quarta-feira, 31 de julho de 2013

Crianças...



Ter uma criança em casa é nunca ter silêncio. Se antes achava que quando tudo estava quieto e silencioso eu tinha paz, hoje aprendi a ter paz dentro do caos. Até porque quando tudo está muito silencioso em casa pode contar que:

1. Miguel caiu duro e dormiu de repente. Criança agitada não deita e dorme com calma, ela encosta em algum lugar e, acredite, pode ser qualquer lugar mesmo e... pluft. Desmaia. 

ou

2. Miguel está fazendo merda. 

Eu prefiro encontrá-lo dormindo no chão, na cama da avó, no escritório, enfim, qualquer lugar porque quando a criança está muito quietinha e não está dormindo é porque vem chumbo grosso e é bom estar preparado. 

Então, ter uma criança em casa é como se não houvesse vazio, fica tudo preenchido por essa presença enorme ainda que sejam pequenos. Eles ocupam o espaço destinado a eles com tanto carinho e todos os outros da casa. TODOS. Não sobra nada pra você, se bobear nem a cama. 

E ter criança em casa é também ser surpreendido pela esperteza e desenvolvimento deles o tempo todo. Eu fico besta com a rapidez de raciocínio do meu filho e a capacidade enorme de aprendizado que demonstra. Não vejo o Miguel nenhum super dotado não. Acho meu filho bem normal e tal. Mas que o moleque é rápido pra pensar em jeitos de conseguir o que quer, isso é! E outra coisa: se o Miguel vir algo, um lugar, um caminho, basta uma vez pra ele gravar. Se voltar ele saberá que é a casa de fulano, que alí foi a festinha de ciclano ou que já passamos por lá pra chegar em algum outro local. Quer dizer, esperto ele é. 

Algumas pessoas acham que, por eu ser professora de inglês, ensino ou falo inglês com meu filho. Só que como diz o ditado: "Casa de ferreiro o espeto é de pau". Eu raramente falo em inglês com meu filho e embora ele já saiba identificar o que é português, inglês e espanhol, é claro que não entende nada. Aí outro dia, abrindo um angry bird que demos pra ele e que vem com brinquedo e bala dentro, ele abriu o bicho e falou pro Hugo: "Olha, pai, tem candy! Aí o Hugo achou que não tinha entendido direito e perguntou: "O que, filho?" E o Miguel mostrando as balas nas mãos, repetiu: "Tem candy!" Depois de falar pro Miguel que achou legal, Hugo levantou e veio até o quarto, onde eu estava, pra me perguntar se eu havia ensinado a palavra ao Miguel. Eu respondi que não e perguntei ao Miguel onde ele havia aprendido. E o Miguel respondeu que foi no video de propaganda do brinquedo que existe no Youtube. Aliás, ele já sabe colocar no site e ver os videos dos brinquedos que quer. E de tanto ver e ouvir (os videos são em inglês) ele já fez a associação do que vê com o que ouve e pronto, bastou pra ele aprender. 

Ontem, uma amiga chegou de NY e trouxe um boneco (duende verde) inimigo do Homem Aranha pra ele. Miguel ficou muito feliz e brincou o tempo todo criando suas lutas entre bem e mal. Lá pelas dez e meia da noite ele me perguntou:

- "Qual o nome mesmo da sua amiga que trouxe o duende verde pra mim, mamãe?"

E eu respondi que é Graça. Aí ele falou:
- "Vamos ligar pra Graça, então?" 
- "Vamos, sim, vamos ligar amanhã porque já está tarde. Você quer agradecer?"
Aí Miguel me responde:
- "É... " 
Como foi um "é" meio reticente, não senti a menor firmeza na resposta dele. Aí insisti perguntando o que ele queria falar com ela. E, então, ele me falou:
- "Quero pedir pra ela trazer pra mim também amanhã o spider man preto e o lagarto!!"

Ainda bem que estava tarde e eu não deixei meu filho ligar pra Graça porque eu teria morrido de vergonha!!! Criança tem cada uma...


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Dia das avós

Infelizmente, não cheguei a conhecer meus avôs. Já tinham partido quando aqui cheguei. Em compensação, tive as melhores avós desse mundo! Minhas avós eram lindas, amorosas, fofas como todas as avós devem ser.

