terça-feira, 20 de março de 2012

O que realmente importa?

Semana passada estava assistindo ao programa da Ana Maria Braga enquanto tomava meu café da manhã e vi uma reportagem a respeito de uma família americana que estimulou sua filha desde a vida intra uterina. A mãe usou um tal aparelhinho sobre a barriga durante a gestação que emitia sons e tocava música clássica e a menininha hoje gosta muito desse tipo de música e já mostra certa habilidade musical. 

Depois de nascida, já com alguns meses, passaram a usar um outro aparelhinho que ficava grudado na garota durante o dia gravando tudo o que a menina falava - ou os sons que emitia. Depois, esses sons e/ou palavras eram tocados para que ela escutasse e, além disso, o aparelho conta quantas palavras a menina está falando por dia. E os pais estão mega felizes porque a menina, com 3 anos de idade, está falando mais de 3000 palavras por dia! 

Na boa, sem desmerecer a menininha fofa que parece mesmo ser bem inteligente, será que o fato de uma criança estar falando mais de 3 mil palavras por dia importa tanto assim? Einstein só falou aos 4 anos de idade.  Pablo Picasso era disléxico. Quer dizer, importa realmente que essa menina já fale pelos cotovelos? Talvez isso tranquilize um pouco os pais, talvez esses pais entendam essas "3 mil palavras" diárias como um sinal de que a criança é inteligente ou responde bem aos estímulos que recebe. Mas, como diz o namorado, "até papagaios falam" ... 

Quando somos pais, queremos tanto evitar o sofrimento dos filhos que pedimos a Deus que sejam inteligentes, que tirem notas boas, que falem logo, que andem rápido, que leiam com facilidade, que aprendam a ver as cores. Confesso que me deu certa agonia quando Miguel entrou na escola e vi que há crianças que já sabem identificar todas as cores e ele não... Sei que ele é um dos mais novos da turma, mas uma mãe nunca quer que seu filho fique "pra trás..." Eu procuro fazer um exercício diário pra não ficar comparando o Miguel com outras crianças, pra não entrar nessa doença - pra qual tenho certa tendência, devo admitir - de achar que meu filho tem que aprender ou tem que saber. Procuro me controlar pra não pressionar meu filho, pra respeitar seu tempo e suas virtudes naturais. Não posso me descabelar futuramente se meu filho não gostar de ler, por exemplo. Tenho que estimulá-lo e também procurar conhecê-lo melhor e descobrir quais são suas aptidões. Tive alunos com extrema dificuldade para o aprendizado da lingua inglesa, alunos que "voavam" a aula inteira e que se tornaram profissionais excelentes nas mais diversas áreas. Outros precisaram apenas de mais tempo pra aprender, pra maturar e conseguiram, em mais tempo, falar inglês maravilhosamente bem. Tive outros alunos que, realmente, não aprenderam, mas não são mal sucedidos e nem infelizes. Apenas encontraram um jeito, desenvolvendo mais outras aptidões, de contornarem essa dificuldade para falar um segundo idioma.

Acho que o maior aprendizado que tenho tirado desde que o Miguel nasceu, entre tantos, é a boa e velha frase que parece o maior cliché mas que é a maior verdade: cada pessoa e, nesse caso, cada criança, tem seu tempo. E que ser feliz não está diretamente ligado a quantidade de palavras que uma criança fala aos 3 anos de idade ou se já sabe identificar todas as cores. Ser brilhante não dá certificado de felicidade. Segundo o Budismo, "a virtude está no meio" e acho que é por aí mesmo, mas a gente vive em um mundo que valoriza demais os extremos, onde criancinhas prodígios são admiradas e aplaudidas, os pais adoram expor suas obras de arte e, assim, valorizam a si mesmos. Desculpem, mas eu detesto criança prodígio, detesto criança que age como adulto. Conheço pais que adoram dizer que a escola na qual seus filhos estudam já utiliza livro didático desde os 4 anos de idade, que os professores passam "dever de casa" todos os dias, que a escola é "puxadíssima" e que a alfabetização já se dá aos 5 anos de idade, não aos 6 como de costume. Falam isso como se estivessem realmente colocando seus filhos à frente dos demais, não param pra pensar que criança precisa brincar, que a escola tem que ser um lugar prazeroso, sem muitas obrigações nessa idade. A escola nessa idade, pra mim, deve ser um lugar onde a criança vai adquirindo auto confiança em si mesma, vai aprendendo a conhecer e confiar em seus amigos e professores, vai desvendando o mundo e vai crescendo respeitando o que está ao seu redor, vai ganhando amor pela natureza, vai descobrindo que o mundo não se resume a si próprio. Acho que devemos estimular muito nossos filhos mesmo, mas não podemos esquecer, na ânsia de ter "filhos nota 10" , que criança é criança e é legal que seja assim. 

6 comentários:

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    1. Andressa!! Que bom que você está por aqui!!! Boa sorte com essa barriga linda!!!

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  2. Fiquei muito feliz com seu post Ana, sempre leio, mas fico com vergonha de comentar pq não nos conhecemos pessoalmente. Mas me identifico muito com vc e com a nossa tafera de mãe. Ontem levei uma bronca enoooorme da odontopediatra pq o Thiago está aprendendo a falar agora, não está na escolinha...Olha, não tônem aí pro que os outros falam ou pensam. Faço o melhor que posso, e sigo os ensinamentos da minha falecida mãe para criar meu filho. Não há só uma maneira de criar filhos. Deus nos dá os filhos para criarmos com as "armas" que temos, e enfim fazer da melhor forma que sabemos. Seu filho é lindo, tem um sorriso de quem é feliz, isso é o que importa...~

    Beijos

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  3. Erika, fico feliz por você me visitar aqui de vez em quando e mesmo que a gente não se conheça pessoalmente somos unidas por estarmos vivendo as mesmas alegrias e angústias da maternidade.

    Às vezes, damos valor a tantas coisas que, no fim, não terão a menor importância. O que vale é saber que estamos sempre empenhadas em fazer o melhor pra nossos filhos: o melhor que nosso dinheiro permite, que nosso tempo permite, que nossas limitações permitem.

    Um beijo pra você e pro Thiago lindão!!!

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  4. Vaca moxa, tu bem já sabe que fui a ÚLTIMA a aprender a ler na minha turminha de alfabetização, né? Tive que ter aulas extras com a tia da escola, fui humilhada em frente a turminha pela mesma "tia" fdp, não ganhava o pirulito da lição enquanto todas as outras crianças ganhavam... Foi um parto! Lembro como se fosse hoje do meu pai dizendo que eu só iria numa tal festinha com minha mãe e irmão se conseguisse ler as malditas sílabas. E aí? Imagine se meus pais achassem que eu era uma anta-caso-perdido? Tô aqui hoje para mostrar que isso não tem nada a ver! Tanto que acabei, coincidentemente ou não, vindo trabalhar como jornalista por uma quantidade significativa de tempo. Relaxa com isso tudo. Esse povo que fica estimulando criança a ser isso ou aquilo na verdade quer é fazer de seu próprio filho um troféu. Love ya!!!!

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    1. Ai, Cacau... Que coisa... Pois é, sofreu tanto e agora está linda e escrevendo super bem, lendo livros às pencas!!! A vida é muito louca mesmo,né? Te amo.

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