sábado, 25 de junho de 2011

Imprevisível





Na última quinta-feira, feriado, fomos almoçar na casa da minha madrinha. Ótimo, família toda, ou quase toda, reunida e isso me deixa muito contente. Adoro estar junto com a família, é minha prioridade, sempre. Mas saí de lá esgotada, com um aperto no peito, me sentindo fracassada como mãe. 

Miguel se comportou como nunca: bagunceiro, mal criado, e com apenas 2 anos, estava conseguindo me levar perto do limite. Tudo sempre começa quando as crianças se reunem e, obviamente, Miguel sendo o mais novinho, fica excluído das brincadeiras. O mais novo depois dele é o Gabriel, com 6 anos. Quer dizer, a diferença é grande e é perfeitamente normal que eles não vejam graça em brincar com o Miguel. Quando Rafa e Duda estão aqui em casa, elas brincam com ele e ele é o centro das atenções. Lá, a estória foi diferente e acho que ele, de cara, ficou enciumado. 

As crianças foram jogar bola e meu filho, abusado que só, do alto de seus 2 anos de idade, queria brincar também. Queria chutar a bola, fazer gol. Miguel é extremamente ativo, esperto mesmo. Ele gosta de brincar sozinho, mas se outras crianças estiverem por perto, não importa a idade, ele quer socializar, estar entre elas. E as crianças não deixaram ele encostar na bola. Primeira vergonha do dia (bem que minha mãe me avisou que filho faz a gente passar vergonha direto...): ele começou a pegar as pedrinhas do jardim e tacar nas crianças que estavam brincando (seus primos!). Meu Deus, com quem ele aprendeu isso?? Hugo mandou parar e carregou o doidinho agressivo pra dentro, entregou seus brinquedinhos pra que ele se distraísse com outra coisa. 

Inquieto, Miguel não parava, queria sair de novo a todo instante. Em cima da mesa de centro da minha madrinha, havia duas estátuas, dessas magrinhas, de um homem e uma mulher. Pois é, havia mesmo porque meu filho esbarrou com seu jeito sutil feito um elefante na mesa e decaptou a mulher. A boneca caiu em cima da mesa mesmo, corpo para um lado e cabeça pro outro. A estátua homem ficou lá, em cima da mesa, inerte e sem companheira pra contar estória. Minha madrinha,  muito educada, disse que não me importasse, que criança é assim mesmo e que estava tudo bem. E eu já pensando onde acharia uma estátua igual pra dar a ela de presente...

Estávamos almoçando todos juntos e Miguel gosta de comer sozinho e faz isso muito bem. Suja um pouco a roupa, a mesa, mas é independente e eu acho bacana isso. Só que, lá pela metade do prato, a mãozinha dele esbarrou de mal jeito no prato e ... plaft!!! Prato no chão quebrado. Quem merece?

Depois do almoço, nova tentativa de brincar com as crianças, de novo sem sucesso. Miguel veio pra dentro da casa, a gente brincou com ele e ele pediu bolo pro namorado. No que o Hugo se levantou pra pegar bolo pra ele, ele correu pra sair da sala e esbarrou na mesinha de canto e derrubou um cinzeiro de cristal!!!! Alguém prepare o banho de sais, por favor!!!! Não acreditei ao ver o objeto quebrado que eu sei que é caro. Não era um cinzeiro desses fininhos não... Sabe esses cinzeiros antigos, de cristal azul grosso? Pois é. Como se estivesse assistindo um filme, minha ficha caiu. Se eu estivesse olhando essa cena toda acontecer e estivesse de fora da situação pensaria: "Esse menino é muito mal educado." Só que o menino mal educado em questão é o meu filho!!! E os responsáveis por sua educação são o namorado e eu... Nossa, que soco no estômago.

Antes de ir embora, Miguel ainda jogou um porta retrato (com a minha foto, graças a Deus!) no chão. Eu saí de lá nocauteada, pensando no que estou fazendo de errado, o que eu preciso mudar. Nem dormi direito à noite, acho que preciso ser um pouco mais dura com minha delícia, apesar de falar grosso e sério com ele, enfim, depois de muito pensar acho que preciso ser ainda mais firme pra não passar mais por isso na casa de ninguém se meu bebê mimadinho for contrariado ou não aceito nas brincadeiras. 