Hoje, no dia delas, quero muito agradecer por sua presença em minha vida. Quero dizer a elas que minha infância foi mais rica porque as tive perto de mim. Uma, doce e delicada. A outra, forte e decidida. Bibi era brisa leve. Gegê era furacão. Uma mansa, quieta, rio calmo. Outra selvagem, onda do mar batendo na arrebentação. Uma Nanã, outra Inhansã. Cada uma no seu jeito de amar e agradar aos netos. As duas inesquecíveis em seu poder de se dar aos que vieram depois e aqui ficaram.

Minha avó materna, minha vó Bibi... Quero lhe agradecer por sua delicadeza, gentileza. Está pra nascer mulher mais fina e educada que nunca tenha frequentado uma escola! Quero dizer que me lembro de todas as vezes em que se despediu de nós, no finalzinho do domingo, no portão da sua casa, com a mão levantada acenando até que o nosso carro sumisse ao fim da rua. Pra nós, sempre tinha brigadeiro antes do almoço, sorvete feito por você e queijadinha! Pra nós, sempre tinha um elogio, um olhar do mais puro amor que só as avós sabem dar. Aquele olhar de quem já viveu muito e sabe que o tempo é precioso pra se desperdiçar com besteiras e com coisas sem sentido ou importância. Você, vó, com toda sua experiência, sabia que o tempo é curto e que precisamos dele pra viver o amor. E só o amor. Você me ensinou cedo que perdoar quem erra sempre é o melhor caminho pra se sentir livre. Você me ensinou que alimentar discórdia nunca foi o melhor caminho. Sua bondade vi em poucas pessoas. Sua capacidade de dividir o que possuía era enorme - admirável qualidade pra quem teve tão pouco. Nunca se esqueça que deixou netos apaixonados por você. Um dia a gente se abraça de novo!

Minha avó paterna, minha vó Gegê... Quero lhe agradecer por sua força, sua valentia. Mulher guerreira, briguenta até, mas que nunca se conformava com injustiças. Era capaz de tudo pra defender os seus! Nunca me esquecerei de você a nos esperar para o almoço de domingo na janela do apartamento de Madureira - bairro que sempre detestou. Agradeço por ter tido o melhor cafuné do mundo quando estava em seu colo... Sempre um pudim na geladeira, sempre um elogio daquela que se referia a mim como "boca de Brigitte Bardot". Minha avó paterna era morena vaidosa, com sangue quente e coração louco. Intempestiva, entrega total a seus quereres. Com você, vó, aprendi a ir atrás dos meus desejos, aprendi a me considerar bonita, a me enxergar linda independente de qualquer coisa. Com suas atitudes, vi que apesar de dificuldades da vida, nunca devemos nos conformar com migalhas e que toda adversidade pode ser passageira se lutarmos por algo melhor. Com você, aprendi que as avós podem ser engraçadas, namoradeiras, espirituosas, modernas. Nunca se esqueça que deixou netos apaixonados por você. Um dia a gente se abraça de novo!

Vovós, Deus foi muito bondoso comigo por ter me dado duas avós tão diferentes e que me ensinaram tanto em suas diferenças. Hoje, no dia de vocês, quero que sintam que tenho a certeza de ter vivido dias lindos ao seu lado quando aqui estavam fisicamente. O amor de vocês é eterno e segue aqui comigo, dentro do peito. Um beijo enorme cheio de saudade... Feliz dia dos avós!!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Solteira no Rio de Janeiro

Vida de solteira é muito bom e tal, muitas oportunidades de viver coisas novas, conhecer gente nova, poder ir pra night e dançar sem se preocupar com nada nem ninguém, porque se mexerem com você, ok, seu namorado não vai ter ciúme e fazer uma cena. Afinal, você não tem namorado e algum lado bom isso tem que ter. Podemos escolher a roupa que for, mais curta, mais decotada. Não vai ter nenhum olhar de censura ou pedido especial pra trocar de roupa ou aquela perguntinha básica que toda mulher ja ouviu: "Você vai assim? Mesmo?"

Mas tem uma hora que a coisa enche o saco num grau que você começa a achar que seu edredom e um copo de vinho são melhor companhia que a galera da night fingindo que a vida se resume a uma noite, no melhor estilo Sidney Sheldon, "Se houver amanhã". Enfim, da época de solteira, guardo muitas coisas engraçadas e outras nem tanto. E, outro dia, conversando com uma amiga solteira, acabei me lembrando de alguns episódios que vivi.  Mais acho que nenhum deles é páreo pro que aconteceu com ela. 

