sábado, 24 de dezembro de 2016

Papai Noel

Li um artigo outro dia com uma ótima sugestão para contar pra crianças que estejam desconfiando da existência de Papai Noel. Achei muito apropriado pra mim porque Miguel vem me perguntando a respeito. Então, vou deixar aqui registrado a cartinha que escrevi pra ele em nome do Papai Noel porque o presente que ele queria ganhar não chegou. Acho que vai dar certo....

Miguel, quero lhe pedir desculpas porque esse ano eu me enrolei muito com a compra dos presentes de Natal. Cada vez existem mais crianças no mundo e muitas não tem nada, sabe? Mas eu não desisto de ajudar e de tentar fazer com que o Natal seja um dia mais feliz. Eu esqueci de trazer seu brinquedo (Lego Dimensions) da Finlândia – onde fica a minha casa – e quero que me perdoe por isso. Deixei uma lembrança e quero que você saiba que seu presente vai ser enviado pelos correios. Assim que eu chegar em minha casa para descansar de todo esse trabalho, vou enviar seu presente.
Você foi um menino ótimo durante o ano todo! Merece ganhar o que pediu, sim. É muito carinhoso com suas avós, respeitador com seus professores e colegas e uma alegria na vida de seus pais. Além disso, está lutando para ter boas notas, vencendo seus medos. Eu vejo seu esforço e dedicação.
Quero conversar com você também sobre outro assunto... Você cresceu muito no último ano, está mais alto, mais responsável. Mas tem uma coisa que nem todo mundo consegue ver, mas eu vejo: seu coração está maior também. Eu posso perceber o tamanho do seu coração bondoso quando não deixa sua avó caminhar sozinha pelo shopping, quando tentar ajudar alguém, quando chora emocionado com um filme, quando quer proteger sua mãe na rua e quando tem sempre um sorriso no rosto para todos que chegam perto de você.
Na verdade, Miguel, seu coração cresceu tanto que estou certo de que você está pronto para se tornar um Papai Noel. Você provavelmente notou que a maioria dos Papais Noeis que você vê são pessoas vestidas como ele. Alguns de seus amigos já devem ter lhe contato que Papai Noel não existe. Muitas crianças pensam isso porque elas ainda não estão preparadas para ser um Papai Noel. Mas você está.
Papai Noel é qualquer pessoa que queira ajudar, qualquer pessoa que faça o bem, que divida o que tem com outra pessoa. Pode ser um copo de água, um prato de comida, um carinho, um sorriso. Todos podemos ser Papai Noel, é só querer. Muitos demoram mais tempo para ficar prontos, alguns nunca ficam prontos e preferem acreditar que Papai Noel não existe. 
Eu reparei que você está pronto! Não precisa mais tanto de mim porque de hoje em diante será também um Papai Noel. Tive certeza disso quando você esteve com sua mãe naquela festa, ajudando aquelas crianças que não tem brinquedos e coisas gostosas para comer em suas casas. Você deu picolé para elas, brincou, sorriu, teve paciência e ajudou a entregar os presentes. Vi que você está pronto quando conversou com a Katia querendo saber de seus problemas e tentando encontrar uma solução. Sem dúvida, você está preparado para ser um Papai Noel, assim como seu pai e sua mãe também são.
Por isso, a partir de hoje, você sabe que eu existo. E que tenho muitos amigos que também são Papai Noel espalhados pelo mundo inteiro. Você também é Papai Noel e tem uma missão secreta que não deve contar a ninguém, somente para seu pai e sua mãe. Todas as vezes que você encontrar alguém precisando de alguma coisa e notar que você pode ajudar, ajude. Essa é a tarefa do Papai Noel. Você não pode fazer mais que suas possibilidades, mas pode contar com a ajuda de seu pai e sua mãe para ajudar quem você quiser e achar que precisa de ajuda, está bem? Continue assim e eu continuarei a lhe trazer seu presente todo final de ano. Você merece! Boa sorte com seu novo trabalho como Papai Noel! E lembre-se sempre: fazer o bem e dar amor só traz ainda mais bondade e amor para nossa vida.
Lembre-se: tenha paciência porque logo, logo seu presente chegará!
Com amor,


Papai Noel. 

terça-feira, 10 de maio de 2016

7 anos




Miguel, hoje é seu sétimo aniversário. Não consigo evitar me emocionar nesse dia tão importante pra mim. Na verdade, um dividor de águas na minha vida porque seu nascimento separou a Paula de antes do Miguel da Paula de depois do Miguel. 

Então vou falar de mim, das mudanças que sua presença em minha vida operou. 

Você virou tudo de cabeça pra baixo e confesso que quase enlouqueci. Foram 3 anos sem dormir uma noite inteira porque você sempre foi bom de boca e acordava pra mamar. Eu não tinha mais tempo pra mim, eu só tinha olhos pra você e sentia falta da minha vida livre e descompromissada de antes de você. Tudo parecia muito pesado, a rotina extenuante. Eu que sempre devorei livros, passei quase dois anos inteiros sem ler nada. Pra algumas mulheres é fácil, filho. Pra mim, foi bem complicado. 

Mas a mágica da maternidade começou a atuar na minha existência. De pouquinho em pouquinho, me descobri uma mulher diferente, com meu coração e olhos ligados em você. Cheia de interesses diversos dos seus, mas com um amor capaz de me fazer abrir mão de muita coisa pra estar perto de você e pra ver você feliz. Hoje sou uma Paula muito chorona, uma Paula cada vez mais ciente de minhas limitações e com muita vontade de superá-las porque você existe. Eu quero ser melhor pra poder deixar você livre, quero ser melhor pra poder deixar você voar sabendo que seu ninho sempre estará guardado no quentinho do meu colo. 

Ontem, quando você cismou que queria comer sonho e eu dei um jeito de achar o tal do sonho pra você, feliz por ver você feliz se lambuzando de doce de leite, lhe disse:

- Essa sua mãe sempre dá um jeitinho de fazer você feliz, né, Guel?

Muito pé no chão, muito maduro, me deu aula na resposta, como está virando costume:

- Sim, mãe. Mas, olha, nem sempre você consegue.... Mas eu sei que você sempre tenta me fazer feliz. Você sempre se esforça, você nunca desiste, mãe... 

Filho, uma vez desejei que você soubesse  que não sou a mulher maravilha, que sou humana e cheia de falhas. E você me mostrou que aos 7 anos já entendeu isso. Sou somente uma mulher que se tornou mãe ao seu lado e que se esforça arduamente em cada minuto do seu dia pra acertar. E é verdade, Miguel... Nem sempre consigo. Que maravilha saber que você sabe que eu tento, sempre e muito, com todas as minhas forças, fazer você feliz. 

Obrigada por esses 7 anos ao meu lado. Te amo mais que tudo. Você é minha vida, meu presente.

Feliz aniversário!!

Mamãe

sábado, 7 de maio de 2016

O mais importante



Essa nossa última viagem de férias foi uma grata surpresa. Recebemos tantos presentes do universo, foram tantos momentos felizes, divertidos e encantadores que fica difícil escolher um. Uma sequência de dias lindos que incluíram ver neve caindo e baleias pulando no mar da costa do Oregon enquanto tomávamos café da manhã. E o inesperado é sempre tão mágico, tão delicioso. Não dá pra esquecer.

No último dia de viagem estávamos jantando e foi inevitável que a conversa girasse em torno de tudo o que tínhamos tido a oportunidade de viver, de conhecer, de aprender durante nossas férias. Na conversa, houve um momento em que me lembrei desse video aí do post. Nele, pergunta-se a vários pais quem eles escolheriam para jantar se pudessem escolher qualquer pessoa, viva ou morta, para viverem esse momento de partilharem uma refeição. A mesma pergunta foi feita para os fihos desses adultos minutos depois. 

Lembrei do video porque em dado momento cada um de nós começou a pontuar seu momento preferido ou lugar preferido da viagem. Namorado disse que seu momento preferido foi ter conhecido a fábrica da Boeing em Seattle. Berenice disse que amou o Crater Lake National Park (que é mesmo de tirar o fôlego de qualquer um!) e eu disse que amei ser surpreendida pela baleia saltitante em sua rota de retorno depois do inverno em nosso café da manhã em Yachats. Aí chegou o momento do Miguel dizer o que mais havia gostado em toda a viagem. E aí meu bebê, aquele que outro dia ficava no meu colinho o dia inteiro, usando fraldinhas, dormindo em seu berço, falou assim:

- Nossa... Eu gostei de tudo, sabe, mãe? Nossa viagem foi linda. Mas o que eu mais gostei mesmo foi de ter passado todos esses dias juntinho com a minha família!

