quarta-feira, 28 de março de 2012

Padre ensina a arranjar namorado




A renovação da igreja católica está sendo feita e é muito bem-vinda. Quem dera todos os padres falassem da palavra de Deus de modo simples, de fácil entendimento e aconselhassem seus fiéis a respeito de coisas práticas e do dia-a-dia. Muito bom o vídeo e é por seu linguajar simples, abordando fatos de nossa vida diária é que a paróquia desse padre está sempre lotada. Seu sermão atinge a todos: quem está vivendo essa situação ou quem já passou por ela. Amei e estou compartilhando aqui.

terça-feira, 27 de março de 2012

Coração Suburbano

Eu sou Patricinha. Não sou fresca. Estou deixando claro porque o nome Patricia utilizado no diminutivo como adjetivo sempre carrega um tom pejorativo, denigre a pessoa. Quando uma mulher é chamada de Patricinha por alguém, esse alguém normalmente quer dizer que a mulher em destaque é frívola, fresca, não se mistura, só gosta de coisas que só muito dinheiro pode trazer. Eu penso que as tais "Patricinhas", e me incluo mesmo nesse grupo, são mulheres cheirosas, bem vestidas, ligadas em moda, elegantes, educadas e que, sim, gostam das coisas boas da vida, como bons restaurantes, teatro, shows, viagens, boas roupas com bom corte, mas esses gostos e modo de viver, definitivamente, não resumem essa mulher. 

Sou uma Patricinha que gosta de churrasco, adoro samba, partido alto, gosto de estar com meus amigos em um lugar qualquer jogando conversa fora, gosto de ir ao mercado, na padaria, falo com o porteiro, com o caixa, com o ascensorista no elevador, enfim, acho que sou uma Patricinha do subúrbio, uma Patricinha filhinha de mamãe e de papai, mimada, que foi criada em Olaria, em um prédio cheio de meninos e só eu e minha irmã de menina. Meu coração é suburbano. Minha alma é suburbana. 

Existe uma diferença entre a menina da zona sul e a menina do subúrbio. Não tem como essas duas criaturas serem iguais simplesmente porque o modo de vida é muito diferente, a criação que cada uma recebeu é distinta. Em certa ocasião escutei uma menina da zona sul falar pra outra: "Não tem o menor cabimento chegar aos 30 anos sem ter conhecido a Europa... É um absurdo!" Gente, fiquei pensando que eu fui criada em outro mundo mesmo e, na boa, agradeço por ter tido uma vida mais contada, embora nunca tenha me faltado nada, sempre tive tudo o que meus pais puderam me proporcionar, tudo mesmo, mas em que país a gente vive pra escutar uma frase dessas? A maior parte da população do Rio de Janeiro não conhece nem Cabo Frio... Só que as meninas da zona sul não gostam de ser "Patricinhas" porque não é bacana ser chamada assim, elas, muitas vezes, fazem a linha alternativa, descoladas e tal. Não podemos generalizar, tem gente bacana em todo bairro, em toda tribo, em toda profissão, mas que as tribos existem, existem e a gente não pode fechar os olhos pra isso, fingindo que não existe diferença. Quem nunca esteve pegando uma praia na Barra e ouviu que deviam fechar a linha amarela aos sábados e domingos pra galera do subúrbio não invadir? 

