Como tem gente que gosta desse clima de fim de ano, né? Bem, eu gosto mesmo é do Natal. Adoro ter a família reunida, o sentimento de estar celebrando o nascimento de Jesus, pessoa totalmente do bem que nos ensinou e ensina tanto. Mas o clima da virada do ano não me diz nada, só me deixa uma sensação de que mais um ano está passando e tantas coisas ainda há a se fazer. O tempo é curto aqui nessa terra e o que eu penso é que talvez ainda não tenha aproveitado esse tempo da melhor forma possível pra tirar o melhor de mim.
De qualquer forma, esse ano, em especial, não quero me exigir muito porque foi um ano de muitas modificações na minha vida. No ano passado, quando o Miguel nasceu, teve a licença maternidade e só voltei a vida normal mesmo em meados de outubro, já no fim do ano. Esse ano é que o bicho pegou mesmo. E ainda está pegando.
Ser mãe, ser mulher, trabalhar e dar conta de tudo, lembrar de tudo, foi muito difícil pra mim. Foi um ano de adaptação pura. Quantas coisas deixei passar, quantas coisas que antes importariam pra mim, eu deixei de lado por pura falta de tempo ou simplesmente por falta de energia pra gastar. Estou cansada. No fundo acho que ainda estou me adaptando ao novo estilo de vida. Muitas coisas que eram urgentes pra mim, deixaram de ser. Muito do que era importante, perdeu a importância. E, ao que antes eu não dava a menor bola, agora é essencial pra mim. Enfim, a vida mudou e estou no meio de todas as mudanças tentando me equilibrar.
Acredito que o ano que vem será muito bom. Estou mais experiente, sou uma mãe mas experiente, mas safa. Já sei o que é ter preocupações de trabalho e chegar em casa e ter um bebê que só quer o meu colo. Já sei o que é precisar dormir 10 horas seguidas, pelo menos, e só conseguir dormir 4. Com crianças a gente precisa se planejar pra tudo, mas, ao mesmo tempo, não pode levar os planos a ferro e fogo porque, na última hora, tudo pode mudar. É preciso ter sempre um plano B guardado na manga. E não se abater com as mudanças de última hora.
Quero muito ter saúde no ano novo. Pra mim, pra minha família. Com saúde temos tudo. Com saúde vem a disposição pra correr atrás dos sonhos, tantos sonhos... É isso o que peço: saúde pra continuar sonhando. E disposição para realizar meus sonhos.
Agradecer? Nossa, minha lista é imensa. Não cabe aqui. Sou uma pessoa muito afortunada, muito feliz mesmo. Agradeço todos os dias por ter uma família tão linda, por acreditar no amor quando vejo tanta gente achando normal trair. Eu acredito no amor. Acredito na fidelidade. Acredito no respeito. Mesmo que muitos ao meu redor digam o contrário, que o mundo mudou e que hoje ninguém é de ninguém. Eu sou fiel ao que eu sinto, aos valores que recebi: valores de dignidade, honestidade. Não estou querendo ser a mais certa das criaturas porque não sou, errei muito, erro. Mas agradeço por ter um marido que me respeita, me escuta, atura meus mimos, me trata como princesa. Acho que toda mulher merece ser princesa.
Agradeço pela minha mãe linda. Existem mães como ela sim, mas melhor não há, tenho certeza. Agradeço pela minha irmã, mal humorada, chata e amiga toda vida, companheira pra todas as horas. Agradeço pelo meu filho. Filho de um amor bonito, construído no dia-a-dia, em cada batalha, em cada conquista, em cada degrau.
Agradeço pelos meus amigos, uns pertinho de mim, tão perto que é só estender a mão pra tocar, outros tão longe que a saudade dói. Mas todos no meu coração, unidos por um dos laços mais fortes que há na Terra: amizade.
Que venha 2011!!
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Super mãe
No domingo passado foi o almoço de confraternização do CCAA. Fizemos um amigo oculto e era a hora da troca dos presentes. Aquela coisa toda, todo mundo descrevendo seus amigos para a galera adivinhar quem eram. Em determinado momento não sei quem fez uma descrição que se encaixava perfeitamente pra mim mas a última característica era "é uma super mãe" e aí meio que eu murchei, assim achando que não poderia ser eu. E não era eu mesmo.
Mas é claro que fiquei refletindo sobre isso. Porque não me acho uma super mãe? Será que tudo o que a sociedade impõe como características de uma super mãe, esse pacote de qualidades de abnegação total em prol dos rebentos que eu jurei que não ia comprar, acabei comprando? É , acho que sim.
Me acho uma super mãe sim. Meu filho é minha prioridade, mas talvez eu só pense isso racionalmente, no fundo, no fundo, eu me culpo um pouco por viajar e deixá-lo sozinho por 15 dias, me culpo quando não tenho trabalho e o levo pra creche pra poder tirar o dia pra mim. Por deixá-lo aos domingos a tarde com minha sogra pra pegar um cineminha... Por essa culpa toda é que não me encaixei na característica de "super mãe". Será que o mundo não vai mudar ou será que é inerente à maternidade essa culpa, essa coisa maior que é achar que o filho só está bem de verdade se estiver com a gente? Venho me trabalhando muito pra não pensar assim, mas é difícil, viu?
