Há 11 anos entrava aqui no CCAA um aluno muito sapeca. Estava sempre rindo e era aquele tipo de menino com quem ninguém conseguia brigar. Mauricio tinha 6 anos e estava iniciando seus estudos de inglês. Com o passar do tempo, entrando na adolescência, Maurício, mantendo seu jeito sorridente, começou a deixar pra lá seus estudos, pelo menos aqui no curso.
Eu conversava sempre com sua mãe a respeito de seus exercícios atrasados, a falta de vontade de participar em sala de aula e a falta de envolvimento nas atividades propostas. Mauricio começava a se arrastar pra sala, entrava atrasado e parecia uma grande tortura pra ele vir pro curso de inglês. Logo, suas notas cairam, ele começou a precisar fazer recuperação pra conseguir a média. Aos 12 anos, Mauricio ficou reprovado. Após conversar com sua mãe a respeito da reprovação, ela decidiu que o filho não retornaria pro inglês. Não naquele momento. Fiquei um pouco triste, mas acreditei que aquela mãe sabia o que estava fazendo. Afinal, ela não estava tirando o filho do curso por dinheiro e nem por não acreditar nele, apenas pensava que Mauricio precisava se empenhar em outras atividades escolares e que, principalmente, precisava amadurecer.
Quatro anos se passaram e, um dia, Mauricio procurou o CCAA. Alto, bonito, com a mesma cara do menino de 6 anos que foi, só que totalmente diferente. Fez um teste de nivelamento e seu comportamento estava incrivelmente amadurecido. Mauricio havia ficado reprovado no livro 4 em 2002 e estava retornando no livro 6. Confesso que fiquei esperando o relatório de acompanhamento dos professores a respeito de seu comportamento em sala e da pontualidade na entrega dos exercícios e todos os professores me reportavam que Mauricio havia se tornado um aluno participativo, envolvido, com vontade de aprender. Além de inglês, Mauricio também estava aprendendo espanhol, e, apesar das dificuldades dos anos que antecedem o ano de vestibular, não queria parar seus estudos de idiomas. Suas notas continuavam excelentes.
Um dia desses, Mauricio encostou no balcão da secretaria e ficamos conversando. Perguntei se ele se lembrava de como havia sido um aluno difícil quando mais novo, perguntei se se lembrava de quantas e quantas vezes havíamos ligado pra mãe dele pra cobrar assiduidade e entrega dos exercícios que estavam sempre em atraso. Rindo, Mauricio disse que se lembrava, sim. Ainda falei que estava muito admirada por ver o quanto estava mais maduro e focado em aprender, responsável. Comentei que sua mãe teve muito trabalho com ele, mas que estava de parabéns porque ele era a prova de que há uma hora na vida das pessoas em que a ficha cai, a compreensão do que se quer pra si chega e a mudança de comportamento acaba sendo uma consequencia dessa visão do que se tem como objetivo, do quanto precisamos nos empenhar hoje pra viver bem amanhã. Enfim, atitude e consequencia. Escolha de caminhos e maturidade pra fazer essa escolha.
Por pura intuição, perguntei a Mauricio se ele tinha irmãos e descobri que Mauricio é filho único. Imediatamente pensei no meu Miguel. Então falei pro Mauricio:
- Você é o exemplo que dou pra outras mães que se desesperam, que não vêem saída pro comportamento transgressor dos filhos, pra falta de interesse pelos estudos. Porque você é a prova que todos têm seu tempo. Você é de quem vou me lembrar se meu filho começar a me dar trabalho pra estudar... Mas, me conta, o que a sua mãe fez? Como ela lidava com você naquela época pra você chegar onde está? Como ela passou por aqueles anos mais complicados?
Aí, Mauricio, com a maior simplicidade, me deu a resposta mais significativa que poderia me dar. A prova de que todos tem seu tempo desde que haja gente ao redor que continue acreditando em seu potencial. Ele me disse:
- O que minha mãe fez? Paula, minha mãe nunca desistiu de mim.
Fiquei olhando pra ele, verdadeiramente emocionada. E senti-me sortuda por ter acompanhado, mesmo que de longe, essa história. E de ver que sempre há uma luz. E que uma mãe nunca deve desistir de seu filho. Nunca. Eu vou me lembrar disso pra sempre. E, com toda certeza do mundo, eu também não desistirei do Miguel.
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