domingo, 22 de dezembro de 2013

Irmã - Prima






Todos os dias tenho uma lista imensa de agradecimentos a fazer, mas ultimamente tenho agradecido demais pela existência da Rafa na vida do Miguel. Meu filho não tem muitos primos de primeiro grau: são 4. Desses quatro, três já são maiores. O Lucas já está com 17 anos, a Natália com 15 e a Duda fará 14 anos agora em janeiro. Esses são os primos que mimam o Miguel, que protegem, que fazem tudo o que ele quer. E aí sobra a Rafa.

Rafaela tem 10 anos, são 6 de diferença pro Miguel, mas é uma moleca. Gosta de brincar com ele e tem com o Miguel uma relação de irmãos mesmo: brigam o tempo todo mas querem estar junto o tempo todo também. Rafa mete a porrada no meu filho, depois já estão aos beijos. Miguel implica com a Rafa, faz de tudo pra irritá-la e consegue, na maioria das vezes. Mas o que seria do Miguel sem a Rafa? 

A Rafa é a prima-irmã que faz o Miguel entender que não é o centro do universo, que, apesar de filho único, existe disputa por espaço e que ele nem sempre é o mais forte. Graças a Rafa meu filho sabe lutar pelo que quer, sabe competir e está aprendendo a saber perder. A presença da Rafa na vida do Miguel é uma dádiva, um presente de Deus pra mim que não pretendo ter mais filhos. Se hoje luto pra meu filho não virar um desses monstrengos mal educados que vemos todos os dias por aí, não luto sozinha. Eu tenho a Rafa pra me ajudar. Sem saber que me ajuda, a Rafa está contribuindo pra meu filho se transformar em um ser humano melhor. 

Miguel responde sempre, quando é perguntado a respeito de querer irmãos, que não precisa deles porque já tem "prima". A relação deles é tão próxima quanto a de dois irmãos mesmo. Rafa é carinhosa com ele, pega em sua mão, quando os deixo na escola, para que subam juntos as escadas. Rafa carrega a mochila do Miguel. Rafa também bate e grita com ele. Diz que ele é chato e outras coisas mais... Mas se amam muito e não se desgrudam. Por isso, hoje, só quero agradecer a Deus por a Rafa existir!

sábado, 21 de dezembro de 2013

Bichos










Nunca fui amante de bichos. Nunca quis tê-los quando criança. Esse querer sempre foi o da minha irmã, que sempre adorou bichos e, por causa dela, sempre os tivemos em casa.

Nosso primeiro bichinho foi um cachorrinho muito fofo, todo pretinho, a quem batizamos de Veludo. E ele era o cão mais gostosinho ever! E talvez seja ele o responsável por eu nunca mais ter me apegado a bicho algum depois que ele morreu, quando eu devia ter uns 8 anos. Depois dele, tivemos papagaios, canários, rato branco (eca!!) e até micos. E voltamos a ter cachorros também. Kika e Sofia eram nossas poodles e tivemos uma Sheepdog, a Amine. Ainda tivemos a Godiva, que passou por quase todas as casas da família e veio pra ficar aqui com a gente. Godiva era muito esperta, também poodle, mas ao contrário de todos os cães dessa raça, não latia, era calma e não perturbava ninguém. Parecia até que sabia que não podia incomodar, porque estava sempre correndo um sério risco de ser mandada pra outra casa de repente. Tem vezes que acho que cachorro só não fala pra não ter que trabalhar, como já dizia meu pai.

Todas essas cadelinhas morreram de velhas e jurei que nunca mais queria bichos em casa. Não é nem por mim porque nunca cuidei de nenhum desses bichos mesmo. É pela minha mãe que se apega e sofre, o que é perfeitamente natural quando se convive com esses seres tão carinhosos. Sofia era apaixonada por minha mãe. De um jeito que quando minha mãe tinha crises de coluna e passava as noites em claro, Sofia também não dormia e ficava ao lado dela o tempo todo sem pregar os olhos. A Amine gostava de tirar um soninho da tarde no quarto com meu pai. Mal meu pai acabava de almoçar, ela já olhava pra ele e começava a andar a caminho do quarto. Chegando no quarto olhava pro meu pai e pro ar condicionado e seguia fazendo isso até meu pai ligar o aparelho. E dormia feliz com o fresquinho.

A Kika dormia na cama com meus pais e gostava de ficar colada às costas do meu pai. Não importava o quanto meu pai chegasse pra beirada da cama, a Kika sempre chegaria pra perto dele. Quando meu pai morreu, Kika cansou de ir até a garagem verificar se, de fato, meu pai não tinha vindo. Era como se esperasse pela volta dele a qualquer momento. E, desde o dia de sua morte, Kika não subiu mais na cama dele. Nunca mais a Kika dormiu na cama com a minha mãe. 

Por essas e outras é que sei o quanto um bichinho é amigo da gente e o quanto é gostoso ter um por perto. Só que não tenho tempo e nem paciência pra cuidar. E, se não vou cuidar direito, prefiro não ter. Nunca maltratei um bicho, mas se não posso tratá-los do jeito que merecem, prefiro não tê-los. Por sorte, minha irmã e meu cunhado - loucos!! - decidiram ter em seu apartamento uma cadela muito fofa demais, uma American Staffordshire Terrier, que é grande. E o Miguel ama essa cachorrinha demais. Enquanto ele se diverte com a Leda, não insiste muito em ter seu próprio cão. Ele já me pede um cachorro e diz que "adora cachorro grandão!". Mas isso não está, definitivamente, em discussão. Não terei mais bichos em minha casa e isso é certo. 

Miguel gosta muito de bichos e convive com os cães desde bebê porque a Godiva ainda era viva quando Miguel nasceu. A bichinha sofreu na mão dele e, por isso, Miguel nunca teve medo. Ele se enrosca com a Leda, persegue a bichinha o dia inteiro quando minha irmã a deixa aqui em casa e se diverte muito. Uma coisa é certa, bichos são como crianças: alegram uma casa, enchem de vida. E também dão trabalho. Mas dão muito amor, muito carinho em retorno. Dá gosto ver a carinha do meu filho enquanto brinca com a Leda. Dá gosto de ver essa amizade entre gente e bicho. E isso está claro até pra mim.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Porque envelhecer é vida




Outro dia ouvi alguém me perguntar se eu não pensava em fazer um lifting, uma cirurgia de pálpebras, bolsas de gordura abaixo dos olhos, silicone e por aí foi... Minha primeira resposta foi dizer que não, não penso, ainda, nessas possibilidades embora não as descarte caso venha a ser algo que me incomode. Mas aquelas perguntas - ou seriam sugestões? - me deixaram com uma sensação estranha, como se alguém estivesse vendo algo em mim que até agora eu não tinha visto. 

Tenho 42 anos e não fico me esforçando para parecer mais nova porque sou uma mulher de 42 anos e não 25. Talvez, por isso, receba tantos elogios e caras de surpresa quando falo, abertamente e sem o menor constrangimento, minha idade. Sou, junto com outra mãe do grupo de mães da turminha do Miguel, a mais velha. E não sinto diferença nenhuma entre mim e qualquer uma delas, nem fisicamente, nem mentalmente. Não sinto a diferença de até 15 anos que me separam dessas outras mães. Ao contrário, acredito que a idade só vem me trazendo muitos pontos positivos. Tantos, que me prender em aspectos físicos torna-se banal, até bobo. 

Mas a gente é obrigada a viver em uma sociedade em que uma mulher de 40 tem que parecer ter 30. Uma mulher de 30 tem que parecer ter 20 e por aí vai. E isso é muito lamentável. Eu sou uma mulher de 40 e é isso aí. Tenho rugas? Sim. Flacidez? Sim. Minha pálpebra começa a cair? Sim. Mas não tenho obrigação com ninguém de querer entrar na faca. A única obrigação que tenho é comigo mesma: a de me olhar do espelho e ser gentil com o que vejo. A de me olhar no espelho e agradecer por minha aparência. A de me olhar do espelho e ver que meu corpo não é mais o mesmo de 20 anos atrás, e daí? Não poderia mesmo. Esse meu corpo me permitiu fazer dança toda a minha infância até o início da vida adulta. Um corpo castigado com sapatilhas de ponta e treinos e ensaios sem fim. Um corpo que me permitiu chegar até aqui. Um corpo que passou por uma gestação: esticou, inchou, encolheu. Tenho seios que amamentaram e viraram bolas de basquete pra depois virarem bolinhas de ping pong. Mas é um corpo MUITO meu. 

