terça-feira, 30 de abril de 2019

Nostalgia antecipada








Hoje entrei na escola do Miguel para buscá-lo no futebol do querido Peninha e cheguei um pouco mais cedo. Fiquei sentada, próxima a secretaria da escola. Olhei pra Deise, secretaria que sempre teve um sorriso gentil pra mim nesses 8 anos em que Miguel está lá e perguntei a ela:

- Deise, você já se deu conta de que esse é o último ano do Miguel aqui?

Mais uma vez ela abriu um sorriso e disse:

- Passou rápido né?

Nossa... Como passou. 

Entretanto, ali sentada, olhando para as paredes da escola, os corredores, a quadra, o caminho que leva ao banheiro, para as plantas, senti um aperto muito grande no coração. E me deu vontade de chorar. Meu coração e meus olhos devem ter algum tipo de conexão estranha porque a emoção, seja de felicidade, angustia, enternecimento, gratidão ou tristeza, acaba se transformando em lágrimas que escorrem sem que eu possa controlar. É como se fosse algo involuntário, totalmente fora de gestão. E algumas lágrimas começaram a cair dos meus olhos e eu rapidamente segui em tentativa de ocultá-las para que os que por mim passavam não pensassem que algo de ruim estava acontecendo. Não, era só nostalgia antecipada. Eu estava apenas emocionada. Estava apenas lembrando momentos, episódios, fatos, histórias. Estava apenas lembrando o quanto de aprendizado aquela escola me proporcionou. A mim, ao meu filho, a minha família. 

Na minha cabeça me vi chegando com um bebê de 2 anos e 9 meses no colo rumo a uma adaptação. Como meu filho, espertinho, já conseguia me manipular com seu choro e como a professora Cristiane me mostrou que o choro dele não durava nem 30 segundos depois que eu virava as costas e o deixava em prantos. 

Lembrei de como foi quando entrei na sala da Grazieli para dar aula na turminha dele, de como os olhinhos do Miguel me olhavam orgulhosos e felizes por ver a mãe recebendo a atenção de seus amigos. Nunca me esqueci da professora Grazieli, grávida, dizendo que adoraria que seu filho fosse "safo", independente e comunicativo como o meu. 

Lembrei de como a Carla ajudou meu filho a caminhar rumo a alfabetização, mais seguro, sem duvidar de si mesmo.

Lembrei do dia em que deixei Miguel sentadinho da sala de aula da alfabetização, no primeiro dia do ano letivo, numa carteira que parecia maior que ele. Entendi ali que uma fase MUITO importante começava e sai da escola chorando de emoção e medo. Lembrei de como a Liara foi paciente comigo. Perdi a conta de quantas vezes ela me abraçou e disse baixinho: "Calma, tudo vai dar certo. Miguel é um menino incrível. No tempo dele vai acontecer. Até o final do ano ele estará lendo e escrevendo. Não se desespere." E assim foi.

Lembrei da Monica me falando que Miguel estava tendo problemas para fazer as provas, que se desesperava ao notar que amigos já tinham terminado antes dele, que se comparava, que não queria ficar pra trás e acabava se bloqueando. A sinalização da Monica me mostrou que eu precisava trabalhar isso com meu filho. E fui atrás de ajuda.

Lembrei da Islaine, sempre amorosa. Uma professora como poucas, daquelas que não tratam alunos como bloco. Ela sabe o jeito que cada um de seus alunos aprende e consegue atingir a todos, olhando o indivíduo e não o todo apenas. 

Lembrei do ano difícil que foi o quarto ano, da Jaqueline ensinando, através de suas próprias dificuldades, que na vida nem sempre lidamos com o fácil e que precisamos aprender a passar por adversidades e seguir em frente.

Vi meu filho em cada festinha do dia das mães, vi a carinha do Miguel feliz com cada nota alta e vi a carinha de tristeza com cada nota baixa. Vi Miguel crescer, socializar, criar amizades, cultivar seus amigos. Vi chorar por conta de alguma injustiça, vi ajudar amigos outras vezes. Testemunhei vitórias e derrotas ali, dentro dessa escola que aprendi a amar com tanta força. E que tanto carinho me deu.

