quarta-feira, 30 de março de 2011

O dia em que fiquei sem meu pai

Hoje fui mexer em uma das caixas em que guardo notas fiscais, alguns recortes de jornal, cartões de aniversário e acabei dando de cara com uma cartinha que escrevi pro meu pai em 12 de agosto de 1999 - dia do seu aniversário no ano em que ele desencarnou. As lembranças de toda a minha vida com meu pai vieram à tona e fiquei vendo um filme com várias cenas e, inevitavelmente, uma dessas cenas foi o dia de 15 de outubro de 1999.

Meu pai já estava na UTI há 33 dias por causa de uma cirurgia no fígado para retirar um segundo tumor, metastase de um câncer que começou no intestino. As coisas já estavam indo mal, ele já estava precisando de diálise e era mantido cedado. Visitá-lo era cada vez mais penoso, vê-lo naquela cama, tão entregue, tão adormecido parecia surreal. Naquele dia, chegamos pontualmente às 15h para visitá-lo e não pudemos entrar junto com os demais visitantes. Mandaram que a gente esperasse. Acredito que estavam decidindo lá dentro quem nos daria a notícia. Lembro que a minha irmã ainda comentou: "Que estranho mandarem a gente esperar... Será que está acontecendo alguma coisa e não querem que a gente saiba?" Eu disse que era neura dela, que deviam estar fazendo algum tipo de higiene e tal.

Quando finalmente fomos chamadas, eu, minha irmã e minha mãe, ainda na sala que antecede a entrada na UTI, estávamos de pé e o médico veio. A partir daí minhas lembranças parecem névoa... Lembro da boca do médico se mexendo devagar, dizendo que meu pai estava morto. Acho que tentou esperar a gente, morreu às 15:15, mas não deu. Lembro da minha mãe desabando em uma cadeira que estava perto dela, lembro da minha irmã questionando tudo e lembro de mim, imobilizada, sem conseguir mexer nenhum músculo. Sem chorar, sem abrir a boca, sem dor, sem paz, sem nada. Lembro desse vazio e da minha irmã olhando pra mim, incrédula. Lembro dela dando uns passos em minha direção e, de frente pra mim, agarrou meus dois braços e me sacudiu falando: "Acorda, Paula, chora!!!!!" E só então eu comecei a chorar. E a sentir uma dor no meu coração. A dor da perda.

Enfim, no dia em que eu perdi meu pai eu compreendi muitas coisas. Que o mundo não pára quando a gente perde alguém muito querido. Que as estrelas continuam brilhando, que as demais pessoas continuam vivendo seu cotidiano, fazendo seus planos e mesmo que eu me perguntasse "Como pode ser assim? Meu pai morreu e todos seguem sua vida normalmente??" entendi que precisa ser desse jeito. Do contrário, a dor seria maior. A rotina é a melhor aliada de quem perde alguém precioso.

Hoje, quando li a cartinha que escrevi, agradeci a Deus, mais uma vez, por tê-la escrito. Meu pai morreu três meses depois de receber a carta e por causa dela sei que foi para o outro plano sabendo dos meus sentimentos por ele. Não deixei pra depois. Falei pra ele o que eu sentia e isso acalenta muito o meu coração. É muito importante não deixar nada pra depois porque como dizia Renato Russo, "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque, se você parar pra pensar,  na verdade não há". Então, vou dividir com você o que escrevi pro meu pai no dia do seu último aniversário junto de mim nessa nossa vida:

"Pai, hoje é o seu aniversário. O meu presente é dizer pra você várias coisas que eu sempre quis, mas, às vezes, é difícil e você sabe disso.
Quero lhe dizer que já faz tempo que descobri o quanto você ama a mim e a Claudia, do seu jeito, é claro. E isso é o que vale pra mim. Mesmo quando você é mal humorado, ranzinza, implicante, você está sempre presente do seu modo, do modo que você sabe.
Eu já estou bem grandinha e tenho muitas coisas na vida. Sou inteligente, tenho um bom emprego, um carro, posso comprar o que preciso e agradeço tudo isso a mamãe e a você. Vocês são os melhores pais que eu poderia ter. Mesmo quando você não é tão carinhoso, você sempre esteve e está ao meu lado, quebrando meus galhos,enfim, me mimando do mesmo jeito que a mamãe faz e que você critica!
Pai, eu quero que você viva muitos e muitos anos, quero dividir com você coisas que ainda não pude fazer como casar na igreja e ter filhos. Exijo que você se cuide e tenha fé. E como filha mimadinha que sou, não aceito um ´não´ como resposta. Se cuida. Eu te amo. Parabéns.
Paula"