Talvez esse seja o preço que tenho que pagar por viver minha vida, mesmo depois que Miguel nasceu. Minha vida se modificou totalmente, mas eu ainda tenho uma vida, de momentos só meus mais raros, é verdade, mas ainda tenho uma vida de mulher, de namorada, de trabalhadora. E esse talvez seja o valor cobrado por tentar ser tudo: não sou considerada super mãe. Pelos outros e por mim mesma. Terapia pra mim. Mais um pouco.
Mas é claro que fiquei refletindo sobre isso. Porque não me acho uma super mãe? Será que tudo o que a sociedade impõe como características de uma super mãe, esse pacote de qualidades de abnegação total em prol dos rebentos que eu jurei que não ia comprar, acabei comprando? É , acho que sim.
Me acho uma super mãe sim. Meu filho é minha prioridade, mas talvez eu só pense isso racionalmente, no fundo, no fundo, eu me culpo um pouco por viajar e deixá-lo sozinho por 15 dias, me culpo quando não tenho trabalho e o levo pra creche pra poder tirar o dia pra mim. Por deixá-lo aos domingos a tarde com minha sogra pra pegar um cineminha... Por essa culpa toda é que não me encaixei na característica de "super mãe". Será que o mundo não vai mudar ou será que é inerente à maternidade essa culpa, essa coisa maior que é achar que o filho só está bem de verdade se estiver com a gente? Venho me trabalhando muito pra não pensar assim, mas é difícil, viu?
Talvez esse seja o preço que tenho que pagar por viver minha vida, mesmo depois que Miguel nasceu. Minha vida se modificou totalmente, mas eu ainda tenho uma vida, de momentos só meus mais raros, é verdade, mas ainda tenho uma vida de mulher, de namorada, de trabalhadora. E esse talvez seja o valor cobrado por tentar ser tudo: não sou considerada super mãe. Pelos outros e por mim mesma. Terapia pra mim. Mais um pouco.
sábado, 18 de dezembro de 2010
Mini cama
Mãe é um ser diferente mesmo. O filho nasce e são tantas transformações que, muitas vezes, eu nem me reconheço...
Não comprei um berço pro Miguel, ele o herdou das primas. Pintamos e não vimos necessidade de comprar um novo pra ele. Engraçado que nenhuma das duas usou o berço, acabaram dormindo com os pais, mas o Miguel não: sempre dormiu em seu quarto, em seu berço. Como agora ele está um bebezão e já está ameaçando se jogar do berço a qualquer instante, resolvemos que compraríamos uma mini cama pra ele. Fico mais tranquila e ele terá uma cama novinha, só dele. Minha sogra quis dar de presente a ele e a tal da caminha chegou ontem e será montada na segunda.
Pronto. Bastou pra eu já ficar imaginando mil coisas. Coitado do Hugo, é um santo homem mesmo por aturar minhas neuras... Hugo já estava quase dormindo quando puxei o assunto: "Namorado, você já parou pra pensar que nosso bebê está crescendo?" Com aquele jeitinho que só meu marido tem, sarcástico que só, ele responde: " Sim, desde a hora em que nasceu."
"Não foi isso que eu quis dizer, namorado... É que ele, na semana que vem, não vai mais dormir no berço, já vai pra uma caminha!!"
" Não era isso que você queria?", pergunta o namorado.
"Sim, mas ele está crescendo... Está deixando de ser meu bebezão, daqui a pouco é um menino e estou ficando preocupada. Ele está chegando mais pra perto do mundo que de mim."
"Meu Deus, que mulher mais louca é essa que Deus me deu? Namorada, você sempre soube que seria assim. Isso não é bom, ver que ele está crescendo lindo e saudável?"
"É, é maravilhoso, mas está me dando medo. Outro dia eu colocava no bercinho e ele nem se mexia direito, precisava de mim pra tudo, e hoje está aí: andando, correndo, começando a falar, dando beijinhos e abraços, pedindo coisas... E vai mudar pra uma mini cama!"
Pra encerrar o assunto, porque ele queria mesmo dormir, o Hugo dispara: "E você vai ver daqui há 6 meses... Estará fazendo muito mais coisas ainda... Deixa de bobeira, namorada, vamos dormir. Amanhã eu desmonto esse berço e acabo logo com isso."
Prático esse meu namorado. Ainda bem que ele é assim, se fosse louquinho como eu ficaríamos os dois chorando olhando o Miguel dormir no bercinho pro qual daremos tchau nesse final de semana.
Mas me sinto melancólica sabendo que, a cada dia, meu filho está mais independente de mim. Sei que tem que ser assim. Mas não consigo evitar. Alguém me entende?
Não comprei um berço pro Miguel, ele o herdou das primas. Pintamos e não vimos necessidade de comprar um novo pra ele. Engraçado que nenhuma das duas usou o berço, acabaram dormindo com os pais, mas o Miguel não: sempre dormiu em seu quarto, em seu berço. Como agora ele está um bebezão e já está ameaçando se jogar do berço a qualquer instante, resolvemos que compraríamos uma mini cama pra ele. Fico mais tranquila e ele terá uma cama novinha, só dele. Minha sogra quis dar de presente a ele e a tal da caminha chegou ontem e será montada na segunda.
