Há umas duas semanas, ligaram da escola porque Miguel estava se queixando de dor na barriga. Eram 4 da tarde e saí do trabalho mais cedo do que pretendia pra ir buscá-lo. Miguel não é dessas crianças que se queixam de tudo e nem de fazer manha com qualquer dorzinha. Se ligaram pra mim, era porque meu filho estava sentindo dor mesmo. Levei Miguel pra casa e ele estava com diarréia, um pouco caidinho. Na manhã seguinte, estava com febre. E eu tinha que ir pro trabalho. Dei remédio ao Miguel, deixei meu filho com a avó, quietinho na cama, vendo televisão, e o abracei e me despedi dizendo que na hora do almoço eu estaria de volta pra ficar de vez com ele. Naquele momento, Miguel olhou bem nos meus olhos e disse:
- Mas, mãe... Eu preciso de você.
Putz. Meu coração bateu acelerado e minha vontade foi largar tudo, trocar de roupa e me enfiar na cama com meu filho. Miguel é uma criança acostumada com pais que trabalham fora. Talvez, por isso, seja um menino que, apesar de mimado (sim, eu o mimo!!) não é chorão e entende quando digo não a ele. Talvez, por isso, ele saiba respeitar meu quarto e meus momentos de estar só. Ele sabe ficar em seu quarto sozinho brincando e assistindo seus filmes ou colorindo seus desenhos. Como o crio pra resolver suas coisas e saber se virar sem mim, foi forte ter escutado um "preciso de você" tão sentido.
Eu admiro muito as mulheres que fizeram a opção de largar carreira, um bom emprego, pra cuidar de filhos e casa sem colocar sobre eles o peso dessa escolha. Essa nunca seria a fórmula de felicidade pra mim, mas as admiro porque acho o trabalho de uma casa muito árduo, uma coisa sem fim. Acredito que eu sempre me questionaria a respeito do que eu poderia fazer se estivesse no mercado de trabalho, como estaria minha vida profissional, que pessoas estaria conhecendo, quais os desafios estaria enfrentando, caso tivesse optado por ser dona de casa e dedicar-me exclusivamente aos filhos e marido. Por isso, admiro quem consegue ser feliz vivendo assim. Só que naquela hora em que meu filho disse que precisava de mim e eu tive que colocar minha bolsa no ombro e ir trabalhar com o coração partido, admirei a mim mesma. E admirei todas as mulheres, que, como eu, precisam trabalhar e se desdobrar em mil pra serem excelentes mães. No momento que seu filho lhe diz que precisa de você, por mais que você ame o seu trabalho como é o meu caso, o que faz você bater a porta e sair de casa é única e exclusivamente seu senso de responsabilidade.
Não é fácil. Muitas vezes, me pego barganhando comigo mesma, pensando que vou deixar pra faltar o trabalho quando ou se acontecer alguma coisa mais séria. Ao mesmo tempo rezando pra que nada de ruim aconteça. Analiso se o pedido do meu filho não é apenas um capricho de uma criança doentinha ou uma necessidade grande de me ter por perto um pouco mais. As mães entendem bem o que é essa dor: a de ter que ir querendo ficar. A dor de ter que cumprir com seu compromisso, tendo que deixar o filho doente em casa.
Nós que trabalhamos fora e temos tanto a fazer em nossos empregos, nós que saímos de casa, muitas vezes com o coração apertado de vontade de ficar, indo à luta não só pelo dinheiro mas por nossa satisfação pessoal. Nós que tantas vezes somos vistas como egoístas, mães que "perdem tantos momentos importantes da vida dos filhos". Nós que levamos a fama injusta de deixarmos filhos "soltos no mundo". Nós que vivemos carregadas de culpa por termos escolhido ter uma carreira. Nós somos dignas de admiração também, porque só nós sabemos das nossas dores. Nós somos mães iguais as que não têm empregos fora de casa, porque por mais que digam e que falem besteiras, eu sou mãe em tempo integral sim! Apesar de fisicamente não estar sempre com meu filho - e qual a mãe que está? - meu coração está sempre onde meu filho está. E não há um só minuto nessa vida em que eu não considere o Miguel a pessoa mais importante do universo pra mim. A nós, mães que se desdobram em um milhão dentro e fora de casa, minha sincera reverência e respeito. Nós também somos dignas de admiração.
Parabéns, estava na Internet procurando algumas fotos, e achei esse blog.Acabei lendo e me emocionei com seu relato.Filho é dádiva de Deus mesmo.Parabéns!!!
ResponderExcluirEu é que agradeço a visita viu?? Um beijo!
ExcluirMuitas vezes me pego perguntando se fiz a escolha certa,deixei de trabalhar fora para acompanhar o crescimento do meu pequeno de 2 anos já que o crio sozinha pois o pai nos abandonou...
ResponderExcluirAndressa