O problema do subúrbio não é a localização. O problema é social. No subúrbio residem mais pessoas com menor poder aquisitivo e, consequentemente, falta educação de melhor nível, da escola e de suas famílias. Daí certos comportamentos meio fora da curva tipo estar na praia e começar a brincar de tacar areia um no outro sem se preocupar em atingir o vizinho, o tom de voz mais alto em ambientes públicos e por aí vai. Só que o subúrbio tem um lado que só o suburbano conhece. Esse lado de colocar a cadeira na calçada no final da tarde e conversar sobre as coisas mais banais, o lado de chamar o vizinho de porta pra ir comprar pão na padaria - a pé! O morador do subúrbio conhece seus vizinhos pelo nome e, ok, talvez a gente saiba um pouquinho mais que deveria sobre a vida do vizinho, mas a gente também cria mais vínculos até pra pedir ajuda, pra pedir um pouco de açúcar quando estamos batendo um bolo e nos damos conta de que o açúcar não será suficiente. E porteiro de prédio de subúrbio? É um capítulo a parte, é quase um noticiário ambulante com as notícias de todos os moradores: relata barraco, conta briga de marido e mulher, conta sobre os namoros menos silenciosos do 407 e não adianta a gente ir andando sem mostrar o menor interesse porque o porteiro de subúrbio também é diferente... Ele simplesmente vai falar de qualquer modo, não tem a preocupação de não ser educado o suficiente, discreto o suficiente. Suburbano se mostra mais, se permite mais. Compartilha mais. Tem problemas por causa disso? Sim. Mas e daí? Quem se fecha muito, não dá a cara a bater, se protege mais, mas também não aprofunda relacionamentos. E festa de suburbano? Pode se preparar porque comida não vai faltar! Nem animação, nem música e nem a tal da cervejinha "no grau" como diria o namorado.

Morei em Olaria até 1994, quando me mudei pra Ilha do Governador. Zona norte. Subúrbio. Mas é muito diferente da Leopoldina, devo dizer. A galera aqui é mais chique, vizinho não fala muito com o outro vizinho. Só agora depois de 18 anos morando aqui é que sei mais de alguns poucos vizinhos. Sabe quem fala bom dia até pras formigas da rua? O Bochecha, cantor, que é meu vizinho de frente, origem: subúrbio total! 

Brinco sempre falando que "se morei em Olaria, não lembro..." mas a verdade é que eu saí de lá mas Olaria nunca saiu de mim... Toda a família do namorado é da zona sul. Muitas vezes quando vamos a algum lugar lá na minha área, a área da leopoldina, ou lá pros lados de Cascadura e Madureira (minha vó paterna morava em Madureira e a materna em Brás de Pina), o Hugo fala: "Ainda bem que estou com você, porque se me soltassem aqui acho que eu nunca mais chegaria em casa!" Ou, algumas vezes, quando tenho alguma reação mais acalorada ou um gesto mais amplo, mais espalhafatoso, ele fala brincando pra mim: "Agora mostrou que é do subúrbio mesmo!" Mas o namorado sabe que eu tenho um suburbano coração e que a Patricinha pela qual ele se apaixonou adora frequentar lugares bacanas e da moda, mas também é feliz no churrascão da esquina ou comendo um frango com farofa. É isso aí.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Poder de Mãe




Fui criada dentro dos preceitos da igreja católica. Minha mãe sempre gostou de ir à missa aos domingos e cheguei a fazer 1 ano de catecismo mas depois, não sei direito o motivo, quis parar. Minha irmã continuou, fez comunhão e eu não. É a única coisa na minha vida que não concluí, que larguei na metade. Tenho muita dificuldade em não fechar ciclos, acho que tudo que começo devo terminar, até livros e filmes ruins não consigo largar na metade. Inexplicavelmente, com o catecismo não foi assim. 

Hoje sou espírita, mas gosto muito de ir a Igreja. Gosto da missa com padres inteligentes, que fazem a comunidade refletir, questionar. Gosto das músicas da missa, canto, me alegro, reflito. Enfim, sou espírita mas adoro uma missa. E gosto demais das orações. Pra mim, todos os caminhos levam a Deus ou deveriam. Não existe um Deus para cada religião como muitos apregoam. Deus é único e, independente da religião escolhida, deveria ser sinônimo de amor e não de mais segregação. 

Cresci escutando minha mãe dizer que o poder da oração de mãe é maior que tudo. Pode pai rezar, pode avó, tia, mas nada é igual a uma mãe pedindo por seu filho. Minha mãe diz sempre que quando eu e minha irmã estávamos muito agitadas ou agressivas sem nenhum motivo aparente, ela nos rezava e hoje me pego repetindo seus gestos e fazendo o mesmo pelo Miguel. Quando minha delícia está agitada demais, ranheta, chorão, pego meu filho no colo e escuto minha mãe dizendo: "Reze seu filho. Nada como oração de mãe..." 