Pronto. Bastou pra eu já ficar imaginando mil coisas. Coitado do Hugo, é um santo homem mesmo por aturar minhas neuras... Hugo já estava quase dormindo quando puxei o assunto: "Namorado, você já parou pra pensar que nosso bebê está crescendo?" Com aquele jeitinho que só meu marido tem, sarcástico que só, ele responde: " Sim, desde a hora em que nasceu."
"Não foi isso que eu quis dizer, namorado... É que ele, na semana que vem, não vai mais dormir no berço, já vai pra uma caminha!!"
" Não era isso que você queria?", pergunta o namorado.
"Sim, mas ele está crescendo... Está deixando de ser meu bebezão, daqui a pouco é um menino e estou ficando preocupada. Ele está chegando mais pra perto do mundo que de mim."
"Meu Deus, que mulher mais louca é essa que Deus me deu? Namorada, você sempre soube que seria assim. Isso não é bom, ver que ele está crescendo lindo e saudável?"
"É, é maravilhoso, mas está me dando medo. Outro dia eu colocava no bercinho e ele nem se mexia direito, precisava de mim pra tudo, e hoje está aí: andando, correndo, começando a falar, dando beijinhos e abraços, pedindo coisas... E vai mudar pra uma mini cama!"
Pra encerrar o assunto, porque ele queria mesmo dormir, o Hugo dispara: "E você vai ver daqui há 6 meses... Estará fazendo muito mais coisas ainda... Deixa de bobeira, namorada, vamos dormir. Amanhã eu desmonto esse berço e acabo logo com isso."
Prático esse meu namorado. Ainda bem que ele é assim, se fosse louquinho como eu ficaríamos os dois chorando olhando o Miguel dormir no bercinho pro qual daremos tchau nesse final de semana.
Mas me sinto melancólica sabendo que, a cada dia, meu filho está mais independente de mim. Sei que tem que ser assim. Mas não consigo evitar. Alguém me entende?
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Final de ano
Nesse final de ano tão corrido, em que o trabalho aperta tanto e tenho que lidar com tanta gente, minhas energias se esgotam. Estou me sentindo cansada, estou gripada, com vontade de deitar e dormir uns cinco dias seguidos. O mais engraçado disso tudo é que a hora em que me sinto mais viva é quando vou buscar o Miguel na creche. O sorriso dele, aquela dancinha que ele faz todas as vezes que me vê, a corrida com os braços abertos pra me abraçar, é isso que me enche de energia, me faz ver que tudo vale a pena.
Olho pro meu trabalho e sei que esse ano não rendi tudo o que poderia ter rendido. Não me sinto entregue 100%, falhei, errei mais que de costume. Isso me incomoda. A certeza de que poderia ter feito mais, ter estado mais atenta, me deixa louca. Por outro lado, sei que o próximo ano está aí e que terei uma chance de fazer diferente, de acertar mais que errar. Detesto a sensação de saber que poderia ter evitado certas coisas, que poderia ter me dado mais. De qualquer forma, uma das minhas resoluções de ano novo já está feita: estar mais atenta, não vou me dar o luxo de deixar passar o que posso e devo fazer.
Olho pro meu trabalho e sei que esse ano não rendi tudo o que poderia ter rendido. Não me sinto entregue 100%, falhei, errei mais que de costume. Isso me incomoda. A certeza de que poderia ter feito mais, ter estado mais atenta, me deixa louca. Por outro lado, sei que o próximo ano está aí e que terei uma chance de fazer diferente, de acertar mais que errar. Detesto a sensação de saber que poderia ter evitado certas coisas, que poderia ter me dado mais. De qualquer forma, uma das minhas resoluções de ano novo já está feita: estar mais atenta, não vou me dar o luxo de deixar passar o que posso e devo fazer.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Ser mãe
Já disse que tenho o prazer de trabalhar com pessoas queridas... Hoje recebi o e-mail de uma dessas professoras que Deus escolheu para colocar em meu caminho. A Soraya não tem filhos, nem sei se os terá, mas recebeu esse texto que vou postar e o repassou para suas "amigas mães". É lindo. E como essa semana tem sido muito difícil pra mim e ainda por cima nasceu o Joaquim, filho de uma amiga que queria muito ser mãe, a Dani, estou muito sensibilizada e chorona. Penso nela levando seu bebezinho pra casa se sentindo a mulher mais feliz do mundo e sem ter a menor noção do que esse bebê vai fazer com sua vida, seus sentimentos. Não, a gente nunca tem noção mesmo, nem quando achamos que temos ou que estamos mega preparados pra tudo. Mas penso nela feliz... Porque é muita felicidade mesmo!!
Enfim, não preciso dizer que me debulhei ao ler o texto espírita que segue agora pra vocês:
Ser mãe
"A missão de ser mãe quase sempre começa com alguns meses de muito enjoo, seguido por anseios incontroláveis por comidas estranhas, aumento de peso, dores na coluna, o aprimoramento da arte de arrumar travesseiros preenchendo os espaços entre o volume da barriga e o resto da cama.
Ser mãe é não esquecer da emoção do primeiro movimento do bebezinho dentro da barriga.
O instante maravilhoso em que ele se materializou ante os seus olhos, a boquinha sugando o leite com vontade e o primeiro sorriso de reconhecimento.
Ser mãe é ficar noites sem dormir, é sofrer com as cólicas do bebê e se angustiar com os choros inexplicáveis: será dor de ouvido, fralda molhada, fome, desejo de colo?
