quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O valor de um abraço



Felizes aqueles que podem abraçar os que amam. Quanto de amor cabe num abraço? 

Hoje, véspera de Natal, desejo que todos possam abraçar sua família, seus amigos. Desejo que todos possam dar valor às pessoas que estão por perto, porque sempre há alguém que merece um abraço carinhoso, um abraço de amor, um abraço de felicidade, um abraço sincero. 

Não tenho perto de mim todos aqueles que gostaria de abraçar. Uns porque já estão em outro plano e outros por não estarem perto geograficamente. Mas com certeza abraçarei todos que estiverem perto de mim. E abraçarei os que estão longe em pensamento. Porque hoje é noite de Natal!! É noite de felicidade!

Feliz Natal a todos!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Quem meu filho beija, minha boca adoça



A vida está corrida e o trabalho não dá trégua nessa época, mas não posso deixar de registrar algo de muito bom que aconteceu esse ano.

Quando Miguel começou seu Jardim III confesso que fiquei apreensiva ao saber que a professora que iniciaria o trabalho com a turma seria substituída em junho pela professora que voltaria de licença maternidade. Achei que meu filho já estaria acostumado com uma e que teria que se adaptar novamente ao jeito da professora que retornava. Enfim, preocupações bobas de mãe porque a gente sabe que os filhos se adaptam rapidamente às mudanças da vida e isso não seria um problema. Na verdade, o que eu achei que seria algo "chato" tornou-se um presente de Deus. 

Todos sabemos que existem afinidades entre as pessoas e que, muitas vezes sem sabermos explicar, nos identificamos ou não imediatamente com alguém. E acredito que isso tenha acontecido com meu filho. Ele não se conectou com a professora que ficou com a turma até junho, não criou vínculos, simplesmente não aconteceu. E isso, é claro, refletiu em sua vontade de estar na escola. Eu, como professora, sei o quanto é importante buscarmos caminhos para chegar em cada aluno, para conseguirmos uma ligação qualquer, um atalho que seja, pra alcançarmos um modo de ensinar. Com 20 alunos em uma sala, a única coisa que é certa e que todo professor deveria saber, é que serão 20 alunos totalmente diferentes um do outro e que o modo de aproximação usado com um, não necessariamente, dará certo com outro. É preciso, por mais experiência que se tenha e por mais anos dentro de sala de aula que se carregue no currículo, saber se reinventar e acompanhar mudanças. Enfim, algo não estava dando certo com o Miguel no primeiro semestre do ano.

Enfim, junho chegou e com ele chegou a Carla. Até acredito que meu filho tenha gostado dela de cara, mas acredito mais firmemente que a Carla soube construir um relacionamento de confiança total com ele. Pouco a pouco, Miguel aceitou a mão que ela vinha estendendo a ele. E não soltou mais. Carla soube ler meu filho, soube entendê-lo e, portanto, soube tirar do Miguel o melhor. Miguel parou de reclamar que tinha que ir pra escola - coisa que nunca tinha acontecido nos 2 anos anteriores e que vinha acontecendo com frequência nesse ano, e seu desempenho deu um salto. Os desenhos, antes mal feitos e rabiscados, viraram formas facilmente identificáveis, cheias de cor e capricho. Miguel retomou a confiança que estava abalada. E, apesar de se cobrar muito e de não querer errar, respondeu aos estímulos com fé em si mesmo. Carla foi a responsável direta pela recuperação da auto-estima do meu filho, justo ele que sempre foi um menino tão seguro e firme, precisou de um resgate. E, graças a Deus, o resgate foi feito por esse anjo em forma de professora doce e carinhosa. O resgate veio através da Carla. 

Hoje, fim do ano letivo, só posso e devo agradecer. Primeiro à Deus por sempre me mostrar que por mais que as coisas pareçam esquisitas a princípio, tudo acontece por uma razão e, nesse caso, Deus sabia que a troca de professor seria uma benção pra mim e pro meu filho. Segundo, devo agradecer à Carla, por ter exercido sua função tão lindamente, tão cheia de entrega. Por não ter tido preguiça de tentar um caminho novo com o Miguel, por não ter achado, simplesmente, que meu filho não se interessava e ponto. Quando seria mais fácil achar que ele não "estava nem aí pra escola", ela resolveu percorrer uma estrada nova de mãos dadas com o Miguel. Quando seria mais simples assumir que meu filho não era caprichoso, ela optou por tentar conhecê-lo e buscar alternativas. Quando seria mais fácil dizer que ele não estava se desenvolvendo como os demais alunos, ela arregaçou as mangas e trabalhou. 

Por tudo isso é que posso afirmar que essa professora, talvez não tão experiente nessa longa estrada do magistério, terá um futuro brilhante. Ela sabe que cada aluno é um aluno. E porque ela é incansável na tarefa de ajudar a cada um deles, com todas as suas nuances e diferenças, em todas as suas sutilezas e esquisitices. Posso dizer que a Carla enxergou o meu filho. E, a partir de então, fez com que ele a olhasse nos olhos e confiasse nela. Benção pura. Que maravilha saber que existem muitas professoras como você! Faz muito bem ao coração saber que existem muitas "Carlas" espalhadas por aí. 

