quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Amizade de uma vida

Eu tenho amigos de infância. Amigos que conheci novinha, a vida afastou e trouxe de volta. Hoje, adultos, continuamos amigos e nos encontramos nas festinhas de nossos filhos e nos falamos de vez em quando. Mas quantas amizades começam quando somos crianças e atravessam todas as nossas fases, resistem às mudanças de caminhos, de escola, são à prova das nossas diversas escolhas? Eu só tenho uma. 

Conheci o Marcelo quando estava na terceira série do ensino fundamental. Tinha 8 anos e, como todos sabem, era aquela menina quietinha, que se sentava na parte da frente da sala de aula e que gostava de prestar atenção. Não sei por qual obra do destino, quis a vida que o Marcelo tivesse seu lugar cativo em uma carteira atrás de mim e, totalmente o meu oposto, Marcelo sempre foi engraçado, implicante e deliciosamente fofo com todo mundo. Sabe aqueles caras de quem os meninos gostam e que as meninas não odeiam? Marcelo era o próprio. Outra característica marcante é que ele me fazia rir muito! Sei que não é difícil me fazer rir porque sou muito risonha mesmo, mas o problema é que ele, sentado atrás de mim, falava as maiores besteiras e eu é que me virasse pra me controlar porque ele continuava muito sério, como se nada tivesse acontecido. Eu ia ficando roxa de tanta vontade de gargalhar. Marcelo sempre foi muito cínico e me deixava louca com sua cara-de-pau.

Fomos juntos até a oitava série quando, então, mudamos de escola. Inacreditavelmente, sempre mantivemos contato. Nunca nos interessamos um pelo outro sem ser como amigos, embora ele me achasse bonitinha - devia ser cego porque eu não era nada bonita - e eu também achasse ele legal. Éramos amigos e pronto. Nos falávamos ao telefone e fomos partilhando nossas modificações, nossos tropeços, frustrações e nossas vitórias. Acho até que ele teve que se adaptar às minhas mudanças muito mais que eu às dele, afinal ele continuou quase o mesmo Marcelo de sempre, gaiato, divertido, inteligente, apenas mais maduro. Eu? Eu fui uma lagarta que virou borboleta e, de repente, ele teve que conviver com uma pessoa saidinha, falante, risonha, que desabrochou. Não deve ter sido fácil, mas continuamos ali, juntos. Separados muitas vezes pela distância geográfica, mas unidos por um bem querer enorme. 

Muitos dizem não acreditar em amizade entre homem e mulher. Eu acredito porque vivi e vivo essa amizade. Já namoramos muitas pessoas e já estivemos solteiros na mesma época também. Já fomos pra night juntos e já dormimos na mesma cama. Sempre tivemos um respeito enorme por nossa amizade, pelo sentimento bonito que temos um pelo outro. Na época em que estávamos solteiros e querendo muito namorar, encontrar alguém legal, perguntávamos um pro outro: "a gente bem que poderia se apaixonar um pelo outro, né?" E depois a gente ria do inusitado que seria essa situação. Quantos dias dos namorados em que um consolou o outro? Quantos choros meus no ombro dele? E dele no meu? Quantos conselhos, quantos puxões de orelha? No fundo a gente sabia muito um do outro pra pensar em qualquer outro relacionamento que não fosse o de uma amizade verdadeira, totalmente desinteressada. Estarmos juntos sempre foi muito gostoso, o carinho que temos é enorme, mal cabe no nosso abraço apertado que acontece em cada reencontro.

Marcelo foi meu padrinho de casamento. Não poderia ser diferente. Ele sempre torceu muito por minha felicidade. Na época, entrou com a mais fofa e linda das amigas: a Cacau. E foi muito importante ter o Marcelo ali, pertinho de mim, durante a cerimônia. Uma amizade que atravessou tantos períodos complicados, outros inconsequentes, alguns períodos de total liberdade e descompromisso com nada e com coisa alguma, e outros de tanto comprometimento e responsabilidade. 

