terça-feira, 25 de julho de 2017

Quando a vida te desnorteia



Odeio traçar um plano e não cumpri-lo. Detesto ter metas e não atingi-las. Adoro ter o controle. Não gosto de perder. Gosto da minha vida do jeito que está e uma reviravolta não estava programada pra mim, por mim. Definitivamente. Amo ser a mãe do Miguel mas não pensava, nem por um segundo, ser mãe de outra criança. Não pensava, nem sonhando, em ter o segundo filho. Não era um plano, nem uma vontade, já que estava tudo bom demais.  Eu não queria repetir a experiência que aceitei viver há 8 anos cheia de medo. Criei Miguel pra ser filho único porque tinha plena consciência de que não daria ao meu filho a oportunidade de ter um irmão (coisa maravilhosa no meu caso por sinal!).

Eu sempre tive pavor de me sentir presa. Sempre tive horror de querer fazer ou viver coisas e não poder e, que me desculpem as mães românticas de plantão, filho faz isso com a gente. Tira nossa liberdade até de ir ao banheiro na hora que se tem vontade, principalmente nos loucos e inesquecíveis - ou seriam traumatizantes? - 2 primeiros anos de vida. Só de pensar em ir ao pediatra pras consultas de acompanhamento todo mês, nos dentinhos nascendo, nas cólicas, nas noites sem dormir, nas fraldas,... Ai, meu Deus... Pensava só: "ainda bem que já passou!!" ou "Deus me livre disso tudo de novo!"

Não me entendam mal, embora eu saiba que é do ser humano julgar: se com a gravidez do Miguel eu achava que estava preparadíssima pra ser mãe e vi que estava redondamente enganada, dessa vez tenho consciência de que não estou NADA preparada pra viver essa experiência de novo. Descobrir de surpresa, aos 46 anos, que engravidei depois de transar UMA ÚNICA VEZ sem camisinha no nono dia do ciclo, foi como se tivessem tirado meu chão. Eu pensando em menopausa por estar atrasada e fui pega totalmente desprevenida, totalmente sem esperar. Meu único motivo pra ter comprado o exame de farmácia depois de 8 dias de menstruação atrasada foi porque comecei a sentir o mesmo enjoo que sentia estando grávida do Guel e achei que já estivesse tão louca que havia começado a fabricar sintomas de gravidez. 

Comprado o exame na hora do almoço, fui correndo pra casa. Fiz o xixi e larguei o treco lá na pia. Fiquei conversando com minha irmã muito calmamente porque a certeza de que daria negativo e que eu teria, então, tranquilidade pra cuidar da minha menopausa era imensa. Depois de um tempo, entrei no banheiro, peguei o treco e olhei. Pisquei. Olhei de novo. Letras brilhantes me diziam que eu estava GRAVIDA. Oi????? 

Em estado de choque. Não conseguia rir nem chorar. Acho que levei uns 15 minutos pra processar as letras que insistiam em olhar pra mim. O mundo ficou preto e branco e os sons ficaram distantes. Achei que fosse desmaiar. Minha irmã entrou no banheiro. Olhou pro exame. Olhou pra mim e falou: "calma".

Calma??? Como calma??? 

Eu perguntava pra ela, abestadamente e com um fiapo de voz: "Como isso foi acontecer? Como eu posso ter ficado grávida?" E ela, sabiamente, me poupou de me dar uma aula de educação sexual, afinal seria realmente muito tosco ensinar pra uma mulher feita de 46 anos, já com um filho de 8, como se fabrica um bebê. Seria muito humilhante dizer que tabelinha NUNCA dá certo. Eu usei o tal do livre arbítrio pra dar chance pro plano de Deus e Ele não deixou passar. 

Depois disso vivi momentos terríveis. De verdade. Pensei as piores besteiras - todas as que uma mulher tem todo o direito de pensar nessa hora. E vivi um luto. Chorei copiosamente por 4 dias. Chorava pela morte da minha vida atual, a que eu estava gostando pra caramba de viver. O mundo fugiu de mim e só existia a força insana que me fazia levantar da cama todos os dias pra trabalhar. Não sou mulher de faltar trabalho e essa é a minha sorte. Isso salva a gente muitas vezes, sabe? Se não fosse minha obrigação com as aulas de dança e minha fase de rematrícula do CCAA rolando, eu teria passado 4 dias sem levantar da cama. 

Hugo sentia-se péssimo porque estava feliz e não conseguia me ver sofrendo. Sabendo que não havia muito o que fazer por mim, esperou. 

Marquei minha gineco, que já é uma amiga. Me ajudou a engravidar do Miguel quando tive dificuldade. Pois é. Contando agora parece brincadeira, mas eu tive dificuldade pra engravidar do Miguel. Quem diria... Dra. Carla conversou longamente comigo e passou vários exames. BetaHCG feito, a confirmação. De novo. Era mesmo verdade. Atualmente, 7 semanas. 

Ainda estou apavorada. Tem dias que mais, tem dias que menos. E acredito, firmemente, que o pavor vai passar. Não, não acredito que me apaixonarei pela barriga. Eu não sou do tipo que ama ficar grávida, ama a barriga, ama os peitões, ama engordar e não caber numa calça jeans. Não amei antes, não vou amar agora. Encaro como um caminho necessário, faz parte do processo de gerar uma criança. Também não sou o estilo de mãe que diz "sou apaixonada por meu filho desde que soube que estava dentro de mim". Oops! Sorry! Não. Meu amor pelo Miguel é gigantesco, sem medida, mas foi um crescente desde que nasceu, com a convivência, com cada sorrisinho, cada noite em claro juntos, cada batalha vencida. Por isso, estou me dando esse tempo. 

Sei que esse amor vai me pegar de jeito de novo. Mesmo que tenha sido sem eu querer, sem eu planejar. Mesmo que venha a virar minha vida de cabeça pra baixo mais uma vez. Mas no tempo certo, sem pressa. Não posso e nem tenho condições de me apressar. Ainda é muito difícil pra mim. Aceito apenas a vontade de encarar chegando de mansinho porque adoro um desafio. Aceito o fato de ser uma mulher que tem um homem lindo ao lado e que quer viver essa loucura comigo de novo. Agradeço ter uma família maravilhosa que me enche de força pra seguir. Amigos que me enchem de carinho e que tem MUITA paciência pra me escutar e aguentar (sou uma grávida agressiva, gente...) 

Por hora, e acima de tudo, perdoo minha insanidade, perdoo meu medo, perdoo minha insegurança, perdoo o fato de não imaginar colocar nesse mundo louco outro serzinho, perdoo minha vontade de continuar com a minha vida exatamente do jeito que era. Me perdoo, sim, e não peço o perdão de ninguém, porque, desculpem, não preciso. E, como Zeca Pagodinho, deixo a vida me levar porque a vida está aqui dentro e Deus só pode estar sabendo o que fez.