda apareceu com a Manoela aqui em casa. Miguel fez cara de pavor ao vê-la chegando e saiu correndo pro quarto dele e bateu a porta. A prima mais nova, a Rafa, tentou entrar e ele não deixou. Disse que não queria que ninguém entrasse no quarto dele. Fui até lá e encontrei meu filho chorando. Perguntei o que tinha acontecido, se ele tinha brigado com a Rafa (eles vivem se desentendendo mesmo!) e ele respondeu que não. Disse, aos prantos, que não queria "olhar pra cara da Manoela" e que ela era "uma mentirosa". Perguntei porque ele achava que Manu era mentirosa e ele respondeu que quem diz que é namorada de um, não pode namorar outro. 

Fiquei meio sem ter o que dizer. Miguel levou à sério a brincadeira da Manu. E também fiquei sem saber o que falar a respeito de sua convicção sobre fidelidade quando é tão novo. Abracei meu filho e deixei que ele se acalmasse e parasse de chorar. Saí do quarto com ele me pedindo apenas que não deixasse ninguém entrar, ele não queria ver a Manoela. Ligou sua TV e foi ver um filme.  É... Será que Miguel puxou ao pai e vai gostar de mulheres mais velhas? Manu tem 14 anos!

Resumindo... A primeira dor de amor do meu filho já tem nome: Manoela. Sua malvada!! O que vale é que nessa idade, qualquer dor passa em 30 minutos. Ou seriam 30 segundos? E, talvez, devesse ser assim mesmo, né? A gente é que complica demais e se entrega muito a dores que o tempo se encarrega de curar. O tempo, sempre ele. Que a gente possa chorar por nossas dores, sim. Isso é saudável. Mas que a gente não permita que nossas dores durem uma eternidade. Que bom se a gente deixasse a dor ficar não mais que 30 minutos em nossa vida! Porque sempre há um outro dia, sempre há um outro nascer do sol, sempre há chance pra recomeçar e deixar as dores pra trás. 






quinta-feira, 17 de julho de 2014

Como agradecer?






Sem essas pessoas, minha vida seria bem difícil. Sem essas pessoas, minha vida perderia um pouquinho de sua graça. 

Como agradecer quando não há agradecimento que pague tanta entrega, tanto comprometimento, tanta vontade de acertar? 

Todos estamos muito cansados. Trabalhando sem parar, desde a hora que chegamos até a hora de dizer "até amanhã". Aliás, a gente continua trabalhando quando chega em casa, porque a mente custa a desligar e não raro dormimos com algum problema e acordamos com a solução. Essa batida já dura 3 semanas e ainda não vai terminar tão cedo. 

A única recompensa é a felicidade de bater nossas próprias metas. A alegria de sabermos que temos um ao outro, que contamos uns com os outros. Nem que seja com o ombro pra chorar. Ou a mão nas costas pra empurrar e dizer: "Vamos! A hora é essa!" Nem que seja pra debochar do erro do outro. Nem que seja pra sofrer de mãos dadas ou dizer pro outro deixar de bobeira e seguir. 

Eu sei que sou a que mais grita e se descabela. Vocês escutam meus esporros, minhas broncas. Vocês lidam com meus surtos, minha cara feia. Vocês têm o pior de mim. E também conhecem o meu melhor porque só a convivência de tantos anos faz vocês terem a certeza de que apesar das tempestades, vocês contam comigo "pro que der e vier". Eu sou uma líder que se permite fraquejar de vez em quando, porque tenho gente ao lado que me coloca pra cima. Eu sou uma líder que incentiva o meu grupo, mas que é incentivada e acalmada por ele sempre que necessário. Eu sou uma líder que chora, que se indigna, que briga, que grita, que mostra o que sente e que aceita críticas. Sou uma líder que aceita erro, mas não aceito corpo mole, nem trabalho pela metade. Quero tudo. Porque não sei não dar tudo de mim. 

A gente sempre sabe que vai rir juntos de todos os momentos difíceis que passamos durante uma rematrícula. A gente sempre sabe que vai dar tudo o que pode e vai deixar um pouco de si em cada dia de trabalho. E a gente sempre sabe que, ao final, vamos catar juntos nossos pedaços pra nos remendarmos e pra começar tudo de novo depois. 

