domingo, 20 de julho de 2014

A primeira dor de amor




Manoela é a melhor amiga da Duda, prima do Miguel. Elas estão sempre juntas, estudam na mesma escola, dormem uma na casa da outra e, é claro, sendo assim, essa é a amiga da prima que mais convive com o Miguel. 

Manoela é muito carinhosa e sempre brincou muito com o Guel. Agarra, beija, corre atrás dele, enfim, faz tudo o que criança gosta que faça com ela: bagunça. E Manoela toda vez que encontra Miguel, estejamos onde for, grita: "Meu namoradoooooooo". E Miguel levou a sério essa história. 

Outro dia, Manoela e Duda foram a uma festa juntas e Duda telefonou de lá aqui pra casa. Disse que queria falar com o Miguel. Na festa onde elas estavam, estava também o "TOM" (nome do personagem que o ator mirim representa no programa "Detetives do Prédio Azul - DPA" que o Miguel adora). A prima/irmã carrasca do meu filho ligou pra falar que o "Tom" estava na festa e que ele, sim, é que era o namorado da Manoela. Meu filho desligou o telefone meio intrigado e olhou pra mim e pro Hugo e falou:

- "Se a Manoela é minha namorada, ela não pode estar na festa com outro. Não é, mãe?"

Eu respondi que a Duda só queria implicar com ele quando ligou, e que a Manu não era namorada do Tom. Miguel continuou:

- "Se ela está namorando com o Tom e diz que é minha namorada, vai ser complicado..."

Eu e Hugo rimos muito do jeito que o Miguel falou que "vai ser complicado" e deixamos pra lá. 

Nos dias que se seguiram, Duda continuou a implicar com o primo, dizendo que a Manoela não era mais namorada dele e que estava namorando o tal do Tom. Miguel nada falava. 

Até que na semana passada Duda apareceu com a Manoela aqui em casa. Miguel fez cara de pavor ao vê-la chegando e saiu correndo pro quarto dele e bateu a porta. A prima mais nova, a Rafa, tentou entrar e ele não deixou. Disse que não queria que ninguém entrasse no quarto dele. Fui até lá e encontrei meu filho chorando. Perguntei o que tinha acontecido, se ele tinha brigado com a Rafa (eles vivem se desentendendo mesmo!) e ele respondeu que não. Disse, aos prantos, que não queria "olhar pra cara da Manoela" e que ela era "uma mentirosa". Perguntei porque ele achava que Manu era mentirosa e ele respondeu que quem diz que é namorada de um, não pode namorar outro. 

Fiquei meio sem ter o que dizer. Miguel levou à sério a brincadeira da Manu. E também fiquei sem saber o que falar a respeito de sua convicção sobre fidelidade quando é tão novo. Abracei meu filho e deixei que ele se acalmasse e parasse de chorar. Saí do quarto com ele me pedindo apenas que não deixasse ninguém entrar, ele não queria ver a Manoela. Ligou sua TV e foi ver um filme.  É... Será que Miguel puxou ao pai e vai gostar de mulheres mais velhas? Manu tem 14 anos!

Resumindo... A primeira dor de amor do meu filho já tem nome: Manoela. Sua malvada!! O que vale é que nessa idade, qualquer dor passa em 30 minutos. Ou seriam 30 segundos? E, talvez, devesse ser assim mesmo, né? A gente é que complica demais e se entrega muito a dores que o tempo se encarrega de curar. O tempo, sempre ele. Que a gente possa chorar por nossas dores, sim. Isso é saudável. Mas que a gente não permita que nossas dores durem uma eternidade. Que bom se a gente deixasse a dor ficar não mais que 30 minutos em nossa vida! Porque sempre há um outro dia, sempre há um outro nascer do sol, sempre há chance pra recomeçar e deixar as dores pra trás. 






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