Assim, rezo meu filho e, graças a Deus e aos guias espirituais que invoco, ele invariavelmente se acalma e dorme. Essa semana, Miguel, que sempre dorme na sua caminha tomando seu suco, pediu pra dormir "no colinho da mamãe." Lá fui eu pegar meu bebezão de 15kg no colo pra fazê-lo dormir. Não havia posto nenhuma musiquinha no som e então resolvi cantar alguma coisa. Meu repertório pra ninar o Miguel vai de Beatles a Chico Buarque, o que vier primeiro a minha cabeça, mas ontem a primeira coisa que me veio a mente foi a oração de São Francisco de Assis. 

Essa oração é uma oração tão luminosa, de um poder tão imenso que me faz chorar toda vez que é tocada na missa. É uma oração intensa, de uma grandeza, de uma beleza tão forte que bate firme no meu coração. Fato é que oração de mãe, feita com todo amor no coração, um coração que é cheio do maior amor que existe nesse mundo, é diferente. Dona Iris, minha mãe linda, é que está com a razão, não tem jeito. E ontem, segurando os 15 quilos mais gostosos do universo, fiz meu filho dormir cantando a oração de São Francisco e, seja lá qual for sua crença, acredite: ele dormiu essa noite feito um anjo. 

terça-feira, 20 de março de 2012

O que realmente importa?

Semana passada estava assistindo ao programa da Ana Maria Braga enquanto tomava meu café da manhã e vi uma reportagem a respeito de uma família americana que estimulou sua filha desde a vida intra uterina. A mãe usou um tal aparelhinho sobre a barriga durante a gestação que emitia sons e tocava música clássica e a menininha hoje gosta muito desse tipo de música e já mostra certa habilidade musical. 

Depois de nascida, já com alguns meses, passaram a usar um outro aparelhinho que ficava grudado na garota durante o dia gravando tudo o que a menina falava - ou os sons que emitia. Depois, esses sons e/ou palavras eram tocados para que ela escutasse e, além disso, o aparelho conta quantas palavras a menina está falando por dia. E os pais estão mega felizes porque a menina, com 3 anos de idade, está falando mais de 3000 palavras por dia! 

Na boa, sem desmerecer a menininha fofa que parece mesmo ser bem inteligente, será que o fato de uma criança estar falando mais de 3 mil palavras por dia importa tanto assim? Einstein só falou aos 4 anos de idade.  Pablo Picasso era disléxico. Quer dizer, importa realmente que essa menina já fale pelos cotovelos? Talvez isso tranquilize um pouco os pais, talvez esses pais entendam essas "3 mil palavras" diárias como um sinal de que a criança é inteligente ou responde bem aos estímulos que recebe. Mas, como diz o namorado, "até papagaios falam" ... 

Quando somos pais, queremos tanto evitar o sofrimento dos filhos que pedimos a Deus que sejam inteligentes, que tirem notas boas, que falem logo, que andem rápido, que leiam com facilidade, que aprendam a ver as cores. Confesso que me deu certa agonia quando Miguel entrou na escola e vi que há crianças que já sabem identificar todas as cores e ele não... Sei que ele é um dos mais novos da turma, mas uma mãe nunca quer que seu filho fique "pra trás..." Eu procuro fazer um exercício diário pra não ficar comparando o Miguel com outras crianças, pra não entrar nessa doença - pra qual tenho certa tendência, devo admitir - de achar que meu filho tem que aprender ou tem que saber. Procuro me controlar pra não pressionar meu filho, pra respeitar seu tempo e suas virtudes naturais. Não posso me descabelar futuramente se meu filho não gostar de ler, por exemplo. Tenho que estimulá-lo e também procurar conhecê-lo melhor e descobrir quais são suas aptidões. Tive alunos com extrema dificuldade para o aprendizado da lingua inglesa, alunos que "voavam" a aula inteira e que se tornaram profissionais excelentes nas mais diversas áreas. Outros precisaram apenas de mais tempo pra aprender, pra maturar e conseguiram, em mais tempo, falar inglês maravilhosamente bem. Tive outros alunos que, realmente, não aprenderam, mas não são mal sucedidos e nem infelizes. Apenas encontraram um jeito, desenvolvendo mais outras aptidões, de contornarem essa dificuldade para falar um segundo idioma.