Saudades eternas. A gente se vê, pai.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Trabalhar fora X Trabalhar em casa

A cada dia que passa admiro mais as mulheres que ficam em casa cuidando dos filhos. Admiro isso assim como admiro qualquer pessoa que saiba fazer algo que eu não sei. Acredito que na vida tudo seja uma questão de vocação e que, por mais que a gente sempre possa aprender, existem coisas que são, simplesmente, um dom.

E aqui vai minha humilde confissão: eu me canso menos trabalhando fora que quando estou em casa cuidando do Miguel. Ai... Falei. Eu e o Hugo trabalhamos aos sábados. Ele trabalha o dia inteiro e eu trabalho até 12h, 13h, no máximo. Antes fazíamos nossa escala de forma que trabalhássemos os mesmos sábados e assim, tivéssemos o sábado de folga juntos. Agora, fazemos o oposto: quando ele está de folga, eu trabalho e vive-versa. Desse jeito, sempre temos alguém pra tomar conta do Miguel. E sábado passado foi o sábado do Hugo trabalhar e eu fiquei sozinha com o Miguel o sábado inteiro, até as 19h. Meu Deus!!!

Não sei se o filho de todo mundo é assim, mas o Miguelito só para quando dorme. E ele acordou às 7 da matina e só foi dormir às 12:15 até às 13:15. Ele anda a casa toda, está naquela fase de descoberta e quer abrir todos os armários, quer subir nos móveis e ver o que tem em cima, bate na porta da sala e grita "rua, ruaaaaaaa" ou "assiar, assiar" (entenda passear!!). Enfim, eu ando atrás dele o tempo todo e não consigo ver um programinha de televisão ou ler uma página de livro. Quando o Hugo chegou, eu estava dando banho nele e embora ele já não use mais a banheira, às vezes ele pede que eu a encha pra que ele possa brincar com seus bichinhos da hora do banho. Fiz isso e fui até a cozinha falar pro o Hugo a que horas nós sairíamos para o aniversário da Bárbara - uma professora muito fofa com quem trabalho a muito tempo. Sem brincadeira, se demorei 1 minuto foi muito, mas quando entrei no banheiro vi a minha toalha, a toalha do Hugo e a toalha do Miguel boiando na banheira!!!!! Ele puxou as toalhas todas e mergulhou as bonitas na banheiraaaaaaa!!!!! 

Depois de um dia inteiro bancando a babá, tive um ataque histérico e gritei pro Hugo: "Namoradoooooooooo!!! Tira o seu filho da minha frente agora porque estou no limite e vou surtar nesse instante!! Tira ele daqui agoooooraaaaa!!!! 

Hugo retirou o Miguel com cara de assustado da banheira, o levou para o quarto, secou, colocou a fralda, enquanto eu limpava a inundação do banheiro. Meu Deus, como é que tem gente que larga o trabalho pra ficar só em casa cuidando dos filhos? Nossa, eu me mataria, não conseguiria mesmo. Como cansa muito mais que o pior dia no trabalho, cheio de pepinos pra resolver ou professores pra substituir de última hora. Não posso falar por todas as crianças, eu sei, mas meu filho é uma criaturinha da mais sapecas e levadas. Tem uma vocação pra fazer besteiras que só ele!!!  Quando fico com ele o dia todo em casa, ele parece um bichinho enjaulado, correndo de um lado pro outro, pega isso, larga aquilo, abre gaveta, tira o que tem dentro, cata o que jogou no chão, quer suco, quer biscoito, aff.... E pensar que tem mães que cuidam de dois, três filhos quase da mesma idade.  Misericórdia.


sábado, 26 de março de 2011

Vamos viver bem?