E meu rosto? Ah, esse rosto já riu horrores... De tantas besteiras, de tantas situações hilárias. Já chorou também. Demais. Choro demais até hoje. Emociono-me, entristeço, saro. Pra rir de novo. E minhas rugas e marcas que, lógico, às vezes me assustam por estarem, sim, chegando, são minhas provas do tanto que estou vivendo. Então, sinto-me totalmente livre pra assumir meu rosto sem nenhuma plástica, sim. Faça-me o favor! E fico me perguntando em que mundo certas pessoas vivem... Um mundo onde se fala de procedimentos cirúrgicos (estéticos) com uma naturalidade espantosa. Como se entrar na faca fosse como uma ida à farmácia da esquina. Como se natural fosse ter peitões siliconados, como se aberração fosse chegar aos 40 sem silicone. 

Acho que qualquer um tem o direito de se sentir bem e livre. Se ter peitos pequenos está impedindo uma pessoa de se relacionar socialmente, se ter uma barriga flácida está atrapalhando a vida de uma pessoa, ou ter seios enormes está gerando uma série de transtornos na coluna ou até mesmo pras roupas caírem bem, sou a favor de procedimentos cirúrgicos. Sou a favor de tudo que faça uma pessoa feliz, que faça com que vivamos melhor. Sem neuroses. Afinal, a medicina está evoluindo pra isso. Mas não vou considerar a possibilidade de mexer no meu rosto apenas porque estou com 42 anos e a maior parte das mulheres, hoje, entra nessa de ter que parecer bem, gostosa, mais nova, "inteira". Eu sou única. Eu sou especial. Cheia de defeitos: uns sempre tive, nasceram comigo. Outros ganhei ao longo do tempo. E eu gosto deles. Quando chegar o dia em que me olhar no espelho e só conseguir notar as bolsas de gordura abaixo de meus olhos gritando, nesse dia, por mim e por mais ninguém, procurarei um cirurgião plástico sem medo de ser feliz. Por enquanto, continuo me achando linda e poderosa. E ninguém dessa sociedade louca vai me convencer do contrário. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A porta da escola



Quantas vezes a gente se preocupa com coisas tão pequenas e acaba se esquecendo de que tudo passa nessa vida. Os pais da gente falam isso o tempo todo e, na maioria das vezes, não damos atenção ou não acreditamos porque estamos tão envolvidos em determinada situação que não conseguimos colocar nem o nariz pra fora e abrir os olhos pra enxergar o que é muito certo: nada dura pra sempre. Nem bem e nem mal.

Lembro que quando Miguel era um bebezinho de uns 2 meses, em uma das muitas noites insones que passei com ele, o menino não parava de chorar. Estava com muita cólica e gritava demais e eu já não sabia o que fazer porque todas essas besteiras que ensinam pra gente (funchicórea, colocar o bebê no peito da mãe/pai, saco de água morna perto da barriguinha, massagem) não davam certo, não faziam meu filho calar a boca e voltar a dormir. Nada que o Hugo tentava adiantava. Nada que eu fazia calava o garoto. Minha mãe, que raramente se levantava do quarto dela pra ver o que estava acontecendo, resolveu vir nos acodir. Eu estava em um estado lamentável, a ponto de chorar também. Minha mãe entrou no quarto do Miguel e falou:

- Nossa, filha, Miguel hoje está chorando muito, né?

Eu, maluca já, nem me dei ao trabalho de responder. Saí gritando feito pessoa perturbada mentalmente:

- "Eu não aguento mais, mãe! O que foi que eu fiz da minha vida??? Eu quero minha vida de volta!!! Não aguento mais, não aguento, não aguento... 

Minha mãe, percebendo que se tratava de uma séria crise de desespero, calmamente me disse pra passar o bebê pra ela. Pegou o Miguel no colo e começou a conversar comigo como só as mães sabem fazer:

- Minha filha, você está muito cansada. Precisa arranjar um jeito de dormir durante o dia ao invés de ficar resolvendo as coisas do trabalho. Mãe precisa dormir quando o bebê dorme. Não fique nervosa assim. Paula, tudo passa nessa vida. Essa fase vai passar também. Acredite. Agora sai daqui e vai tomar uma água. 

Fui beber água com uma única palavra martelando na minha cabeça: QUANDO? Quando isso passa? Quando vou deitar e dormir uma noite inteira de sono? Quando, meu Deus? Quando? Interrompendo meus pensamentos contínuos de quando, quando, quando, lembrei-me da minha irmã me falando que depois dos 2 anos melhora muito. Putz! Pra que, no meio dessa situação limite fui me lembrar disso? Depois dos 2 anos? Gente, mas o menino estava com 2 meses!! Naquele momento, me pareceu uma eternidade essa espera pra recomeçar a viver. 

Entrei no quarto e depois de uns 40 minutos, já mais calma, falei pra minha mãe que me devolvesse o Miguel e que fosse dormir. Eu já estava mais tranquila e ela não precisava ter medo que eu fosse cometer alguma insanidade. Minha mãe, como tantas outras vezes ao longo de sua vida, me resgatou naquela noite. E, como tantas outras vezes também, me disse com toda sapiência, que passaria. E passou.

Hoje quando fui levar o Miguel na escola, quando saímos do carro, ele me disse que queria ir sozinho. Achei que fosse fogo de palha porque ele tem ido pra escola com a prima nessas últimas duas semanas e como hoje a prima foi um pouco antes, imaginei que fosse querer minha companhia até a quadra da escola. Não dei ouvidos e peguei sua mochila pra entrarmos juntos. Só que Miguel não é criança que se finge não escutar. Meu filho se faz ouvir. Muito firme, repetiu:

- Mãe, eu disse que quero ir sozinho. 
- Tudo bem, filho, só vou até a porta da escola, tá? 

Coração apertado, achando que na última hora meu filho iria pedir que subisse com ele, entreguei sua mochila. Miguel pegou sua mochila com uma mão, o boneco do Ben 10 com a outra, olhou pra mim e disse do alto de seus 4 anos:

- Tchau, mãe! 

Me abaixei rapidinho antes que esse homenzinho fabricado por mim me virasse as costas e disse o que sempre digo antes de me despedir e de dar-lhe um beijo:
- Te amo, filho. Fica com Deus. 
- Também te amo, mãe.

Dei-lhe um beijo naquela bochecha gostosa e fiquei parada na porta da escola olhando meu filho subir. Coluna reta, não olhou pra trás nenhuma vez se quer. Muito senhor de si e da decisão tomada. 

Eu com cara de pastel. E eu, que há pouco tempo escrevi aqui um post justamente sobre a chegada do dia em que meu filho não precisaria mais de mim pra acompanhá-lo até a porta da sala de aula, me vi assistindo de camarote a chegada desse dia, um pouco mais cedo que eu esperava, é verdade. E, como manteiga derretida que sou, chorei. Definitivamente, a porta dessa escola, testemunha do desenvolvimento do Miguel e de muitas das minhas lágrimas, é quase como minha mãe me dizendo que tudo passa. E que tudo tem seu tempo. 

Voltei pro meu carro caminhando devagar, ainda com meus pensamentos no meu filho. Pra que tanta preocupação boba se o tempo é o senhor da razão? Pra que comparar uma criança com outra? Pra que acelerar tanto independência se estou criando meu filho exatamente pra que seja independente e essa independência vai chegar, inevitavelmente, mais dia menos dia? Se cada ser tem sua velocidade pra vida ... Se cada um tem sua cota de paciência e seus prazos e limites pessoais... 

Abri a porta do carro, entrei e dei partida. Meu filho está crescendo. E eu estou vendo cada detalhe desse processo entre risos e lágrimas. E estou gostando. Muito.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Carrots, tomatoes, potatoes ...




Minha visita à sala de aula do Miguel foi muito legal! Dizer que fiquei nervosa parece lugar comum pra uma pessoa que, mesmo sendo professora desde os 20 anos de idade, sempre fica nervosa antes do primeiro dia de aula. Sempre tive um frio na barriga antes de entrar na sala pra conhecer uma turma nova e acho que isso não mudará com o tempo. Então, imagina que eu estava naquela responsabilidade de fazer uma coisa que agradesse a todos e, ao meu maior crítico, meu filho. 