Esse ano é o último. Já sou grata a professora Andrea e Marcia por serem incríveis. Donas da sala de aula. Dominam a turma como só os professores fantásticos sabem fazer. Que jeito lindo de fechar com chave de ouro! Ano que vem ele irá para uma nova escola, novos desafios e aprendizados. Eu estarei ao lado, sempre. É claro. Como fiz até hoje. E ainda vou chorar emocionada por tantas outras vitórias e derrotas. Mas não pude evitar esse sentimento de fechar um ciclo que se aproxima e o medo que antecede mudanças. Eu vivi todas essas emoções hoje, em segundos. Uma emoção forte e quase não segurei o soluço. 

Miguel chegou, sorriu, disse que fez 2 gols. E achei que tudo tinha passado. Até chegar perto do Getúlio. Ah... O Getúlio... Como viver sem encontrá-lo diariamente?

Nessa hora, em que Getúlio brincou com meu filho como fez TODOS OS DIAS ao longo desses 8 anos, uma lágrima ainda guardada e insistente pulou do meu olho. E eu rapidamente a escondi com a palma da mão. 

É preciso seguir. Ainda não é hora de dizer adeus. Não hoje... Hoje não.




terça-feira, 27 de março de 2018

Sobre proteção



Miguel está há 2 dias com a boquinha avermelhada, ressecada, do jeito que fica quando pegamos muito frio ou, no caso dele, irritada pelo cloro da piscina onde tem seus treinos de natação todos os dias. Antes de ir pra escola ontem ele me falou que achava que os colegas iriam "zoar" porque parecia que ele estava usando batom. Com meu jeito direto, disse a ele que isso era uma besteira e que se zoassem, era pra ele não ligar. 

Só que quando cheguei pra buscá-lo no treino, a primeira coisa que Miguel me disse foi:

- Mãe, eu não disse pra você que iriam debochar de mim? Quase todo mundo ficou falando que eu estava usando batom, que eu devia ter pego o seu batom escondido e uns até disseram que eu não precisava mentir, que eu assumisse que gostava de usar batom. Fiquei muito triste, muito mesmo. Senti vontade de chorar porque eu falava que não era batom, que minha boca estava machucada... Mas ninguém  queria acreditar. Quer dizer, menos a Ana, a Maria Antonia, o Guilherme, Leo e o Matheus. Esses não me zoaram e me ajudaram, mãe... 

É muito ruim saber que o filho passou algum tipo de chateação ou tristeza. Dá vontade de gritar, dá vontade de falar um monte, dá vontade de chorar porque nenhuma mãe suporta ver filho triste. Tentei me recompor e falei:

- Poxa, filho, mas que legal que disso tudo você conseguiu ver que tem amigos de verdade! 

Miguel respondeu que isso foi legal da parte dos que ficaram "do seu lado" e que acreditaram que ele não estava usando batom ( como se isso fosse um problema!). Disse até que um dos amigos, o Leo, sabendo que hoje não estaria na escola ao seu lado porque iria viajar, lhe disse:

- Miguel, amanhã eu não vou estar aqui pra te ajudar... Mas boa sorte, cara!

Expliquei pra Miguel que crianças são assim mesmo, que ele não deveria levar a sério e, simplesmente, ignorar. E que deveria valorizar o fato de ter visto que tem amigos bacanas perto dele. Aí Miguel me disse:

- Se minha boca não melhorar pra amanhã,  eu não vou pra escola. Porque é muito chato assistir aula querendo esconder a boca ou vendo os outros se cutucarem e ficarem apontando pra você e cochichando um do ouvido do outro como se eu estivesse com alguma coisa muito feia ou esquisita. 

É óbvio que não vou deixar Miguel se ausentar da escola se ainda estiver com a boquinha machucada. Ele vai e vai enfrentar. Mas o fato é que eu adoraria proteger meu filho do mundo, de tudo e de todos, de qualquer coisa. Queria poder envolvê-lo em meus braços e consolar quando tivesse vontade de chorar, quando caísse ou sentisse alguma dor e estivesse longe de mim, queria que ninguém o magoasse, que ele não se ferisse. Sim, eu queria proteger. Mas a vida não é assim. Ela não permite isso. À noite, antes de dormir falei tudo isso pra ele, que se eu pudesse o protegeria de tudo e faria de tudo pra ele não chorar, não sofrer. Nessa hora, Miguel me abraçou forte e me disse:

- Ah, mãe linda, obrigada... Mas não se sinta triste porque não pode estar comigo o tempo todo. Eu entendo que você quer me proteger porque você me ama muito né? Mas não é culpa sua se não dá pra ser assim, está bem?