Eu, Namorado e Berê trocamos olhares emocionados. Todos preplexos com a pureza da resposta e sua grandiosidade. Eu chorei. A lágrima pulou do meu olho sem eu querer. E eu quero, de novo e de novo e de novo, agradecer a Deus por ter um filho como o Miguel. Alguém que me faz lembrar o que realmente é importante na vida. Como eu amo esse menino....

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Intimidade



Intimidade é algo construído dia-a-dia. Não é algo que se adquire de uma hora pra outra. Desconfio muito de relacionamentos que parecem íntimos de repente, do nada. Na minha cabeça, é difícil eu conhecer alguém hoje e amanhã ser a melhor amiga de infância. Na minha casa convivia com meu pai muito mais tempo que com minha mãe (meu pai passava mais tempo em casa que minha mãe), mas tinha muito mais intimidade com minha mãe que com meu pai. Minha mãe estava disponível pra me escutar, meu pai representava o imprevisível, era o que eu não conhecia e isso me dava medo. A bebida interferiu muito na nossa relação uma vez que qualquer pessoa torna-se duas se bebe: uma quando está sóbria e outra quando está sob efeito do álcool. Eu ficava um pouco perdida, meio sem saber como agir e isso só mudou quando eu já era bem adulta, com maior compreensão. Conforme fui perdendo a revolta pelo tempo perdido, mais fácil foi perdoar e seguir em frente. 

Desde que Miguel nasceu, tenho em minha cabeça esse objetivo: de que meu filho tenha confiança em mim, que a gente possa ter intimidade pra me contar suas dificuldades, suas faltas, suas vitórias, seus medos, seus anseios. E como sei que intimidade se constrói todo dia um pouquinho, nas pequenas atitudes, nas coisas bobas do nosso cotidiano, fui procurando estar dispoível pra ele, ao alcance de sua mão, mesmo longe fisicamente, por vezes, mas presente na qualidade do nosso tempo. 

Eu quero conhecer meu filho e me surpreendo e me chateio com tudo o que vou aprendendo sobre ele. Ele não veio ao mundo pra satisfazer minhas expectativas, não veio ao meu encontro pra mostrar pro mundo o quão boa mãe eu sou. Ele veio pra ser ele e eu repito isso como um mantra para que possa aprender e respeitar. 

Sempre procuro saber do dia do meu filho. O que aconteceu na escola, o que o fez feliz, o que o fez dar risada e sei, só de olhar pra ele, se viveu algum momento de tensão, insatisfação. Se brigou com algum amigo, se está com raiva por alguma razão. Na maior parte das vezes, quando não quer falar na hora que eu pergunto, sei que mais tarde ele virá me contar o que houve, no tempo dele. Todos os dias antes de dormir rezamos e conversamos. A conversa gira em torno das coisas bobas do dia, o que vamos fazer no final de semana, o que gostaríamos que acontecesse. E é no escurinho do quarto que nos abrimos mais. Ele fala muito dele mesmo porque eu pergunto muito o que ele pensa disso e daquilo. Sobre a escola, assunto recorrente em nossas conversas, pergunto sempre se tem ficado de boquinha fechada (ele conversa muito e é agitado), se tem se atrasado pra fazer as atividades propostas pela professora (com tanta conversa, algumas vezes se atrasa pra copiar as atividades), se conseguiu ir pro recreio (às vezes ele perde o recreio pra colocar suas tarefas em dia), enfim, busco saber dele e dou conselhos. 

Essa semana, depois dessa nossa conversa que acaba quando já estou com os olhos fechando de tanto sono (não raro ele ainda quer continuar a conversa quando já nem aguento mais abrir minha boca), fui dizer boa noite e ele falou:

- Não, mãe... Peraí... Quero saber umas coisas de você. Posso perguntar? 

Respondi que sim e esperei. Miguel começou:

- E no seu trabalho, mãe? Como foi o seu dia? Os alunos estão indo pra escola? Tem alguém que está faltando muito? Você teve que conversar com muitos pais hoje? Você fez todas as suas atividades ou tem alguma atrasada? Você conversou com seus amigos do trabalho?

Nossa... Fiquei rindo por dentro e fui respondendo cada uma daquelas perguntas muito impressionada por meu filho saber tanta coisa do meu local de trabalho. As perguntas que me fez são muito pertinentes ao meu dia-a-dia, ele escuta minhas conversas com o Namorado e sabe muita coisa sobre o meu dia. E também sabe transferir as preocupações que mostro ter com sua escola para o meu trabalho. 

Eu achei tão lindo ele demonstrar essa preocupação, querer saber de mim, do meu dia, da minha rotina. Senti uma parceria bonita crescendo, fazendo parte do nosso relacionamento. Senti um carinho verdadeiro, uma entrega. Ele se importa comigo, tanto quanto me importo com ele. E isso é tão bom de sentir, principalmente no relacionamento mãe e filhos. Estamos tão acostumadas a nos doar sem esperar NADA em troca que ficamos surpresas quando vemos que o filho se importa com a gente. Talvez porque pra mãe o mais importante é ver o filho feliz, não estamos acostumadas a pensar em retorno quando tratamos desse tipo de relacionamento. Por isso que dizem por aí que é o único amor incondicional. E é a mais pura verdade. 

Eu e Miguel estamos construindo nosso relacionamento um pouquinho a cada dia. E é muito bonito de ver que sinto estar indo pro caminho certo nesse sentido. Estamos ficando íntimos, de pouquinho em pouquinho. Miguel me devolve, em suas atitudes, muito, muito amor. E ele nem sonha o quanto sou feliz só por ele existir em minha vida... 


segunda-feira, 21 de março de 2016

Coelho da Páscoa



Quando pequena, minha mãe sempre escondeu os ovos de Páscoa dizendo que o coelho os havia trazido. Nunca fiz isso com o Miguel. Sempre comprei o ovo de chocolate pra dar a ele, a família toda sempre o presenteou com ovos de Páscoa, mas realmente nunca fiz a brincadeira de domingo de Páscoa com ele. Esse meu jeito muito prático de ser, muitas vezes atrapalha. Eu faço o estilo "a vida nua e crua" e deixo a desejar no que diz respeito à fantasias. Até porque tenho preguiça dessas coisas, sabe? Fazer pegadinhas de coelho com adesivos pela casa ou com talco, fazer o rastro do coelho pra levar até os ovos de chocolate, deixar pistas pela casa... aff... Canso só de pensar. Podem me julgar, mas não tenho o menor saco pra essas coisas. 

Esse ano, com o preço do ovo de Páscoa nas alturas, fui conversar com meu filho e lhe disse:

- Filhote, esse ano a mamãe não vai comprar ovo de Páscoa pra ninguém, estão muito caros. Além disso, a gente tem sempre chocolate em casa e não vale a pena gastar esse dinheiro só pra comer chocolate em forma de ovo. Seria uma bobagem. Tudo bem, Miguel?

Aí, meu filho que me escutava atentamente, manda essa pérola, muito sério:

- Tá bom, mãe. Também... Esse coelho da Páscoa NUNCA me trouxe um ovo mesmo... Se nem ele me trouxe ovo, eu não vou ficar chateado se você não me der.

Fiquei olhando pra cara dele, sem ter o que dizer. Me dei conta, naquele instante, que o fato de eu nunca ter escondido os ovos de Páscoa pela casa na intenção de fazer meu filho acreditar que tinham sido trazidos pelo coelho, não fez Miguel não acreditar no tal coelho, apenas fez com que ele acreditasse que o coelho, sabe-se lá por que motivo, nunca esteve lá em casa, nunca lembrou de trazer o ovo dele. 

Decidi que esse ano serei "uma mãe melhor" e que vou esconder o ovo "trazido pelo coelho". Conversando com o Miguel, disse que tinha passado um email para o coelho da Páscoa - tempos modernos! - pra conferir se ele sabia exatamente onde ficava nossa casa. E que o coelho disse que estava com o endereço errado por todos esses anos, mas que dessa vez acharia nossa casa, com toda certeza. Aí, Miguel me perguntou:

- Mãe, por onde será que o coelho vai entrar na nossa casa?

Respondi:
- O Coelho da Páscoa sempre acha um jeito, eles são muito rápidos e espertos. 

Miguel continuou:
- Mas, mãe, você pode passar outro email pro coelho pra gente pedir outra coisa pra ele?