Vocês são especiais. E só quero dizer obrigada. 

domingo, 13 de julho de 2014

Vocês querem namorar?



Vida sexual de pais é uma coisa complicada. Os filhos tiram o que é muito importante, pra mim, no sexo: a espontaneidade. Transar com hora marcada é meio chato, mas depois de um tempo a gente acaba se acostumando porque quando se tem vontade nem sempre é possível. Muitas vezes é possível quando a vontade não é tanta ou quando existem outras coisas a serem resolvidas. E raro, raríssimo, é quando acontece de ter vontade e poder ao mesmo tempo. 

Só que como essa situação é por tempo indeterminado, acho que a maior parte dos casais acaba se acostumando com isso e vai transando quando dá mesmo. Vai encontrando sua fórmula pra não passar tanta privação. O tempo é curto e as transas acabam virando coisas meio apressadas, com medo do filho acordar ou, no meu caso, bater na porta. 

De um ano pra cá, eu e Hugo adotamos a postura de conversar com o Miguel a respeito. E falamos com ele abertamente usando o termo "namorar". Falamos com ele que vamos namorar e que gostaríamos que ele ficasse no quarto dele brincando, vendo um filme ou com seu ipad. Falamos também que precisamos "namorar" sozinhos de vez em quando e pedimos que ele não bata na porta, que espere pra falar com a gente depois, porque não vamos ficar longe dele por muito tempo. Miguel respeita, sem problemas. Ele entendeu que pai e mãe que se gostam precisam "namorar". Ele entende que pessoas que se amam, "namoram". Ele não sabe exatamente o que queremos dizer com "namorar", mas sabe que precisamos de privacidade pra fazer isso. 

E hoje, agora pela manhã, aconteceu algo muito engraçado. Estávamos todos acordados e Miguel pegou seu ipad e seu suco e virou-se pra mim, com uma cara muito séria :

- "Mãe, você e papai não querem namorar, não? Porque se quiserem, estou aqui com meu ipad e suco e vou pro meu quarto, tá? (tipo: tenho tudo o que preciso pra ser feliz nesse momento!) Podem namorar um pouco! Tchau!"

E foi pro quarto, cheio de atitude. 

Bem, infelizmente, não pude "namorar" naquele momento porque tinha que ir ao mercado. Mas agradeci, rindo muito por dentro, e disse que ele é mesmo um filho muito, muito legal.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Que mãe sou eu?





A correria na minha hora do almoço continua. Será que algum dia terá fim? Acredito que não. Mas acho que estou falando isso pra justificar minhas loucuras e falhas como mãe... Afinal, qual a mãe que trabalha fora não tem uma vida louca e corrida e contada no relógio? 

Bom, arrumei a merendeira do Miguel e coloquei o suco e um pacotinho de biscoito. Achei que talvez ele fosse ficar com fome e quis dar uma opção pro menino. Vai que ele não está a fim de comer biscoito? Olhei rapidinho pra dentro do armário e peguei um bolinho (desses Ana Maria) de cenoura e coloquei lá também. 

Pouco depois da hora do lanche da escola, recebo um telefonema da Deise (secretária). Mãe quando recebe ligação da escola do filho só pensa em merda. Ou o filho aprontou alguma coisa horrorosa, tipo xingar alguém, dar porrada em algum amigo, rasgar livro que não lhe pertence (todas essas opções seriam coisas muito remotas, exceto xingar alguém, devo admitir), ou o filho quebrou alguma parte do corpo, está passando mal, tem febre ou perdeu um dente. Eu sei que tenho um pé no drama, mas que tudo isso passa pela minha cabeça em 2 segundos e meu coração bate descompassado, aaah isso é verdade! Eu não demonstro, tento parecer a mais controlada das mães, mas a verdade é que um telefonema da escola me deixa com cara de pavor. 

