segunda-feira, 27 de abril de 2015

Felicidade



Há anos eu venho refletindo sobre o fato de a maior parte das pessoas sempre dar mais valor ao que é triste, ao que é tragédia, ao que é infeliz, que às coisas bacanas, felizes e alegres da vida. Fico me perguntando a razão de darmos tanto espaço em nossas vidas pra tristeza, nunca enaltecendo o que é bom. Esse mês uma professora entrou na minha sala quase chorando, nervosa, me dizendo que precisava me pedir uma coisa e que, se eu não achasse pertinente, que tudo bem, ela entenderia. Ela me pediu pra faltar dois dias pra emendar o feriado e poder ver o namorado que mora em outro país. Na contramão do que muitos pensam, eu disse sim. Disse SIM porque ela é uma ótima pessoa e colega de trabalho. Disse SIM porque sinto prazer em dizer SIM pra alguém que vai viver o amor. Disse SIM porque prefiro ouvir a verdade dela que mentiras que me obrigariam a dizer sim também. Se ela me dissesse que estava com um parente doente em outro estado ou país e que precisava visitar o tal parente, seria politicamente correto dizer sim, não é? Eu me veria obrigada a dizer sim pra que ela vivesse um momento triste. 

O que acontece quando alguém liga pra você pra contar que perdeu o emprego, por exemplo? Provavelmente, você fica horas ao telefone querendo entender os motivos, remoendo atitudes que poderiam ter levado até aquela decisão drástica da empresa ou tentando dar força pra pessoa em questão. Acho justo. Mas será que gastamos esse mesmo tempo quando alguém liga pra contar que conseguiu um novo emprego? Ou liga pra dizer que vai mudar de empresa pra ocupar um outro cargo melhor? Será que gastamos o mesmo tempo querendo saber os detalhes, o que fará no novo lugar, quais serão seus desafios? Garanto que não. Damos os parabéns, genuinamente felizes pelo amigo, mas não damos muito tempo ao assunto, afinal, coisa boa é boa e pronto. 

Se um funcionário seu ou colega que trabalha com você diz que atrasou-se porque o filho estava doente, consideramos um motivo justo para a falta. Mas se o mesmo disser que atrasou-se porque o marido ou esposa estava de folga e que acabou perdendo a hora de manhã porque ficaram deitados de conchinha por mais tempo na cama? Lascou-se. Isso não é considerado justo. 

Se alguém pede pra sair mais cedo pra levar a mãe ao médico, a resposta será sim. Se a pessoa pedir pra sair mais cedo pra ir ao show da banda da qual é muito fã, a resposta será não. Se alguém se alonga na hora do almoço porque caiu na rua e torceu o pé e precisou ir ao hospital, não tem problema. Mas se alguém se alonga na hora do almoço porque esbarrou com uma pessoa interessante na rua e acabou não se dando conta de que o tempo passou porque não conseguia tirar os olhos do cara (da garota) enquanto conversavam, provavelmente será considerada irresponsável. 

Nós somos criados pra aceitarmos o triste e não reverenciarmos o feliz. As situações chatas são dignas de consideração e atenção, já as situações felizes são olhadas com descaso, como se devessem acontecer com hora marcada, na hora considerada como certa ou propícia e, uma vez acontecendo fora do que se espera, não merecessem atenção. E isso é péssimo. Precisamos abrir nossa alma pro belo entrar, precisamos abrir nossa mente pra valorizar o que for bom, o que trouxer felicidade. Mas parece que temos vergonha de falar sobre felicidade, sobre viver momentos bons. O mundo não entende quem, verdadeiramente, valoriza momentos felizes. Todo mundo quer parecer feliz, mas poucos estão dispostos a viver inteiramente pequenos momentos de felicidade.

Sei que existe gente irresponsável no mundo, gente que mente porque no fundo não quer levar o trabalho a sério, não quer estudar pra prova, não quer se empenhar. Tem gente que mente de forma patológica pra conseguir sair mais cedo, pra conseguir fazer uma segunda chamada, pra ser desculpado por suas falhas. Mas tem gente bacana que trabalha duro, que se dedica e que merece viver momentos felizes, pessoas que são dignas de confiança, sim. Pessoas que merecem agarrar toda e qualquer oportunidade pra serem felizes. Eu acredito nisso. E, portanto, procuro sempre pôr em prática essa minha teoria de deixar quem está ao meu lado vivenciar esses pequenos presentes que a vida nos oferta, muitas vezes presentes que aparecem nos dias de semana mesmo, no horário comercial. Nem tudo que é bom na vida acontece aos sábados e domingos. A vida é hoje, agora. Enquanto trabalhamos ou dançamos, enquanto estamos estudando ou ouvindo música, a caminho do estágio ou do cinema. Eu sempre vou estender meu braço pra felicidade, minha ou dos que me rodeiam. Assim, a felicidade estará sempre pertinho de mim.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Thor



Não sei como começou a conversa, mas eu e Miguel estávamos falando sobre os Avengers um dia desses. E eu disse que esses super-heróis são bem bonitos e charmosos. E que o Thor... Nossa, o Thor, é um gato! Depois de meu filho ficar olhando pra minha cara por alguns segundos como quem diz "essa minha mãe não é muito certa da cabeça", Miguel puxou outro assunto. Acredito que meu filho veja graça em outras qualidades dos Avengers e que ele não esperava que eu fosse mencionar a beleza dos caras.

