Ontem uma professora muito querida entrou na minha sala toda animada falando da promoção da Bauducco. Ela se lembrou que eu como, todo dia, uma barrinha dessas tipo goiabinha na hora do lanche e estava querendo me dizer que, olha só que maravilha, eu poderia ter toda a coleção dos bichinhos de pelúcia da promoção, uma vez que teria muitas embalagens para trocar por eles.
O que ela não sabe é que eu, na contramão de todas as meninas, detesto bichinhos de pelucia. Nunca gostei. Pra mim, só servem para armazenar poeira e mais nada. Estranho? É, não é o que se espera da maioria das pessoas do sexo feminino, mas não gosto mesmo. Assim como nunca gostei de brincar de boneca.
Quem me vê hoje, toda vaidosa, gostando de me vestir bem e cuidando do cabelo, maquiagem e tal, não imagina que eu não era nem um pouco vaidosa até uns 15, 16 anos. Acho até que era para equilibrar lá em casa, já que minha irmã era a rainha da vaidade. Ela sempre se preocupou com a roupa, que tinha que estar impecavelmente esticada e certa no corpo, o cabelo muito bem escovado, as meias do uniforme milimetricamente dobradas. Eu era daquelas que ia pro colégio sem nem pentear o cabelo, simplesmente me esquecia e usava roupas largas e não me importava se a calcinha era maior que o short!! Um horror, eu sei. Mas era assim.
Coisas típicas de meninas como brincadeira com bonecas eram um suplício pra mim e, pior que isso, era ter que aguentar uma irmã que amava brincar de bonecas ficar implorando a cada cinco minutos pra eu brincar com ela e sua coleção de Susies e Falcons. É, gente da minha idade não brincava com Barbies, era Susie mesmo. Eu gostava de Atari -ui!-, Banco Imobiliário e brincadeiras nas quais eu pudesse mandar, tipo escritório, consultório ou escola.
Pra piorar, no prédio onde a gente morava, éramos as únicas meninas e, então, brincávamos todos os dias com muitos meninos e isso não ajudava em nada a eu me tornar mais menininha. Eu e minha irmã brincávamos de queimado, de pique e até de futebol com os meninos e o ritmo de meninos é outro. Eu não estava nem aí. Minha irmã conseguia conservar a vibe feminina, mas eu nem tentava. Ela me condenava direto, "como você vai aparecer na frente dos meninos usando esse short??? " perguntava ela. "Sua calcinha está aparecendo...", disparava. "O risco do seu cabelo está torto." E eu nem aí. Pra mim, eles eram só meus amigos e não me preocupava que eles fossem me olhar com olhos diferentes que os da amizade.
Um dia, eu já devia ter uns 11 anos, estávamos todos brincando de futebol. Por 'todos' entenda um bando de meninos, eu e minha irmã. Eu, mega atolada, péssima no esporte, só fazia besteira e, de repente, começou todo mundo a rir tanto que eu, cheia de vontade de fazer xixi e rindo sem parar, desses ataques de riso que fazem doer a barriga e o maxilar, não consegui me conter e fiz xixi nas calças... Pensa que eu fiquei com vergonha? Que nada!! Subi toda mijada, tomei banho e me troquei e, em 15 minutos, lá estava eu de volta pra continuar a partidinha de futebol. Preciso dizer que minha irmã quis morrer de vergonha? Ela simplesmente não entendia como eu podia ter a coragem de descer depois de ter feito xixi na frente de todos os meninos do prédio e mais alguns da rua. Ela diz, até hoje, que se tivesse sido ela teria ficado incomunicável e enclausurada em casa por, pelo menos, um mês! Eu? Eu não ligava mesmo.
Melhorei muito e acho que virei uma mulher bem feminina, mas ainda tenho atitudes muito masculinas. Por exemplo, detesto discutir relação. Não gosto de calcinhas e sutians rendados e cheios de frufrus. Gosto da velha e boa calcinha de algodão, sem renda e sem costura pra não me machucar. Não tenho paciência pra ficar horas em salão de beleza. Não gosto de ficar abraçadinha depois de transar, me dá um sono danado e quero mesmo é dormir. O Hugo disse que agora já se acostumou, mas no início estranhava.
Compreendo a professora ter vindo toda empolgada e feliz dizer que eu poderia ter todos os bichinhos porque estou mudada e sou mais "girlie" hoje, mas prefiri perguntar a ela se ela não gostaria que eu juntasse todas as minhas embalagens pra ela, de forma que ela pudesse ter todos os bichinhos de pelúcia que quisesse. Eu não dou a mínima mesmo e ela vai gostar, né?
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