Ontem dei um pulinho no shopping para comprar os presentes dos aniversariantes do mês lá do trabalho e quando estava perto do caixa, pagando por um dos presentes, a menina do caixa virou-se para a vendedora que me atendeu e perguntou: "Vamos fazer troca de ovos de Páscoa?" A outra, com uma cara de enfado, respondeu: "Aqui?? Não tenho a menor vontade." Aí a primeira falou: "Não... Só nós duas..." E então a vendedora disse: "Ah, tá... Sendo assim, tudo bem. Mas se fosse com todo mundo da loja participando eu não iria querer mesmo."

Eu realmente não sei o que está acontecendo naquele ambiente de trabalho, o que eu sei é que me deu uma vontade enorme de dizer: "Que triste..." Resolvi ficar calada porque falo demais e preciso exercitar a boca fechada, pelo menos quando não me diz respeito. Entretanto, a cara de nojo da vendedora ao se referir aos demais colegas me causou certo desconforto. Gente, como pode uma pessoa trabalhar em um lugar que, por um motivo ou outro, não a faz sentir-se bem e não tomar nenhuma atitude? Não estou querendo que peça demissão sem poder, a gente depende do salário pra viver. O que passa pela minha cabeça é mudar o que a gente pode, o que está ao nosso alcance, encarar as coisas com mais alegria, adotar um olhar mais caridoso para com as situações difíceis. Porque não trocar chocolates com todo mundo da loja? De repente seria uma boa ocasião para tentar desfazer mal entendidos, pedir desculpas ou perdoar. Mas ao contrário disso, aquela vendedora prefere ir pelo caminho que, muito provavelmente, irá piorar as coisas ainda mais - ela quer fazer uma troca excluindo todos os demais, o que, com certeza, vai gerar ainda mais animosidade.

Eu não conseguiria viver assim. Ou eu resolvo tudo ou pulo fora. Talvez seja mesmo mais fácil pra mim, que amo o que faço e amo meu ambiente de trabalho e as pessoas que dele fazem parte, falar assim, mas será que a mudança não tem que partir da gente? Eu escolho, todos os dias, passar horas agradáveis ao lado do meu time. Às vezes funciona, às vezes não. Mas nos dias em que nada funciona, gosto de conversar, de me abrir para ouvir o pensamento deles, perguntar o que acham disso e daquilo, dar esporro, ouvir que estou certa, ouvir que estou errada, e também me permito falar mais grosso e mais alto algumas vezes sim, porque não? E, assim, todos sabem o que esperar de todos e vamos nos dando bem, dia após dia. Não posso imaginar uma troca de chocolates gerando repulsa e não contentamento.
E o que fica martelando em minha cabeça é porque as pessoas não fazem nada pra mudar esse tipo de situação limite. Essa conduta de "eu continuo trabalhando aqui mesmo detestando, acabando comigo e com meus colegas de trabalho" é inaceitável. Acho insuportável levar a vida sem fazer o que gosto e é lógico que não faço o tempo todo só o que gosto. Mas passar meus dias sem receber um "bom dia" feliz das pessoas que dividem os dias e os problemas de trabalho comigo, tornaria tudo bem mais complicado. Eu nasci com vocação para a felicidade e nunca vou passar pela cara feia de alguém que está comigo diariamente sem tentar fazer algo pra minimizar a chateação ou tristeza. Sei que muitas vezes não há nada que se possa fazer, mas gosto de, pelo menos, tentar. Acredito que gentileza e bondade devem ser exercidas diariamente, a começar com quem está ao lado. Posso pecar pelo excesso, não pela falta.
O querido Chico Xavier, em toda a sua grandeza espiritual, disse: "Tudo o que pudermos fazer no bem, não devemos adiar... Carecemos somar esforços, criando, digamos, uma energia dinâmica que se anteponha às forças do mal... Ninguém tem o direito de se omitir". Estou tentando aprender. Não pode ser tão difícil assim viver bem...

terça-feira, 22 de março de 2011

Outra vida

Sábado o show foi excelente. Eu já sabia que o show em si seria ótimo, mas a verdade é que não foi apenas porque a voz do Seal é maravilhosa, porque ele é um charme ou porque sou fã mesmo. A diferença foi ter saído a noite com o namorado pra jantar, foi ter feito um programa "de adulto", só nós dois. O clima de sair em um sábado a noite é outro. Tem um "quê" de magia. Lá no show, encontramos com alguns amigos e eu estava muito feliz.