Por isso tudo, meu querido amigo, você deve saber, sim, o quanto me fez feliz me convidando pra ser sua madrinha de casamento. Saiba que eu estarei ao seu lado pra você poder olhar pra mim, como eu olhei pra você na noite do meu casamento, e lhe lembrar que sempre há um final feliz pra gente bacana como nós. Em segundos, quando a gente olhar um pro outro, vamos voltar a ser crianças, sentados em uma sala de aula, cheios de esperança e vontade de fazer tudo certo. Como em um filme, vamos nos enxergar vivendo de novo tudo o que vivemos. Você vai olhar pra mim e vai sentir que tudo pelo que passamos nos trouxe até aqui e que vê-lo feliz é um presente enorme que a vida está me dando. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carnaval pra descansar

Minha sogra sempre disse que assim que Miguel tivesse 2 anos, estivesse falando direitinho, gostaria que eu o deixasse na casa dela pra passarem o final de semana juntos. A primeira vista, parece o paraíso: imaginem uma noite inteira só pra mim e o namorado, sem interrupções, sem troca de fralda ou mamadeiras... Sim, Miguel ainda toma suco durante a noite e faz tanto xixi que, ou deixo que ele durma de fraldas e tenho que trocá-las umas 2 vezes por noite ou tenho que levantar pra levá-lo ao banheiro. Resumindo: tenho que acordar ainda pelo menos 2 vezes por noite.

O tempo foi passando, Miguel já está com 2 anos e 9 meses, e a Berê continuou falando a respeito de deixarmos que Miguel ficasse lá. Minha sogra é um amor e se oferece quase todos os domingos pra ficar com ele após o almoço para que a gente possa pegar um cinema. Mas a idéia, embora eu confie totalmente na Berê, de o Miguel passar a noite fora me deixava um pouco apreensiva. Todas as vezes em que não dormimos com o Miguel, estávamos viajando de férias. Tinha medo de ele ficar chorando, chamando por mim, sentindo nossa falta. Tinha um medo de mãe que acha que ninguém vai dar o chameguinho que só você sabe dar pro seu filho...  Porque nós mães somos assim? Sempre achando que ninguém cuida do nosso bebê tão bem quanto nós? Será que todas as mães são assim ou só algumas como eu? Mas, sabendo que a Berê seria a primeira a nos ligar pra buscá-lo no caso de ele não estar bem ou sentindo muito nossa ausência,  vencemos o medo e deixamos Miguel lá ontem. 

É estranho estar em nossa casa e olhar o quartinho dele vazio e sentir a casa silenciosa. Mas realmente estávamos precisando ficar em casa, sem nada pra fazer, sem ouvir toda hora o Miguel nos chamando. O Guel está em uma fase que demanda uma atenção grande, toda hora quer alguma coisa, quer mostrar alguma coisa, quer contar alguma estória e isso cansa. Será que essa fase de agora está demandando muito da gente, mais que antes? Não sei. Desde que o bebê nasceu a gente entra e sai de tanta fase... O que fica é que, ok, as fases são diferentes, mas a demanda e o cansaço continuam os mesmos. Ainda não consigo dormir uma noite inteira e acho que nunca mais vou conseguir fazer nada inteira. Se leio um livro, metade de mim está na estória, metade está pensando porque o Miguel está tão quieto. Se estou no trabalho, metade de mim está realizando alguma tarefa e a outra metade está pensando se ficou bem na escola. Se estou tomando banho, metade Paula está no banho, a outra está rezando pra ele continuar assistindo a "Carros 2" até o fim do meu banho. Se estou no cinema com o namorado, metade está lá, no escurinho de mãos dadas, a outra metade está pensando se Miguel comeu direito. 

Bem, resumindo: Miguel ficou muito bem ontem com a Berê e com os primos, foi ao baile de carnaval e se divertiu. Minha preocupação era à noite, se ele perturbaria muito a Berê... Mas já falamos com ele hoje e ele está muito feliz. Foi à praia agora pela manhã e vai almoçar. Berê achou que ele ficou tão bem que sugeriu que só fossemos buscar o Miguel amanhã. Falamos com ele pelo facetime e olhamos a carinha dele toda feliz e a resposta foi SIM. Ficarei mais um dia sem o Guel dentro da minha casa... Que estranho ... Não posso esconder que me sinto um pouquinho culpada por estar em casa sem o Miguel, em um tempo que seria pra gente ficar juntos. Mas ele está se divertindo e muito bem cuidado com a avó. E olha que ela ainda me agradeceu muito por eu ter deixado que ele ficasse com ela esses dois dias!!! Eu é que agradeço pelo descanso inesperado.