À você Carla, meu mais sincero agradecimento. Saiba que estará pra sempre no meu coração. 



quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Imagina quando tiver 16...






Sempre tive como objetivo criar meu filho pro mundo. Sempre quis que se virasse bem sem mim e que fosse feliz independente da minha presença. Nunca imaginei ter um filho agarrado comigo, que fosse minha sombra, sabe? Eu mesma sempre fui muito independente, adorava e adoro rua, festa, comemoração. Miguel é muito parecido comigo, apenas é muito mais carinhoso que eu. Definitivamente, uma edição de riso aberto como o meu melhorada.

Há 2 semanas ele foi pra Salvador com a avó, tia e primos. E, algumas vezes, supreendo-me observando como ele é desprendido e safo. Miguel viajou em uma sexta feira de manhã bem cedo e eu vinha falando com ele diariamente mas no domingo eu disse a ele que estava morrendo de saudade. Sabe o que ele me respondeu?

- Mãe, você sabe que depois desse dia (não sei porque ele não fala "amanhã") já é dia de eu voltar né?

Nossa. Tão sutil esse meu filho. Disse, em outras palavras, que eu não precisava ficar com tanta saudade uma vez que logo estaria de volta. Então, tá. Na segunda-feira, finalmente de volta, estava agarradinha com ele e cobrindo meu filho de beijos quando mais uma vez disse a ele:

- Poxa, filho, eu estava com TAAAANTA saudade de você!! 
E Miguel respondeu:
- Tá bom, tá bom, mãe. Mas, olha, eu já estou aqui! Pertinho de você!

Tradução: pára de frescura que você não precisa mais falar desse assunto de saudade porque estou aqui abraçado a você, ok?

Ok. Falar o quê?

O final de semana seguinte à sua viagem à Bahia, foi o final de semana passado. Já estava pensando em um cineminha com ele e tínhamos uma festinha no domingo e ele sabia dos nossos planos. Só que Hugo foi com ele na casa da tia pra consertar alguma coisa por lá e voltou sozinho. Miguel não quis voltar pra casa. Ficou com os primos, brincando com os gatos. (Miguel ama bichos e eu não os tenho. Nem terei.) À noite, voltou pra casa e eu pensando que ele fosse ficar, enganei-me redondamente. Na verdade, o maroto veio apenas pedir pra dormir na casa da tia pra no domingo ir à praia com eles. Gabriela disse que estava tudo certo, dando o aval pra que ele passasse o resto do fim de semana com ela. E, assim, meu filho correu pro quarto pra gente preparar sua bolsa e ... tchau. 

Dois finais de semana seguidos sem filho. Não me entendam mal, não estou reclamando não. Foi até muito legal! Mas... Isso não era pra estar acontecendo um pouquinho mais tarde? Coloquei no mundo um cara do mundo mesmo! Imagina esse moleque com 16 anos? Vou ter que acorrentar ao pé da mesa. 

Ontem foi a festa de formatura da Rafa. Crianças com 11 anos na festa. Quase nenhuma criança da idade dele. Você pensa que ele ficou perto de mim, sentadinho, quietinho por não estar ambientado? Ha ha ha. Miguel só vinha à mesa pra comer, porque disso meu filho nunca esquece. É bom de boca o danadinho. Miguel brincava no meio das crianças de 11 anos, com a maior desenvoltura. Lá pela meia noite eu já estava caindo pelas tabelas e falei pra ele que precisava ir pra casa. Aí ele me perguntou:

- Minha Dida vai ficar? 

Respondi que sim, que ela ainda ficaria mais um pouco. Pronto, seu "problema" estava resolvido:

- Então vai pra casa descansar, mãe. Mas me deixa aqui com ela, pode ir embora com meu pai. Eu estou numa festa! Quero aproveitar! Vai lá... Não fica andando atrás de mim, não, tá, gostosinha? Pode ir pra casa sossegada!

Como é? Ele me disse pra "não ficar andando atrás dele?" Foi isso mesmo? Sei lá. Nem sei.

O que eu sei é que só recebo elogios a respeito do comportamento do meu filho quando não está comigo. Todos dizem que é educado e que obedece. A tia diz que ele não dá trabalho algum e que é uma criança que topa tudo e não tem frescura. Fico orgulhosa e feliz por ver que meu filho é bem feliz longe de mim. Bom ver que ele aproveita a vida e os momentos que ela vem lhe proporcionando. 

Confesso que talvez não estivesse preparada pra um filho tão independente quanto ele. Mas acho que é melhor assim. Deus me presenteou com o filho perfeito pra mim. Pra que reclamar? Deixa eu pensar nos 16 anos quando eles chegarem, né? 





terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Medo de ser Mãe






Eu morria de medo de ser mãe. E acho que uma das razões do meu medo era o fato de eu ter uma vida tão boa. Também por ter levado essa vida tão boa por tanto tempo. Aí, qualquer coisa que ameaçasse a tranquilidade que eu tinha me causava pavor. 