Sim, filho... Não é culpa minha... Mas dói tanto... E só quem é mãe é quem sabe dessa maldita dor. 

Obrigada por ser meu filho. Obrigada mesmo. 

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Paula pelos olhos do Miguel




Essa semana um dos trabalhos de casa do Miguel foi produzir um texto descrevendo sua mãe. Fiquei curiosa e ele, que sempre me pede ajuda pra montar ideias a respeito do que deve escrever quando o assunto é produção textual, não me solicitou.

Voltei da academia e fui logo perguntando se já tinha acabado o dever de casa. Pedi pra ver.

Como toda mãe, acho, fiquei emocionada por ver o texto direitinho. Falta uma vírgula aqui, outra ali, falta acento em alguma palavra, tem errinho em como se escreve uma outra, talvez a organização dos parágrafos pudesse estar melhor, mas... Havia ali no texto algo muito tocante pra mim.

Miguel não escreveu que sou a melhor mãe do mundo. Miguel não disse que me ama mais que tudo. Miguel não disse se sou morena ou loira, gorda ou magra, alta ou baixa. Não falou da cor dos meus olhos e nem do comprimento dos meus cabelos. Ele foi além.

Ali, no texto, era eu. Sem nenhuma descrição física, Miguel me descreveu. Descreveu o que há de mais importante em uma pessoa: seus gostos, suas vontades, seus prazeres, suas chatices, seus hábitos. Entendi, naquelas poucas linhas, que meu filho me enxerga. Ele sabe de mim. Ele é capaz de ler nas entrelinhas, sem muito romance, sem muito floreio, meu filho me conhece. Ele repara o quanto choro quando estou lendo um livro triste... Como sou feliz quando estou com meus amigos. Como amo dançar. Sabe como sou correta no meu trabalho, como sou cumpridora de minhas obrigações. Ele repara em mim. Me nota. Ele sabe quem eu sou por dentro. E isso disse muito pro meu coração.... Disse muito sobre nossa intimidade, sobre nosso convívio, disse muito a respeito de como nos posicionamos um pro outro. Disse muito sobre os exemplos que quero dar e, pelo visto, estou dando.

Como mãe é idiota.... Eu chorei de felicidade ao ler:

"O nome da minha mãe é Paula, ela é uma pessoa bem responsável. Gosta de dançar e fazer as atividades do trabalho.

E também ela gosta de sair com os amigos para comer pizza. Minha mãe é bonita, alegre e sorridente. Gosta de ver novela e gosta muito de fruta.

Lê livros interessantes, legais e tristes. Às vezes, minha mãe briga comigo, quando eu faço uma besteira ou algo errado. Mesmo ela brigando comigo, gosto dela."


terça-feira, 25 de julho de 2017

Quando a vida te desnorteia



Odeio traçar um plano e não cumpri-lo. Detesto ter metas e não atingi-las. Adoro ter o controle. Não gosto de perder. Gosto da minha vida do jeito que está e uma reviravolta não estava programada pra mim, por mim. Definitivamente. Amo ser a mãe do Miguel mas não pensava, nem por um segundo, ser mãe de outra criança. Não pensava, nem sonhando, em ter o segundo filho. Não era um plano, nem uma vontade, já que estava tudo bom demais.  Eu não queria repetir a experiência que aceitei viver há 8 anos cheia de medo. Criei Miguel pra ser filho único porque tinha plena consciência de que não daria ao meu filho a oportunidade de ter um irmão (coisa maravilhosa no meu caso por sinal!).