Meu Deus, pensei, o que mais esse garoto vai querer que o tal do coelho faça? Entretanto, mediante a culpa de ter deixado meu filho sem a fantasia lúdica do ovo de Páscoa trazido pelo coelhinho por todos esses anos, disse ao Miguel que tudo bem, poderia passar outro email e perguntei o que ele queria que eu escrevesse pro coelho. Miguel respondeu:

- Mãe, será que você pode pedir pro coelho esconder meu ovo em um lugar bem fácil de encontrar? Fala pra ele, mãe, que eu sou um menino preguiçoso pra ficar procurando muito tempo...

Resumo da ópera: eu sou a mãe perfeita pro meu filho. Eu com preguiça de esconder os ovos, ele com preguiça de procurá-los. Deus é ou não é maravilhoso?




terça-feira, 15 de março de 2016

Aniversário de CCAA




Entrei no CCAA com 13 anos. Nem pensava em estudar inglês fora da escola, onde tinha sérios problemas pra entender o verbo TO BE. Minha irmã surgiu com a ideia em casa e minha mãe nos matriculou. Desde a primeira aula, achei o máximo. Entendia tudo o que passei anos achando dificílimo. Nunca pensei que essa escola marcaria tanto a minha vida. Tive professores maravilhosos (Edna, Mansur, Soraya Farage) e, mesmo já cansada por tantos anos de estudo, devo a eles a alegria de ir pras aulas durante 6 anos e meio. Nunca imaginei que o CCAA não mais sairia da minha vida. Lá se vão 32 anos. 

Quando terminei o curso, sentia que ainda não era a hora de ficar longe do idioma pelo qual me apaixonei. Resolvi fazer o Teacher´s Course. No meio do caminho, senti um fogo aquecendo meu coração. Fazia faculdade de Relações Públicas, mas só pensava em dar aulas. Por isso, quando em 13 de março recebi o telefonema me oferecendo uma turminha que começaria no dia seguinte, eu exultava de felicidade. Depois, soube que a tal turminha era em Niterói e fiquei meio murcha. Tinha 21 anos, filhinha de mamãe, não tinha a menor ideia de como chegar em Niterói, mesmo assim aceitei. Telefonei pra minha mãe e contei a novidade dizendo que achava que não tinha feito muito bem em aceitar, afinal de contas, nem sabia como chegaria no CCAA de Niterói. Minha mãe, sempre sábia, disse o que eu precisava ouvir:

- Filha, não interessa se você não sabe. Se não sabe, aprende! Você começa com uma turminha longe de casa, amanhã estará com outras mais perto. O importante é começar. Vai aceitar, sim!!

Lógico que aceitei. O CCAA de Niterói foi um local de muito aprendizado pra mim. Não só dentro da sala de aula, onde cada vez me sentia mais feliz, mas porque lá conheci pessoas que me incentivaram e ensinaram muito. Meu primeiro diretor, o Mauro, sempre foi muito bacana e educado, sempre teve um jeito tranquilo de colocar suas críticas, sempre buscando o crescimento de quem estava a seu redor. No CCAA de Niterói fiz amigos pra vida toda. Dei risadas deliciosas, chorei, vivi momentos que ficarão pra sempre. Tive outros diretores nos muitos CCAAs onde tive o prazer de trabalhar, Ana Lucia, de Ramos, Marisa, de São Cristóvão, Marcia, aqui da Ilha. Sempre serei grata pelo tanto que aprendi com essas pessoas.  

O CCAA sempre acreditou em mim. As pessoas do departamento de ensino, do departamento de coordenação, sempre viram em mim algo que eu não enxergava na época. Sempre vivi a vida sem pensar tanto no futuro, sem muito planejamento de carreira. Eu estava feliz e pronto. Por causa de uma das coordenadoras, a Jane, sou diretora hoje. Ela foi quem me chamou e disse que eu seria excelente diretora quando isso nem de longe passava pela minha cabeça. Devo muito ao antigo diretor de RH, o Nielson. Depois de 6 meses no progama trainee cobrindo a licença maternidade da querida Valnice, o cara simplesmente me chamou pra dizer que eu assumiria a unidade da Ilha do Governador, unidade muito maior que Del Castilho, onde eu estava. Quando sai da sala dele com essa notícia, achei que não fosse conseguir chegar até meu carro. Minhas pernas tremiam com o peso da confiança absurda depositada em mim e que eu sempre fiz questão de honrar. E no CCAA Ilha estou até hoje. São 18 anos aqui.

Olhando pra esses 23 anos como funcionária do CCAA, sinto uma enorme vontade de agradecer. Aos meus professores de TC: Thomaz, Eliana Borges e Eloisa Cardoso. A todos do Departamento de Ensino da época em que eu estava dando aulas por tantos aprendizados a cada aula minha assistida, a cada treinamento e em cada conversa: Deise, Lobato, Rosangela Ferreira, Leticia...

Preciso agradecer ao pessoal do antigo DECOR por cada vez que vinham fazer uma auditoria, com eles aprendi muito. Madalena, Elaine, Jane, Sandra... A Sandra me deu o maior esporro que tomei na vida. Um esporro classudo, sem levantar a voz, sem se alterar, dentro da minha sala, essa mesma sala onde estou agora escrevendo esse texto. Porta fechada, me "descascou". Devo muito a ela por conta dessa bronca. Quando a lavagem de roupa suja acabou, prometi que NUNCA MAIS cometeria os mesmos erros. E cumpri. Cometo erros, sim, nunca os mesmos. 

Sou tão grata a essas pessoas que não tenho como colocar em palavras. Só posso dizer que devo a todos eles pela profissional que sou hoje, devo também aos professores meus colegas e aos diretores meus colegas com quem trabalhei e com quem trabalho até hoje e de quem "roubei" tudo o que achava bacana em cada um deles. Agradeço aos professores e secretários que fazem parte do meu time, com quem aprendo diariamente. E agradeço a todos os que foram meus alunos porque com eles aprendi demais, com certeza mais que ensinei.

No último domingo, dia 13 de março, fiz aniversário de empresa. Aqui estou contribuindo e dando meu sangue há 23 anos. Nunca trabalhei em outro lugar. Sempre fui muito feliz aqui. O CCAA é a minha casa. Tão minha casa quanto a casa onde durmo todas as noites. Tenho um amor enorme por esse lugar, um respeito absurdo. Tudo o que tenho e que conquistei, o fiz enquanto estava aqui dentro. O CCAA é uma parte importante da minha vida, aqui sou extremamente satisfeita. Por isso é que quando meu filho me perguntou hoje de manhã porque é que eu trabalho, fiz questão de lhe dizer:

- Porque eu amo meu trabalho, filho! Eu sou feliz trabalhando no CCAA! 

segunda-feira, 7 de março de 2016

O que tem valor pra você?




Dia desses eu estava nas redes sociais e me deparei com essa frase aí de cima. Nada poderia ser mais distante de mim. Não porque não dê valor a tudo que é difícil de conseguir ou conquistar, mas porque não consigo compreender achar que SÓ o que é difícil vale a pena ou tem valor. Na minha vida muitas coisas muito valiosas vieram com facilidade.

Vamos pensar. Será que aquela viagem que você planejou por um ano inteiro ou mais, pra qual você economizou cada centavo e fez várias horas extras no trabalho se privando, muitas vezes, de saídas e mais horas de sono vai ser mais legal que aquela de última hora, pra qual você é convidada assim, sem esperar, e mete as caras e vai? 

Será que aquela pessoa que você considera maravilhosa e que amaria que fosse seu companheiro, por quem você fica nutrindo uma paixão platônica por meses e que, finalmente, resolve lhe chamar pra sair ou aceitar um convite seu vai ser um parceiro melhor que aquela pessoa que surgiu do nada, quase sem querer, sem sentir, fácil, fácil? 

Será que aquela oportunidade na empresa, a promoção com a qual você tanto sonha e pra qual você vem se preparando há tempos, será mais gratificante que aquela promoção que chega pra você de surpresa?

Eu acho que não, sinceramente. Não estou dizendo aqui que não devemos sonhar, nos preparar pra uma oportunidade, buscar caminhos, estudar. Acho que precisamos estar prontos pra entrar quando a porta que queremos que se abra pra nós finalmente se abrir. Mas valorizar só o que é difícil, só o que chega após um longo caminho percorrido, após uma estrada cheia de obstáculos, depois de muito esforço, é deixar de lado tantas coisas maravilhosas que se apresentam na vida da gente e que muitas vezes não vemos porque estamos preocupados demais olhando o que está ou o que parece estar tão longe. 