Eu não era uma menina que gostava de brincar de bonecas, nem de casinha. Minha irmã, sim, adorava ter várias bonecas, vários bebês. Eu achava chato ter bonecas e nem ligava pras que eu tinha. Meus pedidos de brinquedo eram sempre algo com que eu pudesse produzir alguma coisa: eu tive máquina de costura, forno elétrico onde adorava fazer bolos, espremedor de laranja, uma polaroid, uma máquina de escrever, enfim... Dificilmente eu pedia uma boneca de presente e não me lembro de ter pedido um conjunto de panelinhas daqueles que quase toda menina gostava de ter. Por isso, ser mãe era uma ideia meio distante e algo até sobre o qual eu não tinha pensado muito.

Como demorei a encontrar um cara que me desse segurança pra me arriscar nessa aventura, deixei o assunto arquivado. Só que quando conheci o Namorado e tudo fluia tão bem, tão sem drama e eu me sentia ao lado de alguém que, além de namorado, era meu amigo, meu parceiro de todas as horas e pra qualquer loucura e alguém que estaria ao lado na dificuldade de educar uma criança, a ideía começou a me rondar. E o medo também. E alguns podem pensar: "meu Deus, de que tanto essa mulher tinha medo?" 

Eram vários medos. Vários. A terapia de ajudou muito nisso. Mas vencer os medos era um processo só meu e não foi fácil. O primeiro e maior medo era o de perder minha liberdade, de perder meu direito de ir e vir quando tivesse vontade, o medo de não poder fazer planos que dependessem só de mim, de ter que contar com uma variável que fica doente, tem seu próprio querer, que depende de você, medo de me sentir presa. O segundo medo era de que, por causa de todos os medos citados acima, eu sofresse. E de que eu não conseguisse mais ser feliz por ter optado por ser mãe sem ter vocação pra tanto. A última coisa que eu queria no mundo era colocar a culpa por minha infelicidade e insatisfação em um filho, colocar a culpa em quem não tinha a menor culpa por uma escolha que era só minha. E, talvez, o maior e mais amedrontador: medo de não ser uma boa mãe. Medo de não conseguir dar ao meu filho o que ele precisa, de não ser capaz, de ser incompetente nessa coisa tão grandiosa que é a maternidade. Medo de abraçar o projeto que seria o maior e mais importante da minha existência sem ter os requisitos pra ter sucesso na empreitada. 

Engraçado é quando eu penso que a razão que me fez decidir querer ser mãe foi também um medo: o medo de o tempo passar e eu deixar tão pra depois que não fosse mais possível, caso eu mudasse de ideia tarde demais. Foi o medo de me arrepender da opção de não ser mãe que me fez vencer todos os outros medos. Na época, várias pessoas acompanharam minha dúvida. Uns cobravam uma decisão de minha parte de forma mais enfática. Outros confiavam tanto na sua própria experiência de maternidade que achavam que seria ótimo que eu vivesse o mesmo. E ainda havia os que também viviam seus próprios dilemas com relação ao assunto e se mostravam reticentes. Hoje, vejo que a maior parte acreditava em mim mais que eu mesma. Eles viam algo em mim que eu não conseguia entender ou enxergar.

A verdade é que com o Miguel nasceu uma Paula que eu não tinha a mais vaga noção que existia. A Paula mãe. Uma mulher que não abre mão do que quer e do que a faz feliz, mas que consegue colocar outra pessoa na frente de seu querer. Uma Paula capaz de tudo pra ver o filho bem, que viu um amor louco crescer no peito dia após dia, noite após noite. Ninguém me preparou pra algo tão difícil. Ninguém me disse que eu chegaria ao meu limite de cansaço, de desespero, muitas vezes de culpa. E que morreria de tanto amor por uma coisinha gorducha que mudou minha vida, que deixou meus dias de cabeça pra baixo, que bagunçou meus planos. Que me mostrou que tudo que eu temia, de fato, acontece, mas que você arranja um jeito de contornar, que você encontra um caminho, uma alternativa. Juntos. 

Agora eu vejo o porquê de todas as pessoas falarem tão pouco sobre as dificuldades da maternidade. Entendo, de todo coração. É porque, no fim das contas, assim como o meu medo de não poder ser mãe venceu todos os outros muitos medos que eu tinha, o lado bom de ser mãe sempre vence e sempre vencerá os muitos momentos difíceis da maternidade. O que fica, quando colocamos na balança, é a lembrança de um sorriso desdentado. É a mão gordinha apertando seu peito enquanto mama olhando pra você. É um par de pernas roliças aprendendo a andar, são as palavrinhas iniciais que  arrancam suas melhores gargalhadas quando estão aprendendo a falar, é o andar de mãos dadas indo pra escola, é o abraço gostoso e apertado que você ganha quando chega do trabalho, é o beijo de boa noite. O que fica é muito maior e melhor que todas as coisas ruins e difíceis. E é por isso que outras mães não falam tanto de seus medos e dores. Hoje eu entendo. E posso dizer que venci o medo de ser mãe. E digo também que não trocaria essa experiência e o amor do meu Miguel por nada, absolutamente nada, nesse mundo.