Existem situações, toques, sorrisos e palavras na vida que tem o poder de fazer tudo valer a pena, têm o poder de dar sentido à nossa existência, de trazer de volta o vigor e força em um dia tumultuado ou cansativo. Não é segredo pra ninguém que amo meu trabalho, minhas funções. Gosto de lidar com gente, por mais difícil que seja às vezes, amo estar cercada por gente, de conversar, de rir, de aprender com experiências alheias. Normalmente, me concentro tanto em aprender com quem está ao meu lado, que esqueço que posso ensinar. Sim, a vida é troca.
Sempre falo pras pessoas que trabalham comigo diretamente que ninguém cruza nossa estrada à toa. Ninguém está na nossa equipe sem uma razão. Pessoas colocadas juntas para dividirem seus dias têm o que aprender e ensinar umas com as outras. Sempre falo que precisamos estar atentos para toda e qualquer oportunidade de aprendizado e oportunidade para oferecer a mão a quem estiver precisando. Eu me concentro em ser facilitadora para que todos tenham uma ótima experiência de trabalho desde o primeiro momento, desde o início da convivência. Muitas vezes essa convivência não é fácil, há discussões, divergências. Mas meu foco é aprendizado e compreensão. Sem ser leniente ou idiota. Meu foco é na justiça pois não quero dar nada que não seja merecido e nem tomar pra mim algo que não me pertença. Confio até me provarem o contrário. Acredito no potencial das pessoas pra mudarem e crescerem. Esse é meu jeito de gerir meu grupo.
Penso que se eu puder ajudar aqueles que estão ao meu lado, pertinho de mim, tornando suas vidas menos pesadas, levando um pouco de alegria, ajudando-os a passar por suas situações chatas da melhor maneira possível, estarei cumprindo um dos meus papéis nessa vida. Fico emocionada por ver como acabo influenciando pessoas, como acabo empurrando suas vidas pra frente, mostrando que sempre podemos mais, é só acreditarmos em nós mesmos. E essa semana tive prova, em duas ocasiões, de que estou no caminho certo. E isso me enche de alegria.
A primeira mensagem que recebi é de uma amiga. Hoje só amiga, mas trabalhamos juntas por anos. Aliás, o improvável aconteceu conosco: conhecemo-nos no trabalho e mesmo depois de tantas mudanças na vida, mesmo depois de não sermos mais colegas de trabalho e depois de não concordarmos em quase nada nessa vida, continuamos nos gostando muito e, acima de tudo, continuamos amigas. E ela escreveu assim:
"Essa mensagem não é pra vaca amiga. É para vaca eterna diretora...
Hoje fui substituir uma professora de Yoga em uma escola judaica lá na zona sul. Alunos do 7º ao 9º ano do ensino fundamental. Galerinha entre 13 e 15 anos...
Mulher... A primeira turma tinham uns 40 alunos. Daqueles adolescentes super, ultra, mega agitados. Do tipo que se estapeavam entre si, berravam, riam, em nada prestavam atenção. Desafiadores, debochados, cínicos e desconfiados.
Eu poderia ter me retraído, pois afinal nunca dei aula para adolescentes (de Yoga). Mas não me abalei. E sabe por quê? Pela experiência que o CCAA me deu. Parece piegas e ridículo, mas não é.
O coordenador da escola resolveu ficar para assistir a aula. E também nem isso me abalou. Já fui assistida tantas vezes dando aula em outro idioma que não era o meu... Fichinha!
Saldo final: O tempo que trabalhei com você me deu essa manha de saber lidar com adolescentes. De saber falar a linguagem deles. De dar a eles o que eles querem sem, no entanto, deixar de oferecer o que preciso. Conquistei os alunos, eles queriam que eu assumisse a turma definitivamente, o coordenador me elogiou, e tudo deu certo. No final só tenho a agradecer a você que nunca desistiu de mim, que sempre me apoiou e incentivou, que sempre achou que eu era uma boa professora apesar de eu viver dizendo que não gostava de lecionar. O aprendizado que recebi trabalhando com você eu carrego para a vida! Queria compartilhar!!"
O que vale mais que isso na vida? O que pode fazer com que me sinta mais plena, mais satisfeita, mais feliz? Reconhecimento. Isso não tem preço.
A segunda mensagem veio de uma professora com quem convivo há pouco tempo (acompanhada de chocolate!) e, de fato, sei muito pouco sobre ela. Aí vai:
"Beesha! Quer fazer o favor de parar de me confundir? Quando eu acho que a humanidade está perdida, você, sem querer, me põe no prumo de novo!
Essa semana dei aula de literatura, por necessidade, lógico, mas você mostra que confia em mim e isso não tem preço!
Sabe, Paula, a vida pra mim é muito dura, sou eu e Deus, e carinho e confiança, como venho recebendo aqui, são novidades preciosas. Ainda não assimilei isso tudo. Ainda não caiu a ficha de que até para aula de literatura fui convidada a substituir. Sei que ainda tenho muito a aprender, mas sua aposta em mim já é tudo.
Nem sei mais o que dizer... Milhões de vezes obrigada! Por me fazer acreditar de novo!
PS. - Só os que me fazem realmente felizes, como minha filha, merecem lingua de gato."
Não estranhem a forma de tratamento que as pessoas aqui citadas usam em seus textos (vaca e beesha). Não sei o que acontece mas creio que sou uma pessoa que no minuto seguinte a apresentação está sendo chamada não por PAULA mas por PAULINHA. E é daí pra pior - ou seria melhor? - não sei. Sei que tenho um relacionamento muito próximo com quem trabalha comigo e gosto que tenham essa intimidade pra falar o que pensam e o que sentem, sem melindres, sem segundas intenções.
À todos que trabalham comigo e que, de um jeito ou de outro, tem sempre um bombom, uma lembrança, um bilhetinho, um beijo: meu MUITO obrigada. Quero dizer - não só pra Cacau (minha amiga de tantos anos!) e Monica (minha amiga de 2 meses) - que sou grata a vocês que fazem parte desse círculo diário de troca de experiências que vivemos no CCAA. Quero dizer que o que aprendemos uns com os outros é o que me move. Não é dinheiro, não é status dentro da empresa, não é posição social. O que me move é reconhecimento verdadeiro. Obrigada por inundarem minha vida com tantos sentimentos lindos...