Enquanto isso, deixa eu aproveitar meu carnaval inusitadamente tranquilo. Deixa eu colocar tudo o que tenho que colocar em dia... E depois, acho que vou deitar na minha cama, com o ar condicionado ligado e ficar olhando pro teto, tentando não pensar em nada. Só sentindo uma saudade lá no fundinho do meu coração do meu menino gostoso e com uma leve sensação que depois que Miguel voltar eu vou sentir saudade dessa paz de hoje.  É, não tem jeito, acho que de agora em diante estarei mesmo fadada a estar dividida em duas metades. Será que aquela estória de que ser mãe é ter outro coração batendo fora do peito começa a fazer sentido pra mim?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Noronha












Há quatro dias sonhei que estava de volta em Fernando de Noronha e desde então uma saudade imensa desse lugar lindo demais me invadiu. Acordei do sonho como quem acorda sem saber onde está, perdida por ter passado a noite toda entre praias paradisíacas e águas azul turquesa e acordar na realidade do Rio de Janeiro, cheia de coisas pra resolver. Confusão entre a calma do sonho e a pressa do meu dia-a-dia. 

Justamente por estar em um momento corrido aqui no trabalho foi que demorei a buscar as fotos dessa minha viagem. Mas a saudade que não me deixa desde que tive o sonho não me fez esquecer e lá fui eu atrás das fotos pra matar essa vontade de estar de volta em Noronha, em dias de sol e paz, de mar e amor, de sal e tranquilidade. 

Eu adoro viajar e conhecer lugares novos. Tanto faz se o destino é no Brasil ou fora dele. Aliás, se tem um lugar pra qual gosto de ir é pro nordeste. Amo o povo nordestino, o jeito receptivo, simpático. Tirando a Bahia - que pra mim não tem o perfil acolhedor do nordeste - amo demais as praias e clima e só lamento o Brasil não ter acordado ainda pro fato de que precisamos ter uma estrutura melhor pra gente poder aproveitar nossas belezas naturais de forma mais confortável. Lá do nordeste, entre tanto lugar lindo e tanta praia gostosa, nada se compara a Fernando de Noronha.

Pra quem mora no Rio de Janeiro, uma das cidades mais lindas do mundo, fica difícil ficar de boca aberta quando se trata de cidade bonita. O Rio é lindo demais e não é qualquer cidade que me faz falar "uau". Fernando de Noronha está entre esses lugares que me deixam perplexa com tanta beleza. Não sou a maior amante da natureza, não gosto de acampar e, mesmo em Noronha, não me fale de pousadinhas, gosto de ter conforto. Não aguento muito tempo em contato com a natureza sem as conveniências e agitações da vida em uma metrópole, mas estar em Noronha é uma experiência única, em um lugar privilegiado demais por Deus, com uma energia de sossego contagiante. Em Noronha não há como ficar ou continuar estressado, o lugar tem ritmo próprio, independente do que esteja acontecendo no resto do Brasil, lá é sempre tudo azul, tudo lindo, tudo em harmonia. 

Fui pra lá em 2007, lá se vão 5 anos, e daria tudo pra ficar uns 5 dias lá novamente, caminhando, lendo e colocando o livro no colo de vez em quando pra poder contemplar a paisagem e voltar a ler, dormindo com as galinhas, mergulhando entre golfinhos e tubarões, vendo peixinhos beliscarem minhas pernas. Fazendo trilhas que levam a lugares espetaculares, comendo a comida gostosa da Pousada do Zé Maria e namorando muito. Muito mesmo. Que sonho bom foi esse que tive...  E que saudade de Noronha!!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Adaptação

Miguel com seu uniforme

Animado pra ir pra escola da Rafa

Gostoso da mãe indo pra primeira escola


Terça - feira Miguel começou na escola. Estava animadíssimo. Fui almoçar em casa e quando cheguei ele já havia almoçado e estava usando seu uniforme feliz da vida. Fomos pra escola e chegando lá, tudo muito novo pra ele, vi que seus olhinhos estavam um pouco assustados com tanta novidade. Meu coração também estava inquieto, esperando como seria a reação dele e já antecipando o que viria. 