Escolhi uma histórinha bem simples de um avô que vai com o neto ao mercado pra comprar cenouras, tomates e batatas. Aproveitei pra falar que eles moravam em um país diferente do nosso e que falavam outra lingua. Estevão teve logo uma história pra contar de alguém que ele conhece que não fala inglês e que não entende nada que os outros dizem. Aninha disse que sabia cantar uma  música em inglês. O Enzo me mostrou logo que sabia também algumas cores em inglês, assim como a Ana Elíria e o Leo. Cada um com seu jeitinho, tornaram a aulinha muito especial. As duas Sofias, assim que eu cheguei e estava arrumando as coisas pra começar, se jogaram no chão pertinho de mim e levantaram minha calça comprida pra olhar a tatuagem que tenho no pé e que estava escondida pela sandália que eu estava usando. Depois, todos se sentaram em roda junto comigo e ninguém quis sair antes de ter participado e respondido uma perguntinha pelo menos. A Pietra estava mais quietinha, mas respondeu tudo certinho. A Bruna olhava pra mim sempre sorridente.  

Ensinei, também, durante a historinha, a contarem de 1 a 3. Antes de ensinar a musiquinha que era bem simples e que tinha apenas as 6 palavrinhas que aprenderam, fiz algumas atividades pra fixar melhor as palavras e pra descontrair. Quando chamei o Renan pra participar, lá veio ele com aquela carinha gostosa ... Ai, que vontade de apertar! Respondeu baixinho mas tudo certo! Henrique esperou calmamente a vez dele e respondeu sem pensar muito quando perguntei quantos tomates apareciam no meu cartaz: "Three tomatoes!" Felipe e Eduardo não se aguentavam de vontade de que chegasse a vez deles logo, levantaram o braço várias vezes pra serem escolhidos a participar. Ryan repetia, insistentemente: "Eu ainda não fui! Eu ainda não fui!". Só sossegou quando o chamei. Nicole e Gabriela são uma graça, esperaram quietinhas a vez chegar. O Victor falou "carrot" tão bonitinho que deu vontade de colocá-lo no colo! E o Guilherme? Gente, que garoto todo fofo e responsável. Parece até mais velho que os outros porque parece mais maduro, sabe? Se comporta como um homenzinho. Uma pena o Pedro e a Laura não estarem presentes. 

Nossa, como essa turma do Miguel é cheia de crianças lindas e inteligentes. É, realmente, um presente pra qualquer professor! Como a Grazieli diz, são meninos e meninas cheios de vida, muitos perspicazes, carinhosos e espertos. E são muito participativos e receptivos a tudo o que é proposto. Ninguém se nega a participar, ao contrário, todos querem responder, mostrar que estão ali, observando tudo. Sempre com carinhas muito felizes e sorridentes. Uma coisa posso afirmar: a pronúncia deles foi muito fofa!! Repetiram tudo muito certinho! Prova de que aprender cedo é muito bom e fácil!

Na hora da música, todos cantaram direitinho e o Estêvão foi logo levantando pra começar a dançar. Miguel estava muito feliz. Com cara de orgulho e um pouco metidinho por ter chegado, finalmente, a vez de ele ter a mãe perto dele na escola. Quando acabamos de cantar bem alto a música depois de várias vezes, Miguel pegou os cartazes que levei e ficou me imitando, fazendo com os amigos o que eu havia feito antes. 

Pra terminar, levei um bolo de cenoura porque tinha tudo a ver com a história que contei do menino que não gostava de comer cenoura. A vovó dele, então, pedia sempre pro vovô comprar as cenouras no mercado pra que fizesse o bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Contei pra eles que o bolo era o bolo da vovó do Bill (menino da história) e todo mundo comeu e repetiu! Além de lindos, eles são gulosos também! Manuela ficou passando a mão nos meus cabelos enquanto Grazieli organizava a saída. E ainda disse que meus cabelos são lindos!  

Saí de lá com uma sensação gostosa de dever cumprido e ainda ganhei desenhos de todos da turminha. Miguel ficou muito feliz e eu mais ainda. Meu filho tem muita sorte de estar em uma turma com tantas crianças gostosas e educadas. Eu espero que a amizade deles dure uma vida porque todos são muito especiais. Só posso agradecer a chance que tive, dizer que foi muito divertido e deixar claro que eu ensinei muito pouco perto do carinho que recebi! 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Pais na escola

A escola do Miguel tem uma filosofia muito legal de integrar sempre os pais e alunos dentro da escola. Por isso, eles sempre convidam os pais das crianças para marcarem um dia e desempenharem uma atividade dentro de seu ramo de atuação profissional ou não (pode ser algo que saibam fazer) para desenvolver junto com as crianças da turma. Minha irmã é nutricionista e já foi várias vezes pra falar de alimentação saudável, meu cunhado já fez experimentos químicos. Na turminha do Miguel já teve pai indo tocar violão pras crianças, pais dentistas falando sobre a importância da higiene bucal, pais que foram contar histórias e, é claro, muitos pais fazendo bolo, pão, sanduíche natural.

Há muito tempo Miguel me pede pra ir na sala dele pra fazer alguma coisa. Ele vê tantos pais indo e gostaria que eu fosse também. Só que eu imagino que as professoras devem me ver sempre na correria e evitam ficar me pedindo pra marcar um dia pra ir, afinal, elas não devem querer complicar ainda mais minha corrida rotina. Só que eu sempre quis ir e já tinha me voluntariado no ano passado (sem ser convocada) e continuei me voluntariando esse ano. Acho que, no fundo, tenho uma necessidade de mostrar que sou capaz de dar conta de tudo, sabe? De trabalhar, de ir na escola, de ser tão participativa na vida do meu filho como qualquer outra mãe que não trabalhe fora de casa. Mas minha culpa de mãe que trabalha fora é assunto pra minha terapia. Voltando ao foco do post, finalmente, chegou a minha vez: essa semana, na quinta-feira, é o dia da minha visita à turminha do Miguel. 

Acontece que algo está me preocupando. Como sou professora de inglês, nada mais coerente que procurar ensinar alguma coisa nesse idioma. Vou contar uma história, ensinar, dentro do contexto da história, algumas palavrinhas em inglês e vou ensinar uma musiquinha também. Só que Miguel quando soube que eu ia, perguntou se eu iria fazer pão de queijo na sala de aula. Oi? Como assim, pão de queijo? Respondi a ele que não e expliquei o que faria. Ele não gostou muito. Disse que queria mesmo que eu fizesse pão de queijo pra ele e pros amigos. Deixei pra lá.

Na semana passada, quando ficou acertado o dia e horário pra eu ir até a escola estar com as crianças, Miguel veio com o papo, novamente, de qual a comida que eu vou fazer na sala de aula. E me pediu pra fazer um bolo de chocolate. Ai, meu Deus... Expliquei tudo de novo e ele ficou calado. Resolvi falar com a professora pra conversar com ele, porque do jeito que a coisa está indo, muito provavelmente vou chegar na escola toda feliz pra ensinar uma musiquinha em inglês e ele vai ficar frustradíssimo porque, na verdade, o que ele quer é que a mãe faça alguma comida assim como todas as outras mães. 

Quando Miguel chegou da escola na sexta-feira passada, perguntei se a Grazieli tinha conversado com ele a respeito do tema do meu encontro na escola. Ele disse que sim e que ele ficará muito orgulhoso de mim e que vai me cobrir de beijos. Achei fofo, fiquei até mais tranquila. Até que... No final da conversa, depois de ficar caladinho por uns 2 minutos, Miguel virou-se pra mim e disse:

- Mas, mamãããããaee...... Você não poderia fazer, TAMBÉM, um bolo de laranja?????

Quem aguenta uma coisa dessas? Eu sou uma das únicas mães que não fará algo de comer pras crianças, serei diferente e tudo o que meu filho quer é que eu seja igual a todas as outras. E agora, José? Bom, decidi que vou fazer a atividade que sei fazer e que, no final, vou servir um bolo de laranja. Acho que, assim, conseguirei agradar a todos. Depois eu conto como foi. Que Deus me ajude!!

sábado, 23 de novembro de 2013

Presente pra mim



Nenhum pai ou mãe gosta de escutar queixa dos filhos. Embora a gente saiba que é inevitável, nossos filhos fazem ou farão besteira em algum momento da vida - ou em vários -, mas ouvir de terceiros que o filho fez uma coisa errada é sempre algo constrangedor ou frustrante. Eu tento pegar essas oportunidades e transformá-las em caminhos para mostrar o certo e o errado, para entender o que passa pela cabeça do meu filho. 