Eu sempre tive pavor de me sentir presa. Sempre tive horror de querer fazer ou viver coisas e não poder e, que me desculpem as mães românticas de plantão, filho faz isso com a gente. Tira nossa liberdade até de ir ao banheiro na hora que se tem vontade, principalmente nos loucos e inesquecíveis - ou seriam traumatizantes? - 2 primeiros anos de vida. Só de pensar em ir ao pediatra pras consultas de acompanhamento todo mês, nos dentinhos nascendo, nas cólicas, nas noites sem dormir, nas fraldas,... Ai, meu Deus... Pensava só: "ainda bem que já passou!!" ou "Deus me livre disso tudo de novo!"

Não me entendam mal, embora eu saiba que é do ser humano julgar: se com a gravidez do Miguel eu achava que estava preparadíssima pra ser mãe e vi que estava redondamente enganada, dessa vez tenho consciência de que não estou NADA preparada pra viver essa experiência de novo. Descobrir de surpresa, aos 46 anos, que engravidei depois de transar UMA ÚNICA VEZ sem camisinha no nono dia do ciclo, foi como se tivessem tirado meu chão. Eu pensando em menopausa por estar atrasada e fui pega totalmente desprevenida, totalmente sem esperar. Meu único motivo pra ter comprado o exame de farmácia depois de 8 dias de menstruação atrasada foi porque comecei a sentir o mesmo enjoo que sentia estando grávida do Guel e achei que já estivesse tão louca que havia começado a fabricar sintomas de gravidez. 

Comprado o exame na hora do almoço, fui correndo pra casa. Fiz o xixi e larguei o treco lá na pia. Fiquei conversando com minha irmã muito calmamente porque a certeza de que daria negativo e que eu teria, então, tranquilidade pra cuidar da minha menopausa era imensa. Depois de um tempo, entrei no banheiro, peguei o treco e olhei. Pisquei. Olhei de novo. Letras brilhantes me diziam que eu estava GRAVIDA. Oi????? 

Em estado de choque. Não conseguia rir nem chorar. Acho que levei uns 15 minutos pra processar as letras que insistiam em olhar pra mim. O mundo ficou preto e branco e os sons ficaram distantes. Achei que fosse desmaiar. Minha irmã entrou no banheiro. Olhou pro exame. Olhou pra mim e falou: "calma".

Calma??? Como calma??? 

Eu perguntava pra ela, abestadamente e com um fiapo de voz: "Como isso foi acontecer? Como eu posso ter ficado grávida?" E ela, sabiamente, me poupou de me dar uma aula de educação sexual, afinal seria realmente muito tosco ensinar pra uma mulher feita de 46 anos, já com um filho de 8, como se fabrica um bebê. Seria muito humilhante dizer que tabelinha NUNCA dá certo. Eu usei o tal do livre arbítrio pra dar chance pro plano de Deus e Ele não deixou passar. 

Depois disso vivi momentos terríveis. De verdade. Pensei as piores besteiras - todas as que uma mulher tem todo o direito de pensar nessa hora. E vivi um luto. Chorei copiosamente por 4 dias. Chorava pela morte da minha vida atual, a que eu estava gostando pra caramba de viver. O mundo fugiu de mim e só existia a força insana que me fazia levantar da cama todos os dias pra trabalhar. Não sou mulher de faltar trabalho e essa é a minha sorte. Isso salva a gente muitas vezes, sabe? Se não fosse minha obrigação com as aulas de dança e minha fase de rematrícula do CCAA rolando, eu teria passado 4 dias sem levantar da cama. 

Hugo sentia-se péssimo porque estava feliz e não conseguia me ver sofrendo. Sabendo que não havia muito o que fazer por mim, esperou. 

Marquei minha gineco, que já é uma amiga. Me ajudou a engravidar do Miguel quando tive dificuldade. Pois é. Contando agora parece brincadeira, mas eu tive dificuldade pra engravidar do Miguel. Quem diria... Dra. Carla conversou longamente comigo e passou vários exames. BetaHCG feito, a confirmação. De novo. Era mesmo verdade. Atualmente, 7 semanas. 

