terça-feira, 29 de julho de 2014

Derrotas

Sexta-feira estava na festa da amiguinha do Miguel da escola quando uma amiga e eu estávamos conversando animadamente. Eu e Ana nos damos muito bem, poderia ser somente porque nos encontramos unidas pela geração a que pertencemos, mas é mais que isso. Temos muito em comum, mesmo. E, então, nessa conversa, às gargalhadas, Ana comentou:

- É por isso que gosto da Paula! Porque ela não conta só vitórias, ela conta as derrotas dela sem medo.

E isso é, de fato, uma verdade. 

A impressão que tenho hoje é que todo mundo tem que parecer muito feliz, se mostrar maravilhoso, ter uma vida perfeita onde tudo dá certo. E, vamos combinar, alguém acredita que seja assim o tempo todo? E o pior não é ter que parecer feliz o tempo todo. Pra mim, péssimo mesmo é achar que não se pode ser feliz quando as coisas não dão certo ou fogem do planejado. Muitas vezes as pessoas se sentem diminuídas nas adversidades, não gostam de falar de coisas que possam macular a imagem que outros formaram a respeito dela. A fraqueza não é algo a ser valorizado. Tem gente que não chora em público porque não quer parecer frágil ou vulnerável. Acontece que ninguém é perfeito e a vida de ninguém é perfeita. Aliás, se tudo desse sempre certo pra algumas pessoas ou se elas nunca errassem ou fizessem besteiras, não estariam mais no mesmo plano espiritual que eu. 

O fato de eu ter riso fácil, não quer dizer que seja idiota. O fato de ter cara de boazinha, não quer dizer que eu seja estúpida. O fato de gostar de coisas boas, não quer dizer que seja rica. E o fato de ser feliz, não quer dizer que não fique triste, sofra ou que não passe por situações ridículas.

Não tenho medo de contar minhas derrotas, embora muitas vezes eu fique parecendo uma boba perante alguns. Tem gente que não quer ouvir tropeço, só vitória. Eu vejo na cara das pessoas o que se passa na cabeça delas: como ela tem coragem de falar disso? As pessoas tem vergonha de contar fraqueza. Só que todo mundo já levou um tombo na rua, já cometeu uma gafe, já deu um fora, já esteve péssima e tratou mal um amigo, todo mundo já teve que pedir desculpas ou perdoar, já deu com os burros n´água, já nadou, nadou e morreu na praia. Eu não sou a única. 

E tem outro ponto importante pra mim: eu falo das minhas neuroses, até pra exorcizá-las. É minha opção. Dou risada de mim mesma. Aprendo com meus vacilos, mas não morro por causa deles. Não tenho medo do que vão pensar de mim quando conto que meti os pés pelas mãos ou quando estou neurótica com uma situação tão besta. Lembro de quando bateram no meu carrinho novo, apenas 3 dias depois de ter saído da concessionária. Meu carro estava paradinho na rua atrás de onde trabalho quando um doido perdeu o controle e entrou na lateral do meu carro. Fiquei tão, tão triste que comecei, neurótica, a pensar que eu devia ter feito algo de ruim pra merecer isso. Enfim, cheia de neura, liguei pra um amigo e quase chorando perguntei:

- Levi, coisas ruins acontecem pra pessoas boas?

E o Levi, muito fofo, primeiro deu uma risada. Já deu aquela descontraída. Depois, com toda paciência do mundo que as pessoas neuróticas demandam, me aliviou respondendo que SIM!! COISAS RUINS ACONTECEM COM PESSOAS BOAS. Era tudo o que eu precisava ouvir. Mas ele ainda teve saco pra me dar várias outras explicações que acalmaram meu coração. Desliguei o telefone e uma professora entrou na minha sala e me falou pra não ficar triste, contou 2 casos semelhantes ocorridos com ela e disse que eu consertaria meu carro e que ele ficaria novinho em folha. Enfim, se eu tivesse me mantido quieta, não teria recebido ajuda. Talvez tivesse ficado triste mais tempo do que fiquei. Por isso é que eu tenho medo é de quem passa a imagem de que nunca perde o controle ou nunca se estressa com nada. Tenho medo daqueles que são tão inabaláveis em suas convicções que nunca erram, que tiram tudo de letra, que nunca fraquejam. Estou com Nietzsche: "Odiarmos a fraqueza? Porquê? Na maioria das vezes, porque somos necessariamente fracos."  




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