Não posso me queixar do Miguel: sei que é levado, não é santo, mas é um garoto que já mostra saber o que é respeito. Ano passado, a professora do Jardim I - a querida Chris - falou comigo e com o Hugo umas 3 vezes por conta do uso de palavrões em sala de aula. Morri de vergonha, o Namorado ficou com cara de pastel murcho,  mas com a ajuda dela e a gente mais em cima com relação a isso, esse problema não acontece mais. Pelo menos, não esse ano. Miguel ainda fala palavrão e acho que não vai parar de falar tão cedo uma vez que escuta muito em casa. Eu sei, eu sei... Isso não é um bom exemplo. Mas o que tento passar pra ele é que até pra falar palavrão precisamos ter inteligência. Precisamos saber onde e quando empregar um palavrão. Como escuto Miguel falar palavrão de vez em quando, acredito que ele tenha aprendido que escola, definitivamente, não é lugar para soltar seu vasto repertório de palavras feias. 

Há alguns dias, conversando com uma grávida muito querida, recebi um dos maiores presentes que uma mãe pode receber. Não sei se essa pessoa tem noção do bem que me fez e do quão emocionada eu saí daquele encontro com ela... E estou aqui pra deixar claro isso, pra agradecer por suas palavras. 

Essa minha amiga está grávida de um menino, está com um barrigão enorme, lindo. E, conversando com ela a respeito disso, sobre as expectativas que as mães têm antes do nascimento de um bebê, eu recebi um presente sem tamanho quando ela disse pra mim que gostaria que o bebê dela fosse como o Miguel. Fiquei surpresa e resolvi perguntar porquê. E ela respondeu:

- Paula, eu gostaria que meu menino fosse como o Miguel porque seu filho é um garoto levado, sim, mas é extremamente educado, respeitador, pede desculpas quando erra (mesmo que faça de novo a besteira depois...). É um menino muito carinhoso e, principalmente, é um garoto que resolve suas coisas sozinho, não solicita ajuda o tempo todo, é muito "safo" e não chora por tudo, nem quando brigo sério com ele! Ele aguenta firme e procura resolver suas questões sem fazer queixa dos outros a todo instante. Por isso tudo é que eu gostaria que meu filho fosse como o Miguel.

Não chorei na frente dela, me segurei. Mas meus olhos ficaram marejados e saí dali pisando em nuvens de tanta felicidade e cheia como um balão de gás de tanto orgulho. Mãe, definitivamente, é o ser mais bobo que existe no planeta. E também o mais especial.

Sei que ainda vou ouvir a respeito de muitas vitórias do meu filho, assim como estou me preparando para ouvir muitas derrotas e tropeços. Estarei ao lado dele para ajudar, apoiar, tentar mostrar o caminho. Mas, por hora, só quero agradecer a essa futura mamãe pelo momento feliz que proporcionou-me dizendo isso. Ela poderia ter guardado pra ela... Talvez ela não saiba o quanto me fez feliz. Quero agradecer muito aos céus pelo presente que veio do meu encontro com o Namorado: esse menino levado e fofo. E, sem falsa modéstia, quero dizer pra minha amiga que eu acho que ela tem toda razão de querer ter um filho como o meu Miguel!!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Amor incondicional

Eu não conhecia esse tal de "amor incondicional" até ser mãe. Sempre acreditei que pra todo sentimento deve existir uma via de mão dupla. Mas com filhos a coisa é diferente mesmo. Esse amor que dá, dá e dá de novo, sem esperar nada. É claro que a gente fica feliz quando ganha uma retribuição... Que pode ser um sorriso. Feliz quando ganha um beijinho. Feliz quando ganha um abraço apertado. E, assim, descobrimos que a felicidade mora em coisas tão pequenas. E descobrimos que essas coisas simples são as que mais valem. E nos descobrimos melhores e mais fortes, lutando pra sermos especiais.

Ter decidido ser mãe foi uma das melhores coisas que fiz em minha vida. Quanto aprendizado, quanta batalha, quanta descoberta. Vivo uma luta diária pra deixar aqui um homem lindo, do bem, com uma energia gostosa de sentir. Eu e o Namorado lutamos muito contra nossa condição humana e, é claro, contra nossos muitos defeitos, para sermos bons exemplos pra nosso filho. Lutamos para que, um dia tendo asas, Miguel voe livre, mas que saiba que terá em nós seu porto seguro. Minhas orações são para que mesmo adulto ele saiba que em meus braços ele sempre encontrará conforto. Que em meus beijos ele tenha sempre um gosto doce quando a vida ficar azeda. Que em meu colo ele se sinta aquecido quando lá fora estiver frio. E que, ao meu lado, ele tenha a certeza de que o amor é o melhor caminho pra essa vida louca. 

Assim, nesse sentimento constante de conseguir criar meu filho pro mundo, mas mentalizando e desejando muito que nossos corações se mantenham sempre coladinhos, é um alento e uma inundação de esperança para mim saber o que aconteceu ontem com minha amiga Leticia e sua Isabella. Isabella é a filha da Lê, mulher feita, linda por dentro e por fora, criada nos moldes que aplico ou que tento aplicar em casa. É maravilhoso saber que o amor dá certo. E vou dividir com vocês, mães que têm as mesmas preocupações que eu, a mesma vontade de ampliar os horizontes de nossos filhos rezando para que eles nunca deixem de ser nossos. Sim, pra sempre nossos bebês. Deixo com vocês as palavras da Letícia...

A bebê da Letícia



"Eu acompanho a luta, o prazer e a dedicacao das minhas amigas que tem filhos pequenos atraves do facebook. E tambem acompanho a preocupacao delas em como cria-los para serem bons seres humanos, independentes, dignos, mas que mesmo tendo crescido nao percam a essencia de serem sempre os seus bebes.
Bebes com asas, porque uma hora terao alcado voos, mas bebes!! E hoje aconteceu uma coisa que me levou a esse momento!!!
Minha filha estava agoniada e nao conseguia dormir. Ai, me pediu pra deitar do lado dela na cama so para ela ter a paz necessaria para pegar no sono...Sem nenhum tipo de vergonha ou qualquer outro sentimento...So queria a mae, a confianca, o amor e o carinho!!!
Como cantar boi da cara preta seria assim...sei la...,kkkkk cantei baixinho "como nossos pais" e ela foi pegando no sono ate que dormiu nos meus bracos.
E eu? Ah, eu? ....Eu agradeci a Deus por te me dado esse momento lindo e vim aqui com os olhos cheios d'agua dizer a voces que continuem se preocupando com isso sim, porque eh possivel."








quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Miguel e o Papai Noel






Com toda a minha chateação e correria por causa do furto do meu celular, até esqueci de comemorar o fato de que meu filho, finalmente, tem foto com o papai Noel!! 

Pois é, depois de tentantiva após tentativa em todos os Natais de sua existência, conseguimos que Miguel se aproximasse do bom velhinho. E isso aconteceu no fatídico dia do furto do celular. Aliás, fui ao Rio Design Barra especificamente com essa intenção: a de tentar tirar a tão esperada foto. Por sorte, tiramos com o celular do Hugo porque se tivesse sido com o meu, além de perder o aparelho teria perdido as tão esperadas fotos. 

Realmente, toda criança tem seu tempo e precisamos esperar esse tempo. Miguel nunca quis se aproximar do Noel e sempre respeitei, mesmo querendo tanto ter a foto do meu bebezão com o gordinho barbudo. O que mais vi, enquanto estava na fila, foi criança berrando por não querer tirar a foto e pais insistindo e, pior, colocando as crianças a todo custo no colo do velho. Aí pergunto eu: a foto fica uma beleza, né? A criança com aquele bocão aberto, olhos fechados chorando estericamente, morrendo de medo e desconforto por estar com quem não quer, onde não deseja. Foi muito bom eu ter passado os outros quatro Natais sem foto do Miguel com o papai Noel, foi bom eu ter dado tempo a ele. Dessa vez foi bem simples. Miguel ficou na fila sem medo e não só tirou a foto como conversou com o papai Noel pra fazer suas muitas recomendações a respeito dos presentes de Natal. 

Eu fiquei bem orgulhosa do meu homenzinho. Esse Natal não vai ser igual àqueles outros quatro que passaram... Que delícia!! Feliz Natal!

domingo, 17 de novembro de 2013

Tchau, celular.

Miguel tinha 6 meses a última vez que havia sido assaltada. Com ele em meus braços e o ladrão arrancando minhas pulseiras de ouro, não me senti perdendo nada porque meu filho continuou no meu colo e ele é o que há de maior valor na minha vida. Vi o perigo, olhei nos olhos dele, vi sua cor, seu tamanho, e o vi também se afastar de mim. O consolo foi imediato.

