terça-feira, 2 de julho de 2013

Posso falar a minha verdade?

O mundo, a sociedade, a vida, sei lá o quê ou quem, estabelece o certo e o errado, o politicamente correto, e todo mundo que sai desse pensamento coletivo pré- estabelecido fica visto como alguém quase de outro mundo.  Isso acontece em vários assuntos, políticos, religiosos, sexuais. Um desses temas é o período de gestação de uma criança. E isso me incomoda porque me sinto o ponto fora da curva.

A respeito disso, de estar grávida, não gostava de manifestar minha opinião ou pensava duas vezes antes de falar o que penso dependendo de onde estivesse ou de quem estivesse ao meu redor pra me escutar, porque sei, por experiência adquirida, que mostrando o que sinto, quase sempre recebo olhares do tipo "como ela fala assim do período em que estava gerando seu filho?" ou "Meu Deus, como pode?". E os olhares enviezados já fizeram com que me sentisse péssima, já me fizeram sentir culpa. Já recebi até alguns olhares de pena. É, pena mesmo. Então, pensava duas vezes antes de me pronunciar. Hoje, como dou menos importância ao julgamento alheio, já não ligo tanto pro que os outros vão pensar de mim. Já tenho consciência de que existem outras mulheres como eu, que não tiveram a sorte de se sentirem Gisele Bundchen enquanto estavam grávidas. 

Mas no fundo, no fundo, não gosto de me sentir uma ET. Quem gosta, afinal? Não gosto de me sentir de outro mundo quando digo que não me sentia confortável lidando com as modificações do meu corpo. Mesmo que todos dissessem que eu estava linda. E aqui, me permitam falar mais uma verdade...  Segura: mesmo que você esteja 30 quilos acima do seu peso, um verdadeiro tribufú, quem vai se atrever a dizer que você está feia? Não seria politicamente correto dizer isso de quem ou pra quem está gerando uma vida. Então, pense nisso, as pessoas vão sempre dizer que você está muito bem, que "só tem barriga" e todas essas outras sandices que dizem por aí.  No fundo, de novo, não importa o que digam, o que importa é como você se sente. Mesmo que eu tenha continuado a exercer minha vaidade, me arrumando, cuidando do cabelo e tal, preferia estar cabendo nas minhas calças jeans. Apesar de ter sido uma grávida saudável, sem nenhum problema durante minha gestação, uma grávida que trabalhou até o último minuto (até porque eu não sabia que seria o último minuto uma vez que Miguel nasceu prematuro), eu não gostava daquela barriga imensa, do tamanho da minha bunda, dos peitões. Não gostava do acúmulo de celulite nas minhas coxas e da cor escura dos bicos dos seios. Não gostava de ter que fazer xixi de 10 em 10 minutos e do incômodo pra dormir. Sim, eu sabia que tudo isso aconteceria. Mas o fato de saber não me obriga a apreciar todas essas transformações. O fato de estar preparada pra todas elas, não me obriga a gostar.

Grávida de novela só cresce a barriga, já reparou? Óbvio, a atriz não está grávida na real. Então fica aquela imagem linda da mulher que não tem peitão, não tem pernas inchadas ou pés que parecem um pão de queijo, com aqueles braços fininhos, fazendo a gente acreditar que vai ser assim com a gente. Outra coisa irritante é que grávida de novela só enjoa até descobrir que está grávida, depois tudo passa como que um passe de mágica. Eu passei 3 meses e meio enjoando e conheço mulheres que enjoaram a gravidez INTEIRA!!! Tudo bem, também conheço mulheres que não enjoaram nada, nem um diazinho se quer!!! Conheço mulheres que disseram que se sentiam as mais lindas do mundo e com a libido na estratosfera, fato pelo qual os maridos agradeciam maravilhados! 