A impressão que eu tinha é que havia entrado em uma máquina no tempo e desembarcado em outra vida, só que era a minha vida mesmo, a vida que não está tão longe assim em tempo da minha vida atual. Só que parece que foi outra encarnação de tão distante que é a realidade que eu tinha da que eu tenho hoje. Sabe quando a gente dorme e tem a sensação de estar observando nosso próprio corpo de cima? Pois é. Eu estava lá, jantando com o namorado, conversando sobre tantas coisas, sobre como a gente sente falta desse namoro, como temos que estar atentos pro nosso relacionamento depois que o filho chega, como sentimos falta de estar com as mãos dadas sobre a mesa de um restaurante e, essa cena, que tantas vezes foi corriqueira em nossa vidas, parecia um filme, não parecia estar acontecendo naquele momento porque é tão raro...

Namorar é tão gostoso, ficar abraçadinho, ouvindo as músicas que a gente gosta, rindo como só a gente sabe rir das nossas besteiras, sem olhar pro relógio, sem pensar nas fraldas ou nas mamadeiras... Por isso fiquei com a impressão de estar vivendo uma situação que já foi costumeira e que, por não ser mais, parecia outra vida.

Fiquei refletindo o quanto um filho muda a vida de um casal. Eu sei, já falei sobre isso mil vezes, mas acho que por mais que eu diga, nunca será suficiente. Nunca retratará a realidade. Só quem vive é que vai saber mesmo. Miguel foi desejado pra caramba, mas eu e o Hugo não poderíamos imaginar a revolução que ele causaria em nossas vidas. Uma amiga, Dani, quando soube que eu iria ao show desejou que eu me divertisse muito porque ela ainda não recebeu "sua carta de alforria". Adorei o termo, um dos melhores para descrever esse período em que a gente tem um filho pequeno - 4 meses - como ela. O meu sentimento era que eu estava aprisionada. Sei que falar isso pode gerar em algumas mulheres uma certa indignação mas não posso me enganar e maquiar meus sentimentos. Senti e sinto ainda, muito, todas as mudanças que foram acontecendo em minha vida pós-Miguel e, pode ser incoerente, mas não me arrependo de ter mudado o curso dessa minha vida. Acho que sentir saudade de ter toda a liberdade que se deseja é normal. Gosto da vida que levo hoje mas sinto falta da antiga. Fazer o quê? Não se pode ter tudo. Tenho o que planejei pra mim. Tenho o que pedi a Deus e sou grata a Ele por isso.

Ainda agradeço por estar conseguindo, junto com o namorado, passar por essa fase difícil para o casal. Marido e mulher sentem muito o fato de, de uma hora pra outra, serem pai e mãe. E ser pai e mãe vem na frente de tudo. Tudo mesmo. Vem na frente das conversas descompromissadas no final do dia, dos seriados que compartilhávamos, das refeições calmas e sem hora pra acabar, dos programas a dois, do sexo. E é preciso muito companheirismo e amizade pra passar por tantos noites insones, tantas privações, sem ficar azedo. Acho que estamos conseguindo, mas não é simples. Não sei contar quantas vezes falei "Desculpe, estou cansada, não devia ter falado desse jeito com você..." ou quantas vezes ouvi "Poxa, Paula, não está ouvindo eu chamar você? Deixa isso pra depois, o Miguel é prioridade." Enfim, nessas horas o que vale é ter bom senso, cair em si e aceitar que somos duas pessoas vivendo no limite. Limite do sono, limite do cansaço, limite da paciência. E é preciso ter tudo isso em dose dobrada, respirar fundo e seguir em frente compreendendo o que o outro está passando. É a mesma dificuldade que você. Somos duas pessoas querendo muito acertar.

Disso tudo, desse tufão que se chama Miguel em minha vida, fica é uma admiração que não sei como pode crescer ainda mais por meu marido. Em nossa "outra vida de 4 anos atrás", eu o admirava por ser um ótimo namorado, amante, amigo, companheiro. Nessa vida de agora, admiro o pai. E é um pai que se mostra ainda mais meu companheiro, amigo. Meu amor, inexplicavelmente, aumenta, mesmo que estejamos fisicamente um pouquinho mais distantes... Quero ainda nessa vida, voltar a ter um pouco do que tinha antes e creio que seja só uma questão de tempo. Acredito que estamos no caminho certo. Tomara.

sábado, 19 de março de 2011

Patinho Feio




Essa sou eu e minha irmã. Não, eu não sou a mais bonita da foto... Sou a com cara de monstrinho cheia de dentes... Quando falei no post anterior que me achava feia, várias pessoas me questionaram através de e-mails me perguntando "como assim??". Não que eu seja a rainha da beleza, estou longe disso, mas acho que depois de adulta meu conjunto ficou muito agradável e eu posso dizer que sim, me acho mesmo uma mulher bonita.