Ainda estou apavorada. Tem dias que mais, tem dias que menos. E acredito, firmemente, que o pavor vai passar. Não, não acredito que me apaixonarei pela barriga. Eu não sou do tipo que ama ficar grávida, ama a barriga, ama os peitões, ama engordar e não caber numa calça jeans. Não amei antes, não vou amar agora. Encaro como um caminho necessário, faz parte do processo de gerar uma criança. Também não sou o estilo de mãe que diz "sou apaixonada por meu filho desde que soube que estava dentro de mim". Oops! Sorry! Não. Meu amor pelo Miguel é gigantesco, sem medida, mas foi um crescente desde que nasceu, com a convivência, com cada sorrisinho, cada noite em claro juntos, cada batalha vencida. Por isso, estou me dando esse tempo. 

Sei que esse amor vai me pegar de jeito de novo. Mesmo que tenha sido sem eu querer, sem eu planejar. Mesmo que venha a virar minha vida de cabeça pra baixo mais uma vez. Mas no tempo certo, sem pressa. Não posso e nem tenho condições de me apressar. Ainda é muito difícil pra mim. Aceito apenas a vontade de encarar chegando de mansinho porque adoro um desafio. Aceito o fato de ser uma mulher que tem um homem lindo ao lado e que quer viver essa loucura comigo de novo. Agradeço ter uma família maravilhosa que me enche de força pra seguir. Amigos que me enchem de carinho e que tem MUITA paciência pra me escutar e aguentar (sou uma grávida agressiva, gente...) 

Por hora, e acima de tudo, perdoo minha insanidade, perdoo meu medo, perdoo minha insegurança, perdoo o fato de não imaginar colocar nesse mundo louco outro serzinho, perdoo minha vontade de continuar com a minha vida exatamente do jeito que era. Me perdoo, sim, e não peço o perdão de ninguém, porque, desculpem, não preciso. E, como Zeca Pagodinho, deixo a vida me levar porque a vida está aqui dentro e Deus só pode estar sabendo o que fez. 




quinta-feira, 22 de junho de 2017

Quem dança seus males espanta!







A dança foi uma das muitas coisas maravilhosas que minha irmã trouxe pra minha vida. Minha irmã sempre foi hiperativa e sempre estava pensando em mil brincadeiras agitadas enquanto eu deitava na minha cama grudada com um livro e de lá só levantava pra comer. Ela não parava quieta, eu era a quietude personificada. Então, não é difícil deduzir que todas as muitas atividades nas quais minha mãe me matriculou foram por iniciativa dela. 

Minha irmã decidiu fazer piano. Eu fui atrás. Ela fez um ano e desistiu. Tentou flauta e violão e viu que não dava pra ela. Eu insisti no piano, apaixonada sou até hoje pelo instrumento. Anos de estudo.... Obrigada, Sis!

Minha irmã decidiu estudar inglês. Lá fui eu atrás dela. No livro 3 do CCAA ela desistiu. Eu me formei professora de inglês e minha vida é o que é graças ao CCAA e ... À minha irmã!

Minha irmã - a rainha da iniciativa - quis fazer dança. Eu pensei: vou atrás dela. E fui. Ela não desistiu dessa vez e é fácil entender a razão: atividade de agito, movimentação corporal. Isso era com ela mesmo! Seguimos apaixonadas por dançar! A dança pagou minha faculdade particular porque eu tive bolsa por ser do corpo artístico da Gama. Só ganhei. Nunca perdi nada com essa paixão. 

Aí a vida enrola a gente.... Faculdade, namoro, casa, filhos. A vida vira uma "coisa séria" e a paixão é deixada de lado. Quando se tem outras paixões - e eu tinha! - ótimo, mas muitas vezes a paixão fica encostada num cantinho porque  precisamos ganhar dinheiro, prover, conquistar, construir. Quem nunca se viu em uma encruzilhada dessas na vida? 

Eu sou louca pelo meu trabalho. Adoro os alunos, gosto de estar com pessoas, minha equipe é um espetáculo. Eu ganho pra fazer o que gosto e por anos a dança não tinha mais espaço na minha vida. Até que, como a maior parte das coisas acontecem pra mim, do nada, sem que eu esperasse, ela veio retornando de pouquinho em pouquinho e eu abracei a oportunidade de fazer algo do qual sentia muita falta. Voltei a dançar. 