Como eu, normalmente, me sinto diferente de quase todo mundo quando o assunto é "como é bom estar grávida", fico sempre achando melhor ficar calada porque o "certo" é todo mundo falar que é um período maravilhoso, divino até, e eu que não achei isso tudo, fico vista como estranha. A gravidez é muito bacana porque todos tratam você com carinho dobrado, são muitos mimos e cuidados e quem não gosta disso? Quem não gosta de bons tratos? Quem não gosta dessa atenção toda? Até aí, está ótimo. Respeito quem se sente linda grávida, quase uma deusa com seus peitões cheios de veias inchadas. Compreendo perfeitamente a grandeza do período, a experiência maravilhosa que é gerar alguém, ter um bebezinho crescendo dentro de você. E se, de quebra, a mulher ainda se sente pefeita, ok. Melhor pra ela. Mas não gosto de receber olhares tortos porque comigo não foi assim. 

E aí as pessoas parecem confundir o amor que você tem por seu bebê com o fato de não gostar de ter um barrigão. Começam a achar que você está rejeitando seu filho e não é nada disso. 

Sempre fui extremamente agradecida a Deus pela oportunidade de gerar meu filho, de ser mãe, pela felicidade que foi saber que estava grávida! Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Mais isso não fez, pelo menos pra mim, que eu adorasse não ficar bem em quase roupa nenhuma. Ou demorar mais tempo que o normal pra me maquiar tentando disfarçar a cara mais gordinha. Sempre encarei tudo isso numa ótima, nunca vivi reclamando dessas coisas enquanto estava grávida, até porque não engordei muito. A única coisa que sempre me tirou do sério foram os enjoos. Mas, apesar da gravidez tranquila, não vou falar aqui que me sentia linda porque seria mentira. Eu, Paula, não me sentia linda. Fato.

E fato é, também, que respeito todas as mulhres que dizem que se sentiam maravilhosas, lindas e poderosas durante esse período. Não acho que estejam mentindo. Acho só que são diferentes de mim. E gostaria que todas essas que tiveram a sorte de se sentirem Deusas durante a gestação de seus filhos me encarassem apenas como alguém que não sentiu o mesmo. Alguém que teve uma experiência diferente. Mas que nunca rejeitou seu filho crescendo dentro da barriga, que adorava o fato de que seria mãe. Apesar de ter que conviver com um barrigão pesado e peitos enormes, sabia que estava carregando meu gostosinho e isso me consolava.

Então, vamos respeitar quem pensa diferente da gente, meu povo? Vamos deixar que cada um expresse a sua verdade sem julgamento? E, às mães que, como eu, não se sentiram as mais lindas do planeta durante a gestação de seus pimpolhos, minha solidariedade absoluta!

2 comentários:

  1. Sabe que venho pensando nisso já faz algum tempo. Converso com pessoas diariamente e não tenho nenhuma dificuldade em conduzir uma conversa, opinar de maneira mais ou menos esperada. Mas parece que estamos cada vez menos sinceros por força do pensamento coletivo. Tento me policiar para mudar isso, para ser o mais verdadeira possível quando me perguntam alguma coisa, mas não é fácil. Já fiz terapia e a minha psicóloga conseguiu tirar de mim uma tendência que eu tinha de querer agradar os outros, só que agora não se trata mais disso. Parece que se a gente não pensar como a maioria, como você falou, somos condenadas. Isso que você está aí no Rio de janeiro, aí imagina eu aqui numa comunidade que é ótima tanto quanto é conservadora... esses dias uma conhecida praticamente me obrigava a dizer o quanto uma outra conhecida tinha sido abençoada em ter filhos gêmeos e muito em seguida mais uma gravidez. Eu disse que não, que na verdade eu achava isso uma coisa horrível, mas antes de poder expor meus motivos vi que a mulher que falava comigo só faltou fazer o sinal da cruz...desisti e dei uma remendada, mas depois de ler teu post vou aderir à tua campanha. Vou tentar ser mais verdadeira também, doa a quem doer, haha,um beijo

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    1. É o medo, né, Ana... Todo mundo quer ser aceito, mas a gente também cansa de ter sempre que ir junto com todo mundo, sem, necessariamente, concordar.

      Aí deve ser muito mais difícil mesmo... Mas terapia resolve muita coisa né? Eu sou muito grata a Deus por ter feito terapia!!!! Tem 6 meses que parei e estou sentindo falta... kkkkkkkkk

      Beijos!

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