Se eu contar que chorei horrores conversando com minha irmã, alguém acredita? Pois é, mas foi isso o que aconteceu. Quando a gente se depara com nossa fragilidade, com toda a responsabilidade de educar uma criança na prática e vê que o buraco é mais embaixo e que, definitivamente, não vai ser fácil, é duro. Duro a gente observar o filho com o comportamento inadequado e, é lógico, salvo o fato de ele só ter 2 anos, saber que a culpa é sua ou que, pelo menos, você é o responsável por mudar aquela situação. 

Estou conhecendo meu filho, dia após dia, e nunca poderia imaginar essa reação dele com relação à frustação de ser impedido de participar da brincadeira. Miguel é uma criança que não pára mesmo, curioso, está na fase de mexer em tudo, de experimentar, mas de demolir o que encontra pela frente, nunca pensei. Foi uma situação imprevisível, assim como o dia de hoje.

Hoje não trabalhei, fiquei em casa o dia inteiro. O namorado trabalhou e pensei que seria um dia de cão. Mais uma vez, Miguel me surpreendeu. Passou o dia quietinho, vendo Toy Story 2 mil vezes, uma atrás da outra, brincando em seu quarto com os bonecos Woody, Buzz Lightyear, Bala no alvo e Jessie e só me chamou quando fez coco ou quando o filme acabou. Brincou com as primas que vieram pela tarde, tomou banho e voltou a assistir adivinha? Toy Story 2 mais umas mil vezes, parecia um anjo, um garotinho crescido brincando em seu quarto. Consegui fazer mil coisas, só parei para lhe dar comida e pra ficar brincando com ele em seu quarto. 

Dessa situação toda, fica a lição de que é preciso estar atento o tempo todo, que educar é o trabalho mais duro que já tive e do qual sei que não vou abrir mão nunca. Tenho consciência que preciso melhorar, mas não vou desistir. Meu imprevisível filho merece. 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Meu amor pelo Vasco






Muitas pessoas estão sempre me perguntando porque gosto tanto de futebol e, principalmente, do Vasco da Gama. Bom, a primeira parte da pergunta eu não sei responder. É a mesma coisa que perguntar porque uma pessoa gosta mais de verde que de azul. Eu simplesmente gosto de futebol, gosto de assistir aos jogos, gosto de ir ao estádio torcer e sei que isso foge do padrão considerando o fato de eu ser mulher.  Nunca briguei com namorado nenhum por eles quererem ir aos jogos, gosto de ir junto. Hoje, com o Miguel pequeno, abro mão sem discussão e estimulo, inclusive, quando o Hugo é chamado por algum amigo pra ir a São Januário. Antes que pensem que só não crio confusão porque o namorado é vascaíno, saibam que já namorei flamenguistas e nunca fiquei chateada por eles irem aos jogos. De fato, namorar vascaíno é mais tranquilo pra mim porque posso acompanhar, ir junto, ficar do lado na mesma torcida.

Bom, a segunda parte da pergunta, a que fala sobre meu amor pelo Vasco, possui uma resposta que vem lá de trás, vem da minha infância. Acho que meu amor pelo Vasco nasceu em um apartamento do terceiro andar de um prédio sem elevador, em Olaria. Nasceu quando eu ainda era uma menininha e não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas via meu pai na sala de jantar, próximo a janela, com seu radinho de pilha colado ao ouvido, quieto, daquele jeito do seu Mariano... Um jeito que não grita, um jeito contido, um jeito de comentários pertinentes na hora certa, sagaz, sarcástico, até engraçado. Meu amor pelo Vasco vem do fato de ter estampado na minha memória o sorriso aberto do meu pai a cada gol, a cada vitória. Meu amor pelo Vasco vem de uma época em que Vasco e Flamengo era uma briga boa entre Dinamite e Zico. E dava gosto ver aqueles times jogando. E meu pai torcendo.