O dar ou não dar valor a alguma coisa ou alguém está muito mais em nós que no objeto de desejo. Nós é que atribuímos valor a tudo que nos cerca. E esse valor é relativo. Difere de pessoa pra pessoa. Mas quando aprendemos a dar valor ao que está perto de nós, ao possível, ganhamos a consciência de que sonhar é muito bacana mas que a realização de um sonho não terá mais valor que aquele presente que recebi sem pedir ou lutar por ele. Eu agarrei todas as oportunidades que apareceram pra mim e muitas delas cairam no meu colo, sem muito esforço da minha parte. 

Veja bem, para ocupar o cargo de direção que tenho hoje, fui praticamente inscrita por uma terceira pessoa que disse que eu TINHA que participar porque eu tinha todo perfil de administradora quando nem pensava nisso, estava muito feliz com minha vida dentro da sala de aula, obrigada. Participei do processo seletivo sem tanta gana, porque dava muito valor ao que tinha já e... Pronto. Fui selecionada. O cargo caiu no meu colo e eu não poderia dar mais valor a ele. Sou extremamente feliz e não fico querendo pular de galho em galho porque me sinto satisfeita aqui. Não acho que se eu tivesse participado de 5 processos seletivos, na ânsia de um cargo administrativo e depois de tempos, finalmente, ter conseguido eu daria mais valor que dou ao papel que ocupo dentro da empresa. Uns me chamam de acomodada, eu me chamo de satisfeita. 

Enquanto eu insistia em procurar o cara que eu achava que tinha o perfil pra ser meu companheiro, meu amigo, meu namorado, em caras que claramente não tinham nada a ver comigo, enquanto buscava alguém que quisesse dividir a vida comigo em pessoas distantes, inalcansáveis pra mim naquele momento de vida, continuava sozinha. Um belo dia resolvi olhar pra quem estava ali pertinho, ao alcance da minha mão, querendo estar comigo e... PUM! Era o cara certo! Enquanto eu olhava para o que parecia tão difícil e que supostamente teria um gosto todo especial de conquistar, perdia a beleza do viver um "amor tranquilo, com sabor de fruta mordida". 

Hoje valorizo muito tudo o que tenho. Minha vida, minha casa, meus amigos, minha família, meu amor. Valorizo o vestido que pude comprar e nem ligo se achei um vestido lindo totalmente fora do meu bolso. Esse eu deixo pra lá. Não me interessa. Querer ler um livro que não tenho, me arrumar,  pegar o carro e ir ao shopping pra comprá-lo não faz o livro ser mais bacana que ganhá-lo, do nada, de presente de um amigo. Você pode não acreditar em mim, mas esse é o valor que dou às minhas conquistas e aos presentes que recebo da vida.

Já reparou quando você pergunta pra alguém onde vai passar as férias e a pessoa vai pra algum lugar próximo, ela fala: "Vou ali pra Cabo Frio mesmo..." Quase se desculpando por não falar um "lugar melhor" ou mais excitante, sei lá. E daí como muitas pessoas conhecem Cabo Frio, raras as pessoas falam: "Nossa, mas as praias de lá são maravilhosas, areia fininha e branca... Aproveite ao máximo aquelas belezas!!" Entretanto, quando a pessoa vai pra um lugar distante, badalado, considerado bacana, tipo Ibiza, por exemplo, logo se seguem os comentários: "Uau! Arrasou! Tá rica! Chiquérrima! Aproveite muito. Divirta-se!"

Se não posso viajar pro Caribe, de verdade, serei feliz em Maceió. Porque todos esses lugares tem valor se você os valorizar. O dia em que eu visitar Paris não será mais feliz que o dia em que visitei Gramado. Eu sou feliz quando estou em Arraial do Cabo e valorizo muito estar deitada na minha cama, dentro do meu quarto. Não acho que viajar pra Europa tenha mais valor que conhecer Machu Pichu. E não acho que comprar uma bolsa Chanel me dê mais prazer que comprar uma Arezzo. E se não posso comprar nada, aquela bolsa que está distante de mim, na vitrine, não faz as bolsas que tenho em casa valerem menos. Eu luto pelo que quero mas não acho que só o que chega pra mim com esforço vale a pena. 

Pode ser que você ache muito simplórias essas minhas comparações, mas pra mim viver é simples. A gente é que complica querendo que "as melhores coisas sejam as mais difíceis". Acho que não é isso, não. Vai por mim. 

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Nude




Quinta-feira passada resolvi dar uma de Juliana Paes na novela Totalmente Demais: fui pra manicure com o firme propósito de pintar a unha em algum tom de nude, exatamente como a personagem usa na novela. Acho muito lindo e chique e estava com vontade de ficar rica e elegante com minhas unhas nude. Saí do salão me achando a própria riqueza, lacrando na classe.

Mas sabe o que acontece com quem nasceu pra ser colorida e resolve ser nude? Mais ou menos assim:

Quinta-feira - Nossa, amei essa cor!!! Estou muito classuda! Apaixonada!!
Sexta-feira - É... Minhas unhas até que estão bonitinhas assim, discretas...
Sábado - Essa história de nude é meio sem graça, né não??
Domingo - Não aguento mais essas unhas sem cor. Quero vermelho, azul marinho, vinho, marrom!!! Que chaticeeeeeeeee!!!!!

Agora meu estágio é: compasso de espera até chegar o dia de fazer as unhas novamente e colorir minha mão. 

Gosto de cor, de vida, de luz. Sei que o nude tem seu valor, mas não combina comigo. 

Melhor eu abraçar o fato de não saber rir socialmente (rio alto, gargalhadas sonoras e cometo ainda o pecado de jogar a cabeça pra trás de tanto rir ou bater com a mão na mesa se estiver perto de uma), também não sei falar baixo...  Sou espontânea, minha cara diz muito, até mais que eu gostaria muitas vezes. Não sou blasé, discreta, sem sal. Então, pra quem não sabe ficar em cima do muro, o nude não é a cor mais indicada. 

Não me sinto fria e nem me sinto quente. Estou morninha com essas unhas discretas e ricas. Não sou eu, definitivamente. 

Moral da história: melhor a gente não tentar ser uma pessoa que não é. Dentro da nossa pele é o melhor lugar pra estar, quando a gente aprende a se aceitar. 

E pra resumir: estou doida por um esmalte vermelho!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Mudei

Coisa boa da vida é ter amigos. E melhor ainda é ter amigos do peito, desses que são capazes de lhe falar as verdades "na lata", mesmo que doa. Detesto o que chamo de "amigo foca": aquele que só bate palma pra tudo o que você faz ou pretende fazer, sempre rindo e achando bonito, falando, na maior parte das vezes da boca pra fora, palavras de incentivo. Eu gosto de amigo que se posiciona como eu: avalia uma situação, pontua o que é positivo e levanta as questões negativas para que o amigo possa se preparar, porque já passei da fase de achar que só existem flores na caminhada e acho que amigo que é amigo mesmo gosta de chamar o outro pra realidade da vida, mesmo que não seja o que o amigo quer escutar. Quem se preocupa com o outro não fica só rindo e batendo palma pra tudo. Embora eu saiba que muitas vezes sou mal interpretada por não ser "amiga foca", gosto de me cercar de gente que se preocupa comigo e que me ajude a colocar os pés no chão quando estou louca demais. Bem... Eu tenho amigos assim e gosto que seja desse jeito. Dispenso amigo pra me dar tapinha nas costas e concordar com tudo o que faço e penso.

Essa semana, alguns desses amigos me chamaram a atenção pra uma coisa que vem acontecendo. Disseram que achavam que eu preciso fazer algo a respeito porque sou uma Paula mais mãe que mulher hoje em dia. Eu era uma Paula antes de ser mãe. Cheia de ideias de independência  e de preservação do meu relacionamento com o Namorado. Consegui colocar em prática muito do que penso ser importantíssimo para o casal durante bastante tempo: consegui viajar com o Namorado algumas vezes deixando o Miguel com minha irmã, deixava o Miguel com minha sogra pra ir ao cinema quase todo final de semana, Miguel nunca dormiu na minha cama. E tudo corria muito bem até meu bebê ter uns 4 anos, acho. Escrevo "acho" porque não sei exatamente onde as coisas começaram a mudar. Fazendo uma reflexão após a conversa com esses amigos, cheguei a conclusão que a mudança começou a acontecer depois que Miguel ficou mais antenado com o mundo ao redor, mais articulado, querendo estar com a gente, seus pais. 