Mas não era nada disso, graças a Deus. A Deise queria me dizer que o bolinho que eu enviei pra merenda do Miguel (e que ele preferiu ao invés dos biscoitos, já que criança é "do contra" mesmo), estava com a data de validade vencida desde, pasmem, 6 de junho! Gente... Sei lá. Não sabia nem o que dizer. Fiquei gaga, muda, sem falar coisa com coisa. Se você acha que vergonha é o Brasil perder de 7 a 1 pra Alemanha, não sabe o que eu senti naquela hora. Uma mãe que bota na merenda do filho de 5 anos um bolinho vencido mais de 1 mês!!! 

A escola ligou porque, já que eu coloquei bolo e biscoito, pensou que fosse costume do Miguel comer tudo (o que não deixa de ser verdade... hehehe). Entretanto, Miguel tinha pedido pra ir até a secretaria quando soube que me ligariam pra perguntar se eu queria mandar outra coisa de lanche pra ele. Ele quis que a secretária me dissesse que ele já tinha comido os biscoitos e que não estava mais com fome e, sendo assim, eu não precisaria me preocupar. Preocupar? Eu estava era morrendo de vergonha!! Agradeci o cuidado da professora de verificar a data de validade dos lanches - o que me fez crer que não sou a única aparvalhada na face da terra das mães - e por terem me ligado pra comunicar o vacilo (tipo, indiretamente, mandando um recado educado pra eu prestar atenção no que coloco na merendeira do meu filho.)

Por essas e outras é que todo dia tenho certeza que escolhi a melhor escola pro Miguel! Ele vai feliz e adora tudo. E eu acredito, a cada dia mais, no cuidado lindo que eles têm com suas crianças. E tenho certeza, também, que eu sou apenas uma mãe em um período muito louco de trabalho. Assim como tenho certeza de que sou o tipo de mãe que se perdoa. Porque já entendi que não sou heroína e nem Deusa, embora, muitas vezes, isso seja tudo o que eu desejaria ser. 

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Teorias e blá blá blá ...




Uma das coisas mais maravilhosas de se ter um filho é a quantidade de coisas que aprendemos nessa convivência nem sempre tranquila que a maternidade traz. E acho que a maternidade nos ensina de forma cíclica, quer dizer, nos dá milhões de chances de entender a mesma coisa, porque toda vez que acho que já aprendi e ainda me pego enlouquecendo por esse ou aquele motivo, o tempo mostra, pela trocentésima vez, que toda preocupação é desnecessária. Cada filho é um filho e pronto. Temos que respeitar o tempo de cada um mesmo. E teorias, nessa hora, que me desculpem os psicólogos, pedagogos e especialistas em educação infantil, só servem pras mães se acharem uma bosta e nos deixar ainda mais culpadas. 

Antes de o Miguel nascer, procurei ler muito sobre como educação e disciplina poderiam me ajudar a criar meu filho. Ficava de olho em todas as dicas de como fazer o bebê dormir melhor, mamar bem, comer coisas saudáveis, dormir cedo, dormir em seu próprio quarto e por aí vai. Muito do que li consegui colocar em prática e confesso que acredito que tenha sido muito mais por aptidão natural do meu Miguel que por esforço meu. E penso isso porque em outros aspectos fracassei solenemente na hora de colocar a teoria em prática.

Quando Miguel nasceu fiz tudo direitinho para que ele sempre dormisse em seu quarto. Sempre levantei para ir até o quarto dele e nunca o trouxe pro meu. Assim, ele ficou sozinho no quarto até 1 ano e meio. Então, veio um verão escaldante e pra economizar energia e poupar um dinheirinho, fui para o quarto do meu filho. Resultado: quando o verão foi embora, não consegui mais voltar pro meu quarto. Miguel queria que ficássemos com ele. Depois de um ano dormindo em colchonetes, eu e Hugo nos demos carta de alforria e voltamos pro nosso quarto. Sabe o que aconteceu? Miguel foi atrás. Na nossa cama ele nunca dormiu, mas passamos a colocá-lo no colchonete ao lado da cama. 