Nunca senti nenhum tipo de pressão do meu pai para que eu e minha irmã fossemos vascaínas. Aconteceu, assim, naturalmente. Nunca fomos encorajadas a torcer pela cruz de malta, nunca fomos encorajadas a gostar de futebol, acho que pelo fato de sermos meninas mesmo. Tivemos pressão, sim, para virarmos flamenguistas, porque meu padrinho é rubro-negro. E, me perdoem os que torcem por esse time, mas, salvo algumas exceções, flamenguista é chato pra caramba...rs... Mas, tadinho do meu padrinho, ele nunca teve sucesso. Nunca nem chegou perto de conseguir seu intento. Torcer para outro time, na minha cabecinha infantil, hoje entendo, era trair meu pai.

Por isso, hoje, quando estou torcendo pelo Vasco, quando vibro com um gol, com uma vitória, é como se tivesse meu pai perto de mim de novo. Quando visto a camisa do time da colina é como se pudesse sentir o cheirinho dele, bem perto de mim. É ver meu pai sorrindo, feliz, pronto pra ir pro botequim pra sacanear seus amigos flamenguistas e comemorar com os amigos vascaínos. Torcer pelo Vasco, estando o time bem ou mal, na primeira divisão - lugar de onde nunca deveria ter saído - ou na segunda, é estar com meu pai faça chuva ou sol, na saúde e na doença. Meu amor pelo Vasco se confunde com o amor que sinto por meu pai. E isso diz tudo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sugestão

Esssa mudança no layout do blog é sugestão do Fred. Na verdade, coloquei essa foto, que agora passa a ilustrar o blog, no facebook assim que cheguei de viagem e o Fred postou um comentário ontem dizendo que a foto deveria vir direto pro meu blog. E não é que tem tudo a ver mesmo e eu não tinha percebido? Adorei a sugestão e resolvi dar uma mudada das cores. Obrigada, Fred!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Coragem





Quando eu e namorado viajamos em férias no ano passado, Miguel tinha 1 ano e 4 meses. De verdade, ele não deu a mínima. Nessa idade as crianças ainda não têm noção de tempo e minha preocupação foi não tirá-lo de seu ambiente, sua rotina, seu mundo. Depois de 15 dias afastados dele, voltamos cheios de saudade e recebemos um sorriso e nada além. "Onde será que eles estavam escondidos?", foi o que a carinha dele fez eu imaginar que passava pela cabecinha linda do meu menino.

Esse ano foi diferente. Ele já estava com 2 anos e é incrível como 6 meses fazem muita diferença na vida curta de um bebê. Nesses primeiros 2 anos - os chamados anos cruéis - tudo acontece, com o bebê e com a pobre mãe. Imagina que eles aprendem a se mexer, a mãozinha, os dedinhos do pé, aprendem a seguir a gente com o olhar, a rolar, virar de bruços, a pegar coisas, segurá-las, começam a reconhecer pessoas e objetos, a engatinhar, a andar, a correr. Aprendem a se expressar, a falar, a boca banguela fica cheia de dentes. Enfim, é difícil pra caramba. Mas também é delicioso observar todas essas conquistas, todas essas etapas vencidas. Por isso, sabia que meu filho estranharia nossa ausência dessa vez. Tentei, de novo, que fosse pouco, mas, por mais que defenda meu direito a estar a sós com o namorado e vou continuar defendendo, sei que pro meu filho foi diferente dessa vez.

Minha irmã e meu cunhado estiveram com ele o tempo todo e Miguel não deixou de ir pra creche nenhum dia. Dormiu bem, mas, de vez em quando, chamava "mamãe" ou "papai". A Sis falou que ele brincou muito, seu apetite não sofreu alterações. Nos falávamos todos os dias pelo Skype com video para que ele pudesse nos ver e, na boa, ele não dava a menor bola pra gente. Mandava beijinhos, apontava para a imagem e falava "mamãe" e "papai" e já pedia pra descer do colo do meu cunhado pra ir brincar com as primas. Entretanto, quando chegamos, a felicidade dele ficou estampada no rosto e durante os 3 primeiros dias após nossa chegada, nem eu nem o Hugo podiamos sair do campo de visão dele. Ele ficava inquieto e chamava logo por quem ele não estivesse conseguindo enxergar. Miguel queria ficar grudadinho na gente o tempo todo, de preferência no colo. No dia seguinte ao nosso regresso, chorou pra ficar na creche. Acho que estava com medo de "sumirmos" de novo.