Acho que o maior aprendizado que tenho tirado desde que o Miguel nasceu, entre tantos, é a boa e velha frase que parece o maior cliché mas que é a maior verdade: cada pessoa e, nesse caso, cada criança, tem seu tempo. E que ser feliz não está diretamente ligado a quantidade de palavras que uma criança fala aos 3 anos de idade ou se já sabe identificar todas as cores. Ser brilhante não dá certificado de felicidade. Segundo o Budismo, "a virtude está no meio" e acho que é por aí mesmo, mas a gente vive em um mundo que valoriza demais os extremos, onde criancinhas prodígios são admiradas e aplaudidas, os pais adoram expor suas obras de arte e, assim, valorizam a si mesmos. Desculpem, mas eu detesto criança prodígio, detesto criança que age como adulto. Conheço pais que adoram dizer que a escola na qual seus filhos estudam já utiliza livro didático desde os 4 anos de idade, que os professores passam "dever de casa" todos os dias, que a escola é "puxadíssima" e que a alfabetização já se dá aos 5 anos de idade, não aos 6 como de costume. Falam isso como se estivessem realmente colocando seus filhos à frente dos demais, não param pra pensar que criança precisa brincar, que a escola tem que ser um lugar prazeroso, sem muitas obrigações nessa idade. A escola nessa idade, pra mim, deve ser um lugar onde a criança vai adquirindo auto confiança em si mesma, vai aprendendo a conhecer e confiar em seus amigos e professores, vai desvendando o mundo e vai crescendo respeitando o que está ao seu redor, vai ganhando amor pela natureza, vai descobrindo que o mundo não se resume a si próprio. Acho que devemos estimular muito nossos filhos mesmo, mas não podemos esquecer, na ânsia de ter "filhos nota 10" , que criança é criança e é legal que seja assim. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Amamentação

Antes que me apedrejem, quero deixar claro que sou super a favor da amamentação. Qual a mãe que em seu estado normal não deseja amamentar seu filho? Qual a mãe que não quer proteger sua cria através de seus anticorpos? Só que muitas vezes a coisa não acontece como nas novelas e quer saber? Não vejo nenhum problema nisso. 

Quando escrevi o post a respeito do meu sentimento com relação a ter feito cesariana e não parto normal, algumas mães comentaram que pior mesmo é quando a gente não consegue amamentar. Aí, sim, o julgamento é muito pior! E elas têm toda a razão. 

A gente traz o bebezinho pra casa e pensa que vai ser fácil e simples: ele vai colocar aquele biquinho lindo no seu seio e muito leite vai jorrar pra dentro dele e ele vai dormir satisfeito da vida com sua barriguinha cheia... Ha-ha-ha. Comigo não foi assim. Desde o período da UTI, percebi que não tinha a mesma quantidade de leite das outras mães, minhas companheiras do lactário onde eu passava um bom tempo do meu dia enquanto o Miguel estava no hospital, tentando tirar leite pra cobrir o horário de suas mamadas. Enquanto eu ficava 15 minutos  pendurada na bomba elétrica e conseguia tirar 20ml de leite, a mãe ao lado enchia duas mamadeiras de 200ml!!!! Meu Deus... Desde daquele momento já saquei que a coisa não seria fácil pra mim.

Diziam que o leite viria, que eu deveria insistir, que quanto mais leite eu tirasse mais o corpo produziria e até que aconteceu isso mesmo. Depois de uns dias eu passei a tirar, com os mesmos 15 minutos, 25ml, depois 30ml e cheguei ao máximo de 40ml. Uau. Só que aí o Miguel teve alta e em casa ele já não precisava mais somente de 40ml. O menino ficava pendurado no meu peito 30 minutos de cada lado e depois de 15 minutos ele já estava chorando de fome de novo. 