É a inquietação com os resfriados, pânico com a ameaça de pneumonia, coração partido com a tristeza causada pela morte do bichinho de estimação do pequerrucho.
Ser mãe é ajudar o filho a largar a chupeta e a mamadeira. É levá-lo pra escola e segurar sua mãe na hora da vacina.
Ser mãe é se deslumbrar em ver o filho se revelando em suas características únicas, é observar suas descobertas.
Sentir sua mãozinha procurando a proteção da sua, o corpinho se aconchegando debaixo dos cobertores.
É assistir aos avanços, sorrir com as vitórias e ampará-lo nas pequenas derrotas.
É ouvir confidências.
Ser mãe é ler sobre uma tragédia no jornal e se perguntar: e se tivesse sido o meu filho?
E ante fotos de crianças famintas, se perguntar se pode haver dor maior que ver um filho morrer de fome.
Ser mãe é descobrir que se pode amar ainda mais um homem ao vê-lo passar talco, cuidadosamente, no seu bebê ou ao observá-lo sentado no chão, brincando com o filho.
É se apaixonar de novo pelo marido, mas por razões que antes de ser mãe consideraria muito pouco românticas.
É sentir-se invadir de felicidade ante do milagre que é uma crinaça dando seus primeiros passos, conseguindo expressar toscamente em palavras seus sentimentos, juntando as letras numa frase.
Ser mãe é inundar-se de alegria ao ouvir uma gargalhadinha gostosa, ao ver o filho acertando a bola no gol ou mergulhando corajosamente do trampolim mais alto.
Ser mãe é descobrir que, por mais sofisticada que se possa ser, por mais elegante, um grito aflito de "mamãe" a faz derrubar o suflê ou o cristal mais fino, sem a menor hesitação.
Ser mãe é descobrir que sua vida tem menos valor depois que chega o bebê.
Que se deseja sacrificar a vida para poupar a do filho, mas ao mesmo tempo deseja viver mais - não para realizar os seus sonhos, mas para ver a criança realizar os dela.
É ouvir o filho falar da primeira namorada, da primeira decepção e quase morrer de apreensão na primeira vez em que ele se aventurar ao volante de um carro.
É ficar acordada de noite, imaginando mil coisas, até ouvir o barulho da chave na fechadura da porta e os passos do jovem, ecoando portas adentro do lar.
Finalmente, é se inundar de gratidão por tudo que se recebe e se aprende com o filho, eplo crescimento que ele proporciona, pela alegria profunda que ele dá.
Ser mãe é aguardar o momento de ser avó, para renovar as etapas da emoção, numa dimensão diferente de doçura e entendimento.
É estreitar nos braços o filho do filho e descobrir no rostinho minúsculo, os traços maravilhosos do bem mais precioso que lhe foi confiado ao coração: um espírito imortal vestido nas carnes de seu filho.
A maternidade é uma dádiva. Ajudar um pequenino a desenvolver-se e a descobrir-se, tornando-se um adulto digno, é responsabilidade que Deus confere ao coração da mulher que se transforma em mãe. E toda mulher que se permite ser mãe, da sua ou da carne alheia, descobre que o filho que depende de seu amor e da segurança que ela transmite, é o melhor presente que Deus lhe deu."
Dani, parabéns por ser presenteada com a oportunidade de viver tudo isso!!! Soraya, obrigada por enviar esse lindo texto. Miguel, obrigada por ter me escolhido para ser sua mãe... Prometo fazer um bom trabalho.
Enfim, não preciso dizer que me debulhei ao ler o texto espírita que segue agora pra vocês:
Ser mãe
"A missão de ser mãe quase sempre começa com alguns meses de muito enjoo, seguido por anseios incontroláveis por comidas estranhas, aumento de peso, dores na coluna, o aprimoramento da arte de arrumar travesseiros preenchendo os espaços entre o volume da barriga e o resto da cama.
Ser mãe é não esquecer da emoção do primeiro movimento do bebezinho dentro da barriga.
O instante maravilhoso em que ele se materializou ante os seus olhos, a boquinha sugando o leite com vontade e o primeiro sorriso de reconhecimento.
Ser mãe é ficar noites sem dormir, é sofrer com as cólicas do bebê e se angustiar com os choros inexplicáveis: será dor de ouvido, fralda molhada, fome, desejo de colo?
É a inquietação com os resfriados, pânico com a ameaça de pneumonia, coração partido com a tristeza causada pela morte do bichinho de estimação do pequerrucho.
Ser mãe é ajudar o filho a largar a chupeta e a mamadeira. É levá-lo pra escola e segurar sua mãe na hora da vacina.
Ser mãe é se deslumbrar em ver o filho se revelando em suas características únicas, é observar suas descobertas.
Sentir sua mãozinha procurando a proteção da sua, o corpinho se aconchegando debaixo dos cobertores.
É assistir aos avanços, sorrir com as vitórias e ampará-lo nas pequenas derrotas.
É ouvir confidências.
Ser mãe é ler sobre uma tragédia no jornal e se perguntar: e se tivesse sido o meu filho?
E ante fotos de crianças famintas, se perguntar se pode haver dor maior que ver um filho morrer de fome.
Ser mãe é descobrir que se pode amar ainda mais um homem ao vê-lo passar talco, cuidadosamente, no seu bebê ou ao observá-lo sentado no chão, brincando com o filho.