Não danço por dinheiro. Não tenho minha turma linda por causa de ganho material. E isso torna as coisas ainda mais apaixonantes pra mim! Minhas aulas são movidas única e exclusivamente pelo amor que tenho por dançar e por gente. Uma vez professora, sempre professora. Meus alunos da "dancinha" (assim chamo minha aula, carinhosamente) são importantes demais pra mim. Estou lá na frente olhando cada um que chega. Sei pelo rosto deles se estão bem ou não. E, mais que isso, sei que durante uma aula de dança somos capazes de esquecer de tudo lá fora. É terapia, é amor, é prazer. Nessa turma de dança, não importa se todos farão certinho, sincronizados. Importa sermos felizes, importa nos melhorarmos, incentivarmos um ao outro. 

Por isso, hoje, quando recebi uma festa tão linda de aniversário, totalmente de surpresa, já que a data de meu nascimento é dia 14/06, só me ocorreu agradecer. E é isso que quero fazer aqui de novo. Agradecer a cada um que se mobilizou pra me proporcionar esse momento lindo. Mais que os presentes  maravilhosos que ganhei, me encanta vocês terem planejado tudo, gasto um tempo da vida de vocês pensando em mim. Me emociona terem organizado a decoração, a mesa cheia de coisas gostosas. Aquece minha alma saber que chegaram às 6 da manhã pra que quando eu abrisse a porta da sala estivesse tudo pronto pra mim. Esquenta o coração saber que vocês acharam que eu valia o esforço.

O carinho que recebo de vocês é enorme. E não tenham dúvidas: eu sinto. Em cada aula, em cada risada, em cada pedido de nova coreografia. Tenho plena consciência do que recebo de vocês. O amor que circula em nossa sala de aula enche nossos dias de luz, fornece energia pra aguentar todas as chatices que a vida de todo mundo tem de vez em quando. 

Quero que tenham a certeza de que sou muito feliz quando estou com vocês, mesmo quando o ar condicionado da sala não funciona! Mesmo quando o cabo da caixa de som faz barulho. Mesmo que eu viva rouca porque a sala vive lotada e preciso de um microfone que a academia não tem. Enfim, quero que saibam que se eu tivesse tudo isso: ar condicionado bombando toda aula, microfone pra poupar minha voz e caixa de som de última geração, mas não tivesse vocês, não teria a menor graça!

Obrigada! De novo. Sempre!

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Amor cotidiano



Recebi essa mensagem do Namorado e, além de ter ficado feliz, fiquei pensando em cada gesto pequenininho que serve de adubo pros amores que vivemos. A gente não se dá conta, mas certas atenções, certos detalhes, são tão bonitos, são tão importantes... São eles que servem de cimento, de base, pra um relacionamento durar. 

Nenhum relacionamento é o mar de rosas que insistem em mostrar nas redes sociais. Claro, ninguém quer ver briga ou postar desavenças, mas todos nós sabemos, por mais que queiramos acreditar só no que convém, que a vida a dois tem seus dias difíceis. Há diferenças, tem a TPM, irritação, há rotina, mesmice. Há o desgaste, a falta de paciência.

Meu relacionamento com o Namorado não é diferente de nenhum outro. Temos nossas chatices, uns dias meio atravessados, períodos em que estamos mais distantes um do outro, períodos em que estamos apaixonados. Muito apaixonados. E isso é muito legal em relações longas: poder se reinventar, mudar e ver-se apaixonando pela mesma pessoa várias vezes. 

Passei muito tempo da minha vida acreditando em paixões, em amores de novela, daqueles que tiram o sono e fazem você não conseguir fazer nada, a não ser pensar no objeto de seu amor. Quebrei a cara solenemente diversas vezes até entender que o amor, muitas vezes, vem manso, sorrateiro, tomando conta de tudo bem de pouquinho em pouquinho. Esse amor que chega devagar é visto como um amor menor. É mais ou menos assim: se houvesse uma classificação para os tipos de amor, esse seria o menos valorizado. Por outro lado, o mais valorizado, sem dúvida, seria o retratado em novelas, filmes: o amor arrebatador, aquele que você olha pra pessoa e PÁ, cai no chão com a pancada. Só que amor é amor, independente das circunstâncias e as pessoas deveriam ter mais consciência disso. Se tivessem, talvez se permitissem viver outras histórias, talvez se permitissem enxergar pessoas que não enxergam por estarem presas à padrões que estabeleceram pra si mesmas. Talvez deixassem esse amor lento invadir a vida delas e ... ficar.  