Quem me conheceu na infância e adolescência, conheceu uma menina calada, quieta, que sentava sempre nas cadeiras da parte da frente na sala de aula, estava sempre às voltas com algum livro ou tocando piano, escondida atrás de óculos gigantes com alto grau de miopia (uso óculos desde os 7 anos!!), cara de nerd, dentes enormes. Os dentes, é claro, são enormes até hoje, mas eu cresci e os dentes já não parecem tão imensos....rs... Enfim, não era mesmo das garotas mais populares da turma. Somado a isso, minha irmã era o oposto: agitada, falava com todo mundo - meninas e meninos - sempre teve um corpo bem feito, nunca precisou de óculos e seus dentes não eram como os de um coelho gigante. Minha irmã sempre foi MUITO vaidosa e se vestia meticulosamente para ir a escola e para qualquer outro lugar. Até hoje é assim. Nunca fomos rivais, sempre fomos extremamente amigas e respeitávamos nossas diferenças sem brigas. Nunca a invejei por ser mais atraente para os meninos e, na verdade, não me lembro de isso ter importado pra mim em algum momento. Eu simplesmente não estava nem aí pra essa coisa de beleza. Eu era daquele jeito e pronto.

Era engraçado lidar com certas comparações que sempre são feitas em família e também por amigos. Eu era sempre elogiada por minhas notas e desempenho escolar, coisa que não acontecia com a sis. Em contrapartida, todos elogiavam o corpo da minha irmã, dizendo o quanto era bem feito, e na hora de chegar em mim, olhavam pra minha cara e o assunto caía no vácuo. Chegava a ser engraçado. Pessoas muitas vezes são sem noção. Só sei que cresci sendo valorizada por meus dotes intelectuais e minha irmã por seus dotes físicos. No fundo, isso foi cruel para nós duas.

Isso não mudou até o último ano do ensino médio. Continuei sem ter a menor consciência de que já não era tão feia quanto achava, que os meninos começaram a se interessar mais por mim. Eu já não usava óculos, os efeitos dos hormônios da adolescência já não estavam em ebulição total e começava a reparar que os meninos estavam olhando mais pra mim. Quando entrei na faculdade tinha 17 anos e tudo era muito novo. E, mais ou menos, do terceiro ano pra frente algo em mim começou a mudar e a pessoa que sou hoje começou a ocupar os espaços.

Na verdade, comecei a enxergar que por mais que tivesse defeitos, precisava tratar de valorizar as qualidades. Eu não era feia, era apagada. Não valorizava o que tinha de bom e acho que, em dado momento da minha vida, entendi que não podia ficar me lamentando por não ter o corpo escultural que gostaria, por meus pés serem horríveis, por usar óculos e ter dentões. Por que não concentrar meus pensamentos nas minhas unhas, por exemplo, que acho lindas? Porque não focar no meu cabelo, boca e seios, dos quais gosto? Enfim, quando mudei meu foco acho que as pessoas também passaram a me enxergar de outro jeito e pode parecer figurinha repetida o que estou falando mas foi o que aconteceu mesmo. E, depois disso, comecei a ser desejada, fiquei mais solta, falante, comecei a mostrar o que eu tinha pra mostrar e ver que o que eu mostrava agradava.

Hoje é engraçado quando mostro fotos antigas e as pessoas não acreditam que quem está nas fotos sou eu. Dou gargalhada de mim mesma e não me importo porque não sofri naquele tempo, não foi nenhum trauma ter uma irmã bonita desde sempre e não fazer sucesso no colégio porque eu não dava valor pra isso. Não era mesmo vaidosa e quem me conheceu desde então sabe que estou falando a verdade. Sou mil vezes mais vaidosa hoje, me cuido muito mais, adoro estar bem vestida, cheirosa, usar sapatos bons. Sou ligada em moda, tendências e sei o que me cai bem e o que detona comigo. Porém não vivo pra estar linda o tempo todo e todos os dias. Saio de casa sem maquiagem, uso chinelo (embora as pessoas não acreditem!), troco o salto alto algumas vezes por sapatilhas e rasteirinhas. Não faço o estilo "vestida pra matar" embora às vezes acorde com esse espírito...rs...