Minha amiga conheceu um cara e, aparentemente, não havia aquela atração toda porque o sujeito era meio bronco, quase um Nuno Leal Maia, na novela Mandala, que chamava a Vera Fischer de "minha deusa". Mas, pra quem já está sozinha há tanto tempo, quem se importa com um pouco de breguice? Até falei pra ela esquecer os estereótipos e investir porque o cara parecia companheiro e queria um relacionamento, não só uma ficada. O cara ia ligando, chamando pra sair, até que ela sugeriu um cinema.

Lascou-se. 

O cara, pra surpresa geral (não importa como você se veste ou onde você foi criado, cinema é cinema, pombas) disse que não gostava. Nesse momento, todas as luzes de emergência se acenderam e começaram a piscar desesperadamente!!! Até barulhinho do caminhão do corpo de bombeiros dava pra ouvir... Gente, pode-se confiar em alguém que não gosta de cinema? O cara disse que preferia ver filme em casa e que se sentia meio "enclausurado" naquele escurinho, fechado em uma sala cheia de gente desconhecida. Mesmo assim, foram em frente. Minha amiga resolveu apostar no improvável porque a falta de refinamento da pessoa não pode ser fator decisivo pra não dar andamento em algo que pode ser legal. A gente precisa se apegar a alguma coisa! 

Depois de alguns encontros e conversas, era chegada a hora dos finalmente. Era o momento de ver se o lance seria bom mesmo e faria tudo valer a pena. De repente, desencontrados no estilo de vida, poderiam até achar um ponto comum na cama. E minha amiga resolveu pagar pra ver. 

Então, hora do jogo. Tira roupa daqui, puxa camisa dali. Ok. Tudo indo bem até aquele instante. Não estava sendo nenhuma maravilha mas também não estava dando errado. Mais ou menos o esperado de uma primeira vez. Até que resolveram fazer o básico, o famoso "papai e mamãe". E aí é que o angu encaroçou.

O cordão de ouro que a criatura estava usando com uma medalha de São Judas Tadeu começou a incomodar. Como se tratava da primeira transa, minha amiga ainda tentou se controlar ao máximo pra não falar nada, mas a infame medalhinha ficava batendo na cara dela a cada investida do Mr. bronco. Ritmadamente, a medalhinha dava na testa dela. Pum - pum - pum. E a pobre já não conseguia se concentrar em nada, muito menos sentir alguma coisa. Só conseguia sentir a medalhinha batendo em sua testa. Um minuto, dois, três minutos e o pum-pum-pum na testa não parava. Sem mais poder aguentar aquela situação bizarra, resolveu falar:

- " Você poderia tirar o seu cordão?"

E aí vem o gran finale dessa tentativa de namoro. O cara respondeu:

- "Não, nem pensar! Não posso ficar sem meu santinho!" Pegou a medalhinha fervorosamente, beijou o santo e jogou o cordão pra trás. E continuou como se nada tivesse acontecido. Pra ele devia estar bom. Pra minha amiga, a transa acabou alí, com aquela cena do Mr. cordão de ouro beijando seu santinho. 

A coisa não está fácil pra ninguém mesmo, mas essa minha amiga, na verdade, tem é que agradecer aos céus porque é uma protegida. Como ela estava insistindo em uma coisa que não tinha como dar certo, os céus, através de São Judas Tadeu, mandaram um aviso que não havia como não ser entendido. O santo começou a bater na testa dela como quem diz: "Sai fora daí!!" E, graças ao bom pai, e à São Judas Tadeu, aquele foi o derradeiro encontro. Vida de solteira que segue. Ainda não foi dessa vez. E, quer saber? Deixa assim... Pelo menos por enquanto o edredom e o copo de vinho continuam ganhando como melhor companhia.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Meninos




Quando engravidei, não quis ter muitas esperanças de ser um menino porque na minha família só nascia mulher e eu não queria me iludir. Ficaria feliz com qualquer sexo, é óbvio, mas em meu íntimo, torcia por um menino. Entretanto, quando soube que na minha barriga estava o Miguel, apesar de muito feliz, me deu um medinho de não saber ser amiga dele, de não conseguir entrar nesse universo diferente do meu, da minha irmã, das minhas afilhadas. Fiquei um pouco sem saber como seria lidar com a realidade de um menino, até nas coisas mais simples como dar banho, por exemplo. Só que, pra mim que nunca fui chegada a bonecas, conviver com as brincadeiras masculinas foi muito mais fácil que eu poderia pensar. Eu AMO ser mãe de menino e se tivesse tempo e disposição para ter outro bebê, torceria para que viesse outro homem. 