É se apaixonar de novo pelo marido, mas por razões que antes de ser mãe consideraria muito pouco românticas.
É sentir-se invadir de felicidade ante do milagre que é uma crinaça dando seus primeiros passos, conseguindo expressar toscamente em palavras seus sentimentos, juntando as letras numa frase.
Ser mãe é inundar-se de alegria ao ouvir uma gargalhadinha gostosa, ao ver o filho acertando a bola no gol ou mergulhando corajosamente do trampolim mais alto.
Ser mãe é descobrir que, por mais sofisticada que se possa ser, por mais elegante, um grito aflito de "mamãe" a faz derrubar o suflê ou o cristal mais fino, sem a menor hesitação.
Ser mãe é descobrir que sua vida tem menos valor depois que chega o bebê.
Que se deseja sacrificar a vida para poupar a do filho, mas ao mesmo tempo deseja viver mais - não para realizar os seus sonhos, mas para ver a criança realizar os dela.
É ouvir o filho falar da primeira namorada, da primeira decepção e quase morrer de apreensão na primeira vez em que ele se aventurar ao volante de um carro.
É ficar acordada de noite, imaginando mil coisas, até ouvir o barulho da chave na fechadura da porta e os passos do jovem, ecoando portas adentro do lar.
Finalmente, é se inundar de gratidão por tudo que se recebe e se aprende com o filho, eplo crescimento que ele proporciona, pela alegria profunda que ele dá.
Ser mãe é aguardar o momento de ser avó, para renovar as etapas da emoção, numa dimensão diferente de doçura e entendimento.
É estreitar nos braços o filho do filho e descobrir no rostinho minúsculo, os traços maravilhosos do bem mais precioso que lhe foi confiado ao coração: um espírito imortal vestido nas carnes de seu filho.
A maternidade é uma dádiva. Ajudar um pequenino a desenvolver-se e a descobrir-se, tornando-se um adulto digno, é responsabilidade que Deus confere ao coração da mulher que se transforma em mãe. E toda mulher que se permite ser mãe, da sua ou da carne alheia, descobre que o filho que depende de seu amor e da segurança que ela transmite, é o melhor presente que Deus lhe deu."
Dani, parabéns por ser presenteada com a oportunidade de viver tudo isso!!! Soraya, obrigada por enviar esse lindo texto. Miguel, obrigada por ter me escolhido para ser sua mãe... Prometo fazer um bom trabalho.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
A primeira mordida
Estou tendo uma semana bem difícil. Em 13 anos de direção nunca passei por situações pelas quais estou passando agora, mas ok, Deus só nos dá aquilo que podemos carregar e acho que entre mortos e feridos, todos estão se salvando. Pra piorar as coisas, no domingo, enquanto voltávamos da casa da minha sogra, parados estávamos quando um carro emburacou na nossa traseira. Miguel estava dormindo na cadeirinha dele, devidamente acinturado, graças a Deus, e nada aconteceu com ele ou conosco, foi apenas o susto. Ainda bem que a família que bateu no nosso carro é gente de bem e vai pagar todo o conserto que não será pequeno!! Tadinho do meu carro...
Quer dizer, estou sem carro sabe-se Deus até quando. Acredito que só o veja de novo em janeiro, mas, na verdade, quem sai no prejuízo é o namorado porque, como bom marido que é, ele é quem está sem carro, o dele fica comigo. Então, quando cheguei na creche para buscar o Miguel na quarta-feira e a tia me disse que tinha uma notícia ruim pra me dar, já comecei a me tremer. Sério. Essa semana está tão dura, tantos pepinos e acontecimentos totalmente inesperados que a adrenalina corre pelo meu corpo o tempo todo. Falei pra ela: "Ai, fala logo porque estou ficando nervosa. O que houve? Miguel está doente? Quebrou a perna?" Mente de mãe vai longe... Aí, ela virou o rostinho dele pra mim e me mostrou a marca da mordida na bochecha esquerda dele. O amiguinho foi dar um abraço e aproveitou para trocar o beijo por uma mordidinha... Nossa, a carinha dele inchada, com a marca roxa dos dentinhos... Mas ele estava bem, saltitante como sempre. Confesso que fiquei até aliviada ao ver que era "só" isso. Falei pra ela que não se preocupasse, eu compreendia que essas coisas acontecem mesmo, independente de com quem a criança esteja. Poderia ter acontecido sob minha supervisão. Talvez não seja a última mordida a ser levada na vida, foi apenas a primeira.
Pois é. E aí começo a refletir que a vida dos filhos é assim, que por mais cuidado que se tenha, existem coisas que precisam ser vivenciadas por eles e que não podemos impedir. Mãe tem mania de super herói, quer tornar a vida dos filhos a maior maravilha possível, mas temos que saber que não somos heroínas - embora mereçamos esse status - e que não vamos impedir todas as coisas erradas e tirar os obstáculos da vida de nossos filhos. Mesmo que fossemos onipresentes, onipotentes, não podemos cercar e proteger nossos filhos de algo muito maior que se chama 'vida'. E a vida ensina, da maneira que for. Se formos abertos a seus ensinamentos e resignados talvez não soframos tanto. Se formos mais rebeldes e inconformados, seus caminhos são mais tortuosos. Mas, no final das contas, ensina.