O fato é que não me escondo mais atrás dos livros e dos óculos. Mas também não escondo a Paula de sempre, sou a mesma menina com cara de nerd e que gosta de livros e gosto muito de mim. Também não preciso me mostrar com decotes e roupas curtas para parecer mais bonita. Já vivi essa fase de auto afirmação e hoje sei que tenho muito mais pra oferecer além da beleza física. Pra concluir, as fotos desse post são pra ilustrar exatamente tudo isso. Minha irmã sempre bonitinha e eu toda desengonçadinha... Esta aí a prova de que fui patinho feio e agora sou cisne. E totalmente convencida disso! Uma vez ouvi de alguém que sou como vinho e que estou ficando cada vez melhor com o tempo. Concordo. Gosto mais de mim agora.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Show do Seal


Pode alguém ficar tão feliz só porque vai a um show?? Pode! Eu estou assim, felicíssima. Vou ao show do Seal no sábado e não estou cabendo em mim de felicidade. Será o segundo show dele que vou e esse tem um gosto especial porque no primeiro eu ainda não tinha o Miguel e minha vida era bem mais tranquila. Eu tinha o direito de ir e vir sem pensar em nada, tinha o direito de mudar meus planos em cima da hora e tinha também o direito de simplesmente não fazer planos. O show do Seal vai ser o primeiro a que vou depois do nascimento da minha delícia.

Não sei em que momento o Seal entrou em minha vida. Deve ter sido na época de "Crazy". Só sei que ele nunca mais saiu. Minha vida tem trilha sonora e o Seal faz parte de um grande pedaço dessa minha trilha. Amo sua voz, seu jeito de cantar, a presença no palco, seu charme. Porém, amo, principalmente, a emoção que sinto ao ouvir uma das muitas músicas que marcaram esse ou aquele momento da minha vida.

Seal esteve e está na minha vida em vários momentos que ficaram registrados. Marcou uma época em que me achava feia e não sabia que tinha poder de sedução. Como a gente é boba quando nova... Eu, pelo menos, era. Marcou paixonites, marcou amores de verdade. Pontuou minha carreira de solteira na "night". Ai, ainda bem que durou só um ano porque detesto ir pra "night" e ficar com um e com outro. Sou das que gostam de namorar. Seal também esteve no meu início de namoro com o namorado, o meu príncipe encantado. A gente ainda era só amigo quando ele entrou no meu carro, estávamos indo ao cinema com outra amiga, a Samirex, e ele tirou o CD de dentro do aparelho e disse que iria jogar pela janela só pra implicar comigo. Ele já me amava, tenho certeza!!! Só queria me irritar.

E, assim, não consigo ver minha vida sem a voz desse negão lindo, que eu amo demais. Talentoso até dizer chega, ainda é casado e bem casado com outra linda e tem uma família maravilhosa cheia de filhotes fofos. Sábado eu estarei como diz minha mãe "como pinto no lixo". E vou aproveitar cada momento desse dia pra namorar muito e ter um programa de gente grande que não seja cinema vespertino depois de um bom tempo... Viva o Seal!! E viva pra minha irmã que vai ficar com o Miguel!!!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Frases do meu Carnaval




O máximo que Miguel se aproximou das fantasias de carnaval foi desse chapéu cheio de paetês aí da foto. Fantasia de pirata, nem pensar mesmo... Mas antes do Carnaval começar eu não nutria mais nenhuma ilusão de ele mudar de idéia com relação à fantasia. O que passava pela minha cabeça era se eu estaria viva no final da quarta-feira de cinzas... Porém, como o que não mata engorda, aqui estou, vivinha da silva esperando que não esteja mais gorda.