Dessa vez, me senti muito estranha, triste até. É difícil digerir alguém tirar algo de dentro da sua bolsa enquanto você está distraída pegando seu filho no parquinho pra levar ao banheiro. Assim, sem você ver nada, sem saber como foi que a pessoa conseguiu enfiar a mão na sua bolsa sem você notar, fazendo você se sentir uma idiota estúpida. Mais difícil ainda é você saber que seu celular furtado está no mesmo local que você, que o satélite mostra que vocês continuam no mesmo endereço, e não conseguir recuperá-lo porque ninguém tem boa vontade pra isso. Ficar mais de uma hora mostrando pra segurança do shopping as imagens do rastreamento dos celulares, meu e do Namorado, uma imagem atualizada a cada 30 segundos, prova de que o objeto do furto continuava alí, pertíssimo de nós e não ter ajuda de fato, é desgastante. 

Ficamos 1 hora e 30 minutos tentando, sem sucesso, que o gerente da loja, pelo menos, investigasse. Nada. Até me coloco no lugar dele, enxergo sua posição difícil quando todos os funcionários diziam que não tinham visto nada, mas meu celular estava ali. Ainda pedimos pra que observassem as câmeras do shopping - havia uma exatamente no local onde tudo aconteceu - e a pessoa responsável apenas nos disse que nas imagens não viu nada demais. Como haveria de ver algo demais se em nenhum momento perguntou pra confirmar se a vítima em questão era essa loira aqui, vestida com camisa e calça brancos? Quando perguntamos se nós poderíamos ver as imagens, disseram que apenas com ordem judicial. 

Enfim, depois de 1 hora e 30 minutos, indo de um lado pro outro feito barata tonta, falando com Deus e o mundo pra tentar que alguém nos ajudasse, desistimos. Miguel já estava cansado e com fome, sorte a nossa minha sogra ter nos acompanhado nesse "passeio". Miguel, definitivamente, é uma criança muito boa. Aguentou firme o tempo todo, andando com minha sogra pra lá e pra cá, esperando que aquela novela tivesse um final feliz. Saí do Rio Design Barra deixando meus dados no concierge para que me devolvessem o aparelho se alguém o encontrasse. Queriam que eu realmente acreditasse que eu estava vendo imagens de satélite de outro mundo e que meu celular não estava dentro do shopping.

No dia seguinte, fui tentar comprar outro celular, afinal como ficar sem comunicação quando se tem tanto pra fazer todos os dias? Mas acabei optando por comprar o aparelho pela internet porque o preço estava melhor. Ficar sem celular por 1 semana não será o fim do mundo. Fim do mundo é você se sentir culpada por não ter prestado atenção a tudo. Fim do mundo é você repassar a cena milhões de vezes na sua cabeça tentando entender onde poderia ter feito diferente. Fim do mundo é me sentir impotente diante de tanta gente ruim que existe na Terra e, pior, tanta gente sem disposição pra lhe ajudar, de verdade. 

Quando entrei em casa vinda da rua sem o celular novo nas mãos, a primeira coisa que o Miguel perguntou é se eu já estava com um telefone novo. Falei pra ele que não, que não tinha encontrado pelo preço que queria pagar. Na mesma hora, Miguel me disse: 

- Mamãe, não fica triste, não. Hoje eu vou pro shopping e vou comprar um celular bem legal pra você, muito lindo e cheio de brilhos, do jeito que as meninas gostam, tá?

Agarrei meu filho na hora. Cobri essa criança fofa e linda que Deus me deu com muitos beijos e apertos. E, ao mesmo tempo em que agradeci a Ele por ter comigo o que realmente vale ouro pra mim, a única coisa que não poderia comprar em uma loja por dinheiro nenhum do mundo, sinto-me melancólica por ter posto no mundo um serzinho tão especial e que terá que aprender que essa vida terrena não é pra quem fica de bobeira, não. Viver aqui é muito sinistro. O buraco, como diz minha mãe, é muito mais embaixo. E isso preocupa o coração de qualquer mãe. 

Só posso pedir a Deus que proteja meu filho e que me dê forças para fazer dele um homem correto, mesmo cercado de tanta porcaria que existe no mundo. E que Deus me dê forças pra mostrar que vale a pena ser justo, ajudar ao próximo, fazer a nossa parte independente de não receber nunca nada, nem ao menos um "obrigado". Que Deus me abençoe e me faça forte para ensinar a meu filho que não devemos mudar nossas atitudes retas porque o mundo está torto. E rezar, rezar muito, para que isso seja suficiente.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Minha amizade cor de rosa

Rafaella - Deo com Miguel no colo - João


Se tem uma coisa na qual acredito nessa vida é na amizade, no amor. Até porque amizade é amar, né? Não adianta as pessoas falarem pra mim que amizade acaba com a distância, com brigas, com desavenças porque eu acredito mesmo que quando duas pessoas se gostam e estão dispostas a aprender uma com a outra, a amizade resiste, sim, a muitos acontecimentos da vida da gente. 

Eu tenho algumas amizades especiais. Amigos que fiz quando era menina ainda e que estão no meu coração até hoje. A gente pode não se ver sempre, mas quando se encontra é como se a distância não tivesse existido. Amigos de faculdade. Amigos queridos que fiz trabalhando junto. Tenho amigos que já conhecia na vida real e que vim a conhecer melhor pela internet. Amigos que fiz em viagem. 

E aí as pessoas podem pensar que isso não é amigo, que amigo é aquele que está junto todo dia e tal. E eu discordo disso veementemente porque eu estou junto todo dia de várias pessoas por quem não tenho um sentimento tão bacana e gostoso quanto o que tenho por 2 amigos que fiz em minha viagem pro Chile com o Namorado. Sabe quando a gente bate o olho e se identifica? E um minuto depois está dando gargalhadas das mesmas situações sem que ninguém precise abrir a boca? Dessa empatia inicial pra conversas mais sérias a respeito da vida em geral e das nossas vidas, foi um pulo. Não foi Vinicius de Moraes que disse que "a gente não faz amigos, reconhece-os"? Taí uma coisa que bate muito certo pro meu coração.

Uma das grandes amigas que tenho é a Deo. Ela é minha amiga cor de rosa. Sempre será. Isso porque a conheci  no primeiro dia de faculdade, em uma sala de aula da Universidade Gama Filho, em 1989. Novinhas, cheias de inseguranças e sonhos, com um mundo se abrindo na nossa frente, nos encontramos. Melhor, a Deo me encontrou. 

Entrei na sala de aula atrasada e a turma já estava acomodada. Havia uma carteira vazia na parte de trás da sala e outra ocupada pela Deo. Estávamos na última fileira, separadas por uma distância considerável. Sentei e fiquei quieta. Quem chega atrasada não pode fazer muito estardalhaço, né? Mas não tinha como não notar a presença daquela garota enorme de 1,82 de altura, magra com pernas sem fim, toda vestida de cor de rosa. Dos pés à cabeça. Enfeite de cabelo rosa. Tenis rosa. Meias também. Bermuda rosa e blusa rosa. Meu Deus! Quanto mais eu observava com o canto do olho, mais eu me espantava. Pensava que ela devia ser louca pra ter coragem de vir pra universidade assim, como quem vai pro jardim de infância. Estojo, caderno e canetas cor de rosa também. Mochila rosa!! E não era rosa pink, não. Era rosa bebê. Um mulherão que brincava de se vestir de boneca. Só que a Deo sempre soube muito bem o que queria e o que fazer pra conseguir alcançar seus objetivos. Dane-se se a indumentária era de uma frágil mocinha. E, do seu jeito decidido, a Deo puxou a carteira pra perto da minha e, sem mais nem menos, aquela criatura loura, branquinha e cor de rosa, se apresentou: 

- "Oi! Eu sou a Andrea! Qual o seu nome? É seu primeiro dia de aula, né?"

Pronto. Não nos largamos mais. Lá se vão quase 25 anos e separadas pelos endereços - Deo mora em Sampa já há alguns anos - seguimos unidas por uma vontade imensa de ver a outra feliz. Hoje, quando olho para aqueles dias de tantas aulas, tantos trabalhos em grupo, o que fica são nossas caminhadas pelos corredores da Gama, sempre juntas, nossas gargalhadas sem fim, nossos ataques de idiotice, os muitos bilhetes trocados em aula, o nervoso pra provas, o deboche sutil que só a gente sabia fazer.  

Passamos muita coisa, conhecemos maridos e ex-maridos uma da outra, passamos por perdas, comemoramos nossas vitórias. Somos mães. Quando Miguel estava na UTI e eu não aguentava mais vir pra casa sem trazer meu filho, foi pra ela que liguei chorando e, como ela não pôde atender, foi em sua caixa postal que deixei o recado mais louco que ela já recebeu, um recado que deixei chorando desvairadamente , dizendo que não suportava mais ver meu filho naquele hospital. Foi pra ela o desabafo de mãe que quer ter seu filho nos braços em sua casa. Tirando o Namorado, foi só pra ela que desmoronei. 

