sábado, 9 de novembro de 2013

Louca, eu?



Eu não entendo como pode ser tão frequente, nos dias de hoje, o preconceito em relação à psicoterapia. Todos acham importante cuidar da saúde, mas quando tratamos de saúde mental parece que o assunto muda o rumo. É óbvio que tratando-se de qualquer doença do corpo, por ser algo concreto, é mais fácil de entender. As doenças da alma, do mental, são abstratas. Não são mostradas em radiografias ou ressonâncias. E aí é que a coisa complica. O ser humano ainda tem dificuldade em aceitar o que não pode ver. Ainda tem muito "São Tomé" por aí.

Já começa pelo próprio paciente que demora muito pra buscar ajuda porque não quer escutar o que muitos dizem: "não fique procurando problema onde não tem", "vai lavar um tanque de roupa suja que você esquece rapidinho seus problemas", "terapia é coisa de doido", "pra quê terapia? Eu tenho amigos", "se tranca no quarto e grita um pouco que passa", "só você mesmo pode se ajudar", enfim... São tantas as frases que eu ficaria aqui escrevendo interminavelmente. Só que pensar assim é desmerecer muito os profissionais de psicologia, é desmerecer anos e anos de um estudo sério. Acredito que também seja desmerecer nossa própria complexidade. É dedicar pouco tempo ou nenhum tempo a si mesmo. Muitos preferem se vitimizar, estão sempre se colocando em uma posição de "tudo acontece comigo" ou "sou sempre perseguida em todos os lugares", a agarrar as rédeas da própria existência e tomar conta do que há de mais precioso: nossa vida.

Como tudo no mundo, a terapia só vai ajudar a quem quer ser ajudado. Pra que ir ao divã se você não tem vontade de melhorar? Terapia não é igual a qualquer outra consulta médica quando vamos esperando receber um nome de doença, um diagnóstico, uma lista de remédio pra tomar e, pronto, ficarmos curados. Terapia dá medo. Porque terapia é um mergulho dentro da gente. É começar a olhar de frente pra nossos defeitos, nossas inseguranças, nossas faltas, nossas falhas, nossas angústias. E, olha, tenho que dizer que é MUITO difícil. Perdi a conta de quantas vezes saí da terapia chorando. Perdi a conta de outras tantas vezes em que saí do consultório com uma pergunta deixada no ar que me martelava a mente, por dias, até, então, surgir a resposta de dentro de mim. Perdi a conta de quantas vezes não aguentei contar uma história sem chorar, ou sem me exaltar. Terapia mexe e remexe com você,  com seus conceitos, seus preconceitos, com suas "verdades", suas crenças. E é difícil pra caramba encarar isso. É doloroso até.

Não viver iludido é complicado a príncipio. Enxergar as coisas sem o véu da ilusão é espantoso, mas é muito libertador. É uma sensação de leveza enorme, como se você não tivesse mais amarras, como se não dependesse mais de certas coisas ou de sentimentos pra ser feliz. Quando a gente se compreende melhor, passa a entender o outro também. Passa a exigir menos do próximo porque entende que essa pessoa (seja amigo, mãe, irmão, funcionário, chefe, marido, namorada) tem suas próprias questões e conflitos e que, na maioria das vezes, certas atitudes, simplesmente, não são algo pessoal. A terapia ajuda a nos encontrarmos com a gente mesmo, promove uma consciência mais ampla, nos faz entender nossas reais necessidades e motivações. E isso é maravilhoso. Acredito que muitos consigam esse desenvolvimento de outras formas ou sozinhos, mas a terapia é um caminho muito rico a ser trilhado. Pra mim, foi como acender a luz sobre mim mesma. Sabe quando a gente se olha em um espelho enorme, com aquela luz branca forte que faz a gente ver todos os buracos, estrias, celulites e marcas? Pois é. Pra mim foi mais ou menos isso que aconteceu.

Não sou psicóloga e nem estudante de psicologia. Essa é apenas a experiência de quem, há 10 anos, resolveu buscar ajuda profissional pras angústias que a afligiam. Fui buscar ajuda por estar muito perdida no meio dos meus 30 anos, sem namorado, sem nenhuma previsão de construir alguma coisa ao lado de alguém. Entrei numa dor imensa, em um processo de não valorização do que sou, me agarrando a quem não devia ter nem um pinguinho de mim. Fui pra terapia por isso e melhorei em tantos outros aspectos que não dá nem pra contar. Objetivei uma coisa e acertei em muitas outras. Se tem uma decisão acertada que tomei em minha vida foi entrar na terapia. Vivia colocando outras coisas na frente por causa do dinheiro, só que o valor que se paga é pouco perto do que se ganha. E, com certeza, posso dizer que foi uma das melhores coisas pra minha vida. 

Como achar que louco é aquele que busca saber de si mesmo, de suas potencialidades e de suas fraquezas? Como chamar de louco aquele que busca entender seus medos, busca entender o porquê de certas atitudes, as razões pra sua ansiedade? Hoje, eu olho no espelho e não tento mais me enganar. Muitas vezes ainda acho difícil lutar contra certas coisas em mim, mas já sei identificar os motivos de certos comportamentos e reações e, por isso, fica mais fácil me controlar, me entender, me posicionar. Sinto-me mais plena pra viver minha vida, pra viver essa vida com mais qualidade, sem absorver coisas desnecessárias, nem tomar pra mim culpas e problemas que não me pertencem. Com a terapia, todos a minha volta sairam ganhando, não só eu. E se eu for louca por querer viver melhor, que assim seja. Serei uma louca feliz.











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