Não foi fácil ficar esses dias todos cuidando do Miguel 'full time', ainda mais sem ter feito sol. Manter um bebê cheio de energia entretido, um bebê que pede pra ir pra rua o tempo todo feliz dentro de casa em dias chuvosos, não foi tarefa simples. Eu e namorado nos desdobramos e acho que estamos ficando especialistas nisso porque, além de estarmos vivos, ainda conseguimos assistir a cinco filmes!

Ficar 5 dias inteirinhos junto ao Miguel é cansativo mas é delicioso. Meu filho me surpreende sempre, é uma caixinha de surpresas. Está sempre fazendo uma carinha diferente, um gesto, uma dancinha nova. Estou sempre morrendo de rir com ele. Miguel é uma criança muito divertida e muito esperta, perigosamente esperta. Com 1 ano e 9 meses já sabe levar bronca sem me enfrentar, fica caladinho, olhando bem sério pra mim. Quando o coloco de castigo (por 1 minutinho pra pensar no que fez...rs..) ele me obedece e quando vou tirá-lo do castigo ele me cobre de beijos e abraços.

Miguel não é um menino de muitos ensaios. A impressão que tenho é que ele vai medindo as situações, observando o ambiente sem demonstrar nada e, quando a gente menos espera, lá está ele fazendo algo que achávamos improvável que ele fizesse naquele momento. Quando ele começou a engatinhar foi assim. As pessoas me perguntavam se ele já estava ficando de quatro, ensaiando com o corpinho indo pra frente e para trás, e eu, meio desesperançada, dizia que não, nem sinal dos sinais óbvios de que ele engatinharia em breve. Pra minha surpresa, quando fui buscá-lo na creche em um desses dias, quando ele estava com 9 meses, fui surpreendida com a tia me perguntando se eu já tinha visto que ele estava engatinhando. E, assim, de uma hora pra outra, Miguel passou a engatinhar tudo!! Sem meia medida, sem lentidão. Muitas crianças estão andando aos nove meses, eu sei, mas Miguel começou a engatinhar com essa idade e o fazia com uma rapidez assustadora.

Com 1 ano e 1 mês Miguel começou a andar. E andou firme, sem quedas. Quando resolveu se soltar, não foi desses bebês que vão experimentando um ou dois passinhos aqui e ali, cai e levanta, tenta de novo. Miguel andou firme, decidido, e, uma vez dado o primeiro passo, não voltou a se apoiar mais em nada. Miguel amanhã completará 1 ano e 10 meses e ele tem o dom de me emocionar. Acho que toda mãe deve ser assim mesmo: idiota. Sou tão boba com a maternidade que a cada coisa nova que o Miguel me mostra, eu me emociono. E os primeiros anos de vida de uma criança são muito emocionantes, em vários aspectos. Há 3 dias estávamos indo almoçar e dei a mamadeira pro Miguel no carro. De repente, Miguel vira pra minha mãe que estava no banco de trás com ele e dispara: "Qué mai não" (o que seria: quer mais não) e entrega a mamadeira pra avó. Epa! "Namorado, você ouviu isso?" Ele formou uma frase!! A primeira frase.

À noite, tentando fazê-lo dormir, estávamos em seu quartinho, com a musiquinha gostosa ao fundo (ele sempre dorme com música suave) e ele se senta na cama e aponta pra porta: "Abi pota, mamãeeeeeee". Ai, eu doida pra ele dormir, desmoronei... Que lindo!!!! Ele está falando mais uma frase!! No dia seguinte, durante o café da manhã, a seu pedido, lhe dei bolo. Minha mãe, pra brincar com ele, falou: "Me dá um pouquinho desse bolo, Miguel". E ele, sem pestanejar, responde: "Não, é meu!"

Pelo visto, Miguel está mesmo destravando a língua e agora vou entrar numa fase bem divertida, com certeza. A comunicação se dá de várias formas, e entre mãe e filho, principalmente, se dá até mesmo através de um único olhar. Mas ouvir seu filho se comunicando verbalmente, estruturando as palavras para formar frases, acreditem, é gostoso demais. Por isso, o melhor do carnaval, já que não pude ver meu filho usando a fantasia de pirata, foi o presente de ouvir suas primeiras frases. E, podem ter certeza, foi o melhor dos meus dias de folia.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Carnaval


Ano passado o Miguel só tinha 9 meses no Carnaval e como é muito calorento nem pensei em torturá-lo com uma fantasia. Então, quando recebi um bilhete da creche comunicando que hoje haveria uma festinha de Carnaval para as crianças e que os pais deveriam mandar uma fantasia, fiquei bem animada. Miguel está com 1 ano e 9 meses e teria sua primeira fantasia e essa, pensei eu, vou poder escolher porque sei que, logo, logo, ele escolherá a fantasia que desejar usar.