Fui nessa neurose do "insiste que você consegue" por 1 mês e 15 dias até eu mesma me dar minha carta de alforria antes de enlouquecer. Chega. Decidi que não dava mais pra viver essa tortura. E entrei com o santo leite Nan e o resto foi aguentar o povo falando no meu ouvido. Aí você escuta de tudo: "comeu canjica? Bebeu cerveja preta? Fez massagem no peito? Colocou compressa de água quente antes do horário de amamentar?" A verdade é que eu tinha tão pouco leite que uma semana depois da minha decisão de parar de amamentar o Miguel, eu não tinha mais uma gota se quer nos peitos. Nem uma gotinha, nem se apertasse muito! 

A pobre mãe já está fragilizada, cansada, sem dormir direito e ainda tem que carregar mais essa culpa: a de não ter amamentado seu filho. Juro, é demais. O pior de tudo é aguentar o povo falando que criança amamentada fica menos doente que as outras. Parece até piada. Detesto essa coisa absoluta porque acho que tudo é muito relativo e depende de vários fatores. Miguel, por exemplo, como relatei acima, mamou meu leite muito pouco, hoje está com 2 anos e 10 meses e sabe quantas vezes teve que tomar antibiótico? NENHUMA. Fora gripe, nesse tempo, sabe quais foram as doenças mais graves do meu filho? Uma faringite viral que durou 10 dias e uma estomatite que me deixou quase louca durante 3 dias. Conheço crianças que foram amamentadas até os 3 anos de idade e tiveram não sei quantas pneumonias, várias internações, entram no antibiótico pelo menos 3 vezes no ano e por aí vai. Então, essa estória de que só o leite materno é responsável pela saúde de nossos filhos é um pouco de exagero, sim. Entendam bem, é óbvio que o leite materno é maravilhoso, mas não posso acreditar que ele é fator decisivo entre saúde e doença, criança que fica muito doente e criança que quase não adoece. 

Meu filho sempre foi muito bem alimentado, com os melhores leites artificiais que meu dinheiro pode comprar, come frutas, legumes e verduras, feijão com caroço desde pequeno, é bom de boca pra caramba e é muito saudável. É claro que o contato mãe-e-filho que ocorre durante a amamentação é mágico e único, mas não se cria intimidade apenas com a amamentação. Intimidade é conquista, dia-a-dia, aos poucos e em tudo que se vive juntos. 

Eu já virei essa página da amamentação há algum tempo, mas sei que não é fácil responder a fatal pergunta: "Por quanto tempo você amamentou?" Nossa tendência é responder e já começar a dar justificativas. Ainda mais quando existe mãe que acha que amamentar o filho até ele desistir de pedir seu peito é normal, mesmo que a criança já esteja andando e cheia de dentes na boca. No fundo, cada um sabe ou, pelo menos, deveria saber de si e cuidar de si. Seria tão melhor se cada um de nós entendesse que não há receita de bolo e que se uma mãe quer amamentar o filho pra sempre, ok, que seja, porque ela é quem vai arcar com as consequências futuras disso. Assim como eu vou arcar com as consequências de ter amamentado meu filho por 45 dias. Apenas 45 dias? É, 45 dias. Foi isso o que eu consegui. 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Aprisionada

Tenho pavor de me sentir presa. Desde que me entendo por gente tenho medo de perder minha liberdade. E quando penso quando foi que comecei a me sentir assim, a ter esse medo, lembro do tempo em que eu tinha uns 6 anos e já estava na escola quando minha irmã entrou. Temos uma diferença de idade pequena, mas me marcou muito o fato de que, pra ela parar de chorar, me tiravam da minha turma frequentemente pra ficar na sala de aula dela, com os amigos dela. E eu ia. Lembro também de uma ocasião em que houve um passeio para fora da escola e eu não pude ir com a minha turminha, tive que ir com a dela pra que ela ficasse bem. Acho que a sensação de estar fazendo algo que eu não queria fazer mas que seria para o bem estar de todos me deixou esse sentimento estranho de estar indo pra onde a correnteza leva, sem levar em consideração o que eu queria de verdade.