Miguel não é criança de se entregar facilmente. É gaiato, falastrão, agitado - com quem ele já conhece e tem intimidade. É uma criança que não se mostra assim, de graça. Pra ver o Miguel em seu estado bruto, o Miguel real que tenho em casa, é preciso haver um pouquinho de intimidade, é preciso que ele se sinta seguro. Por isso, eu sabia e coração de mãe não se engana fácil, que a adaptação não viria de cara. Ele se interessou por tudo, pelos espaços da escola, pelos vários ambientes que visitou, pelos brinquedos, pelas atividades, mas ficou perto de mim  o tempo todo e quando eu conseguia sair de perto dele um pouquinho que fosse, seus olhinhos me buscavam logo. O horário de adaptação é reduzido no princípio, ficamos lá apenas de 12:30 até às 15h. A idéia era que aos poucos ele iria aumentando o horário até chegar ao horário cheio, de 12:30 às 17:20. 

Na quarta - feira fiquei curiosa pra ver se a empolgação dele em ir pra escola diminuiria. Graças a Deus, ele continuava muito animado e ansioso pra ir logo pra escola. Chegamos a escola, entramos na sala dele com muita alegria, mas ele continuava colado em mim, com dificuldade pra interagir com os novos colegas e com a professora e estagiárias. Tive vontade de chorar várias vezes durante o período em que estive lá. Ficava me perguntando como podia um menino criado em creche não querer dividir os brinquedos com os colegas, não querer brincar com as outras crianças, não permitir que as outras crianças pegassem o brinquedo que havia escolhido... Pra ter uma idéia, na hora do lanche, uma das menininhas fofas e desinibidas da turminha dele (como pode as meninas serem tão mais sociáveis que os meninos?), ofereceu biscoito de chocolate ao Miguel. Miguel aceitou prontamente, disse "obrigado" e tudo. Só que a menina queria o biscoito salgadinho do Miguel e cadê que meu filho queria dar? Era como se ele pensasse "ela ofereceu por que quis, não pedi nada, agora não venha pegar o meu biscoito!" Que situação... Não se brinca com comida em se tratando de Miguel. Sabe aquele episódio de Friends em que o Joey diz "Joey don´t share food"? Eu me sentia dentro desse episódio. Por fim, com muito jogo de cintura, consegui que Miguel doasse vários biscoitinhos dele pra menina e em troca ela entregou TODOS os seus biscoitos recheados pro Miguel. Que vergonha ... Miguel parecia um ser selvagem, que precisa ser domesticado.

Enfim, fui ficando muito angustiada, já pensando que teria que passar um mês dentro da escola até que ele se adaptasse e soltasse a barra da minha saia. Saí de lá, deixei o Miguel em casa e caí em prantos. Na minha cabeça eu já imaginava meu filho com dificuldades de socialização, um menino esquisito que não queria trocar experiências com os outros e, consequentemente, um menino que não aprende. Enfim, minha cabeça neurótica só pensava besteiras e perguntei a Deus porque meu filho era mais parecido com o Hugo que comigo nesse sentido. O Hugo é um cara assim, que não se mostra logo. É preciso um pouco de tempo pra que ele brinque, fale besteiras, pra que mostre o cara engraçado e espirituoso que é. Eu sou muito mais facilmente decifrável e sou amigável com todo mundo e tenho uma tendência a ter milhares de amigos de infância... Eu, definitivamente, não estava sabendo lidar com o fato de ter que passar por isso simplesmente porque não vivi isso quando ele entrou na creche. Miguel tinha 4 meses e foi crescendo lá dentro. Não teve que se adaptar. A creche era a continuação da sua casa, era o seu quintal.

Hugo foi muito paciente comigo, explicou pela milionésima vez que cada criança tem seu tempo, que eu não devia ficar fazendo comparações e que nosso filho não tinha problema algum, que era muito parecido com o pai e pronto. Tudo isso eu estou cansada de saber, né? Sou professora, trabalho com isso o tempo todo, mas na hora do filho da gente... Meu Deus, surtei. Mais uns 10 anos de terapia pra mim. 

Ontem, terceiro dia do Miguel, resolvi fazer a Shakira e dei uma de "loca, loca, loca". Pensei, "como é que pode essa criança que não me dava nem tchau quando entrava na creche, nem beijo de despedida, nem olhava pra trás quando eu ia pro trabalho, ficar nesse grude comigo como se fosse a criança mais apegada a mãe da face da terra?" Falei com a Cristiane (professora do Miguel) que sairia apenas por uns 5 minutinhos pra tirar meu carro que estava estacionado no sol e colocá-lo em frente a escola, na sombra. Ela disse que seria ótima idéia e que tiraríamos a prova se todo o grude era manha ou se ele estava de fato sofrendo com toda a novidade. Recomendou que quando eu voltasse não subisse pra sala de aula, que ficasse próxima da secretaria. Ela me chamaria caso Miguel ficasse incontrolável. Na minha presença, Miguel não teria a necessidade de criar vínculos com a Cristiane e com os novos colegas. O vínculo comigo bastava. Com isso em mente, me enchi de coragem e disse ao Miguel, de modo firme, que sairia mas que voltaria logo. 