Comentei com minha irmã e ela se dispôs a ir até a loja olhar as fantasias disponíveis. Ela me telefonou de lá dizendo que a dona da loja tinha deixado ela trazer 3 fantasias para eu escolher. Depois, ela voltaria até a loja para pagar pela fantasia escolhida e devolver as outras. Assim, minha irmã me apareceu com a fantasia de "ban-ban", cigano e pirata. Gostei da do Ban-Ban e, sinceramente, achei que tinha tudo a ver com meu bebê que é um brutinho, parece um ogro, filho do Shrek. Não se deixem iludir por essa carinha de anjo que meu filho tem. Miguel é bem danadinho. Mas voltando à fantasia de Ban-Ban, o Hugo disse que aquilo parecia fantasia erótica (acho que é por causa da estampa de oncinha) e a descartamos. Homem tem cada idéia... E entre a de cigano e a de pirata, fiquei com a de pirata. Resolvido. Era só esperar o dia da festinha.

Hoje eu estava toda animada, doida pra chegar até a creche com minha máquina fotográfica pra ver o Miguel lindo, vestido de pirata. Estava mega ansiosa, esperando que o Hugo chegasse do trabalho pra gente ir juntos, eu não queria perder um minutinho!! Saímos correndo e fomos entrando na creche procurando pelo Miguel no meio de tantos confetes, serpentinas e batucadas. As crianças todas fantasiadas e seus pais atrás tirando mil fotos. Pensei, daqui a pouco eu estarei como esses pais buscando os melhores ângulos do meu pirata mais lindo do mundooo!!!! Como eu sou idiota...
De repente, vejo o Miguel: "Epa, o que aconteceu com a fantasia dele? Será que está doente? Será que a tia vestiu todo mundo e esqueceu do meu filho?" A que ponto chegam os pensamentos de uma mãe louca pra ver seu filho curtindo um carnaval com os amiguinhos...
É claro que a tia não esqueceu dele. Cheguei perto da minha delícia e perguntei a tia que estava com ele: "Porque o Miguel está sem fantasia?" E veio a resposta mais óbvia e também a que nem por um momento passou pela minha cabeça cega de vontade de ver meu filho fantasiado: "Paula, ele não quis colocar de jeito nenhum! Tentei de tudo e ele foi firme, olhava pra mim e repetia "NÃO". Saía correndo, eu ia atrás, tentava de novo, pelo menos o colete eu insisti pra ele colocar e ele não deixava que eu vestisse nele nem por um milagre e repetia, olhando bem pra mim, totalmente decidido "NÃO".

Gente, que decepção. TODAS as crianças fantasiadas. E quando digo TODAS entendam todas mesmo, não estou exagerando. Menos o Miguel. Claro que a tia não insistiu e não deveria mesmo. O garoto tem o direito de não querer se fantasiar de pirata ou de qualquer outra coisa que o valha. Enfim, não tenho nenhuma foto do meu filho que, além de brucutu, é genioso pra caramba, vestido de pirata. E eu fiquei o resto da festa pensando que os outros pais deviam estar achando que eu sou uma mãe muito muquirana que não quis gastar um dinheirinho nem pra comprar uma fantasia pro filho...

Miguel, aos poucos, mostra sua personalidade e vai dando dicas de que nem tudo o que eu planejo pra ele é o que ele quer. Preciso ir me acostumando, mas é tão difícil porque sempre temos em mente o que achamos ser melhor pro filho e é complexo nos desvencilharmos desses pensamentos. Preciso praticar. Queria que meu filho tivesse agido como todas as outras crianças e que usasse a fantasia. Só que meu filho é único e não é, definitivamente, como todas as outras crianças. Nenhuma é. A vida é dele e é isso. Ele tem o direito de escolher se veste ou não uma fantasia. Hoje foi apenas uma questão de ser ou não pirata. O amanhã, com certeza, me reserva coisas bem maiores. Frio total na barriga.