Se todos os meninos são carinhosos e protetores com relação à suas mães como o meu é comigo, não sei. Mas sei que o relacionamento de uma mãe com seu filho é algo muito mágico porque apesar da falta de afinidade pras brincadeiras mais brutas, apesar de eu não achar graça de certas nojeiras das quais só homens gostam, em geral, existe um lance muito misterioso entre mãe e seu bebê homem. O jeito do Miguel me olhar, o jeito de ele pedir proteção e proteger, o jeito de ele me acarinhar é muito inédito pra mim. E é muito diferente da relação de carinho que ele tem com o pai. 

Hoje Miguel ficou na parte da frente da casa esperando minha irmã que o levaria ao cinema. Só que depois de estar lá fora alguns minutos, ele entrou em casa com uma florzinha pra mim. "Mamãe, olha o que peguei pra você..." Eu agradeci a flor, disse ao Miguel que ele é um filho maravilhoso, muito carinhoso e, como sempre faço, disse que ele é meu gostosinho, meu melhor presente. Aí o Miguel chegou mais perto, colocou cada mão de um lado do meu rosto, apertando minhas bochechas com força, quase me esmagando com seu jeito bruto de ser, e disse olhando nos meus olhos com carinha de sapeca:

"E você, mamãe, é a minha gostosinha. A mãe mais linda para sempre! Eu te amo muito mais, tá?"

Sem mais, me deixou alí com cara de pateta, completa por um sentimento delicioso de ser muito amada, olhando pra flor cor de rosa em minhas mãos como se fosse mais valiosa que um anel de brilhantes. Sem dar muita importância pro momento, Miguel deu as costas e voltou pra frente da casa.

Do pouco que eu sei nessa vida, posso afirmar que esse amor é único, não existe igual. E só de pensar que Deus me presenteou com a dádiva de ter esse menino bruto e delicado, estabanado e sensível ao mesmo tempo na minha vida, tenho vontade de agradecer mil vezes. Mil vezes, não. Um milhão de vezes. E nunca será o suficiente. Nunca será.  




terça-feira, 16 de julho de 2013

Quando você parou de se achar bonita?



Esse é mais um vídeo da série de propagandas Dove. Achei tão bonito que decidi postá-lo aqui. 

Por mais que eu ainda ame uma filmagem, uma foto, em muitos momentos já me senti com vontade de sair correndo de uma câmera. Não sei... Um medo do que vai ficar registrado, medo de olhar a foto e ver que não tenho mais a cara de antes, o corpo de quando mais nova, o brilho no cabelo. 

Aí a gente vê umas menininhas novinhas, amando um espelho, amando seu reflexo, se amando e a gente cai em si de que alguma coisa ficou pra trás nessa estrada. E, pior, alguma coisa foi deixada pra trás por nós mesmas. Vamos crescendo, ficamos sujeitas a padrões de beleza estabelecidos, ficamos suscetíveis à opinião de outras pessoas, crescemos e paramos de querer nos agradar pra agradar a outros. E aí nosso senso crítico começa a nos açoitar e o que antes achávamos graça, vira vergonha. O que antes era marca registrada, charme, vira algo a ser escondido.

Sei lá. Estou envelhecendo e atesto isso todo dia, mas não quero me esconder do tempo. Prefiro, ainda, colocar minha cara na janela pra ver o mundo e pro mundo me ver. Mais medo que ver minha cara cheia de rugas, é o medo que sinto de ver meus olhos sem brilho.

Eu tenho muitos momentos em que não me acho mais tão bonita quanto já fui, mas ainda não parei de me achar bonita e espero, muito, nunca parar.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Xarope



Filhos são umas coisinhas lindas mesmo. A gente fica muito apaixonada e acha tudo uma graça. Mas eles também têm o dom de tirar a gente do sério, de enlouquecer qualquer cristão.