Conheci o Namorado em um posto de gasolina, antes de uma saída, apresentados por uma amiga em comum. Depois, fui apresentada a ele mais umas duas vezes por essa mesma amiga porque eu nunca lembrava quem ele era quando voltávamos a nos encontrar. Óbvio que, por isso, ele me considerava a mais esnobe, entojada e indelicada das mulheres. Tanto que na terceira vez em fomos apresentados, ele me disse:

- Estou cansado de ser apresentado a você. Veja se não me esquece porque não vai ter outra vez. 

Bastou. Não esqueci mais. A partir daí foram várias saídas como amigos, muito papo, muita risada, muita cumplicidade. Até que um dia - e não me pergunte qual foi esse dia porque não saberia dizer - percebi que o Namorado deveria ser meu. E eu dele. Percebi que éramos felizes juntos. Não me apaixonei porque olhei pra ele e vi isso instantaneamente. Não me apaixonei porque o achei irresistível. Não me apaixonei porque ele era bem sucedido ou tinha uma família legal. Não foi nada grandioso, nada estupendo, o que me fez gostar dele. Mas foi um monte de coisinhas.... Um monte de coisinhas miúdas que formaram uma montanha enorme de bem querer, de delicadezas, de um sentimento leve, leve. Foi um telefonema no meio do meu dia pra escutar minha voz. Foi uma conversa na qual percebi que ele realmente me escutava ou se importava com minha opinião sobre algum assunto. Foram várias situações em que notei que ele era um cara seguro e que gostava de me ver brilhar. Foi lembrar do que eu gosto de comer e trazer pra mim. Foi rir junto comigo de alguma idiotice que falei, sem fazer com que me sentisse burra. Tudo isso fez nosso amor comum ser um amor sólido, duradouro. Único. Nosso. Lindo.

Não vivemos numa montanha russa de emoções, não vivemos em loucura. Não temos brigas enormes e não temos celebrações bombásticas para selar paz depois dessas brigas. Alguns dirão que é um relacionamento morno. Eu diria que vivenciamos um amor delicioso, calmo, lindo e feliz. Vivemos uma relação saudável de muita parceria, respeito e muita, muita confiança. Longe de sermos perfeitos, somos duas pessoas que se encaixaram. E isso aconteceu um pouquinho a cada dia desses 13 anos de convivência. Eu sei que nenhum relacionamento tem garantias de durar pra sempre. Eu sei que não dá pra prever nada na vida. Mas sei que se tivesse que apostar em algum "tipo de amor" (se isso existisse!) eu não pensaria duas vezes: eu apostaria no nosso. 

Eu aposto em nós dois, Namorado! 






quarta-feira, 10 de maio de 2017

8 anos




Miguel, tanto pra te dizer e ao mesmo tempo nada diferente do que falo pra você todos os dias. Nosso relacionamento é íntimo, é forte, é de entrega total. Eu me entrego pra você como nunca antes a ninguém. E você se entrega a mim lindamente. 

Relacionamentos são construídos feito uma casa, filho. Uma boa base e, depois, tijolinho por tijolinho vamos formando uma residência resistente, firme e bonita. Nosso amor é assim também: vai aumentando todo dia, vai ficando ainda mais forte e vamos construindo uma intimidade e confiança muito gostoso de se ver. Confiança não vem do dia pra noite. Dá trabalho, é conquistada no dia-a-dia, em nossas batalhas diárias. 

Não sei se é porque você é meu único filho (tenho impressão que não é por isso), mas não perco nada da gente. Não adio nada, não protelo nada. Tudo com relação a você pra mim é urgência, é prioridade, é topo. Absorvo tudo o que aprendo com você e tomo desse amor todo dia, como se fosse um poção que vai me garantir um dia feliz. Há oito anos minha vida tem mais graça, tem mais cor, tem mais loucura, tem mais intensidade. Há 8 anos tenho mais preocupação, tenho mais vontade de ser mais bacana. Há 8 anos acordo pensando em você e é você meu último pensamento antes de dormir. Há 8 anos morro de medo de que algo lhe aconteça, morro de medo de que você seja arrancado de mim e de ter que lidar com essa dor. Há 8 anos lido com sua mão na minha quando a gente anda na rua. Há 8 anos a melhor música é o som da sua gargalhada e dos barulhinhos que você faz brincando com seu inseparável tubarão, braço de dinossauro e machadinha verde. E eu não me canso de você. Nunca.