Mas, com nossa presença e a volta ao dia-a-dia costumeiro, esse medo dele não passou de 3 dias. Já voltou a entrar na creche com a mesma alegria de sempre e já não está grudado na gente como antes. Vida que segue. Acredito que esse tenha sido o ano mais difícil porque ele já tem alguma noção de tempo mas ainda não entende nosso afastamento. No próximo ano, quando ele terá maior entendimento, acredito que será mais fácil. Vai sentir saudade mas vai saber que a gente volta. Ele está sendo acostumado desse jeito, sabendo que os pais vão tirar um tempo pra eles de vez em quando. E, sinceramente, esse tempo é essencial pra mim.

Nem todo mundo tem a família por perto pra ajudar, nem todo mundo pode contar com uma irmã que se instale em sua casa pra mudar pouco a vida do seu bebê. Eu sou afortunada nesse sentido, eu sei. Mas se tivesse que viajar com o Miguel, juro que pensaria duas vezes. Fico nervosa só de pensar em como será o comportamento dele dentro de um avião por horas... E na tralha que a gente tem que levar? Confesso que admiro minha querida Ana que veio com sua linda Carol passar férias perto da família no Brasil e já estou torcendo os dedos pela Dani que vai encarar a mesma tarefa daqui a pouco com o fofo Joaquim. A viagem das duas é pra ficar perto da família e contam sempre com apoio familiar. Viajar de férias, pra longe da família, é diferente e é preciso ter uma coragem que ainda não tenho. Aí está o ponto: muitos me perguntam como eu tenho coragem de viajar e deixar o Miguel em casa. Minha pergunta é justamente o contrário: Como você tem coragem de viajar de férias e levar seu bebê? Pra isso, sim, é preciso ter muito mais coragem! Cada um sabe de si e não cabe julgamento. Tudo é muito relativo nessa vida, não?

Esse ano começarei a fazer pequenas viagens com o Guel. Irei a SP para o aniversário da minha afilhada e já vou ter uma mostra de como ele vai se comportar. Começamos a planejar outras viagens curtas para a partir daí, começarmos um processo para que, logo, logo, Miguel possa nos acompanhar e curtir as viagens tanto quanto os pais. Mas, antes de me aventurar a passar 15 dias longe da minha casa com o Miguel, preciso que ele já esteja, ao menos, limpando seu bumbum sozinho. Se não, a viagem para descanso será mais cansativa que ficar em casa com ele. E, desculpe a minha sinceridade, eu não estou a fim de ter mais trabalho do que já tenho...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Língua Portuguesa

Antes de eu entrar de férias havia uma discussão a respeito da aceitação de erros de português em livros didáticos utilizados por várias escolas.  A Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e o Ministério da Educação (MEC) estavam em guerra. O MEC defende que devemos aceitar a "linguagem coloquial"  e os regionalismos e eu, assim como tantos outros professores, acho absurdo que encontremos nos livros que deveriam servir para ensinar nossos alunos a falar e escrever corretamente, erros escondidos atrás do discurso intelectual de que estamos sendo preconceituosos e que devemos, em um mundo globalizado, aceitar as "diferenças".

Bem, como diria minha amiga Cacau, faremos como Jack, vamos por partes. Convivo com adolescentes o tempo todo e vejo como escrevem na internet, abreviam, trocam letras e, confesso, não gosto muito disso mas é assim que a banda está tocando e vejo também muita gente da minha geração que já embarcou nessa de escrever "naum" ao invés de "não" e "eh" ao invés de "é". Isso é muito forte pra mim... E continuo escrevendo tudo bonitinho simplesmente porque não consigo me adaptar ou porque não consigo achar sadio escrever errado. E aí reside outro problema: eu acho errado e várias pessoas acham que isso é preconceito contra o coloquial.