Não me acho uma criatura das mais pacientes, mas em relação às pessoas com quem convivo diariamente, como minha mãe e minha irmã, por exemplo, sou quase um budista de tão zen. Minha mãe nunca foi de muita explicação, mandava logo a pancada. Eu nem posso me queixar muito porque, uma vez que não fazia muita merda, também quase não apanhei. Minha irmã adota o mesmo estilo de criação que teve: seu pavio é curto. Curto não, é curtíssimo. Se as meninas bobearem, entram na pancada em grande estilo e não importa onde esteja ou na frente de quem esteja.

Por isso, sou considerada uma perfeita idiota aos olhos delas. Sempre acham que eu tenho paciência demais. Que eu demoro muito pra dar uma ordem, que eu converso demais, que tento mostrar o porquê quando a criança obedeceria mais rapidamente com uma ordem simples e direta. Talvez elas tenham razão em alguns momentos. Mas o fato de eu ter paciência ou tentar o caminho da conversa, não significa que eu nunca "entorne o caldo". Não, nunca bati. Não gosto de violência e acho uma covardia fazer isso com um filho, mas não estou condenando quem o faça. Eu apanhei, poucas vezes, é verdade, e não morri. Mas não adoto essa conduta porque não me faz bem. Mas sei que muitas vezes a gente não dá um tapa por muito pouco, porque filho tira do sério mesmo.

Miguel é uma criança muito saudável. É espantoso como meu filho custa a ficar doentinho. Até gripe não derruba o meu filho. Fica entupidinho, com secreção pelo nariz e tosse, mas não fica arriadinho nem nada. Só que quando está tossindo muito e encatarrado, preciso dar o xarope. E pro Miguel, tomar xarope é um parto. Nem adianta tentar colocar junto com o suco porque o garoto sente o gostinho de longe. Ninguém mais engana essa criança. Negocio a tomada de xarope com ele o tempo todo. Quer suco? Só depois do xarope. Quer ver filme? Só depois do xarope. Quer o Ipad? Só depois do xarope e por aí vai.

Só que nessa semana, na hora do xarope, depois de negociar muito e Miguel dizer que iria, finalmente, tomar o xarope, minha paciência se esgotou. E aí é que está o problema com gente como eu que tem muita paciência: quando o saco enche, a coisa fica feia. E daí que fui dar o xarope pro moleque, ele pegou o copinho, entornou o xarope na boca e ficou com a boca aberta, deixando o xarope escorrer pelos cantos dos lábios, caindo pelo pescoço, pela camisa e pingando no chão. Eu observando a cena, incrédula, vendo meu filho deixando a boca mole só pro xarope sair da boca e ele não ter que tomá-lo. Olha, uma coisa muito doida se apoderou de mim. Senti minha cara queimar e meu sangue ferver de ódio. Minha pele formigava, meu cabelo arrepiou com tanta falta de respeito. Só sei que comecei minha sessão de gritos porque bater não bato, mas grito que é uma beleza. E aí começou a bateria de frases feitas, que todo mundo já ouviu da mãe: "Tá pensando que eu sou palhaça? Eu tenho hora pra ir pro trabalho! Eu estou cuidando de você e é assim que você me agradece?" Arranquei a camiseta que ele estava usando, porque ficou toda melada de xarope, com tanta rapidez que Miguel ficou com cara de desnorteado. Enfim, de tanto gritar, cheguei a ficar rouca e, não satisfeita em ver os olhos arregalados do meu filho olhando pra mim como se desconhecesse essa mãe que encorporou um espírito maluco, falei pra ele:

- Pois agora você vai tomar o xarope de qualquer jeito. Por bem ou por mal! Chega! Não tem mais conversa. Abre a boca!! 

Coloquei o xarope no copinho novamente, entornei o dito na boca aberta da criança e a fechei com minhas mãos obrigando-o a engolir o infeliz xarope.

Missão cumprida.

Fiquei tão cansada dessa gritaria toda que parecia que tinha levado uma surra. A impressão que tive foi a de que minhas energias foram todas sugadas. É cansativo esse negócio de perder a paciência. Não gosto de brigar, mas tem vezes que não dá pra fugir de uma briga. E Miguel provocou minha fúria.

Como tudo tem um lado bom nessa vida, Miguel parou de me testar na hora do xarope. Engole o remédio de primeira sem precisar de muita barganha. Assim, posso concluir que em alguns momentos, pra se educar e impor limites, uma atitude mais direta e ditadora cai bem. E de vez em quando, como que para garantir que eu não terei outro ataque de fúria, Miguel ainda solta: "Eu não vou cuspir, tá, mamãe?" 