Miguel é uma criança que não pensa duas vezes antes de deixar a gente pra trás se for pra sair com algum amigo ou viajar com a madrinha ou avó sem a nossa presença. É um garoto independente e acho ótimo que não dependa emocionalmente de nós, que não precise que estejamos ao seu lado para que seja feliz. O problema está em mim. Vou exemplificar. Sempre achei que viajaria sem o Miguel uma vez por ano, nem que fosse por poucos dias. Só que quando faço isso agora, sinto culpa. Porque ele não é mais um bebezinho sem noção de tempo. Ele já entende e gosta de viajar. Outro dia, conversando com ele sobre uma possível viagem, perguntei se gostaria de ficar em casa com a avó ou se preferiria ficar na casa de seu Dido e Dida enquanto nós passaríamos uns dias fora. Ele disse: prefiro viajar com vocês! Outro exemplo: sinto falta de ir ao cinema sozinha com o Namorado, mas quando vou ao cinema e ele se mostra animado pra ir, tenho dificuldade pra dizer a ele que será um momento só meu e do pai, que ele ficará com a avó. E nessa onda meu relacionamento com o Namorado vem sofrendo um pouco... E fico sem saber se adoto uma postura mais radical e morro de culpa ou se respiro fundo e vivo essa fase da vida do meu filho porque ela vai passar, e vai passar em um piscar de olhos. 

Sei que meus amigos se preocupam comigo e querem o melhor pra mim. Sei que não posso esquecer que sou mulher, a Namorada do Namorado. Não sou só mãe e sempre preguei isso, sempre defendi essa importância. Mas concordo com meus amigos de que meu discurso está distante da prática, do meu dia-a-dia. O que acontece e que talvez seja difícil de entender é que estou feliz. Sou feliz com a presença do Miguel nos meus passeios, e sou feliz quando ele não está ao meu lado porque está em outra programação por sua própria escolha. 

Não sei se estou certa ou errada, só sei que penso que logo meu filho vai preferir a companhia de seus amigos a minha. Eu vejo isso acontecendo ao redor, com os filhos mais velhos de amigos. Miguel terá seus próprios interesses, vai viajar para outros lados, terá suas festinhas, seus encontros. Sei que escolherá os filmes que vai assistir e com quem. E eu sei também que estarei sempre esperando sua volta. E eu quero viver tudo. Eu quero saborear cada momento. Não, não quero perder a Paula que namora, que ama o marido, que gosta de andar por aí de mãos dadas com o Namorado. Mas quero viver esse meu filho. Quero assistir de perto seu crescimento. E se a gente for contar, temos tão pouco tempo. Principalmente quando se é uma mãe que trabalha fora do lar. 

Quando olho pra vida da minha irmã, que sempre se doou tanto em prol das filhas, sempre trabalhou muito pra poder proporcionar o melhor pras meninas, sempre abdicou de tantas saídas a sós com o marido por elas, vejo que ela nunca cobrou das meninas nada em troca. Hoje, elas tem 12 e 16 anos, têm seus próprios interesses, suas festinhas, seus programas, vejo minha irmã voltando a namorar o marido, indo muito ao cinema, jantando juntos. As meninas estão aí, felizes. Adoram viajar em família, continuam gostando de desfrutar da presença de seus pais, mas tem sua própria agenda social o que permite que minha irmã volte a ser mais mulher. Eu fico olhando e vejo que só tenho feito o que meu coração manda. Aproveito muito os momentos em que o Miguel não está em casa, os momentos - poucos - em que estou só com o Namorado, e aproveito muito a companhia do Guel. Aproveito seu cheiro, seu abraço, sua presença. A vida é curta. E eu não quero abrir mão enquanto meu filho quiser estar comigo. 

Amigas que me amam e que se mostram preocupadas, sou eternamente grata por estarem ao meu lado. Vou procurar o equilibrio, juro. Mas, entendam: quando eu decidi ser mãe eu sabia que seria uma decisão  que mudaria toda a minha vida, que mudaria, simplesmente, tudo. Por mais que eu tivesse planos de manter várias coisas como antes, todos eles foram por água abaixo. Só que está tudo bem, eu estou feliz assim. Eu e Hugo passaremos por tudo isso juntos, tenho fé. Vamos olhar pra trás, olhando o Miguel crescido e vamos ter a certeza de termos feito um bom trabalho. Por ora, vou estar com ele enquanto ele quiser estar comigo. Sempre. Estou assumindo publicamente que mudei. Mudei, sim. Não consigo ir contra meu coração bobo. Simplesmente, não consigo agir diferente. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Tal mãe, tal filho...




Que o Miguel adora uma bagunça e que fala pelos cotovelos todo mundo sabe. As professoras, desde o Jardim I (acreditem!), já relatam essa facilidade do meu filho em se comunicar, digamos assim. Estamos na primeira semana de aulas na escola - a semana antes do Carnaval nem conta, né? - e a professora, quando fui buscá-lo na escola, já falou:

- Olha, esse bonitinho fala pra caramba!

Ok, nenhuma novidade. Eu já sabia disso.

Essa semana recomeçaram também as aulas do CCAA e no primeiro dia de aula o novo professor da turminha, já disse:

- Nossa, Paula! Como seu filho fala!

É, nenhuma novidade. De novo. Mas achei melhor conversar com Miguel antes que as coisas se compliquem. Comentei com o Namorado e ele foi logo dizendo:

- Isso é coisa da sua família, você sabe né? Lembra da Eduarda (filha mais velha da minha irmã)? Quando eu conheci você, ela tinha 4 anos. Lembra que eu a chamava de "burro falante" por causa do filme SHREK? Ela não parava de falar! Depois veio a Rafaela (filha mais nova da minha irmã) ... A mesma coisa! A garota me deixava atordoado com o tanto de histórias que sempre tinha pra contar! O genética terrível essa de vocês! E agora, temos o Miguel, Paula. Já reparou que eu chego do trabalho e mal tenho tempo de dizer boa noite? Ou perguntar como foi o dia? O garoto já sai me metralhando e se eu não pedir pra ficar um pouquinho em silêncio, acho que ele é capaz de falar madrugada adentro! Chega a me dar um desespero!

Depois dessa, falar mais o quê? Namorado tem razão mesmo. E, pra ele que é bem mais fechado e calado que eu, deve ser desesperador lidar com tanta falação.

Então, à noite, na hora em que estávamos deitados juntinhos, antes de dormir, puxei o assunto com o Miguel. 

- Filho, eu sei que conversar com os amigos é muito bom.

Miguel ficou me olhando com cara de "iiiiihhhhhh, lá vem ela!" Mas ficou caladinho aguardando o que viria a seguir. Continuei:

- Só que tem hora certa pra gente conversar com os amigos. Não pode ser toda a hora. Na escola, por exemplo, você não pode ficar falando durante a aula. É hora de prestar atenção ao que a professora está dizendo, ao que ela está explicando. Além disso, não é educado ficar conversando enquanto a professora explica as coisas. Você deve conversar na hora do recreio ou antes de entrar na sala de aula, enquanto está esperando sua professora para levar você e seus amigos pra aula. No CCAA, a mesma coisa! É preciso ficar calado na hora que seu professor Edmar for contar a historinha da lição, tem que ficar de boquinha fechada, com atenção para falar na hora em que o professor pedir, bom?

Fiquei falando esse tempo todo, explicando tudo pra ele e ele olhou pra mim e respondeu com um simples e breve:

- Tá bom. 

Na hora do menino falar, dialogar comigo, não quer. Mas quer falar durante as aulas. Ok. Entendi perfeitamente que Miguel não estava a fim de ficar rendendo a questão. Ele sabe a mãe que tem... Assunto encerrado, fomos dormir. 

Hoje cedo, quando acordei pra ir pra academia, Miguel me viu acordando e levantou atrás de mim. Perguntou onde eu estava indo e respondi. Disse que queria ir comigo pra aula de ginástica, "pra ficar mais um tempinho juntinho". Me arrumei, arrumei meu filho e lá fomos nós. Ele ficou quietinho sentado em um colchonete a aula toda, não atrapalhou nada. (Mãe orgulhosa!)

Quando estávamos já no carro, voltando pra casa, Miguel puxou conversa:

- Mãe, ontem você me falou que não posso conversar na aula da escola e do CCAA. Mas eu já sei porque eu sou assim, porque eu falo muito... 

- É , filho? Por quê? 

Miguel se aproximou do banco do motorista do carro e com seu dedinho indicador me deu 3 cutucadas e falou:

- Puxei a você, mãe! Você fala pra caramba também! Falou muito na sua aula de ginástica! 

Ainda pensei em mandar o famoso e antigo "faça o que eu digo e não faça o que eu faço" que escutei tantas vezes, mas achei que não tinha nada a ver com o tipo de educação que venho dando ao meu filho. Acredito que o exemplo seja sempre o melhor modo de educar. Por fim, meio desbundada, falei só que uma aula de ginástica é muito diferente das outras aulas e deixei morrer o assunto. Mas na verdade, na verdade mesmo, Miguel tem toda a razão. Eu falo muito e ele é igual a mim. 