Ainda que eu viva mil anos, não conseguirei achar normal falar errado. "Pra mim fazer" será errado e ponto final. Por mais que eu escute várias pessoas a minha volta falando dessa forma, ainda não me acostumei e não me acostumarei nunca. Outro dia, ia contratar os serviços de um profissional e durante a conversa a pessoa manda um "pra mim ir". Na hora pensei se poderia confiar mesmo no trabalho dessa pessoa. Depõe contra. Assim como uma boa apresentação pessoal, o uso correto do português faz diferença pra mim. Entre dois profissionais excelentes, um falando certo e outro errado, qual você escolheria? Eu não tenho a menor dúvida. Mas pode ser que eu seja considerada preconceituosa por isso. Não aceitar a falta de S do caso do plural, está sendo considerado preconceito linguístico.

Pra mim é o fim da picada que nossos livros didáticos aceitem os erros. Mais que isso, se os livros são utilizados para ensinar a Língua Portuguesa, como aceitar isso? Vamos passar a ensinar errado, além de aceitar os erros em nosso dia-a-dia? Será que a coisa está tão difícil que não temos mais professores capacitados para ensinar o certo? Não acredito nisso. Como olhar um livro que vem como a frase "Vamos pegar os livro" e dizer que está ok pro aluno? Será que estamos subestimando esse aluno achando que porque ele fala assim, sem plural, porque sua família fala assim também, ele não poderá aprender o correto?

Eu acredito na capacidade do ser humano de se reinventar, de aprender, de melhorar e acho que a aceitação pelo MEC desses erros grosseiros é a mesma coisa que subestimar a capacidade de aprendizado de nossos alunos. "Nós pega o peixe" é intolerável. Não podemos tentar ensinar a conjugação verbal correta?

Sei que em muitas regiões do país a falta do plural é normal, todos falam dessa forma. "Nós vai" também é comum. Agora mesmo nessa viagem, enquanto estávamos em Santiago, conhecemos um casal do Mato Grosso, tinham dinheiro, família estruturada, viajavam constantemente, mas o português foi assassinado naquela família. "Nós vai", "nós fomo", "nossos menino", "pra mim comprar umas vaquinha", feriam meus ouvidos a todo instante. Será que o casal, como pais, gostariam, se tivessem consciência dos vastos erros de português que cometem toda hora, que seus filhos errassem da mesma forma ou gostariam que aprendessem a falar corretamente? Não estou falando de sotaque ou regionalismos. Estou falando do bom e velho português. Não posso crer que um pai deseje que seu filho cometa os mesmos erros que ele.

Precisamos entender que comunicar-se não é a mesma coisa que falar corretamente. Comunicação pode se dar até com um simples olhar, um gesto. Comunicação, de qualquer espécie, atinge o objetivo da interação entre as pessoas? Sim. Mesmo que se fale errado, conseguimos nos comunicar. Mas não quero isso pra mim, nem pro meu filho. Gostaria que ele falasse corretamente. E não gostaria que o Ministério da Educação do meu país aprovasse material didático vindo com erro de fábrica. Sinceramente, pra mim já é demais.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

De repente...40!!

Amanhã, 14 de junho, estarei completando 40 anos. E, pra mim, é como se minha vida tivesse passado rapidamente e, em um belo dia, pisquei o olho e acordei nas vésperas de completar 40 anos. E é muito engraçado porque pra quem passou por uma crise dos 30 muito feia, fazer 40 está leve, quase como uma brisa batendo no rosto em um dia de primavera. Leve e fácil. Indolor.

Quando estava com 30 e poucos, não estava bem. Estava saindo de um relacionamento complicado no qual apostei muitas fichas e, depois de tanto esforço pra dar certo, me vi sozinha aos 30 quando quase todas as minhas amigas estavam casadas. Estava perdidinha, sem saber pra que lado olhar, pra onde ir. Imaginava que, se fazer 30 naquelas condições estava tão difícil, fazer 40 seria quase insuportável. E aqui estou eu, fazendo 40 e em um momento muito especial, feliz, bem casada, com um filhote fofo demais, numa fase de reconhecimento profissional bacana, me sentindo linda, segura de mim, do meu corpo, do meu espaço.