Pra quem está de fora, posso parecer uma mãe que mima o filho. Talvez eu seja criticada por isso. Talvez digam que eu viva demais pra você. Talvez tenham razão, mas o fato é que eu não quero ser diferente. Sim, mimo você. Dou tudo o que posso. Sempre. Além de jogos e bonecos, dou meu tempo, minha paz, meu colo, meu amor. E, ao contrário do que dizem os psicólogos de plantão, vejo você crescendo um menino educado, sensível, atento às necessidades dos que o cercam, carinhoso demais, bonito. Um menino que não me questiona quando digo que não posso comprar alguma coisa pra você porque tem a certeza de que será a primeira coisa que farei quando puder dar a você o que pede. Ao contrário do que os especialistas alardeiam, vou dormir na sua cama com você quando você diz que está com saudade de dormir comigo e levo você pra viajar comigo e com o papai mesmo quando me dizem que o casal precisa de momentos a sós. Sabe porque não ligo a mínima pro que dizem, filho? Porque não vai demorar muito você vai preferir sair com seus amigos a sair com seus pais, vai preferir dormir na cama com sua namorada e não vai mais querer conversar comigo no escurinho do quarto antes de pegar no sono. Você terá seus interesses e esses podem não ser iguais aos meus e... tudo bem! É pra isso que estou educando você, filho. Pra você voar. Então, não vou apressar esse tempo em que você não vai precisar mais tanto de mim. Ele vai chegar no momento certo e enquanto não chega eu aproveito TUDO. 

Outro dia, depois de chegar em casa cansada e vindo do mercado onde comprei várias coisas que você gosta de comer, você me disse que queria comer bolo. E não tinha bolo em casa. Ofereci um desses bolinhos prontos e você me disse que não era esse o bolinho que queria, você queria bolo fresquinho, do forno. Respirei fundo, pensei no banho que já pensava em tomar e na sua vontade não satisfeita. Calcei meus sapatos de novo e peguei a chave do carro. Falei pra você que iria sair pra comprar o bolo que você queria. Você disse que vinha comigo. Fomos.

Estacionei o carro e saimos caminhando de mãos dadas. Você me disse:

- Nossa, mãe, você é a melhor mãe do mundo. Já tinha vindo do trabalho e mesmo assim saiu de novo só pra comprar o bolo que eu quero... Obrigada!

Eu falei pra ele:
- Filho, você merece. Mas sabe de uma coisa? Um dia, quando eu era da sua idade, falei pra minha mãe que queria comer um biscoito que não tinha na minha casa. Minha mãe também estava cansada, mas ela se vestiu e saiu pra comprar o biscoito que eu queria comer. Ela fez por mim o que estou fazendo por você. Feliz. E eu estou feliz de poder fazer isso por você. E, tenho certeza, um dia você fará o mesmo por seu filho. 

Você olhou pra mim e nada falou, assentiu com a cabeça e sorriu. 

Miguel, você é um menino especial pra mim. Sempre será. Saiba que não é especial pro mundo todo, aprenda que sempre haverá alguém mais inteligente, mais bonito, mais corajoso. Entenda que não é o centro do universo. Entretanto, nunca esqueça que você é único, que não existe ninguém que seja igual a você. Suas qualidades são inúmeras, seu carisma é incrível, mas sua maior qualidade é sua persistência, sua garra. Não desista do que quer. Não se entregue fácil. A vida é dura mas você é forte, filho. Eu estarei com você, sempre a seu lado. De longe ou de perto. Eu fui escolhida pra ser sua mãe, você me aceitou como sua companheira nessa jornada e eu vou fazer de tudo pra cumprir bem meu papel. 

Você é um filho maravilhoso. Uma alegria, uma luz. É meu bebê. Minha vida. Meu preto. Meu rei. Meu Guel. Te amo.

Parabéns, filho!

Mamãe.