É isso aí. Meu filho vai ter que saber lidar com as mordidas da vida. Dessa vez a tia disse que ele foi pego de surpresa, não teve reação, ficou espantado e chorou. Da próxima, quem sabe saberá lidar melhor com a atitude do coleguinha? Talvez saiba até evitar. Fico eu na torcida, sempre pertinho dele, mas deixando que ele mesmo aprenda que a vida é assim. Foi a primeira mordida, mas não será a última.
Quer dizer, estou sem carro sabe-se Deus até quando. Acredito que só o veja de novo em janeiro, mas, na verdade, quem sai no prejuízo é o namorado porque, como bom marido que é, ele é quem está sem carro, o dele fica comigo. Então, quando cheguei na creche para buscar o Miguel na quarta-feira e a tia me disse que tinha uma notícia ruim pra me dar, já comecei a me tremer. Sério. Essa semana está tão dura, tantos pepinos e acontecimentos totalmente inesperados que a adrenalina corre pelo meu corpo o tempo todo. Falei pra ela: "Ai, fala logo porque estou ficando nervosa. O que houve? Miguel está doente? Quebrou a perna?" Mente de mãe vai longe... Aí, ela virou o rostinho dele pra mim e me mostrou a marca da mordida na bochecha esquerda dele. O amiguinho foi dar um abraço e aproveitou para trocar o beijo por uma mordidinha... Nossa, a carinha dele inchada, com a marca roxa dos dentinhos... Mas ele estava bem, saltitante como sempre. Confesso que fiquei até aliviada ao ver que era "só" isso. Falei pra ela que não se preocupasse, eu compreendia que essas coisas acontecem mesmo, independente de com quem a criança esteja. Poderia ter acontecido sob minha supervisão. Talvez não seja a última mordida a ser levada na vida, foi apenas a primeira.
Pois é. E aí começo a refletir que a vida dos filhos é assim, que por mais cuidado que se tenha, existem coisas que precisam ser vivenciadas por eles e que não podemos impedir. Mãe tem mania de super herói, quer tornar a vida dos filhos a maior maravilha possível, mas temos que saber que não somos heroínas - embora mereçamos esse status - e que não vamos impedir todas as coisas erradas e tirar os obstáculos da vida de nossos filhos. Mesmo que fossemos onipresentes, onipotentes, não podemos cercar e proteger nossos filhos de algo muito maior que se chama 'vida'. E a vida ensina, da maneira que for. Se formos abertos a seus ensinamentos e resignados talvez não soframos tanto. Se formos mais rebeldes e inconformados, seus caminhos são mais tortuosos. Mas, no final das contas, ensina.
É isso aí. Meu filho vai ter que saber lidar com as mordidas da vida. Dessa vez a tia disse que ele foi pego de surpresa, não teve reação, ficou espantado e chorou. Da próxima, quem sabe saberá lidar melhor com a atitude do coleguinha? Talvez saiba até evitar. Fico eu na torcida, sempre pertinho dele, mas deixando que ele mesmo aprenda que a vida é assim. Foi a primeira mordida, mas não será a última.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Loucuras de mãe
Sou mãe por escolha, não por vocação. Há pessoas que tratam a maternidade assim, como se fosse uma vocação, quase um acessório de fábrica, você vem ao mundo com ele ou não. Então, se é assim, eu não vim com esse ' acessório' , mas acredito que a maternidade possa ser algo aprendido com a vivência, construido.
Pra pessoas com essa, vamos dizer assim, 'vocação', acredito que não deva doer ser mãe. Elas devem se dedicar a isso sem sentir falta da liberdade que possuiam antes. Será que é igual a decidir casar? Sim, porque eu não acho sacrifício ser casada, ser fiel, não me sinto sendo privada de nada. Para mim não é esforço algum estar somente com o namorado, é natural, simplesmente é. Não sinto falta de sair na night, de ficar com caras diferentes, de esperar por algum telefonema que pode acontecer ou não. Acredito que existam pessoas que são mães da mesma forma que eu sou casada, tudo é natural, como se fosse o curso natural das coisas, sem sentir falta de nada. Sendo assim, reconhecendo, humildemente, que pra mim não é assim, aqui estou.
É difícil demais ser mãe. É cansativo demais, chegar a doer. Quando digo que não nasci pra ser mãe é no sentido de que ser só isso não me satisfaz. E eu sinto falta de tanta coisa agora... Sinto falta de dormir mais, sinto falta de tomar banho sem pressa, sinto falta de entrar em casa de volta do trabalho e tomar logo o meu banho, de fazer uma refeição com início, meio e fim, sem interrupções ou preocupação com o tempo, sinto falta de deitar na minha cama depois do jantar com meu marido e ler, ver televisão, namorar ou apenas estar ali, quieta, sem hora pra essa tranquilidade acabar a não ser pelo dia seguinte.
