sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A primeira mordida


Estou tendo uma semana bem difícil. Em 13 anos de direção nunca passei por situações pelas quais estou passando agora, mas ok, Deus só nos dá aquilo que podemos carregar e acho que entre mortos e feridos, todos estão se salvando. Pra piorar as coisas, no domingo, enquanto voltávamos da casa da minha sogra, parados estávamos quando um carro emburacou na nossa traseira. Miguel estava dormindo na cadeirinha dele, devidamente acinturado, graças a Deus, e nada aconteceu com ele ou conosco, foi apenas o susto. Ainda bem que a família que bateu no nosso carro é gente de bem e vai pagar todo o conserto que não será pequeno!! Tadinho do meu carro...

Quer dizer, estou sem carro sabe-se Deus até quando. Acredito que só o veja de novo em janeiro, mas, na verdade, quem sai no prejuízo é o namorado porque, como bom marido que é, ele é quem está sem carro, o dele fica comigo. Então, quando cheguei na creche para buscar o Miguel na quarta-feira e a tia me disse que tinha uma notícia ruim pra me dar, já comecei a me tremer. Sério. Essa semana está tão dura, tantos pepinos e acontecimentos totalmente inesperados que a adrenalina corre pelo meu corpo o tempo todo. Falei pra ela: "Ai, fala logo porque estou ficando nervosa. O que houve? Miguel está doente? Quebrou a perna?" Mente de mãe vai longe... Aí, ela virou o rostinho dele pra mim e me mostrou a marca da mordida na bochecha esquerda dele. O amiguinho foi dar um abraço e aproveitou para trocar o beijo por uma mordidinha... Nossa, a carinha dele inchada, com a marca roxa dos dentinhos... Mas ele estava bem, saltitante como sempre. Confesso que fiquei até aliviada ao ver que era "só" isso. Falei pra ela que não se preocupasse, eu compreendia que essas coisas acontecem mesmo, independente de com quem a criança esteja. Poderia ter acontecido sob minha supervisão. Talvez não seja a última mordida a ser levada na vida, foi apenas a primeira.

Pois é. E aí começo a refletir que a vida dos filhos é assim, que por mais cuidado que se tenha, existem coisas que precisam ser vivenciadas por eles e que não podemos impedir. Mãe tem mania de super herói, quer tornar a vida dos filhos a maior maravilha possível, mas temos que saber que não somos heroínas - embora mereçamos esse status - e que não vamos impedir todas as coisas erradas e tirar os obstáculos da vida de nossos filhos. Mesmo que fossemos onipresentes, onipotentes, não podemos cercar e proteger nossos filhos de algo muito maior que se chama 'vida'. E a vida ensina, da maneira que for. Se formos abertos a seus ensinamentos e resignados talvez não soframos tanto. Se formos mais rebeldes e inconformados, seus caminhos são mais tortuosos. Mas, no final das contas, ensina.

É isso aí. Meu filho vai ter que saber lidar com as mordidas da vida. Dessa vez a tia disse que ele foi pego de surpresa, não teve reação, ficou espantado e chorou. Da próxima, quem sabe saberá lidar melhor com a atitude do coleguinha? Talvez saiba até evitar. Fico eu na torcida, sempre pertinho dele, mas deixando que ele mesmo aprenda que a vida é assim. Foi a primeira mordida, mas não será a última.

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