terça-feira, 27 de agosto de 2013

Gente

Todos os dias quando entro na academia cedinho pela manhã fico me perguntando porque insisto em continuar fazendo ginástica alí. Acho que deve ser a pior academia do bairro. Se não for, está entre as piores. A musculação - que aboli da minha existência desde que Miguel nasceu - é um aglomerado de aparelhos antigos, em cima de um chão engruvinhado, em uma sala esquisita e pequena. Mas, como lá não dou às caras mesmo, nem me importo com tanta decadência. Mas a sala de ginástica também é um problema sério.
 
Voltei às origens quando decidi não fazer mais musculação. Risquei essa atividade chata da minha vida. E retornei para as aulas coletivas: localizada e box training. Mas a sala onde meus amigos e eu praticamos essas atividades é de amargar. O piso é cheio de buracos formados por pedaços do revestimento que já se soltaram. As paredes precisam de pintura. Há espelhos quebrados que ainda não foram repostos ou trocados e acho que nem tão cedo isso acontecerá. Os colchonetes começam a ficar rasgados. As barras e anilhas não se encaixam. Além disso, a sala parece ser usada como depósito porque nela residem instrumentos musicais e brinquedos infantis. Não me perguntem de quem porque não saberei responder. Quando temos água no bebedouro, não temos copo. Quando temos copo, não temos água. Dia feliz é quando temos os dois! Enfim, é um arremedo de academia. Por isso tudo é que me pergunto porque ainda estou lá. E, com certeza, o que me prende não é preço porque, embora minha academia seja bem em conta, é verdade, pagaria o dobro para eles investirem nas instalações.
 
A verdade é que não me prendo à objetos, coisas. Se meu carro está ruim, conserto ou troco. Não tenho apego a nada de material. Gosto de coisas boas, sim. Mas meu vestido preferido rasgou? Vou ficar tristinha e lamentar nos primeiros 5 minutos e depois vou colocá-lo na lata do lixo ou dar pra alguém que ache que pode remendá-lo e usar. Meu jeans maravilhoso está apertado ou largo? Não espero uma vida até emagrecer ou voltar ao antigo corpo pra caber nele. Passo pra outra pessoa. Minha vida é hoje. Eu me apego à pessoas. À pessoas me prendo, tenho dificuldade de dar adeus, tenho medo de ficar sem. E a minha academia é um lixão, tenho que admitir, mas é rica no que há de mais precioso na vida: gente da paz.  
 
Meus companheiros de aula são os mais divertidos. Cada um a seu modo. Tem a mais preguiçosa, tem mais jovem, tem mais velha, tem a que segue seu próprio ritmo, tem a que não fala muito e a que fala o tempo todo, tem a que malha pesado e quer sempre mais, tem a que não alonga. Tem a mais bunduda, a mais peituda, mais alta e mais baixinha. Tem a que nunca perde a conta de quantos exercícios já fizemos. Tem a que rouba na contagem. Tem quem chegue cedo, tem quem sempre se atrase. Tem quem faz cara de dor e reclama. Tem quem acha que é pouco. É uma diversidade linda. E como nos damos bem! Essa aula logo cedinho, é quase uma terapia, quase um ritual pra começar o dia com alto astral, quase uma garantia de que depois de tanta risada, tudo só pode correr muito bem. Os professores são maravilhosos. Não importa o que aconteça durante a aula, eles estão sempre encarando tudo com bom humor. Rodrigo grita, se enerva quando estamos muito atacadas, mas estimula e incentiva. Carlos morre de rir das nossas besteiras, mas é um cara aberto a ouvir nossas sugestões e a nos entender. E olha que ele ouve coisas que até Deus duvidaria...
 
O segredo dessa academia que é, aparentemente, uma porcaria se julgarmos apenas seu equipamento e instalações, são as pessoas que estão lá dentro. Gente boa, da melhor qualidade. Gente do bem, gente feliz e que quer continuar feliz. Gente que ri de si mesmo, gente que incentiva o outro, divide, partilha experiências. Gente que ensina e aprende. E é por isso que continuo por lá. É por gostar de gente, dessa gente com cara de sono. Dessa gente que faz meu dia começar lindo.
 
Taí. Eu gosto de gente. E é por isso que acho que ali é o meu lugar.









4 comentários:

  1. Oi Paula tudo bem! Vc não pensa em fazer tênis? Eu era muito sedentária e não gosto muito de academia. Por que vc não faz uma aula experimental para ver se gosta? Bjs Luciana Carvalho Reis.

    ResponderExcluir
  2. Luciana! Eu ainda não tentei tênis não... O Iate (onde sou sócia) é super cheio e só tem horário de quadra depois das 22h. Essa hora já estou indo pra cama! Beijos!

    ResponderExcluir
  3. Respostas
    1. Obrigada, Renata!!! Você também é... Mas isso você já sabe... Beijos!!

      Excluir