Somos mulheres que trabalham, que fazem acontecer. Somos donas da nossa história. Não nos falamos todos os dias e não há cobranças. Graças à Deus, a Deo entende que eu não sou de ficar falando todo dia. A gente se respeita e acho isso bonito. Fico pensando que, de repente, ela até gostaria que eu ligasse mais e tal, mas só o fato de ela não ficar reclamando disso comigo, já me mostra que respeita meu jeito. A Deo tem um coração enorme, proporcional a sua altura. Mulher grande, inteligente e com um jeito doce de falar. Mas tem gênio e é melhor não brincar muito com a paciência dela. A gente se aceita bem. Deo não fala palavrão e sempre me aturou falando um monte deles. Ela é muito família, canceriana, quer atender a todos, conciliadora. Eu sou mais pipa voada, geminiana, digo o que não quero e quero na hora, direta. Somos amigas. E, pra mim, Deo será sempre a menina de cor de rosa. Minha única amizade que tem cor. 


sábado, 9 de novembro de 2013

Louca, eu?



Eu não entendo como pode ser tão frequente, nos dias de hoje, o preconceito em relação à psicoterapia. Todos acham importante cuidar da saúde, mas quando tratamos de saúde mental parece que o assunto muda o rumo. É óbvio que tratando-se de qualquer doença do corpo, por ser algo concreto, é mais fácil de entender. As doenças da alma, do mental, são abstratas. Não são mostradas em radiografias ou ressonâncias. E aí é que a coisa complica. O ser humano ainda tem dificuldade em aceitar o que não pode ver. Ainda tem muito "São Tomé" por aí.

Já começa pelo próprio paciente que demora muito pra buscar ajuda porque não quer escutar o que muitos dizem: "não fique procurando problema onde não tem", "vai lavar um tanque de roupa suja que você esquece rapidinho seus problemas", "terapia é coisa de doido", "pra quê terapia? Eu tenho amigos", "se tranca no quarto e grita um pouco que passa", "só você mesmo pode se ajudar", enfim... São tantas as frases que eu ficaria aqui escrevendo interminavelmente. Só que pensar assim é desmerecer muito os profissionais de psicologia, é desmerecer anos e anos de um estudo sério. Acredito que também seja desmerecer nossa própria complexidade. É dedicar pouco tempo ou nenhum tempo a si mesmo. Muitos preferem se vitimizar, estão sempre se colocando em uma posição de "tudo acontece comigo" ou "sou sempre perseguida em todos os lugares", a agarrar as rédeas da própria existência e tomar conta do que há de mais precioso: nossa vida.

Como tudo no mundo, a terapia só vai ajudar a quem quer ser ajudado. Pra que ir ao divã se você não tem vontade de melhorar? Terapia não é igual a qualquer outra consulta médica quando vamos esperando receber um nome de doença, um diagnóstico, uma lista de remédio pra tomar e, pronto, ficarmos curados. Terapia dá medo. Porque terapia é um mergulho dentro da gente. É começar a olhar de frente pra nossos defeitos, nossas inseguranças, nossas faltas, nossas falhas, nossas angústias. E, olha, tenho que dizer que é MUITO difícil. Perdi a conta de quantas vezes saí da terapia chorando. Perdi a conta de outras tantas vezes em que saí do consultório com uma pergunta deixada no ar que me martelava a mente, por dias, até, então, surgir a resposta de dentro de mim. Perdi a conta de quantas vezes não aguentei contar uma história sem chorar, ou sem me exaltar. Terapia mexe e remexe com você,  com seus conceitos, seus preconceitos, com suas "verdades", suas crenças. E é difícil pra caramba encarar isso. É doloroso até.

Não viver iludido é complicado a príncipio. Enxergar as coisas sem o véu da ilusão é espantoso, mas é muito libertador. É uma sensação de leveza enorme, como se você não tivesse mais amarras, como se não dependesse mais de certas coisas ou de sentimentos pra ser feliz. Quando a gente se compreende melhor, passa a entender o outro também. Passa a exigir menos do próximo porque entende que essa pessoa (seja amigo, mãe, irmão, funcionário, chefe, marido, namorada) tem suas próprias questões e conflitos e que, na maioria das vezes, certas atitudes, simplesmente, não são algo pessoal. A terapia ajuda a nos encontrarmos com a gente mesmo, promove uma consciência mais ampla, nos faz entender nossas reais necessidades e motivações. E isso é maravilhoso. Acredito que muitos consigam esse desenvolvimento de outras formas ou sozinhos, mas a terapia é um caminho muito rico a ser trilhado. Pra mim, foi como acender a luz sobre mim mesma. Sabe quando a gente se olha em um espelho enorme, com aquela luz branca forte que faz a gente ver todos os buracos, estrias, celulites e marcas? Pois é. Pra mim foi mais ou menos isso que aconteceu.

Não sou psicóloga e nem estudante de psicologia. Essa é apenas a experiência de quem, há 10 anos, resolveu buscar ajuda profissional pras angústias que a afligiam. Fui buscar ajuda por estar muito perdida no meio dos meus 30 anos, sem namorado, sem nenhuma previsão de construir alguma coisa ao lado de alguém. Entrei numa dor imensa, em um processo de não valorização do que sou, me agarrando a quem não devia ter nem um pinguinho de mim. Fui pra terapia por isso e melhorei em tantos outros aspectos que não dá nem pra contar. Objetivei uma coisa e acertei em muitas outras. Se tem uma decisão acertada que tomei em minha vida foi entrar na terapia. Vivia colocando outras coisas na frente por causa do dinheiro, só que o valor que se paga é pouco perto do que se ganha. E, com certeza, posso dizer que foi uma das melhores coisas pra minha vida. 

Como achar que louco é aquele que busca saber de si mesmo, de suas potencialidades e de suas fraquezas? Como chamar de louco aquele que busca entender seus medos, busca entender o porquê de certas atitudes, as razões pra sua ansiedade? Hoje, eu olho no espelho e não tento mais me enganar. Muitas vezes ainda acho difícil lutar contra certas coisas em mim, mas já sei identificar os motivos de certos comportamentos e reações e, por isso, fica mais fácil me controlar, me entender, me posicionar. Sinto-me mais plena pra viver minha vida, pra viver essa vida com mais qualidade, sem absorver coisas desnecessárias, nem tomar pra mim culpas e problemas que não me pertencem. Com a terapia, todos a minha volta sairam ganhando, não só eu. E se eu for louca por querer viver melhor, que assim seja. Serei uma louca feliz.











quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Para o Namorado

Namorado não faz declarações de amor públicas. O amor dele só é demonstrado pra mim. Ele diz que não precisa ficar mostrando pra todo mundo que me ama e que até desconfia de quem o faz toda hora. Eu acho bonitinho quando mostramos de forma tão sem medo de sermos julgados o que a gente sente, mas também sei que não precisamos provar nada pra ninguém.

Só que me faz bem falar pro mundo o quanto o Namorado é importante pra mim. E aceito que o comportamento dele seja diferente do meu. Somos diferentes e nos aceitamos. Eu não vou mudar. Vou continuar dizendo como me sinto, algumas vezes só pra ele, outras pro mundo escutar. Ele não vai mudar. Vai continuar dizendo só pra mim que me ama. Quem se importa? Os olhos não mentem e dizem o que a boca não fala.

Ando em uma fase bem agradecida por ter alguém como ele perto de mim. Alguém que realmente me aceita como sou. E gosta do que sou. Então, Namorado, pra você...









"The Way I Am"
If you were falling, then I would catch you.
You need a light, I'd find a match.

Cause I love the way you say good morning.
And you take me the way I am.

If you are chilly, here take my sweater.
Your head is aching, I'll make it better.

Cause I love the way you call me baby.
And you take me the way I am.

I'd buy you Rogaine when you start losing all your hair.
Sew on patches to all you tear.

Cause I love you more than I could ever promise.
And you take me the way I am.
You take me the way I am.
You take me the way I am.




segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O mundo é redondo



Recebi esse video de uma amiga e fiquei tocada. Chorei. Tudo bem que não é difícil me fazer chorar... E também não sinto a menor vontade de tentar prender minhas lágrimas quando elas surgem, não sinto a menor vontade de ficar com aquele nó na garganta que acontece quando o choro vem e não queremos chorar. Se me emociono, é praticamente natural ver as lágrimas pulando dos meus olhos. Não consigo controlar, nem esconder. E já não tento mais. 