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Vício



Com tanto relacionamento doido por aí, a única coisa que me vem à cabeça muito frequentemente é dizer obrigada. Agradeço muito a Deus por ter o relacionamento que tenho, com defeitos, é óbvio, mas com muito respeito e cumplicidade. Tenho um homem que me ajuda em tudo, meu parceiro, meu amigo. Um homem escolhido pra me aturar e o faz com maestria. Eu sou muito legal, sim, mas tenho minhas chatices. O Hugo é muito bacana, mas tem  suas esquisitices, é verdade. Mas a gente é muito mais feliz juntos porque nos entendemos, nos acrescentamos. Ele me ensina e aprende comigo. Ele não quer ter sempre a última palavra. Nem eu. Não tem jogo de força, nem de poder. Não tem competição pra ver quem brilha mais, tem é uma torcida grande pra ver o outro brilhar. Por isso, sou muito agradecida por ter o que tenho. E agradeço também por tudo o que vivi antes.

Escuto cada estória, cada coisa tão bizarra que, se também não tivesse tido minha dose de relacionamento doentio, não acreditaria ser possível o que escuto. Eu sei que é possível chamar de amor algo que é uma doença. Quase um vício. E, como qualquer vício, precisa que a decisão de dar um basta seja única e exclusivamente dos envolvidos. Terceiros não podem influenciar e nem adianta tentar. Viciado só se cura se quiser, se decidir que é a hora, que chegou mesmo no fundo do poço. E a crise de abstinência deve ser vivida um dia de cada vez, passo a passo, lentamente. E não é fácil. Eu sei. Pra quem fica de fora olhando, só resta rezar porque gente que a gente ama muito também se mete em cada roubada que nem dá pra contar. 

Eu já tive minha cota de roubadas. Já achei que o que eu tinha era o que eu merecia. E não sei como achei por tanto tempo que eu merecesse tão pouco... Enfim, custou mas chegou o dia em que quis ficar sozinha pra me curar do vício que é viver um relacionamento doentio, pra ser livre pra encontrar o que tenho hoje. Espero que as pessoas que me cercam também arranquem forças de algum lugar dentro do peito pra se livrar do que as faz mal. 

"Só por hoje não quero mais te ver.
Só por hoje não vou tomar minha dose de você.
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam.
E essa abstinência uma hora vai passar."


terça-feira, 2 de julho de 2013

Posso falar a minha verdade?

O mundo, a sociedade, a vida, sei lá o quê ou quem, estabelece o certo e o errado, o politicamente correto, e todo mundo que sai desse pensamento coletivo pré- estabelecido fica visto como alguém quase de outro mundo.  Isso acontece em vários assuntos, políticos, religiosos, sexuais. Um desses temas é o período de gestação de uma criança. E isso me incomoda porque me sinto o ponto fora da curva.

A respeito disso, de estar grávida, não gostava de manifestar minha opinião ou pensava duas vezes antes de falar o que penso dependendo de onde estivesse ou de quem estivesse ao meu redor pra me escutar, porque sei, por experiência adquirida, que mostrando o que sinto, quase sempre recebo olhares do tipo "como ela fala assim do período em que estava gerando seu filho?" ou "Meu Deus, como pode?". E os olhares enviezados já fizeram com que me sentisse péssima, já me fizeram sentir culpa. Já recebi até alguns olhares de pena. É, pena mesmo. Então, pensava duas vezes antes de me pronunciar. Hoje, como dou menos importância ao julgamento alheio, já não ligo tanto pro que os outros vão pensar de mim. Já tenho consciência de que existem outras mulheres como eu, que não tiveram a sorte de se sentirem Gisele Bundchen enquanto estavam grávidas. 