Depois disso, ao longo da vida, muitas outras vezes me peguei sendo facilitadora pros outros, fazendo coisas que nem sempre estava a fim, só pra que tudo ficasse bem, pra que não houvesse briga ou discussões e, no fundo, me sentindo presa dentro dessa situação. Logo vinha o pânico, esse sentimento de estar presa, sem fazer o que queria ter feito. 

Vejo que trouxe pra adolescência e vida adulta muitas dessas memórias da infância e dessas sensações. Eu tive muita dificuldade com fidelidade: queria namorar mas não queria perder todas as opções que a vida de solteira propicia. Sempre achava que podia estar perdendo algo melhor. No fundo, estava sempre insatisfeita, buscando alguma coisa que nem sabia o que era. Só a maturidade pra me fazer entender que ser fiel é uma escolha natural quando se é feliz. 

Por ter tanto medo de ser aprisionada é que demorei tanto a decidir ter filhos. Por ser inteligente, sabia que minha vida sofreria muitas modificações - mesmo que não imaginasse o tanto, nem em minha previsão mais pessimista. Também por ser inteligente, não me iludia: sabia que não teria mais a liberdade da qual vinha usufruindo até então. 

Quando engravidei, foi uma festa muito grande! Eu e Hugo ficamos felicíssimos, afinal estávamos querendo muito. Só que passado esse primeiro momento de alegria gigante, fiquei muito deprê. Tem gente que tem depressão pós parto. Eu tive depressão pré parto. Os três primeiros meses da gestação do Miguel foram bem difíceis pra mim porque foi aí que a ficha caiu de que era irreversível, não tinha mais volta: eu teria um filho e minha vida  nunca mais seria a mesma. E a sensação antiga do medo de estar presa voltou com tudo. Meus medos juntos com meus hormônios loucos me faziam chorar alucinadamente por tudo e por nada e eu tinha pânico do que iria acontecer comigo. Como eu lidaria com tudo. Passados os meses iniciais, minha depressão passou e o medo diminuiu.

Hoje, depois de 2 anos e 10 meses do nascimento do Miguel, já me acostumei com sua presença e com todas as modificações que minha vida sofreu. Amo esse serzinho fofo e engraçado mais que tudo! Mas preciso confessar que ainda tenho um medinho - ou seria um medão? - de vez em quando. E ele volta nas situações mais inusitadas. Agora mesmo, quando ele saiu da creche pra ir pra escola e tive que fazer a adaptação com ele, por exemplo. Olhando pra essa situação depois de algumas semanas, vejo que estava  preocupada com meu filho, sim, com medo de ele estar sofrendo com a mudança e tudo o mais, mas também tinha o meu medo. Medo de ter que ficar com ele ali na escola por muitos dias enquanto eu tenho tanto pra fazer no trabalho... Medo de ficar presa na escola com ele e ter a outra parte da minha vida parada enquanto Miguel não se adaptava a nova rotina. Meu desespero era um pouco por ele, mas era muito por mim também. Reconhecer isso me assusta. Eu ainda tenho medo de tudo o que não posso controlar, ainda me desespero diante de certas situações onde me vejo sem escolha. E embora eu sinta que, por meu filho ser prioridade pra mim, não pensaria duas vezes antes de ficar com ele na escola quantos dias fossem necessários até ele se adaptar, sinto que não conseguiria fazer isso sem pensar nas coisas que estaria deixando de fazer, que teria que me desdobrar em mil Paulas para cumprir prazos. 