Acho que o video resume um pouco o que eu acredito: que devemos fazer o bem não importando a quem. Acredito em fazer a minha parte. Mesmo que muitas vezes acabe me achando idiota, otária mesmo por agir de um jeito diferente de tanta gente. Muitas vezes fico cansada também e achando que o mundo não tem mais jeito, que a humanidade está perdida. São tantas atrocidades, tanta coisa feia, tantas atitudes bestiais, que fica difícil, por mais positiva que eu tente ser, acreditar que haverá solução. 

Porém, se tem uma coisa na qual boto fé é no fato de o mundo ser redondo. E isso me faz acreditar que o que se planta, colhe. Acredito no poder das boas ações e dos bons pensamentos. Acredito em jogar bondade pro universo, porque é exatamente isso que vai voltar pra mim depois. Gentileza gera gentileza. Tenho muita fé nisso. Por mais difícil que seja viver no meio de um mundo tão louco e carente de boas ações, eu acredito no amor. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Karaokê



Se alguém me dissesse 10 anos atrás que eu seria essa mãe que sou hoje, com certeza, não acreditaria. Primeiro porque você paga pela lingua muita coisa depois que tem filhos. Segundo porque esse lance de maternidade era uma coisa tão distante pra mim, que nem que eu tentasse imaginar da forma mais fidedigna, eu conseguiria chegar perto da realidade, em todos os sentidos: o lado bom e o lado ruim. Verdade é que mãe paga mico sem nem pensar duas vezes pra ver um filho feliz.  

Nós tínhamos acabado de chegar ao resort do Beach Park e, depois de deixar nossas coisas no quarto e descer pra jantar, começamos a ouvir uma música e resolvemos ver o que era. Nós tínhamos recebido a programação de todas as atividades do hotel mas acabamos deixando no quarto. Fomos chegando perto do som e vimos que havia uma banda tocando e muitos hóspedes assistindo porque era um karaokê. Nas mesas estava o cardápio com as músicas a serem escolhidas e a galera estava se divertindo. Sentamos por lá. 

Quando já eram umas 10 horas, falei pro Miguel pra gente ir pro quarto porque já estava tarde e precisávamos descansar. Como diz minha sogra, "Miguel adora uma fofoca!!". E o que ela quer dizer quando diz isso é que o meu filho não pode ouvir uma musiquinha, ver uma galera dançando que já gosta e quer ficar por perto. Mesmo que ele não se junte de imediato, vai gostar de ficar ali observando. Miguel estava com carinha de sono mas disse que queria ficar mais um pouco. Esperei mais 15 minutos e falei que já estava na hora. Miguel virou-se pra mim e falou:

-"Mas está todo mundo cantando e a gente ainda não cantou!" 

Eu pensei que ele quisesse cantar, falei pra ele que iria ajudá-lo a escolher uma música. Quem sabe alguma da Galinha Pintadinha ou do homem-aranha que ele tanto gosta? Poderia até mesmo ser a do AC/DC que toca no Filme do Homem de Ferro. O garoto enrola a lingua toda e sai cantando todo prosa, achando que está cantando no melhor inglês!! Ou quem sabe ele não cantaria a música do Bochecha que ele gosta de cantar pro pai ("Sou eu assim sem você")? Enfim, enchi de sugestões pra acabar logo com a novela do karaokê. 

Miguel ficou olhando pra minha cara como se eu estivesse sugerindo uma coisa de outro mundo pra ele e disse que ele não iria cantar. Nós, eu e o pai, é que iríamos cantar. Olhei pra cara do Namorado tentando o milagre dele pagar o mico junto comigo, buscando um apoio e tal, mas como a gente já se conhece só no olhar, o Hugo já foi logo falando:

- "Nem inventa, Namorada! Eu não levanto minha bunda daqui nem que Jesus venha falar comigo... Tá com você."

HA HA HA. Eu já sabia que sobraria pra mim. Pura ilusão mesmo a minha. Quem conhece o Namorado sabe que sóbrio não rola esse tipo de exposição. Resolvi tentar convencer o Miguel de que eu cantaria outro dia, mas criança é bicho esperto e não se engana, não. O garoto disse que queria que eu cantasse e que depois iria pro quarto dormir. 

Respirei fundo, peguei o "cardápio musical" e escolhi a música que eu iria assassinar. Chamei uma das meninas e falei que iria cantar e passei o nome da música. Ainda tive que aguentar a menina me olhando com os olhos arregalados como se eu fosse de outro planeta. Não entendi. Não satisfeita, ela me perguntou se eu estava certa de que queria cantar uma música em inglês. Não dei muita trela e respondi que sim. Afinal, se era inevitável a vergonha, que fosse breve. 

Fui lá e cantei, como o video mostra.

A carinha do Miguel todo feliz por ver a mãe alí, corajosa (pelo menos parecendo corajosa), cantando na frente de todo mundo, foi impagável. E, no fim, vê-lo me aplaudindo cheio de orgulho de mim e com um sorriso de orelha a orelha me proporcionou uma sensação maravilhosa. Quando cheguei perto dele, recebi beijos e um abraço apertado. Logo depois, pra encerrar o assunto e a noite, Miguel disse:

-"Agora, sim, mamãe, podemos ir pro quarto dormir. Vamos?"

Miguel, definitivamente, é um menino de palavra. 






quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sabonete Líquido



Eu já sei que não sou muito certa da cabeça mesmo. Do nada, começo a pensar em coisas que, pra quem olha de fora, devem parecer algo de mulher que não tem o que fazer da vida. Só que eu sempre tenho muito o que fazer na minha vida, muito mesmo. E, ainda assim, minha mente é bombardeada por pensamentos que tomam um pouco desse meu tempo tão curto. 

Estava eu tomando banho ontem de manhã quando meus olhos se prenderam no sabonete infantil proteína do leite da Johnson que o Miguel usa. Peguei o sabonete e cheirei. Imediatamente senti o cheirinho do meu filho. E me dei conta de que Miguel está com 4 anos e que não precisa mais usar um sabonete diferente do sabonete que eu e o pai usamos. Miguel não é mais um bebê. E fui invadida pelo mesmo sentimento que tomou conta de mim quando tirei o berço dele do quarto e coloquei a cama. Um sentimento de perda. 

Pessoa analisada que sou, comecei a racionalizar a coisa toda porque sou louca mas ainda não rasgo dinheiro. Meu filho está crescendo e é natural que passe a não usar mais sabonete liquido de bebês. Assim como não há nada demais em continuar usando até a idade adulta, se ele desejar. Racionalizando um pouco mais, acho que o que incomoda é ver o tempo passando e, mais além, saber que essa idade tão gostosa, tão mágica, está passando com o tempo. Eu não tenho saudade do meu filho bebezinho de colo. Fato e não vou mentir pra parecer bonito. Nem tenho saudade do meu filho com 1 ano, começando a andar, de um lado pro outro, metendo a mão em tudo o que encontra pela frente. Não tenho saudade mesmo das noites sem dormir, do choro chatinho de bebê. Mas tenho a certeza, assim como sei que o dia vai clarear todas as manhãs, de que sentirei saudade desse Miguel de 3, 4 anos: engraçado, falante, ganhando certa independência, que pede o que quer e diz o que não quer, que acha graça de coisas que eu não acho, que manifesta opiniões e que já me dá umas respostinhas atravessadas e que me faz muito carinho. Dessa fase eu vou sentir, sim, muita saudade. 

Na minha cabeça maluca, essas pequenas decisões como trocar o berço pela cama, ou parar de comprar sabonete especial pro meu filho, significam muito. São os sinais de que meu filho está crescendo e por mais que isso seja maravilhoso, me dá um arzinho de melancolia. Não sei se fico me ligando nessas coisas porque decidi ter apenas um filho e, por isso, tento aproveitar tudo ao máximo, não deixando ou pelo menos tentando não deixar passar nada despercebido por mim. Ou talvez seja apenas porque sou uma pessoa que se liga em sinais. 

Meu filho me ensina tanto e, ontem a noite, enquanto estávamos na cozinha jantando, foi dele que veio o desfecho simples pra essa melancolia. Estava olhando pra ele daquele jeito que só as mães olham pros seus filhos, com aquele olhar perdido em tantos pensamentos, e falei:

-"Filho, mamãe vai sentir tanta saudade de você quando você ficar grande que nem o papai..."

E aí o Miguel perguntou:

-" Por que, mãe? Eu vou ficar grande que nem o meu pai logo?"