Assim que me sentei no banco ao lado da secretaria da escola, uma das estagiárias me chamou: "Vim lhe chamar pra que fique tranquila. Venha escondidinha observar seu filho." Quando cheguei na janelinha de vidro, Miguel estava entre as outras crianças, sentando no chão no colo na professora, ouvindo estorinha. Calmo, calmo. Agora você vê? Depois de meia hora, subi novamente para observá-lo e ele estava, pasmem, dançando!!! Voltei na hora do lanche para buscá-lo e já achei que ele estava mais solto, menos grudado em mim. 

Ontem, nem entrei na sala. Me despedi na porta mesmo e ele ameaçou chorar. Novamente falei que voltaria e fui decidida. Hoje nem fiquei na escola, a professora disse que eu poderia ir e que se precisasse de mim, me telefonaria. Não telefonou. Quando voltei, ela disse pra eu não entrar na sala. Miguel estava muito bem, lanchando sozinho, ele só me veria na hora de ir embora mesmo. Miguel ficou feliz da vida em me ver e já animado pra retornar. Cristiane recomendou que na segunda-feira fizéssemos o mesmo de hoje e que a partir de terça ele já ficará o horário completo visto que ficou muito bem sem mim. 

Acho que eu é que preciso mesmo de adaptação e não ele. Fiz tanta tempestade em copo d´água... Estava tão preocupada achando que meu filho tinha problemas de relacionamento, que fiquei cega. Não conseguia pensar em mais nada. Não quero criar um filho que fique grudado em mim. E estava muito difícil lidar com o fato de que ele não estava conseguindo interagir com os demais, ao contrário, se retraia ainda mais quando outras crianças tentavam se aproximar dele ou até mesmo as professoras. A verdade é que na minha ausência, meu filho que não é bobo nem nada, foi obrigado a se virar e a começar a estabelecer um relacionamento de confiança com outras pessoas além de mim. E Miguel é esperto, sabe que não tinha outro jeito. Na minha falta, viu que ou interagia ou ficaria à parte de toda a brincadeira. Graças a Deus, está tudo indo muito bem agora. E parece que uns 100 quilos saíram das minhas costas. 





segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Último Dia


Miguel com 4 meses - idade em que entrou na creche
aos cuidados de Sandra e Fatima


1 ano e 7 meses - Indo para o
Maternal


Aos cuidados de Suzane e Miriam com 1 ano 
e 7 meses no Maternal


Meu safadinho hoje indo pro Jardim I


2 anos e 8 meses



Hoje foi o último dia do Miguel na creche. Fui buscá-lo com o coração pequeno, com o estômago revirado, com vontade de chorar. Sei que deveria ser mais desapegada à lugares onde vivi bons momentos  e à pessoas por quem tenho gratidão e carinho, mas não consigo, é mais forte que eu. Sinto falta, sinto medo do que vem pela frente, sinto saudade do que vivi. Essa mistureba de sensações me fez sair da creche hoje chorando, com meu filho olhando pra minha cara sem entender nada, me perguntando: "tá tiste, mamãe?" 

Sei que a creche Cambalhota será sempre uma casa pro meu filho. Uma casa onde ele fez seus primeiros amigos, onde levou sua primeira mordida. Uma casa que o acolheu não só com carinho profissional, carinho de quem recebe pra cuidar, mas sim uma casa que o acolheu de braços abertos e olhos atentos para conhecer o Miguel em cada detalhe. As pessoas que cuidaram do meu filho desde que era um bebezinho de 4 meses até agora, quando sai de lá aos 2 anos e 8 meses, estarão sempre no meu coração e à elas desejo toda felicidade. 