Durma com um barulho desses, Senhora Paula!








quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O Fantasma da Ópera



A primeira vez que fui a Nova Iorque eu tinha 22 anos e fui com minha mãe. Era a primeira vez que minha mãe viajava para os EUA e minha segunda já que eu tinha ido a Orlando quando fiz 15 anos. 

Naquela época as coisas eram mais complicadas, antes do mundo globalizado, da internet. As meninas com uma condição melhor podiam escolher uma festa ou uma viagem a Disney e eu, lógico, nunca tive a menor dúvida e escolhi viajar. Minha mãe sempre trabalhou muito mesmo, sempre pensando em nos proporcionar o melhor que podia. O preço de uma festa de 4, 5 horas de duração, assim como hoje, é muito maior que 15 dias de viagem. Só que a experiência de uma viagem, a bagagem cultural que a ida a outro país lhe proporciona, não tem como comparar com a realização de uma festa. E eu adoro uma festa! Só que pensando racionalmente, se não se pode ter tudo, em minha opinião, a viagem é sempre a mais acertada escolha. 

Naquele ano em que viajamos juntas, não tínhamos dinheiro pra gastar à vontade. Eu sabia disso, que não daria pra gente comprar e fazer tudo o que quisesse. Só que eu queria MUITO assistir ao Fantasma da Ópera na Broadway. Muito, muito mesmo. Pra piorar a situação, dentro do avião, indo pra NY em um dos canais de música disponíveis estava tocando toda a trilha sonora do espetáculo e eu ouvi a viagem inteira. 

Em um dos dias em que lá estivemos, como minha mãe sabia que eu queria muito, passamos pelo teatro para ver o custo dos ingressos pra nós. Havia vários preços e um que parecia razoável perto do preço dos outros lugares melhores, mas que também achamos caro, custava 60 dólares. Portanto, teríamos que gastar 120 dólares para nós duas. Seria puxado. Se hoje não seria mole, imagina naquela época! Só que minha mãe na mesma hora falou pra mim:

- Filha, essa é uma oportunidade maravilhosa pra você assistir ao espetáculo que tanto deseja. Quando você estará aqui novamente? Existem coisas que não se pode deixar pra depois. Você fala inglês, eu não. Você vai aproveitar muito mais que eu... Vá você. Eu venho, trago você, dou uma volta e depois, no horário de saída do show, estarei aqui na porta lhe esperando. Já dizia sua avó: "Mais vale um gosto que três vinténs!"

Minha mãe não sabe o quanto foi especial eu ter ido a esse show. E, principalmente, minha mãe não sabe como foi lindo o gesto de abrir mão para que eu pudesse ir. O Fantasma da Ópera é inacreditável e independente de falar inglês ou não, ela teria amado. Qualquer um amaria! Arte encanta além de idiomas porque é uma linguagem universal. Alí naquele teatro lindo e enorme, vendo os artistas representando e cantando as músicas que eu conhecia de cor, eu me senti amada demais. Aquele ingresso de 60 dólares estava tão cheio de carinho, tão cheio de amor... Um amor de mãe que eu nem sonhava em entender ou alcançar a magnitude naquela época. 

Hoje eu sei o que é esse amor, eu sei do que uma mãe é capaz pra não ver um filho sofrer ou pra satisfazê-lo de alguma forma. Uma mãe abre mão de tudo por um filho, felicidade de mãe é ver filho feliz. Por isso, todas as vezes que escuto qualquer música da trilha sonora do Fantasma da Ópera, sinto-me invadida de um amor absurdo, e todas as sensações que tive sentada naquele teatro naquela noite de tantos anos atrás voltam. E a melhor de todas essas sensações que me invadem é o de ser plenamente amada por minha mãe. Eu tive e tenho uma mãe maravilhosa. E tudo o que peço é que eu seja assim pro Miguel. Eu tenho um exemplo de mãe, espero ter aprendido com a melhor. 

Obrigada, mãe, pelo ingresso de 60 dólares. E por esse amor sem medida e sem preço que recebo desde o dia em que nasci. Te amo. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Carta para Taninha







Eu estava esperando meu luto passar pra conseguir escrever pra você. Eu não conseguiria escrever antes de hoje, porque ainda é muito dolorido lembrar que você foi embora. Sexta e sábado eu parecia um bicho estranho com olhos inchados de tanto chorar. Domingo comecei a me recompor, porque a vida segue adiante e eu não posso ficar dando lugar pra tristeza que sua falta faz tomar conta de mim. 

Na sexta-feira, seu último dia de trabalho lá em casa, eu não consegui chegar a tempo de te abraçar bem forte e me despedir. Sei que nos falamos ao telefone depois, no sábado também. Mas não parece o suficiente. Quem olha de fora pode até pensar que sou doida. Deixa pra lá. Não ligo já que muitos pensam isso mesmo. Não raro quando conto o motivo de tantas lágrimas ou da minha cara inchada dizendo que você foi embora depois de 12 anos, as pessoas falam: "Você vai arranjar outra pessoa bacana pra trabalhar na sua casa. Calma. Não se preocupe." Só que "arranjar outra pessoa pra trabalhar na minha casa" não significa nada. Achar que se trata só disso a minha tristeza, seria resumir muito equivocadamente tudo o que vivemos ao longo desses 12 deliciosos anos. 

Taninha, eu queria dizer pras pessoas que tenho certeza de que vou achar outra pessoa pra trabalhar lá em casa. Aliás, como você sabe - porque até nos ajudou com isso - a Katia já está lá e, se Deus quiser, dará tudo certo. Eu queria dizer pras pessoas que as lágrimas que insistem em pular dos meus olhos não tem nada a ver com quem trabalha ou deixa de trabalhar lá em casa. Minhas lágrimas tem a ver com amor, respeito, tem a ver com gratidão, alegria por ter tido você em nossas vidas. Minhas lágrimas tem a ver com saudade. 

Como resumir nossa história ao fato de ter ou não alguém trabalhando lá em casa? Eu sei. Tem gente que não se envolve, tem gente que não permite que o relacionamento empregador/empregado extrapole as barreiras que a formalidade dessa relação imprime. Muitos preferem ficar só na superfície, alguns tem medo de se envolver mesmo, outros não acham que vale a pena. Só que não é o meu caso e nem o da nossa família, não é, Taninha? A gente se envolve, a gente mergulha na vida de quem cruza nosso caminho e se apega. Como viver a vida sem se apegar? Sem amar? Como viver a vida cheia de barreiras, de muros de proteção? A gente não aprendeu a ser assim, não aprendemos a "nos resguardar", diriam alguns. A gente mergulha nas relacões e vive com a mesma intensidade a beleza de um relacionamento e o sofrimento de uma separação. Você é uma filha pra minha mãe. Você é família pra nós. Você é mãe não só do Breno e da Eduarda, como também do Miguel, Duda e Rafa. Como não chorar pela distância física que haverá, inevitavelmente, daqui por diante? 

Você é uma mulher muito lutadora, que veio da Bahia e conquistou muito aqui na cidade maravilhosa. Seu marido tinha carro, você comprou sua casa própria, tinha todo o conforto possível que eletrodomésticos e móveis podem oferecer. Se ajudamos você a conquistar tudo isso foi porque você sempre mereceu. Nós vivemos uma relação de troca por 12 anos. Era via de mão dupla, como qualquer relacionamento sadio deve ser. Você gargalhou com a gente e chorou também. Histórias suas estão impregnadas nas paredes da casa onde você ficou por 12 anos. Uma casa que você conhece tanto e tão bem que se fosse por conhecimento talvez ela fosse mais sua que nossa. Histórias nossas estão trancadas em seu coração hoje. Você leva um pouquinho da gente com você, onde quer que vá.

Seu cuidado com minha mãe - a mulher mais reclamona do mundo e também a com o coração mais gigante - não se paga. Seu carinho e paciência, primeiro com as filhas da Sis e depois com também seu bebê, Miguel, não dá pra mensurar. Muitas vezes, quando eu chegava em casa à noite era chamada de "Tania" pelo Miguel. E quer saber? Eu respondia sem corrigí-lo porque sabia que o carinho com o qual meu filho me chamava de "Tania" era o mesmo se tivesse me chamado de "mamãe". Aposto que várias vezes Miguel a chamou de "mãe". Sem nenhum ciúme, lhe falo isso. Sempre fiquei muito feliz por ter alguém em casa por quem meu filho tinha verdadeiro amor. Isso é um alento pra uma mãe que sai de casa, você sabe disso. Era como se um anjo ficasse tomando conta dele. 