Tenho 40 e energia de 20. Não me troco por mim mesma com 20 anos. Deus me livre dormir e acordar com 20 anos de novo. Incerteza profissional, cheia de inseguranças quanto a mim mesma, saindo com um cara e pensando o que ele iria achar da minha barriga, do meu peito, ou do tamanho da minha bunda. Quanta neura, quanta vontade de agradar o outro. Hoje, quero agradar a mim mesma e quem quiser que me siga. Pensar na barriga, no peito ou na minha bunda na hora do sexo? Nem pensar! O Hugo que pense nisso, eu quero é me entregar, me deixar levar e chegar lá. E, do alto dos meus 40, sei exatamente o que fazer e como chegar.

Não tenho mais medo de errar. Faço tudo pra acertar, mas se errar vou lá e conserto. Pelo menos, tento. Peço desculpas. Levanto e vou em frente. Faz parte do caminho e nao vou morrer. É a vida. Preciso dos tropeços pra aprender a ser alguém melhor.

Ainda sou ansiosa, é verdade. Agitada, exigente. Bem mais exigente. Vamos ficando mais velhos e exigimos mais dos outros porque sabemos melhor o valor que temos. Chamar de amigos qualquer um, nem rola. Isso é coisa pra quem tem 20 e ainda precisa decepcionar-se com colegas que confundiu com amigos. O olho da pessoa de 40 é mais antenado, mais experiente, enxerga além das aparências, dos estereotipos, da roupa, já sabe ler os sinais que a vida manda.

Por tudo isso é que entro muito bem nessa nova década da minha vida. E tenho muito pra comemorar, muito pra agradecer e ainda tanto pra realizar. E amanhã, podem ter certeza, acordarei com o pé direito pra entrar nessa fase do jeito que eu gosto: sorriso no rosto e peito aberto. Quarenta... pode chegar!!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O expresso do alívio

Texto lindo que expressa o que penso sobre o meu time e minha felicidade do dia de hoje... Divido com vocês o texto do Gustavo Poli e peço permissão a ele para fazer das suas palavras, as minhas.




"Foi uma vitória maiúscula, daquelas que arrepiam até os não-torcedores. Uma vitória suada, sofrida, disfarçada de derrota. Uma vitória em forma de via-crúcis, que fez um um grito nacional deixar milhões de engasgadas gargantas. A palavra vice sendo enviada para o nunca, na carona de um palavrão, ecoou Brasil afora. O Vasco voltava a ser Vasco, depois de tanto sofrimento, depois de tanto quase.

Em tempo de bondes e trens-bala, pouca gente lembrou da metáfora ferroviária original. Do tempo de um outro Vasco, o Vasco de Ademir, o Vasco melhor time da América, base da seleção de 50. O Expresso da Vitória hoje é um retrato na parede – esquecido moralmente durante anos pelo próprio Vasco, nos quase 20 anos em que cuspiu em sua própria imagem.

Os anos euricos transformaram o Vasco em vilão nacional, num poço de antipatia. Mesmo as vitórias traziam a nódoa da desconfiança, da arrogância, dos acordos surdos e insondáveis. Foi naquele vasco, minúsculo, que um ídolo foi sangrado e outro foi expulso da tribuna. Foi naquele vasco, ironicamente, que a palavra vice foi tatuada – em derrotas inesperadas e aparentemente cármicas. Foi aquele vasco, embora já de pele e direções novas, que foi rebaixado, espancado e humilhado.

Algo mudou em São Januário. O vasco-joão-bafo-de-onça saiu de cena, voltou o mestiço simpático que lutou contra o preconceito, que encarou a humilhação de frente; o vasco popular, de lapis atrás da orelha, mordendo a coxinha no boteco ou na padaria. O Vasco sempre foi o mais povão dos times cariocas, o menos elitizado, o mais barriga na bancada, palito na dentadura. E sempre foi assim com orgulho, cuspindo farofa e sorrindo, sem medo de suas origens.

Três imagens da decisão em Curitiba grudaram na retina. A primeira, observada pelo repórter Eric Faria, no fim do segundo tempo. No banco de reservas, Diego Souza e Felipe não conseguiam sequer ver o jogo. Diego sentado, de costas para o campo. Felipe, como um esquimó súbito, afundado em seu capuz. Um rezava e sofria, o outro sofria e rezava – mãos nos rostos, como se ecoassem baixinho o sentimento de cada vascaíno – “acaba, jogo, por favor”.