Todo mundo falando que ele já deveria estar no quarto dele e tal, o que era a  mais pura verdade. E a gente sabia disso. Era mesmo o cúmulo do absurdo eu e Hugo ficarmos sem privacidade porque Miguel estava alí no quarto a noite toda e parte das manhãs. Já tínhamos pensado em várias maneiras de fazê-lo ir para o seu quarto e nada. E, de repente, para nossa surpresa, depois de 2 anos e meio dormindo em um colchonete no chão, meu gostosinho declarou que não dormiria mais com a gente. E, assim, sem mais nem menos, está dormindo em seu quarto. Agora me pergunto: pra que tanta preocupação besta? Pra que gastar tanta energia pensando em meios de obedecer aos livros que nos ensinam a ser pais exemplares, se a hora chega pra todos? Desculpe, mas tenho vontade de jogar livros sobre educação infantil no lixo porque muitas vezes eles fazem com que eu me sinta um lixo de mãe. 

E o coco do meu filho? Miguel fez coco na cueca até 4 anos de idade! Um belo dia o menino resolve sentar no vaso e pronto. Acabou-se a novela! E eu que já tinha gasto toda minha cota de idéias pra fazê-lo ir ao banheiro na hora do coco, percebi que não adianta ficar forçando a barra e falando pro seu filho de 5 em 5 minutos que já está grandinho, que não deveria fazer coco na cueca, nem ficar achando que está fazendo um mal enorme a ele "permitindo" que o hábito se perpetue, se sentindo péssima mãe. Um dia o cara vai fazer coco no lugar certo!

Foi assim também com a questão do acompanhar meu filho até a porta da sala de aula. Eu deveria ter deixado de fazer isso, as professoras diziam que já era tempo de ele ir sozinho mas Miguel pedia que eu o acompanhasse. E eu acompanhei todas as vezes que ele quis. Não me arrependo. Deixo Miguel agora na porta da escola, nem entro mais. Ele vai seguro e feliz. E vejo crianças sendo acompanhadas ainda por seus pais. E ok. Cada um sabe de si. Respeitei o tempo do meu filho e isso me deixa muito tranquila. Miguel é assim: faz as coisas quando tem segurança, não é das crianças mais atiradas e corajosas e, em certo aspecto, acho isso muito bom. Foi assim até pra andar. Miguel só andou com 1 ano, 1 mês e 15 dias. Sim, a louca aqui sabe exatamente quando. É óbvio imaginar que as comparações com outras crianças que já andavam "desde os 9 meses" já estavam me deixando insana, né? Mas Miguel quando andou, andou firme, seguro. Não caia, não tropeçava. Miguel andou e andou mesmo. Sem apoio, sem se segurarar em nada. Firme, pé ante pé. 

Fico olhando pro Miguel e observando tantas coisas surpreendentemente deliciosas nele. Vejo o carinho e cuidado que tem com sua avó quando estamos andando e minha mãe acaba ficando pra trás por andar com dificuldade por conta dos joelhos. Quando isso acontece, Miguel pára e vai pro lado da avó e lhe dá a mão, ficando ao lado dela, andando juntos, lhe fazendo companhia. Quando estou preocupada com alguma coisa, Miguel pergunta logo: "porque você está com essa carinha de triste? Não gosto de ver você com essa cara, mamãe lindinha!" Quando a Leda (cadela da minha irmã) entra lá em casa e eu grito pra Leda sair da sala, Miguel logo fala: "Não fala assim com a Ledinha!". Quando vamos a uma festa de adulto e tem pista de dança, ele é que me chama pra dançar!!! Quando estávamos saindo da escola outra dia e ele viu um amiguinho chorando, Miguel parou na mesma hora pra perguntar porque o menino chorava e ainda disse a ele: "Calma, não chora. Não vou sair daqui enquanto você não achar sua mamãe, está bem?" Enfim, meu filho é um menino muito observador, muito protetor, alguém que está sempre preocupado com o bem estar de todos. Até quando a professora substituta na escola despediu-se da turma já que a professora oficial estava voltando da licença maternidade, ele preocupou-se e quis saber se a professora ficaria sem turma. Enfim, Miguel é maduro pra tantas coisas, quem se importa se fez coco na cueca até 4 anos de idade e dormiu no quarto dos pais até os 5? Preciso aprender a dar o tempo que Miguel precisa pra se desenvolver. Espero, de verdade, conseguir.