Tem gente que fala de um jeito que só quem é da família entende. A convivência faz as pessoas se entenderem até por um olhar e quem está de fora acha impossível decodificar uma espécie de "dialeto" compreensível apenas para quem está acostumado. Eu tenho uma amiga desde criança, a Jô, que tem um pai muito fofo, só que quando eu ia na casa dela e ele falava comigo querendo ir além do "oi, como vai", sempre muito simpático, eu ficava balançando a cabeça como se compreendesse tudo mas não estava entendendo patavina! Eu perguntava a ela: "Jô, você entende o que seu pai fala??" E a Jô, lógico, não só entendia, como servia de tecla SAP pra mim.
Quem nunca passou por isso com nenhum adulto mas tem criança em casa, com certeza, ou já viveu essa situação ou vai viver. A criança ouve a gente falando uma palavra mas não reproduz do mesmo modo, parece que no conversor de entendimento da cabecinha deles, acontece alguma coisa muito esquisita e a reprodução nunca é o que quer dizer.
Quando a Duda tinha uns 4 anos, ficou em desespero dentro de casa pedindo pra assistir "Amanquezev". Gente, minha mãe com o controle remoto mudando compulsivamente todos os canais pra tentar achar que diacho de programa era o tal do "amanquezev" do qual a garota falava. Duda repetia alto como se tivéssemos problemas de audição e depois gritava mesmo. "Eu quero ver amanquezev!!! AMANQUEZEV!!" Quem conhece minha mãe sabe que não é dada a muita paciência e já estava aos berros com a garota quando minha irmã, finalmente, adentra a casa.
Quando a Duda tinha uns 4 anos, ficou em desespero dentro de casa pedindo pra assistir "Amanquezev". Gente, minha mãe com o controle remoto mudando compulsivamente todos os canais pra tentar achar que diacho de programa era o tal do "amanquezev" do qual a garota falava. Duda repetia alto como se tivéssemos problemas de audição e depois gritava mesmo. "Eu quero ver amanquezev!!! AMANQUEZEV!!" Quem conhece minha mãe sabe que não é dada a muita paciência e já estava aos berros com a garota quando minha irmã, finalmente, adentra a casa.
- Gente, o que está acontecendo? Por que essa gritaria?
Minha mãe explicou o que estava acontecendo e minha irmã aproximou-se da filha e perguntou:
- Filha, o que você está querendo, fala pra mamãe...
E Duda respondeu:
- Eu quero ver "Amanquezev", mãe.
Aí, minha irmã, como se estivesse ouvindo a coisa mais natural do mundo, como se tivesse um dicionário para loucuras infantis, disse:
- Sim, ela quer assistir o filme "A Branca de Neve".
Fim do mistério, todo mundo embasbacado por tanto tempo perdido. Só mãe mesmo pra entender o filho.
Pobre Dona Iris, achou que nunca mais fosse passar por isso. Coitadinha. Enganou-se terrivelmente. Afinal, chegou o Miguel e começamos tudo de novo.
Semana passada, mal abri a porta da sala chegando do trabalho na hora do almoço pra levar o Miguel pra escola e já escuto os berros do Miguel com a avó:
- Você não entende nada que eu falo! Eu quero escorpião!
Achei melhor ir ao banheiro antes de me dirigir a cozinha, afinal de contas, precisava fazer xixi antes de entender o motivo do furdunço. Do banheiro, continuei escutando os dois alterados. Minha mãe dizia ao Miguel:
- Miguel, já coloquei comida no seu prato e você não come! O que você quer? Vai chegar atrasado na escola!
- Vó, eu quero escorpião!! Você não está escutando direito? (Abusado meu filho, né?) E S C O R P I Ã O!!!
Cheguei na cozinha e minha mãe já estava com as bochechas vermelhas de raiva. A coisa estava prestes a pegar fogo.
- O que está acontecendo?, perguntei.
- Minha filha, o Miguel hoje acordou do avesso! Já coloquei o estrogonofe no prato, já coloquei arroz e batata e ele continua gritando que quer comer escorpião. Eu desisto!
Cheguei perto do Miguel e perguntei:
- Filho, o que você quer comer?
E ele respondeu:
- Mãe, minha vó não botou escorpião no meu prato e eu quero comer escorpião!
Virei pra minha mãe, já caindo na gargalhada, e traduzi:
- Mãe, ele quer champignon... Você não colocou champignon no prato dele. Hahahaa Champignon!
Peguei o prato, fui até a panela e enchi de cogumelo o estrogonofe do meu filho e pronto. Acabou a confusão.
Sou mais uma mãe tradutora. E qual a mãe que não é?
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