O Vasco estava tão perto… e tão longe. Os minutos passavam, as bolas do Coritiba passeavam perigosamente perto da área. Cada cruzamento era um parto e uma dor. O desespero era palpável – dos dois lados. O Coxa, perto de uma altura inédita. O Vasco, perto da redenção necessária – da expulsão do estigma da derrota última. Felipe e Diego oravam como milhões de vascaínos pelo Brasil – enviando cada bola para a distância.

A segunda imagem veio após o jogo. No campo já deserto, o melhor jogador da partida, Éder Luís, deu uma entrevista solitário. De touquinha, sorrindo com os dentes separadíssimos, segurando o troféu nos ombros. Tudo na cena parecia estar no diminutivo. O rapidinho Éder com aquele trofeuzinho indo pra casinha –o mineirinho por definição – a humildade em pessoa. Era muito Vasco – a digestão pelas beiradas, o time da virada num ano que começou catastrófico, com derrotas humilhantes e pênaltis enviados em missão lunar.

O Vasco mineirinho, o Vasco mestiço, o Vasco que misturou casagrande & senzala desde o início de seu futebol. O Vasco que é zona norte e zona sul – o Vasco Marcos Palmeira e Camila Pitanga, Vasco Fernanda Abreu e Paulinho da Viola, Vasco Unidos da Tijuca e Bruno Mazzeo . O Vasco que teve um presidente mulato 100 anos antes de Obama. A cruz-patéa, que os anos cuidaram de transformar em cruz-de-malta no imaginário popular – voltou a bater no peito.

A terceira e última imagem foi do goleiro Fernando Prass. Depois de correr, berrar, gritar, ser atingido por uma pilha e comemorar, Prass encostou numa amurada… e chorou. Chorou, ainda de luvas, as lágrimas de alívio eufórico que o Vasco há tanto buscava.

Foi bonito, foi sofrido, foi até o ultimo minuto. Houve quem dissesse que jogo não foi bom – e tecnicamente não foi. Mas e daí? Foi daqueles jogos que fazem o suor saltar dos poros. Se você diz gostar de futebol e achou chato o épico do Couto… de repente vale a pena experimentar bocha. A nau voltou, amigos – e isso, gozações torcedoras à parte, enriquece o futebol do Rio – e o futebol brasileiro. O Vasco sempre foi vanguarda – não tinha direito de se transformar em atraso. Hoje é aquele dia em que todo palavrão que ecoa é justo, é puro, é até bonito."



terça-feira, 7 de junho de 2011

Sãos e salvos

Nunca quis tanto voltar pra casa após férias. Nunca quis tanto estar com a minha família, com meu filho. A viagem de férias foi maravilhosa, conheci lugares lindos, paisagens espetaculares e, depois de estar perto de tantos vulcões durantes esses dias, não pensava que um deles entraria em erupção e causaria tanto transtorno e preocupação.

Era nosso último dia em Bariloche. No dia seguinte já iríamos pegar o voo pra Buenos Aires, dormir uma noite lá para, no dia seguinte, voltar pra casa. Estávamos visitando o cerro Tronador, distante 100km de Bariloche pro lado do Chile. Às 15:30 ouvimos um barulho e presenciamos uma pequena avalanche de neve. Como essa montanha tem esse nome justamente por causa do barulho que faz quando a neve despenca, não achamos nada de mais.  Acontece que justamente nessa hora o outro vulcão estava entrando em erupção e sentimos isso do lugar onde estávamos sem saber.




Lá pelas 5 horas da tarde iniciamos a volta e depois de uns 40 minutos pela estrada começamos a estranhar o escurecimento rápido do dia, mais do que normal nessa época. Hugo observou que todas as plantas estavam cobertas de branco, mas achou estranho porque não era uma geada e muito menos neve.  A visibilidade foi ficando péssica, a estrada estava, quanto mais próximos ficávamos de Bariloche, coberta de areia, pó mesmo.