Bom, o fato é que Miguel não precisou que eu ficasse com ele na adaptação mais que três dias. Mas também é fato: e se ele precisasse de muitos dias? Tenho vergonha de admitir que, se ele precisasse ficar semanas comigo na escola, eu ficaria com ele, mas, no fundo, eu não queria fazer isso. Fico me sentindo estranha por pensar assim, mas eu preferia estar realizando minhas próprias tarefas e projetos a estar na sala de aula do meu filho observando as atividades dele por dias e dias. Por isso tudo que sinto, não deixo de me questionar como mãe. E não ser igual às outras mulheres que dizem que a maternidade basta pra elas, me deixa um pouco mal. Eu não sou assim e, no fundo, nem quero. Só sei é que preciso tentar resolver esse medo que existe em mim, ainda, de sentir-me aprisionada. Preciso trabalhar isso dentro de mim pra não ficar me sentindo péssima por ser como sou.

terça-feira, 6 de março de 2012

Parto

Vira e mexe, quando sou questionada se o parto do Miguel foi normal ou cesárea, me pego dando várias justificativas para o fato de ter feito cesariana. Isso é muito louco. 

Sempre tive intenção de que o parto do Miguel fosse normal. Mais ainda, eu queria, na verdade, que meu filho nascesse sem que eu marcasse dia e hora, queria que o parto fosse na hora dele, quando ele desse o sinal de que queria nascer. Cesariana ou normal, a única coisa que eu não queria era ter uma data agendada pra sair de casa, de mala e cuia, pra ir pro hospital receber o Miguel, tudo assim, muito programado e sem muita emoção.  Por isso, sempre deixei claro pra minha médica que não marcaria data. Se eu tivesse que fazer cesariana por algum motivo, não haveria problema nenhum, acho que devemos fazer o que for melhor pro bebê e pra mãe, mas gostaria de tentar o parto normal. 

Enfim, com 33 semanas minha bolsa rompeu e entrei em trabalho de parto. Tive contrações mas devido a tudo ser muito inesperado e ao fato de eu estar prestes a trazer ao mundo um bebê prematuro sem nenhuma causa aparente, minha médica não me deu opção e decidiu que faria uma cesariana pra não arriscar a vida do Miguel. Topei na hora. Eu já estava vivendo emoções demais. Era o que eu queria e foi exatamente o que eu tive: muita emoção. 

Mas estou voltando no tempo e falando tudo isso porque sinto como se a mãe que não teve seu filho através de parto normal parecesse sempre menos mãe que as outras. As mulheres que viveram a experiência do parto normal falam disso com o maior orgulho, um orgulho do tipo "eu sobrevivi" ou "eu consegui!". Parece que as mães que fizeram cesariana não são tão guerreiras ou corajosas e isso é muito curioso. O olhar que a mãe que fez cesárea recebe é quase sempre um olhar de "Aaahhh, que pena..."

Como já mencionei, não sou a favor do parto com hora marcada, sem levar em conta a vontade do maior interessado: o bebê. Não acho que a mãe tenha que levar em consideração a agenda médica nessa hora, afinal, trazer bebês ao mundo não pode ser um comércio. Mas acho que se a medicina está aí, avançando, propiciando melhores condições e minimizando sofrimento, por que não fazer uso disso? 

Minha irmã teve duas meninas: na primeira sofreu tudo que tinha direito tentando um parto normal e não conseguiu. No fim, exausta, fez cesárea. Na segunda, pariu tão rápido que não deu tempo do anestesista chegar, resultado: parto normal sem anestesia. Ela se recuperou muito bem dos dois tipos de parto e eu me recuperei maravilhosamente bem da minha cesárea. No dia seguinte, eu já estava andando pra lá e pra cá.  Ainda mais quando se tem um filho na UTI, não dá tempo mesmo de ficar na cama nem nada. E acho até que mesmo que tivesse esse tempo não ficaria. Esse lance de fazer cesárea e andar por aí curvada se apoiando em tudo é desnecessário. Acho que a recuperação depende muito do tipo de mulher que você é. Não gosto de regras, de ficar engessada, por isso acho que cada caso é um caso e não quero mais me sentir tendo que justificar o fato de ter querido viver a experiência de um parto normal e não ter conseguido. Não sou menos mãe por isso.

sábado, 3 de março de 2012

Vamos dar tempo ao tempo




Ontem não foi um dia fácil. Corrido no trabalho, cheio de coisas pra fazer e ainda recebo a notícia de que duas pessoas que trabalham comigo vão sair. Isso bagunça o coreto da equipe, faz todo mundo ter que se desdobrar pra achar pessoas à altura, no ritmo que a gente gosta e precisa, fora o desgaste que é um treinamento, ensinar tudo de novo. Ai, só de pensar me canso. Mas a vida é assim mesmo. E ela não vai parar. 