Dois dias depois daquele conversa, enquanto estava no banheiro me maquiando, Miguel entrou segurando o boneco do Thor em sua mão. Dessa vez, ele olhou pra mim e falou:

- Mãe, por que você acha o Thor um gatão? 

Fiquei rindo por ele ter usado a palavra "gatão" e também por conta da pergunta assim, do nada, tão fora de contexto. É claro que eu sabia que essa pergunta que veio assim, solta, tinha a ver com a conversa sobre a beleza dos super heróis de dois dias antes. Como eu estava demorando a responder, Miguel insistiu:

- Por que você acha o Thor o mais bonito?

Bom, vamos lá:

- Filho, o Thor é o mais lindo porque é grande, tem os ombros largos, os braços fortes. Tem um jeito de olhar bem firme. E tem uma cara meio bruta, cara de macho, sabe? 

Miguel, olhando pro bonequinho que estava em suas mãos, prosseguiu:

- Mas, olha, ele tem esse cabelo de menina... Isso não é meio doido?
- Pois é, filho. Está aí uma coisa que não gosto muito. Mas você sabe que não existe essa coisa de cabelo de menina e de menino - resolvi fazer a mãe politicamente correta. E continuei: Existem meninas que usam cabelinho curto e meninos que gostam de usar cabelos longos. E o Thor é tão lindo que até de cabelo comprido ele fica gatão. 

Miguel riu e perguntou:

- Mas você não acha esquisito ele segurar esse martelo o tempo todo?

Gente... De onde ele tira essas coisas??? Continuei em defesa do mais gato dos super heróis:

- Não, filho. Na verdade, também acho sexy o fato de ele segurar esse martelo com essa mão grande que ele tem. Sim, isso é muito sexy.

Lógico que dificilmente Miguel entende o que "sexy" quer dizer. Mas ele deve ter entendido como sinônimo de bonito. Miguel se calou por um tempinho, intercalando olhares pro boneco e pra minha cara enquanto eu seguia me maquiando. Até que resolveu quebrar o silêncio:

- Ai, mãe... Você é mesmo muito engraçada... ahahahahahhaaa Você acha legal esse carinha aqui segurando o martelo o tempo todo, é? Que engraçado!!! ahahahahhahaaaaa

E saiu rindo pro seu quarto. A enquete sobre o Thor estava terminada. 





domingo, 5 de abril de 2015

Longe



Esse ano, pra prejudicar pouco a alfabetização do Miguel, decidimos não tirar férias em abril como de costume. Resolvemos deixar as férias pro segundo semestre pra podermos viajar juntos, já que meu filho tomou gosto por conhecer outros lugares, outras pessoas, outras belezas. Além disso, viajar com ele é um prazer porque é um garoto que não me prende, não me dá nenhum trabalho extra, é bom de garfo, é boa companhia e do tipo "topa tudo". Só que eu e Namorado estamos bem cansados e precisando de um tempo pra respirar da correria que é nosso trabalho no fim e início de todo ano. Por isso, vamos alí em Maceió rapidinho, só uma semana. Mas isso quer dizer que vou ficar longe do Miguel esse tempo. 

Por mais que eu saiba que faço isso desde que ele nasceu e que eu tenho tantas pessoas bacanas com quem contar pra que a rotina dele não se altere sem minha presença, não posso evitar ficar com meu coração apertado de saudade. Eu já sei como funciona comigo e parece até loucura, mas dias antes de ir pro aeroporto sinto uma angústia, uma saudade, sinto meu coração ficar do tamanho de um feijão. Depois que já entrei no avião, relaxo e vivo o inevitável: o prazer de ser também feliz longe do meu filho. 

Agradeço à minha mãe, irmã, cunhado, sogra e Taninha porque sem eles eu não poderia nem ir até a esquina sem meu filho. E agradeço também às amigas com as quais meu filho me presenteou: as mães de seus amigos que se ofereceram para buscar na escola, no futebol, enfim.... Que bom poder contar com elas. Que bom que meu filho vai estar cercado de pessoas de quem gosta e com as quais se sente à vontade. 

Hoje, Miguel não é mais aquele bebezinho que não tinha noção de tempo. Miguel não é mais aquele bebezinho que não sabia falar direito. Aquele bebezinho pra quem se dizia tchau sem ter que dar explicações. Hoje Miguel é um menino que sabe o que significa saudade, que sabe o que significa ficar longe da proteção de pai e mãe. É um menino que conversa, que diz o que sente. E, sendo assim, deixou claro que gostaria de ir conosco. Mas também deixou claro que entende que precisamos desse tempo só pra gente e que ele não deve se ausentar da escola nesse momento. Meu filho disse que vai sentir saudade. Mas também me disse com carinha séria:

- São só 5 dias né, mãe? O cinco vem logo depois do quatro. Vai passar rapidinho. Logo você está de volta! 

Que assim seja, Guel. Logo mamãe estará de volta. De volta pra você.