Não preciso falar que me acho uma mãe excelente porque sei que dou o meu máximo pra ser uma mãe maravilhosa, dedico ao meu bebezão o meu melhor. Mas faço isso exigindo de mim esse esforço, sem cobrar nada dele, porque sei que foi uma escolha minha. Meu filho merece minha atenção, meu olhar, meu carinho, o amor sem fim que tenho por ele. Ele é tão lindo... A coisa mais linda que fiz na vida. Mas é muito difícil pra mim, não vou negar. Ter filho foi a coisa mais louca que decidi fazer, a aventura mais selvagem. Logo eu, que nem gosto de esportes radicais e aventuras. O Miguel foi como me empurrar pr aonde nem nunca pensei que pudesse ir e foi também a chance de conhecer sentimentos que nunca havia sentido antes. É muito barra pesada, sim, chega a ser aterrorizante. Só que o mais amedrontador é que, mesmo assim, eu aindaacho que vale a pena. Acho que estou enlouquecendo.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Mãe de UTI
Eu sou mãe de UTI. E, como todas as experiências na vida, por mais que a gente imagine como seja, só quem passa é que sabe mesmo. Vira e mexe eu penso nisso e embora o Miguel já esteja com 1 ano e meio, só de lembrar daquele período meus olhos se enchem de lágrimas e é difícil não chorar.
Sou programada desde meu nascimento para ser feliz e isso é muito bom porque me faz enxergar o lado positivo das coisas e também é muito ruim porque estou sempre achando que tudo pra mim vai dar certo. No final das contas, é melhor pensar positivo mesmo e ir em frente, mas tenho um pouco de dificuldade em lidar com as coisas e acontecimentos quando eles fogem do meu controle, quando não estão ao alcance das minhas mãos, por mais que eu me estique. E foi assim com o Miguel.
Quando voltei da casa da tia Bá naquele domingo, dia das mães, estava ótima, me sentindo muito bem e feliz com meu barrigão. Primeiro dia das mães com o Miguel. Verdade que pela manhã já tinha sentido umas cólicas e cheguei até a ligar pra minha médica. Como ela perguntou se eram fortes e eu disse que não - não eram mesmo - ela disse pra eu relaxar e ligar pra ela se a intensidade aumentasse. Já estava entrando no oitavo mês, havia feito uma ultra na sexta-feira anterior e estava tudo perfeito. Miguel já estava em posição de nascimento, peso e tamanho normais, enfim, tudo ok.
Quando minha bolsa rompeu eu não acreditava que meu filho iria nascer mesmo, antes do tempo. Minha ficha não caía até minha irmã falar: "Paula, acorda, sua bolsa rompeu e seu filho vai nascer. Se arruma logo porque as contrações vão começar. Não tem nenhum remedinho pra segurar o bebê aí dentro não!" Dito e feito. Logo as contrações começaram e Hugo saiu que nem louco dirigindo pela linha amarela. Ainda pegamos uma blitz e Hugo buzinava tanto que chamou a atenção dos policiais que abriram caminho pra que a gente passasse. Em 20 minutos eu estava na Perinatal na Barra.
Eu ainda não tinha percebido que as coisas seriam diferentes pra mim. Eu parecia envolta em uma espécie de neblina que me impedia de enxergar as coisas do jeito que são. Meu bebê nasceu e foi pra UTI. E aí, coisas tão sem importância começaram a chamar minha atenção como uma simples plaquinha na porta de todos os quartos de bebês recém-nascidos. Sabe aquelas plaquinhas com o nome do bebê que a gente leva pra colocar na porta do quarto da maternidade? Pois é. A do Miguel não estava pronta. E, mesmo se estivesse, eu não teria lembrado de levá-la. As pessoas chegavam pra visitar e meu bebê não estava no quarto comigo, ninguém podia ver meu bebê e, para meu desespero, quando tive alta na terça-feira de manhã, soube que meu bebê não iria pra casa comigo. Ai, não consigo descrever essa sensação. Não consigo expressar o que é voltar pra casa sem o seu bebê nos braços. Não, eu não consigo.
Foram 15 dias. Os 15 dias mais longos de toda a minha vida. Dias em que chorei muito, sorri muito todas as vezes que chegava na UTI e encontrava meu bebê bem. Senti muito alivio todas as manhãs quando ligava pro hospital pra saber como ele havia passado a noite e tinha notícias boas. Comemorei muito com o Hugo todas as vezes em que voltava do lactário e tinha conseguido tirar mais 10ml do meu leite pra deixar pro Miguel. Se não fosse o Hugo, nem sei. Ele é que segurou meus rompantes de loucura, mesmo quando, em um sábado à noite, ao voltar do hospital, cismei que queria o quartinho do meu filho todo pronto porque ele ia chegar a qualquer momento. Fomos dormir de madrugada, mas terminamos tudo.
A mãe de UTI se culpa muito também. Eu questionava se havia feito algo errado, se tinha malhado demais, viajado demais. Mas todos os exames foram feitos no Miguel e em mim para tentarmos descobrir o que pode ter provocado o parto prematuro e não houve nenhum indício, foi assim porque tinha que ser. Lembro de todas as mães que estavam naquela UTI junto comigo e de seus bebês. Conheci mães que estavam lá há 6 meses, 2 meses, dias ou semanas. Todas nós unidas em uma mesma torcida. Vi vitórias de bebês miudinhos, vi chegadas de bebês cheios de complicações, vi altas, vi cirurgias, vi morte. E quando penso naquele período da minha vida, sempre peço a Deus que todos aqueles que dividiram comigo aqueles 15 dias estejam bem.
