quarta-feira, 29 de julho de 2015

Mãe é coisa besta



Mãe é uma coisa besta mesmo. A gente pode falar mal do filho da gente, mas não suporta que ninguém mais fale. É uma coisa que mexe com nossas entranhas, que revira alguma coisa por dentro que nem sei explicar. Quando falam mal com razão, a gente até agradece por ter a chance de poder consertar o filho ou pelo menos tentar. Pra mim, a verdade é sempre bem vinda, sempre uma oportunidade de melhorar, por mais que doa. Mas quando falam mal sem razão, a coisa fica feia pra valer...

Mãe é uma coisa besta mesmo. Normalmente a gente é mais comedido em elogiar os filhos, não quer deixá-los metidos ou presunçosos, cautela é bom pra não criar filhos egocentrados e que se acham a última bolacha do pacote. Mas quando os outros elogiam seu filho, seja porque motivo for, alguma coisa linda acontece dentro da gente, revira alguma coisa por dentro que eu também não sei explicar e vem uma vontade louca de gritar pra todo mundo ouvir. A verdade é que ter filhos maravilhosos faz com que a gente se sinta maravilhosa, mesmo que eu saiba que isso é loucura.

Meu filho, graças a Deus e por enquanto - porque o futuro a Deus pertence - é mais elogiado que criticado, seja por seus atributos físicos, seja por seu comportamento ou educação. E isso é uma benção pra uma mãe que se empenha em criar filhos bacanas. É como uma brisa fresca que mostra que toda a sua chatice está valendo a pena.

Semana passada estávamos saindo de um restaurante e Miguel se adiantou. passando pela porta de saída antes de nós. Sentou em um banco que estava bem em frente a porta onde duas atendentes recepcionavam os clientes. Como eu vinha atrás e resolvi parar pouco antes da porta pra esperar o Namorado, minha mãe e minha sogra, as moças não perceberam que eu era a mãe do menino de quem estavam falando:

- Nossa, já reparou naquele menino? Como é charmoso!

A segunda moça completou:

- Sim! Ele é lindo! Tem um jeitinho de homem mesmo, olha como coloca as mãos no bolso... Um gato!

A primeira continuou:

- Os olhos puxadinhos dele são demais, amiga!! Ele é MUITO estiloso!

Ai, gente.... Eu vinha me aproximando e escutando e a cada passo que eu dava mais difícil ficava de conter meu sorriso de orelha a orelha.... Uma vontade louca de gritar pra todo mundo ouvir:

- Esse menino lindo é MEU FILHOOOOOOOOO!!!! É meu!!! Eu que fiz!! Com o maior amor!!! Meu, todo meu!!! ahahhahahahahaaaaaaa

Mãe é uma coisa besta mesmo.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Olhar o Céu



Desde que o blog nasceu nunca fiquei tanto tempo sem postar. Sei lá. Uma mistura de muito trabalho - muito trabalho mesmo - com preguiça. Falta de tempo é algo que existe sim, mas quem não sofre de falta de tempo hoje em dia? Acho que é quase o mal do século. Por isso, não acho que falta de tempo seja desculpa. É mesmo uma mistura de muito trabalho e uma preguiça estranha que me manteve longe daqui por quase 1 mês. E acho que certas coisas na vida são pra gente deixar como estão porque não adianta ficar forçando nada. Estava de saco cheio de me pressionar pra escrever alguma coisa e, simplesmente, não queria me sentir assim. Detesto que me pressionem, principalmente detesto que eu mesma me pressione. 

Daí ... Foi isso. Não dei às caras mesmo e não me senti mal. Agora voltei. Estou aqui. Com vontade de estar. E isso é o mais importante pra mim. Fazer as coisas que tenho vontade é maravilhoso. Já temos que fazer tantas coisas sem vontade na vida, não dá pra gente ainda se obrigar a fazer mais nada que não esteja a fim. Se não, fica feio, sem cor, sem graça. 

Levei Miguel ao teatro outro dia. Atrás do Miguel estava sentada uma menina muito chata, dessas que ficam chutando a cadeira da frente, puxando o encosto da cadeira e falando alto. Depois de muitos minutos aguentando as reclamações do Miguel que dizia que a menina era muito sem educação, resolvi olhar pra trás pra saber com quem estava aquela criança. Estava com a mãe. Só que a mãe não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, nem a respeito do comportamento da filha e nem do que ocorria no palco do teatro. A mãe estava com a cara no celular, quase que abduzida pela rede social, alheia a tudo a seu redor, alheia à própria filha. Como se não bastasse, a mãe começou a tirar fotos (self) e a postar. Exatamente isso. Enquanto a peça rolava, a filha ria, ficava em pé em seu assento, gritava e a mãe continuava olhando para o celular. Não existia mais nada pra mulher, só o celular.

A vida rola enquanto olhamos o celular. A vida acontece enquanto estamos preocupados em tirar fotos e postá-las. Tudo o que é demais, é excesso, já dizia minha sábia avó. Não estou me tirando dessa lista de pessoas que gasta um tempo considerável de suas preciosas vidas com redes sociais. Isso é uma realidade. Mas sou uma das pessoas que começou a refletir o quanto isso está corrompendo relações, roubando nosso tempo do que importa de verdade. Ali, naquele teatro, o mais importante pra mim eram as carinhas do meu filho, suas reações, seus risos, sua alegria, seu espanto. Essas carinhas do Miguel com 6 anos assistindo "A Formiga e a Cigarra" não se repetirão. São únicas. Eu preciso viver isso. Eu preciso olhar todas elas, gravá-las em mim. Eu não vou olhar o celular. E se você pensa que seu filho não nota isso, está redondamente enganado.

Toda sexta-feira é meu dia de levar o Miguel pra natação. Muitas vezes estou na maior correria e levá-lo significa chegar mais tarde no trabalho e já começar o dia com tarefas acumuladas. Por isso, na maior parte desses dias, enquanto ele nada, eu faço ligações, adianto meu trabalho à distância como posso e já vou dando uma olhada nas minhas tarefas do dia. Enfim, ele nada e eu olho a agenda do celular. Ele nada e eu falo no grupo do Whatsapp do trabalho dando coordenadas. Ele nada e eu telefono pra pessoas com quem fiquei de falar no decorrer do dia. Aí, em determinado momento, numa dessas sextas, Miguel vira-se pra mim de dentro da piscina e grita:

- Mãeeeeeeeeee!!!! Olha pra mim!!! Estou nadando sozinho!! Você vai ficar só olhando pro celular??

Nossa. Gelei. Congelei debaixo de um sol de 35 graus.

Morri de vergonha. Sheila, a professora, riu. Não sei se pra mim ou de mim. Mas era um riso de cumplicidade com o Miguel, um riso de quem concorda com ele. Na mesma hora, guardei o celular. Meu filho está aprendendo a nadar. Que se ferrem as tarefas todas que tenho que fazer. Que se danem os milhões de telefonemas que tenho que dar. Ninguém vai morrer se eu sumir por 40 minutos. Esses 40 minutinhos deveriam ser só do Miguel. Eu não deveria aceitar dividir esse tempo com mais ninguém, com mais nada. Guardadas as devidas proporções, me senti um pouco como aquela mãe no teatro e fiquei com vergonha. 

Os filhos crescem e crescem rápido. Preciso aproveitar tudo. Não vou deixar escapar o momento. A vida é o que temos agora, enquanto digito essas palavras e você lê esse texto. Preciso largar o cel e olhar pro céu.