Por tudo o que vivemos é que lhe digo que talvez ninguém entenda esse amor que nos une. De verdade, nem tento explicar porque certas pequenezas humanas não acrescentam nada a ninguém. Tem coisas que é melhor só sentir mesmo. Por isso é que, mesmo tendo conseguido lhe agradecer por tudo e pelo tanto que você fez por nós, eu acho que ainda falta eu dizer alguma coisa. E eu resolvi escrever pra poder lhe dizer isso. 

Sabe, Taninha, quando a gente diz pra uma pessoa que acabou de conhecer "prazer em conhecê-lo"? Pois é, pense na profundidade dessa frase que muitas vezes dizemos automaticamente, sem pensar muito nela, apenas respeitando uma convenção social. Pra quantas pessoas dizemos essa frase sem sentirmos real prazer? Agora mesmo, se você tiver que me dizer duas ou três pessoas para as quais você poderia encher o peito e falar do prazer que foi ter essas pessoas em sua vida, por tudo o que viveram juntos. Quem seriam essas pessoas? 

Acredito que poucas, se levarmos não apenas uma ou outra situação isolada em consideração. Quero que pense na beleza que é ter alguém em sua vida por anos e ver que todos esses anos de convivência foram uma dádiva, uma presente dos céus. Então, por pensar nessa nossa história de 12 anos, por pensar no momento em que a estrada por onde a vida da sua família andava cruzou com a estrada onde andava a minha família, por pensar que somos hoje uma família só, é que lhe digo com toda sinceridade que há no meu coração chorão e bobo:

- Taninha, QUE PRAZER IMENSO, ABSURDO, DESMEDIDO, FOI CONHECER VOCÊ! 

Mil vezes obrigada por tudo! Obrigada por existir! Fique com Deus. Seja feliz. E volte quando quiser. Sua família carioca estará sempre a lhe esperar. 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Portal do Bebês

Domingo é sempre um dia feliz quando se trabalha fora e tem filhos. Aquela preguiça das manhãs de domingo, aquela vontade de ficar até mais tarde na cama ainda mais depois que seu filho acorda e pula pra perto de você. Miguel adora dizer que veio pra minha cama pra gente ficar agarradinho e eu adoro dizer que vou cobrí-lo de beijos durante muito, muito tempo até a gente ficar sem respirar. É uma delícia. 

Ontem, domingo, eu e Miguel estávamos de chamego na minha cama. Eu disse a ele o que sempre falo muito frequentemente. Mãe é coisa repetitiva mesmo. Mãe professora então... Deve ser um inferno. 

- Filho, você sabe que se Deus colocasse um milhão de meninos na minha frente, altos, baixinhos, gordinhos e magrelos, negros, loirinhos, de olhos azuis, verdes, pretos e castanhos, sérios e risonhos, pra eu escolher quem seria o meu filho, quem eu escolheria? 

Miguel ri, já sabendo a resposta:

- Eu escolheria o menino mais engraçado, mais carinhoso, com os olhinhos puxados, com uma bochecha bem gostosa e uma bundinha deliciosa pra apertar!!! Eu escolheria você!! Sempre você!!

A gente cai na gargalhada e ri como se fosse a primeira vez que ele escutou isso. 

Só que nesse domingo Miguel resolveu me contar uma história. 

"Mãe, você sabe que lá no céu, quando eu ainda não era seu filho, tinha a terra dos bebês. Eu ficava em um lugar cheio de crianças pequenas e eu tinha muitos amigos. Aí, um dia, as pessoas que tomavam conta da gente, chamaram algumas crianças, eu e mais alguns. Levaram a gente pra um portal. Era o portal dos bebês. E aí, chamavam de um por um pra conversar e mostrar como se fosse uma tela, parecendo uma fotografia, dos pais da gente. Foi aí que eu vi você pela primeira vez. E Deus me falou que você ia ser minha mãe e que o papai ia ser o meu pai. E eu fiquei muito feliz. Eu te achei uma mãe linda... Depois ele me levou pela mão e eu dormi e fui parar na sua barriga!"

Fiquei impressionada com a história do meu filho. Quem acredita em outras vidas sabe que a vinda de um filho ou filha envolve uma escolha. Uma aceitação da parte dos pais, o merecimento de viver uma experiência que nos levará a algum desenvolvimento espiritual e também a aceitação do filho em receber aqueles pais em sua vida terrena. Por isso, achei curioso meu filho falar de um portal, de estar com outras crianças, de ser levado por alguém pra conhecer seus pais antes da concepção. Enfim, pode ser tudo fruto da imaginação do Miguel, mas pode não ser. De qualquer jeito, eu me sinto verdadeiramente muito feliz e honrada por ter sido escolhida pra ser mãe dele. Sinto-me presenteada com a presença desse menino em minha vida. 

Ao final da história, continuávamos nos abraçando e rolando na cama, cansados de tanto rir e de tantos beijos. E aí no rádio começou a tocar uma música (A Thousand Years), " I have died everyday waiting for you, darling, don´t be afraid ...  I have loved you for a thousand years, I´ll love you for a thousand more...." E nesse momento, como se entendesse a música, Miguel olhou sério pra mim, ficou em pé em cima da cama e me convidou:

- Dança comigo, mãe? 

E eu, surpresa com o convite, me ajoelhei em frente a ele, também em cima da cama, e disse:

- Claro, filho! Vamos dançar...

Dançamos até o final da música caladinhos. Abraçados. Em meus pensamentos, muita gratidão. Em meus pensamentos, enquanto sentia o cheirinho gostoso que só o filho da gente tem, só um pedido: que meu filho seja feliz. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O que o meu filho pode ver




Uma conversa boba, dessas pra passar o tempo, pode, às vezes, virar motivo pra séria reflexão. E essas coisas acontecem do nada, sem a gente esperar. Hoje aconteceu de novo comigo. O tema era um passeio de dois rapazes no shopping, só que caminhavam de mãos dadas. Daí já dá pra imaginar que cada um pensa de um jeito e a conversa fica normalmente acalorada com as pessoas querendo defender seu ponto de vista. Pra mim, fica uma sensação besta de perda de tempo. 

Não entendo qual o problema de duas pessoas que se amam caminharem de mãos dadas. Não entendo qual o motivo de tanto questionamento oriundo de uma cena tão simples. O que pra mim é normal, uma das formas de carinho mais bonitas e simbólicas entre duas pessoas que se gostam - as mãos dadas, pra outros é ofensa ou, simplesmente, algo que deve-se evitar observar quando tratamos de duas pessoas do mesmo sexo. E aí o problema maior, segundo alguns: o X da questão é que crianças frequentam shoppings e podem ver tal cena. Adultos já estão formados e crianças estão em formação, dizem. 

E?, penso eu. E o discurso continua:

Uma criança não está com sua opinião, opção sexual formada e ver com frequencia essa cena pode influenciar suas escolhas.

Olha, sinceramente, isso pra mim não tem a menor importância ou fundamento e fico com preguiça de argumentar. Eu que nunca me canso de falar, tenho me sentido preguiçosa porque quando falo, espero ser ouvida. E quando escuto, penso no que estão me dizendo, VERDADEIRAMENTE. Não escuto o que me dizem apenas como forma de passar o tempo e ter minha vez de falar mais de volta. Como nem todos são como eu, fico com preguiça de gastar minha saliva à toa. Mas não consigo evitar meus pensamentos. Esses meus pensamentos são loucos, eles não param. E, muitas vezes, o que eu gostaria de dizer acaba ficando engasgado na minha garganta. Como sou geminiana e preciso falar, escrevo aqui.

Entendam, esse é só o meu modo de ver as coisas. Não sei se estou certa ou errada. Não sei mesmo. Mas o que bate forte em mim é que vivemos em um mundo muito doido, cheio de incoerências e vejo muita coisa torta em mim e nos outros. Só que existe uma coisa que move minha existência e isso se chama AMOR. O amor é mais forte que tudo e quando o temos, tudo o mais deixa de ser tão importante. Atitudes geradas por amor e pelo amor só rendem coisas boas. E aí é que não vejo como duas pessoas que caminham de mãos dadas em um shopping podem ser influência negativa pra uma criança. Não vejo como mesmo.

O que meu filho pode ver, então? O que seria bacana pra sua formação? Há tantas coisas tão corriqueiras acontecendo a todo instante que eu não gostaria que meu filho presenciasse... Eu sei exatamente o que meu filho não pode ver. Ou não deveria. 