Hoje quando olho as fotos do meu filho tão pequeno quando nasceu, parecendo um bonequinho, sinto um orgulho dele imenso. Vejo o quanto meu filho é guerreiro e já nasceu lutando. E eu que não sabia nem se queria experimentar esse amor de mãe um dia na vida, descobri que quando ele chega é a coisa mais visceral que pode existir nesse mundo. O amor de mãe é capaz de tudo. E a diferença das mães de UTI para todas as outras é que ela descobre isso na pancada, na base do tapa na cara. Eu descobri na UTI que esse amor é enorme mesmo, maior que eu.
Sou programada desde meu nascimento para ser feliz e isso é muito bom porque me faz enxergar o lado positivo das coisas e também é muito ruim porque estou sempre achando que tudo pra mim vai dar certo. No final das contas, é melhor pensar positivo mesmo e ir em frente, mas tenho um pouco de dificuldade em lidar com as coisas e acontecimentos quando eles fogem do meu controle, quando não estão ao alcance das minhas mãos, por mais que eu me estique. E foi assim com o Miguel.
Quando voltei da casa da tia Bá naquele domingo, dia das mães, estava ótima, me sentindo muito bem e feliz com meu barrigão. Primeiro dia das mães com o Miguel. Verdade que pela manhã já tinha sentido umas cólicas e cheguei até a ligar pra minha médica. Como ela perguntou se eram fortes e eu disse que não - não eram mesmo - ela disse pra eu relaxar e ligar pra ela se a intensidade aumentasse. Já estava entrando no oitavo mês, havia feito uma ultra na sexta-feira anterior e estava tudo perfeito. Miguel já estava em posição de nascimento, peso e tamanho normais, enfim, tudo ok.
Quando minha bolsa rompeu eu não acreditava que meu filho iria nascer mesmo, antes do tempo. Minha ficha não caía até minha irmã falar: "Paula, acorda, sua bolsa rompeu e seu filho vai nascer. Se arruma logo porque as contrações vão começar. Não tem nenhum remedinho pra segurar o bebê aí dentro não!" Dito e feito. Logo as contrações começaram e Hugo saiu que nem louco dirigindo pela linha amarela. Ainda pegamos uma blitz e Hugo buzinava tanto que chamou a atenção dos policiais que abriram caminho pra que a gente passasse. Em 20 minutos eu estava na Perinatal na Barra.
Eu ainda não tinha percebido que as coisas seriam diferentes pra mim. Eu parecia envolta em uma espécie de neblina que me impedia de enxergar as coisas do jeito que são. Meu bebê nasceu e foi pra UTI. E aí, coisas tão sem importância começaram a chamar minha atenção como uma simples plaquinha na porta de todos os quartos de bebês recém-nascidos. Sabe aquelas plaquinhas com o nome do bebê que a gente leva pra colocar na porta do quarto da maternidade? Pois é. A do Miguel não estava pronta. E, mesmo se estivesse, eu não teria lembrado de levá-la. As pessoas chegavam pra visitar e meu bebê não estava no quarto comigo, ninguém podia ver meu bebê e, para meu desespero, quando tive alta na terça-feira de manhã, soube que meu bebê não iria pra casa comigo. Ai, não consigo descrever essa sensação. Não consigo expressar o que é voltar pra casa sem o seu bebê nos braços. Não, eu não consigo.
Foram 15 dias. Os 15 dias mais longos de toda a minha vida. Dias em que chorei muito, sorri muito todas as vezes que chegava na UTI e encontrava meu bebê bem. Senti muito alivio todas as manhãs quando ligava pro hospital pra saber como ele havia passado a noite e tinha notícias boas. Comemorei muito com o Hugo todas as vezes em que voltava do lactário e tinha conseguido tirar mais 10ml do meu leite pra deixar pro Miguel. Se não fosse o Hugo, nem sei. Ele é que segurou meus rompantes de loucura, mesmo quando, em um sábado à noite, ao voltar do hospital, cismei que queria o quartinho do meu filho todo pronto porque ele ia chegar a qualquer momento. Fomos dormir de madrugada, mas terminamos tudo.
A mãe de UTI se culpa muito também. Eu questionava se havia feito algo errado, se tinha malhado demais, viajado demais. Mas todos os exames foram feitos no Miguel e em mim para tentarmos descobrir o que pode ter provocado o parto prematuro e não houve nenhum indício, foi assim porque tinha que ser. Lembro de todas as mães que estavam naquela UTI junto comigo e de seus bebês. Conheci mães que estavam lá há 6 meses, 2 meses, dias ou semanas. Todas nós unidas em uma mesma torcida. Vi vitórias de bebês miudinhos, vi chegadas de bebês cheios de complicações, vi altas, vi cirurgias, vi morte. E quando penso naquele período da minha vida, sempre peço a Deus que todos aqueles que dividiram comigo aqueles 15 dias estejam bem.
Hoje quando olho as fotos do meu filho tão pequeno quando nasceu, parecendo um bonequinho, sinto um orgulho dele imenso. Vejo o quanto meu filho é guerreiro e já nasceu lutando. E eu que não sabia nem se queria experimentar esse amor de mãe um dia na vida, descobri que quando ele chega é a coisa mais visceral que pode existir nesse mundo. O amor de mãe é capaz de tudo. E a diferença das mães de UTI para todas as outras é que ela descobre isso na pancada, na base do tapa na cara. Eu descobri na UTI que esse amor é enorme mesmo, maior que eu.
Assinar:
Postagens (Atom)