Sem saber o que estava acontecendo exatamente, prosseguíamos a viagem de volta quando, de repente, uma das meninas que estava conosco recebeu um telefonema da família de Buenos Aires perguntando se estava tudo bem uma vez que havia recebido a notícia de que um vulcão no Chile havia entrado em erupção e estava cobrindo Bariloche de cinzas. A partir daí, a situação que já era tensa ficou tenebrosa. O motorista náo conseguia enxergar um palmo a frente do nariz e seguia dirigindo com base no conhecimento que tinha da estrada, piloto automático total. Eu não conseguia nem respirar e olha que não sabia que isso pararia os aeroportos e me deixaria presa na cidade onde eu não tinha a menor intenção de ficar além do planejado.

Quando chegamos em Bariloche, apenas no instante em que saltei do carro pra entrar no hotel, meu couro cabeludo ficou cheio de pedrinhas que caiam da nuvem com material vulcânico que cobriu Bariloche. Meu cabelo ficou duro na mesma hora e tinha farelo de vulcão até dentro da orelha do Hugo! A cidade inteira parecia um deserto: todas as lojas e restaurantes fechados, ruas com montanhas de pó de 20cm, carros cobertos de poeira e precisámos ter cuidado com as vias respiratorias e com os olhos porque ainda estava ventando. A água que antes era vendida por 3 pesos, passou pra 20!!!




Louca, eu ainda tinha esperança de que no dia seguinte conseguiria pegar meu voo pra Buenos Aires que estava marcado para as 11 da manhã. Hugo, que já foi piloto, me tirou da ignorância e disse que eu perdesse minhas esperanças porque o espaço aéreo estaria totalmente tomado por essas partículas que em contato com a temperatura baixa, viram vidro e fazem, simplesmente, o motor do avião parar. Mal consegui dormir e, no dia seguinte, dito e feito: voos cancelados, aeroporto fechado indeterminadamente. Fiquei desesperada. Hugo queria esperar no hotel mais alguns dias e eu queria ir pra rodoviária e encarar as 24 horas de estrada dentro de um ônibus e sair de lá o mais rápido possível pra não correr o risco de perder meu voo de Buenos Aires pro Rio.

Como nessas horas o Hugo deixa que eu tome a frente e decida, mesmo ele deixando claro que preferia não encarar a viagem de ônibus, fiz o que minha intuição pedia e liguei pro transfer pedindo que me levasse até a rodoviária naquele instante. Chegamos lá às 9:45 e saimos no ônibus das 10h. A estrada estava péssima. Às 11 e meia da manhã parecia que era meia-noite de tão escuro que estava. O namorado, nesse momento, disse que achava que a estrada seria fechada também porque as condições para dirigir estavam terríveis. De tão nervosa, estou com a cara cheia de espinhas. Isso acontece todas as vezes em que estou muito estressada. Como se não bastasse o nervoso da situação, ainda tenho que aguentar uma cara espinhenta.

Quanto mais nos afastávamos de Bariloche, melhor a estrada ficava e mais certeza eu tinha de que fiz a coisa certa insistindo nesse programa de índio que é ficar 24 horas dentro de um ônibus. Chegamos em Buenos Aires e tivemos a notícia de que a estrada está, de fato, fechada por falta de condições de circulação e, consequentemente, de segurança. O vulcão continua lá, mandando poeira e detritos pro ar. Alcançou 10 km de altura a fumaça da erupção e com o vento o estrago está sendo grande. Soubemos que o aeroporto de Bariloche e também o que fica a 5 horas de lá estarão fechados, pelo menos, até domingo. E eu só dou graças a Deus de ter pensado rápido e ter saído de lá. Conseguimos pegar nosso voo pro Rio e aqui estamos em casa, com nosso filho feliz da vida por nos ter de volta!!! Graças a Deus. Férias por lugares lindos e com um final cheio de emoção. Na verdade, eu nem gosto muito de tanta emoção assim. Sou daquelas que prefere a calmaria... Adoro o previsível, a rotina, o que posso controlar. Mas a vida não é assim e a força da natureza é algo indescritível. Eu só sei que eu quero é passar longe de vulcões daqui por diante!!!