 Eu não gosto quando meu filho vê alguém no carro da frente abrindo a janela e jogando uma lata de refrigerante. Não acho legal meu filho ver a senhora da frente receber um panfleto na rua e jogar o mesmo no chão. Não acho interessante a gente ligar a TV e meu filho ver ladrão derrubando cadeirante pra levar sua bolsa. Não queria que meu filho visse que existe gente que trata outros como se fossem invisíveis, como se não tivessem importância, dependendo da classe social. Não acho bom meu filho ir a um restaurante e observar que a família da mesa ao lado não fala entre si porque mãe, pai e filho estão com as caras grudadas em seus celulares. Não acho bacana meu filho testemunhar um pai batendo em seu filho ou filha. Acho péssimo quando estamos em uma festinha e meu filho presencia dois garotos aos socos, rolando no chão. Ou quando estamos em uma fila que alguém não respeita. Acharia péssimo que meu filho assistisse em casa seu pai e eu brigando, usando palavrões ou trocando ofensas. Acharia horrível que meu filho crescesse sem afeto, carinho, diálogo, limites. Enfim, a falta de amor, momentânea, circunstancial ou por opção, só influencia negativamente o crescimento da minha ou qualquer criança. Daí que não vejo como duas pessoas caminhando de mãos dadas poderiam influenciar negativamente meu filho. Mesmo pensando criteriosamente nas frases que escutei, mesmo refletindo bastante, não vejo como. Não consigo porque acredito no amor e amor nunca será uma influência ruim pra ninguém. 

O medo das pessoas com esse discurso é exatamente qual? Sim, eu sei. Que seus filhos tornem-se gays. Eles tem medo que uma criança como o Miguel, com seis anos de idade, ao se deparar com um casal formado por duas pessoas do mesmo sexo tenha sua decisão a respeito de sua vida sexual influenciada. Ser ou não gay? É o ponto crucial pra elas. Sinceridade? Não me preocupo com isso. Eu gostaria apenas que se o Miguel se apaixonasse por um rapaz que ele pudesse andar de mãos dadas com ele por aí. Que ele não sofresse preconceitos. Que ele pudesse amar e ser amado como eu e o Namorado, como você e seu parceiro(a) podem... Gostaria que as pessoas se preocupassem com a falta de amor e não com a presença dele, onde quer que fosse. Eu gostaria que meu filho pudesse ver mais amor pelo mundo. Por onde quer que ande. Por onde quer que escolha estar. Então, se eu tivesse o poder de  escolher o que o meu filho pode ver, eu escolheria que ele só visse amor por aí. Hoje e sempre.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Quem é Bianca???

Nessa última viagem que fizemos, agendamos com antecedência um atendimento na loja da Apple pra usar o Apple Care do telefone da minha afilhada. No dia e horário marcados estávamos lá para sermos atendidos. Prontamente, fomos encaminhados até a mesa onde um outro atendendente falaria conosco e ficamos esperando ali. 

Na nossa frente, havia um casal com um carrinho de bebê. O filho deles devia ter uns 2 anos. O clima não estava bom, dava pra sentir no ar, eles pouco conversavam. Só que a esposa insistiu em fazer algumas perguntas pro marido e numa dessas respostas o cara soltou o nome "Bianca". Logo pudemos entender que não se tratava do nome da esposa já que imediatamente o tom de voz da moça subiu pra questionar repetidamente: "Quem é Bianca????" O cara disse que não tinha falado esse nome - mas tinha, sim! - e a esposa continuava a questionar enquanto o marido nem olhava pra cara dela, ainda mexendo no celular. Aí, a esposa rapidamente tirou o celular da mão do cara e começou a fuxicar. Aí, minha gente, lascou-se. Foi uma coisa feia de se ver. E eu e Hugo não sabíamos mais onde nos enfiar pra dar um pouco de privacidade para os dois, mas a gente não podia sair dali porque era o lugar onde tínhamos que esperar o atendente. Enfim, a mulher achou emails trocados com a tal de Bianca, achou mensagens, conversas no whatsaap, encontros marcados. 

Ela se descabelava, exigia explicações, estava vermelha, nervosa, decepcionada. O filhinho sentindo a vibração pesada que se apossou da família dele, começou a chorar (as crianças sentem essas coisas rapidinho!)... E o marido? Cara, o marido não mexia um músculo se quer da face. No jeito que estava, continuou. Olhando para um ponto fixo em algum lugar que eu não sei qual era, não dava a menor atenção à mulher descompensada. Não falava um "acalme-se, por favor", não falava um "vamos conversar quando chegarmos ao hotel", enfim, nada. Impassível. Não parecia estar preocupado, não parecia sentir pena da situação em que havia se colocado. O filho puxava a barra de sua camiseta e ele não dava a menor bola. A esposa, naquele momento não conseguia ouvir os apelos da criança, muito concentrada em sua própria indignação e incredulidade. 

Aí ela fez o que foi o pior. Pior pra ela mesma. De  cabeça quente, largou o celular do cara na mesa depois de ter dito que havia enviado tudo pro celular dela, pegou sua bolsa, disse que não queria mais saber dele e disse que ia embora. Pegou o filho no colo e foi. 

Pensei cá com meus botões, como ela vai embora? Esse cara deve estar com a chave do carro. E mesmo que não esteja com a chave do carro, ela vai pra onde? Vai ter que ir para o mesmo lugar onde estão dormindo o marido e o filho, eles pareciam estar em uma viagem de férias. Esse rompante dela não vai dar certo, pensei.

E não deu. Quando nosso atendimento estava terminando, ela entra na loja. Caminha em nossa direção. Cabeça baixa, costas curvadas. Deixou o filho no carrinho deitadinho e quase adormecendo, sentou-se ao lado do marido e nada falou. Ele, por sua vez, não tomou conhecimento de sua presença a seu lado, nem olhou pra cara dela como se já soubesse que a volta dela fosse acontecer. E eu fiquei muito angustiada. 

Fiquei triste por ver o desprezo que aquele homem sentia por sua esposa. Ele não se abalou com a dor estampada na cara dela. Ele não se comoveu com os pedidos do filho para que o acarinhasse. Ele não tentou ir atrás dela, fazê-la ficar para que, pelo menos, conversassem depois. A postura dele dizia que se ela quisesse ir, que fosse. Ele não se importava. E fiquei mais triste ainda quando a esposa voltou depois de ter dito que estava tudo acabado e que ia embora. Naquele momento eu senti muita pena. Porque é muito ruim tomar atitudes em um rompante e depois se arrepender e, pior que se arrepender, se arrepender e ter que engolir o orgulho que ainda resta. Ela se humilhou ainda mais. Ela voltou pra "pedir penico" pro cara, porque não se sentiu preparada pra dizer adeus àquele homem, não teve coragem pra se mandar seja lá pra onde fosse. 

Será que o amava demais, mais que a ela mesma? Será que ficou pensando no conforto do filho? Será que ainda tinha esperança de que ele fosse lhe contar alguma história ridícula ou qualquer coisa na qual ela fosse acreditar? Voltou pra implorar que ele olhasse pra ela? Que lhe dirigisse alguma palavra? 

Olha, me senti mal por ela. Por aquela família. E me perguntava como aquele homem, companheiro daquela mulher, poderia não se importar com o desespero dela. Eu sei que pode ser que a vida deles fosse um inferno e que a tal da "Bianca" tenha entrado na vida dele porque o relacionamento não estava legal e tal, mas foi feio não tentar amenizar a dor da esposa. Acho que era hora de jogar pro alto o atendimento da loja e sair com ela dali imediatamente para tentar conversar e contar tudo o que estava acontecendo de verdade. Não estou condenando o cara, não. A gente não sabe tudo dessa história louca, sabemos apenas o que eu presenciei, mas eu queria muito que ele tivesse agido diferente, que fosse mais cuidadoso com aquela mulher, que não a tratasse como fez, como algo descartável, feito lixo. Ele devia uma explicação a ela, afinal a existência da Bianca foi indiscutível. E, além de tudo, ela é mãe do filho dele. A ligação entre eles será pra toda vida. 

Saí daquela loja com o coração apertado, pedindo a Deus que se um dia uma "Bianca" dessas entrar na vida do Namorado, que ele converse comigo, que me conte antes de trocar meu nome. Que a conversa aconteça antes de ele me olhar com desprezo, que ele se importe comigo como se deve se importar com alguém com quem dividiu a vida por tantos anos e que, além disso, é a mãe do filho dele, nosso maior presente. Que ele tenha por mim consideração. Ninguém está livre de se apaixonar por Biancas, Marias e Renatas, mas que haja dignidade, é o que peço. Pra mim e pra todas as mulheres.