Eu respondi que não, que ainda iria demorar um pouco, mas que um dia ele não seria mais o meu bebê. E aí Miguel, daquele jeito de falar comigo olhando bem dentro dos meus olhos, como se sentisse que fosse me dizer algo importante, falou:

-" Mamãe, eu vou sempre ser o seu bebê. Vou ser o seu bebê, só que grande."

E assim foi encerrada a melancolia repentina por causa de um pote de sabonete líquido. Meu filho disse o que todos sabem: que o elo entre mãe e filho não se rompe com a maturidade, com o tempo, nem com a distância, se o relacionamento foi construído com base no amor e na verdade. 

Pode o mundo girar mil vezes, pode haver guerra ou paz. Miguel será do mundo, mas sempre será um pedaço de mim. E eu sempre serei dele. 


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Desperdício




Se tem uma coisa que me deixa triste é ver uma  pessoa colocar comida no prato e não comer. Isso me incomoda, de fato. Quando é uma criança que está fazendo o seu prato, acho perdoável porque a criança ainda não se conhece direito e se nós, adultos, às vezes erramos na mão, imagina uma criança. Mas adultos desperdiçando comida todo santo dia, me dá muita pena. Pena de quem não tem o que comer, pena do nosso meio ambiente que sofre com o uso de produtos químicos, fertilizantes e pesticidas para cultivarmos nossos alimentos. Fora o aumento do tamanho dos "lixões" o que contribui ainda mais pro nosso planeta se deteriorar.

Não sou nenhuma estudiosa do assunto, mas estava lendo no jornal dia desses que 1/3 da comida produzida mundialmente é desperdiçada. Li também que os consumidores de países ricos jogam fora a mesma quantidade de alimentos que a Africa produz. E isso precisa parar. E pra começarmos a fazer uma mudança não precisamos fazer nada grandioso, precisamos começar na nossa casa. 

Todas as vezes que viajo e fico em algum hotel ou resort com sistema all inclusive, o que vejo é um festival de exageros. Não sei o que acontece com a cabeça das pessoas mas acredito que seja mais ou menos isso: "já paguei mesmo, então vou colocar de tudo no prato". Até aí tudo bem, se a pessoa comesse mesmo o pratinho estilo montanha que faz. Cada um sabe a fome que tem. E cada um que arque com as consequências de comer demais depois. Entretanto o problema é que as pessoas colocam a comida no prato e a maior parte delas não aguenta nem a metade e deixa a comida ali, no prato deixado de lado, pra ir direto pro lixo. Acho muito feio, acho falta de educação, deselegante até. Quantas vezes vi pessoas pegarem um pedaço de cada tipo de bolo disponível para café da manhã em hotel, dar uma garfada em cada um e deixar todo o resto no prato. Eu não entendo. E isso acontece em todas as camadas sociais. É uma questão de educação. Sempre ela... Parece que todos os caminhos nos levam pra educação...

O lema lá em casa sempre foi: "Colocou no prato, coma." Meu pai virava uma fera se desperdiçássemos comida. Coisa de quem passou dificuldades e conheceu o que é dureza. E assim procuro criar meu filho porque acho que meu pai e minha mãe estavam muito certos. Eu podia abrir a panela e colocar comida mil vezes, se assim quisesse, mas não podia deixar comida no prato. Fui ensinada a colocar comida aos poucos e hoje, raramente, erro na mão. Além disso, lá em casa sempre teve o "dia do restolho" onde o que se tinha pra comer era o restinho da comida que havia sobrado dos outros dias da semana. Sei lá se isso é coisa de pobre ou de suburbana, mas fui criada assim e não morri por comer sobra de comida. E se tem uma coisa que nunca faltou na minha casa foi comida. É só que essa cultura do não desperdício sempre esteve presente na minha vida. Por isso, procuro não encher o prato do Miguel. Coloco o que sei que ele normalmente come e se ele, por acaso, quiser mais, coloco mais um pouquinho. Ele também deve aprender que nossas atitudes afetam o planeta. E, vivendo em um país onde tanta gente passa fome, me dá vergonha esse desperdício, essa falta de consciência. Se cada um pensasse nisso, economizaríamos muito. E teríamos um mundo um pouco melhor.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Beach Park






O Beach Park foi uma surpresa muito agradável pra mim. Estou muito acostumada com parques aquáticos e não sou muito fã deles porque esse negócio de sobe e desce escada sem parar me enlouquece um pouco, mas dentre todos os parques aquáticos que conheço, o Beach Park é um dos melhores, principalmente para crianças pequenas. O parque é limpo e organizado e nunca vi em nenhum parque desse tipo uma preocupação tão grande, em cada atração, com a altura e idade das crianças. Eles realmente respeitam a altura mínima para cada brinquedo e isso mostra o cuidado que têm.

Bom, Miguel não pôde andar na maior parte dos brinquedos maiores, que pedem altura mínima de 1.20m, mas as opções pra idade dele são muitas. Há como se fossem ilhas temáticas e em cada uma delas há muitas espreguiçadeiras, quer dizer, a criança fica brincando bastante tempo em cada uma das ilhas em vários mini tobogãs, escorregas, túneis, etc. enquanto os pais ficam tranquilos tomando seu sol. Em cada uma dessas áreas temáticas, ficam 2 ou 3 monitores, dependendo do tamanho, e eles organizam a fila e ensinam com a maior paciência o modo de a criança sentar ou deitar e também o posicionamento dos braços na descida. Miguel aproveitou muito. E nós também.






Agora creio que minha experiência durante esses dias em que estive lá não teria sido tão boa se não tivesse ficado em um dos resorts do parque. Ficar em um deles, no meu caso escolhi o Acqua Resort, tornou a vida ainda mais fácil porque tínhamos acesso livre ao parque - inclusive há um rio que liga o hotel ao parque, com entrada independente e exclusiva para os hóspedes, e podíamos entrar e sair quantas vezes quiséssemos além de poder aproveitar a programação noturna do parque (teatrinho, karaokê com banda ao vivo, forró). O resort é extremamente organizado e logo na chegada recebemos toda a programação pras crianças (mini club) e pra adultos.

Miguel, quando não estava no parque conosco, estava brincando no "clubinho", como ele gostava de chamar,  sempre acompanhado de monitores e as demais crianças. Muitas vezes, fui pro quarto cansada de esperar por ele e quando as atividades terminavam (10 da noite) interfonavam para nosso quarto para que o buscássemos. As crianças são divididas em dois tipos pelo resort: as que recebem pulseira amarela são aquelas que podem se movimentar sozinhas, não necessitando dos pais ou monitores. E as que recebem a pulseira vermelha: aquelas que, como o Miguel, só podem sair do clubinho se acompanhadas ou por monitores ou pelos pais.





A comida também é maravilhosa. Muitos pratos variados, tanto no café da manhã como no jantar. E não é aquela comida de carregação, sabe? Quando tudo tem o mesmo gosto? Não. Tempero delicioso e cada comida com seu sabor. E pra completar, todos os dias há um buffet especial só pras crianças, onde tem sempre feijão, arroz, carne, nugget, batata frita, estrogonofe, purê, macarrão, enfim, as comidinhas que os pequenos mais gostam. Miguel comeu muito bem. Os quartos são amplos e tem geladeira e microondas, uma pequena cozinha. Miguel não me dá trabalho com isso porque come de tudo e não preciso fazer nada de especial pra ele se alimentar, mas é legal saber que tem essa estrutura. A suite Junior tem uma saleta com um sofá que vira uma cama de casal, onde o Miguel dormiu. Tanto o quarto quanto essa sala tem TV e isso foi ótimo porque Miguel pôde ver o que queria enquanto eu e Namorado víamos um programa do nosso interesse.  

A praia em frente ao resort é excelente, a grande faixa de areia é bem branquinha. A água é gostosa e mansa. Sempre há piscinas naturais formadas mais pro rasinho e Miguel brincou muito. Hora queria ficar na piscina, hora pedia pra ir pra praia catar conchinhas.




Bom, eu não esperava gostar tanto e amei. Não só por ver o Miguel feliz, se divertindo horrores, mas porque também fui surpreendida pelo tempo que tive a sós com o Namorado. Como Miguel se entrega mesmo pras atividades, mesmo que a princípio sejam desconhecidos que estejam comandando e que não conheça as outras crianças, realmente pude ficar sem fazer nada, pude namorar, pude ler. Li tanto que consegui ler um livro inteiro e começar outro em 3 dias. Tanto o Beach Park quanto o Acqua Resort foram uma feliz surpresa e acho que vale muito a pena ficar nesse resort coladinho ao parque.