Mas no fundo, no fundo, não gosto de me sentir uma ET. Quem gosta, afinal? Não gosto de me sentir de outro mundo quando digo que não me sentia confortável lidando com as modificações do meu corpo. Mesmo que todos dissessem que eu estava linda. E aqui, me permitam falar mais uma verdade...  Segura: mesmo que você esteja 30 quilos acima do seu peso, um verdadeiro tribufú, quem vai se atrever a dizer que você está feia? Não seria politicamente correto dizer isso de quem ou pra quem está gerando uma vida. Então, pense nisso, as pessoas vão sempre dizer que você está muito bem, que "só tem barriga" e todas essas outras sandices que dizem por aí.  No fundo, de novo, não importa o que digam, o que importa é como você se sente. Mesmo que eu tenha continuado a exercer minha vaidade, me arrumando, cuidando do cabelo e tal, preferia estar cabendo nas minhas calças jeans. Apesar de ter sido uma grávida saudável, sem nenhum problema durante minha gestação, uma grávida que trabalhou até o último minuto (até porque eu não sabia que seria o último minuto uma vez que Miguel nasceu prematuro), eu não gostava daquela barriga imensa, do tamanho da minha bunda, dos peitões. Não gostava do acúmulo de celulite nas minhas coxas e da cor escura dos bicos dos seios. Não gostava de ter que fazer xixi de 10 em 10 minutos e do incômodo pra dormir. Sim, eu sabia que tudo isso aconteceria. Mas o fato de saber não me obriga a apreciar todas essas transformações. O fato de estar preparada pra todas elas, não me obriga a gostar.

Grávida de novela só cresce a barriga, já reparou? Óbvio, a atriz não está grávida na real. Então fica aquela imagem linda da mulher que não tem peitão, não tem pernas inchadas ou pés que parecem um pão de queijo, com aqueles braços fininhos, fazendo a gente acreditar que vai ser assim com a gente. Outra coisa irritante é que grávida de novela só enjoa até descobrir que está grávida, depois tudo passa como que um passe de mágica. Eu passei 3 meses e meio enjoando e conheço mulheres que enjoaram a gravidez INTEIRA!!! Tudo bem, também conheço mulheres que não enjoaram nada, nem um diazinho se quer!!! Conheço mulheres que disseram que se sentiam as mais lindas do mundo e com a libido na estratosfera, fato pelo qual os maridos agradeciam maravilhados! 

Como eu, normalmente, me sinto diferente de quase todo mundo quando o assunto é "como é bom estar grávida", fico sempre achando melhor ficar calada porque o "certo" é todo mundo falar que é um período maravilhoso, divino até, e eu que não achei isso tudo, fico vista como estranha. A gravidez é muito bacana porque todos tratam você com carinho dobrado, são muitos mimos e cuidados e quem não gosta disso? Quem não gosta de bons tratos? Quem não gosta dessa atenção toda? Até aí, está ótimo. Respeito quem se sente linda grávida, quase uma deusa com seus peitões cheios de veias inchadas. Compreendo perfeitamente a grandeza do período, a experiência maravilhosa que é gerar alguém, ter um bebezinho crescendo dentro de você. E se, de quebra, a mulher ainda se sente pefeita, ok. Melhor pra ela. Mas não gosto de receber olhares tortos porque comigo não foi assim. 

E aí as pessoas parecem confundir o amor que você tem por seu bebê com o fato de não gostar de ter um barrigão. Começam a achar que você está rejeitando seu filho e não é nada disso. 

Sempre fui extremamente agradecida a Deus pela oportunidade de gerar meu filho, de ser mãe, pela felicidade que foi saber que estava grávida! Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Mais isso não fez, pelo menos pra mim, que eu adorasse não ficar bem em quase roupa nenhuma. Ou demorar mais tempo que o normal pra me maquiar tentando disfarçar a cara mais gordinha. Sempre encarei tudo isso numa ótima, nunca vivi reclamando dessas coisas enquanto estava grávida, até porque não engordei muito. A única coisa que sempre me tirou do sério foram os enjoos. Mas, apesar da gravidez tranquila, não vou falar aqui que me sentia linda porque seria mentira. Eu, Paula, não me sentia linda. Fato.

E fato é, também, que respeito todas as mulhres que dizem que se sentiam maravilhosas, lindas e poderosas durante esse período. Não acho que estejam mentindo. Acho só que são diferentes de mim. E gostaria que todas essas que tiveram a sorte de se sentirem Deusas durante a gestação de seus filhos me encarassem apenas como alguém que não sentiu o mesmo. Alguém que teve uma experiência diferente. Mas que nunca rejeitou seu filho crescendo dentro da barriga, que adorava o fato de que seria mãe. Apesar de ter que conviver com um barrigão pesado e peitos enormes, sabia que estava carregando meu gostosinho e isso me consolava.

Então, vamos respeitar quem pensa diferente da gente, meu povo? Vamos deixar que cada um expresse a sua verdade sem julgamento? E, às mães que, como eu, não se sentiram as mais lindas do planeta durante a gestação de seus pimpolhos, minha solidariedade absoluta!