Fiquei com uma dor de cabeça o dia inteiro, a mente cansada de tanto buscar soluções, o coração dividido entre o sentimento de impotência diante do que não está ao alcance das minhas mãos como em situações como essa, em que não há nada que se possa fazer, e a certeza de que Deus sempre sabe o que faz. Por mais confuso que tudo pareça agora, as coisas vão se ajeitar, preciso acreditar nisso. 

Passei uma noite agitada, tão cansada e com tanto sono (não sei o que acontece comigo, mas toda vez que tenho algum problema ou estou estressada, sinto um sono enorme) mas acordando de 2 em 2 horas com a questão borbulhando na minha cabeça. Minha mente não parava, até quando estava dormindo meu sonho era sobre isso. A cada vez que acordava e abria meus olhos pedia a Deus que me ajudasse, que enviasse alguém bacana pra fazer parte do nosso time e que me mostrasse o caminho. De qualquer jeito, acabei acordando com a mesma dor de cabeça com que fui dormir. 

Agora de manhã, antes de vir pro trabalho, resolvi passar na farmácia pra comprar um remédio pro Miguel que resolveu ficar prendendo o coco!! Era só o que me faltava. Dizem que é muito comum meninos terem prisão de ventre quando são desfraldados e eu estou de olho nisso porque em muitos casos, quando o coco empedra, é necessário fazer lavagem e tudo. Bem, voltando ao assunto, parei o carro próximo à farmácia e fui andando pela calçada sem conseguir pensar em nada, a cabeça meio oca. Logo passou por mim um pai com duas meninas. Uma devia ter uns 10 anos e a outra era bem pequena, dando seus primeiros passinhos, caminhando com aquele jeitinho incerto que os bebês quando começam a andar têm, de mãos dadas com seu pai e sua irmã mais velha. Quando a pequenina me viu, abriu um sorriso enorme, desses que fazem a gente fechar os olhos, um sorriso tão alegre que me fez sorrir pra ela também. Esqueci, naquele momento, qualquer preocupação. 

Continuei andando em direção a farmácia e nem reparei em um senhorzinho negro, vendedor de cocada, que estava em frente a padaria que fica ao lado da farmácia. Estava passando por ele de cabeça baixa, quando o ouço dizer "bom dia!". Me virei e olhei pra ele pra falar bom dia de volta, e recebo outro sorriso maravilhoso... Naquele momento tive a certeza de que Deus queria me dizer que não adianta eu ficar me preocupando demais, que tudo tem seu tempo e que vai se resolver da melhor forma possível pra todos. Lembrei o que eu já sei: que levar a vida sorrindo é o melhor remédio pra tudo e que gastar meu precioso tempo do final de semana, tempo que tenho pra ficar com minha família, pensando e tentando achar solução pra coisas que não dependem de mim, não vai me levar a nada, a não ser ganhar mais alguns pés de galinha. 

Os dois sorrisos que recebi bem cedinho hoje, da menininha e do senhor vendedor de cocada, foram um sinal dos céus pra mim e, por causa deles, ganhei a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, tudo se solucionará. Por essa graça quero agradecer, mas quero pedir também. Peço hoje que Deus ilumine a vida daquela menininha de passos incertos e que ela tenha um ótimo dia, cheio de carinho e brincadeiras com sua família. Peço também a Deus pela vida do senhorzinho que me dedicou um sorriso lindo, que ele venda muitas cocadas e que em sua casa ele tenha um ambiente acolhedor esperando-o de volta depois de passar o dia trabalhando. Eles não sabem, mas me fizeram ganhar o dia. Que Deus possa recompensá-los. Pra mim, desejo paciência e entendimento de que na hora certa o caminho se mostrará. Não adianta lutar contra o tempo. Tempo, tempo, tempo, tempo...