Quero crer no até breve, não no adeus. Quero acreditar que mesmo com a vida do Miguel indo para outros caminhos, esse laço de amizade não se romperá. Miguel talvez acredite mais nisso que eu, porque acho que de um jeito ou de outro, já sabe que hoje foi seu último dia antes de ir pra escola. Ficou muito feliz quando cheguei, correu para meus braços, me beijou e abraçou e pediu logo, "vamos pra rua, mãe. Vamos pra casa!" Despediu-se da Suzane e da Miriam, e saiu dando tchau pra tudo. "Tchau, peixinhos!" "Tchau, nenéns!"  Acho que ele está se sentindo muito grande agora que vai para uma escola sem nenéns... Enfim, tudo parece muito mais fácil pra ele que pra mim. 

Hoje me sinto um pouco como a Paula de 2 anos e 4 meses atrás, abraçada ao meu bebê no escurinho do quarto dele, chorando silenciosamente, naquele domingo antes de entregá-lo à creche para voltar ao trabalho. Com medo do que vou sentir, com medo do que o Miguel vai viver longe de mim na escola nova. Mas é a vida. Quantas separações ainda viveremos? Quantas mudanças de escola? Quantas conquistas realizadas por seus próprios pés, quantas quedas sem que eu esteja ao lado pra estender minha mão? Nossa vida está só começando, ainda nos reserva muito a viver. 

Aqui deixo, mais uma vez, registrado meu agradecimento a todas as pessoas que cuidaram do meu menino com todo amor, mesmo que estivesse chato, mesmo que estivesse irritado, mesmo que estivesse fazendo pirraça, até mesmo doente. Essas pessoas que cruzaram o caminho do meu filho através da creche Cambalhota foram anjos que Deus colocou na primeira e delicada fase de vida dele. Que elas possam receber meu amor através dessas palavras. E, se for permitido que eu peça algo diante do tanto que tenho recebido de Deus, ouso pedir que Ele continue cobrindo meu filho de bençãos e que outros anjos cruzem seu caminho a partir de amanhã.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Frio na barriga





Semana que vem é a primeira semana do Miguel na escola. E não dá pra esconder: estou ansiosa. Hoje foi a reunião na escola para que tudo fosse explicado, como vão ser os horários da adaptação, o que tenho que colocar na mochila, quais são as regras do jogo. Por um lado foi ótimo conhecer a professora do meu filho, ver que tem 18 anos de experiência no ensino infantil, vi que é firme, sabe o que faz. Foi ótimo conhecer os outros pais e perceber, assim, por alto, que todos os que ali estavam parecem ser pessoas que não querem deixar monstrinhos pro mundo. Todos querem filhos bacanas, que respeitem e sejam respeitados, que não sejam egoistas, que saibam compartilhar, que aprendam o amor pela natureza e pelo mundo. 

Por outro lado, ver que tantas mães já se conheciam e, consequentemente, seus filhos já são amigos, ver que outras mães deram a sorte de estarem saindo da mesma creche e, sendo assim, seus filhos já terão um amiguinho pelo menos a ser reconhecido quando entrarem na sala de aula, me deixou mais apreensiva. Miguel é  um dos poucos que não conhecem ninguém da turma, todas as crianças serão novas pra ele. Querendo ou não, meu coração está apertadinho. 

Miguel deixa pra trás seus amigos desde que tinha 4 meses, seus companheiros de brincadeira e brigas, crianças que já sabem lidar com ele e com as quais ele também já sabe lidar. Sem conhecer ninguém, entrará em um novo ambiente, com uma professora e duas estagiárias desconhecidas e com crianças desconhecidas. Vai sair da zona de conforto por causa de uma decisão tomada por mim. Muito difícil essa tarefa de decidir o que é melhor pra vida de outra pessoa. Mesmo que essa outra pessoa seja seu filho de 2 anos e 8 meses. Será mesmo que a adaptação será mais difícil pra mim que pra ele? Não sei, mas não quero pensar que vai ser tão difícil pra ele quanto pra mim.

Estou incentivando o Miguel com relação à mudança, falando de como será maravilhoso ir pra nova escola e ele se mostra bem receptivo, mas não sei até que ponto ele está realmente entendendo o que vai acontecer. Ele está animado pra ir pra mesma escola que a prima vai, mas não sei se entende que não terá mais o contato diário com seus amigos. Bom, agora é esperar até a semana que vem e ver o que vai acontecer. Como não vivi esse período de adaptação quando Miguel entrou pra creche já que tinha apenas 4 meses, viverei agora. Tomara que tudo dê certo, porque minha intenção é fazer o melhor pra ele. Vida complicada essa de ser mãe.