quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Filho da irmã







É óbvio que Miguel tem muito de mim e do pai. Muitas caras e bocas e gestos que faço quando estou falando ou contando uma estória, observo sendo repetidos na face do meu filho com uma frequência enorme. O jeito do Hugo em várias situações, enxergo no Miguel, além do jeito do corpo do pai, as pernas do pai, o andar do pai. Mas, na boa, nunca imaginei que teria um filho tão genioso como minha irmã!

A vida é muito engraçada mesmo... E é melhor a gente achar graça que chorar. Minha irmã e eu, como já disse aqui milhões de vezes, somos muito próximas, fomos criadas com os mesmos amigos, dividimos o mesmo quarto até adultas e, por isso, lógico que dividimos também as coisas ruins do temperamento uma da outra. Ela sempre se irritou por eu ser mais calma e gostar de passar horas na frente da televisão. A agonia dela em ter que ir pra rua brincar com algum vizinho também me atordoava. Eu ficava horas com um livro na mão, ela nunca conseguiu se concentrar muito em uma só atividade. Ela era a rainha do ping-pong enquanto eu mal conseguia segurar direito a raquete. Ela queria escolher a roupa que usaria com toda minúcia para estar, simplesmente, linda. Eu pegava a primeira que aparecia na minha frente. Minha irmã sempre foi irritadinha, encrenqueira, briguenta, chorona. Que temperamento! E eu que pensei que já havia pago os meus pecados convivendo com ela durante toda uma vida, me encontro hoje olhando pro meu filho e achando que ele poderia ter saído da barriga dela e não da minha. Pior, me vejo tendo que aguentar as mesmas birras e ataques que minha irmã sempre armou. 

Hoje, antes de ir pra escola, voltei 30 anos assistindo uma cena. Miguel corria na frente, indo para o banheiro tomar banho. Ele escorregou sozinho em seus próprios pés e caiu. Rapidamente, virou-se pra trás e colocou a culpa na Taninha, que vinha seguindo o Miguel pra lhe dar banho. Falou pra ela: "Viu o que você fez?" Heim?? Como assim? Taninha respondeu: "Miguel, eu não fiz nada! Você caiu sozinho!" Pra não se dar por vencido e vendo que eu vinha logo atrás, virou sua ira pra mim e disse: "Foi você , então, quem me empurrou!" Pronto, estava eu com 10 anos de idade de novo e sendo culpada pela milésima vez dos tropeços e tombos que minha irmã levou pelos nossos caminhos. Minha irmã NUNCA caiu sem que houvesse um culpado. Esse culpado era o infeliz que estivesse atrás dela naquele momento. Geralmente eu. E meu filho fez igualzinho a minha irmã sem nunca ter visto a cena acontecer. 

Resumindo, tem coisas que a gente herda e só pode ser no sangue. Só me faltava essa: ver no meu filho as coisas mais malucas da minha irmã e, pior, saber que terei que aguentar muitos desses ataques do meu filho até que eu dome a fera ou, então, que a vida o faça. Consolo é que se eu não conseguir, a vida consegue. Sempre consegue. Minha irmã que o diga...


sábado, 22 de setembro de 2012

E o dia começa antes das 6 da manhã

Com um tempinho gostoso desse a gente só devia ficar em casa na cama, vendo filmes, lendo um livro e comendo pipoca. Não devia ter trabalho... Devia ter o direito de ficar de preguiça. Não devia também valer ser acordada pelo filho antes das 6 da manhã!! 

Mas quem foi que disse que adianta falar pra filho que está muito cedo e que não é hora de acordar? Não, não adianta nada. Depois que a gente tem filho a gente acorda a hora que eles acordam. Que coisa mais louca, né? Além de rezar pra tanta coisa a gente ainda precisa lembrar de incluir nas orações que, pelo menos, no final de semana, em um dos dias, ou sábado ou domingo, o filho nos dê uma trégua e durma até tarde. E nas orações a gente só pede pelo sábado ou pelo domingo mesmo porque dormir até tarde nos dois seria muito luxo e não convém exagerar nos pedidos ao Senhor. Bom, não fui contemplada com essa graça hoje e Miguel achou por bem me acordar, sim, antes das 6 da manhã. Miguel olhou pra mim quando eu disse que estava com muito sono ainda e que queria dormir mais, com uma cara de quem não está entendendo, se dirigiu pra janela do quarto, ficou na ponta dos pés e abriu as cortinas em um só puxão! Com conhecimento de causa, falou: "Olha, mamãe, não está escuro!! Já está claro!! É hora de acordar, sim!"

Bom, pra tentar salvar o sono do Hugo já que o meu estava estragado, falei pra ele que eu ia dormir mais um pouco mas que ficaria com ele no quarto e colocaria um filme pra ele ver enquanto eu dormiria mais. Tudo bem. Assim foi. Só que de 15 em 15 minutos, geralmente quando eu estava conseguindo dormir de novo, Miguel me resgatava dos braços de Morfeu pra comentar alguma coisa do filme ou pra me perguntar porque todos ainda dormiam se estava claro lá fora... Ai, Cristo, dai-me paciência. 

Depois de quase dormir umas 10 vezes e ser interrompida por meu filho, falei pra ele parar quieto porque eu estava realmente com sono e que ainda tinha trabalho hoje. E aí ele veio para o ponto fraco de qualquer mãe: nunca querer que seu filho tenha fome! Miguel, espertamente, me falou: "Mas, mamãe, eu estou com fome... Vamos fazer um lanchinho na cozinha? Quero comer pão!" Diante disso, desisti de tentar dormir. Levantei, mais pra lá que pra cá e lá fui eu preparar o pão pro Miguel que, às 7:15 da manhã, já estava eufórico, feliz, feliz, tagarelando sobre tudo. 

Meu sábado promete...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Avô




Quase todos os dias, quando estou estacionando meu carro ao chegar no trabalho vejo passar um senhorzinho com sua netinha que deve ter uns 2 anos, se tanto. Um senhor curvado, bem idoso, com passos incertos, mas com a mão firme que segura a mão da sua neta em seu passeio matinal. Acho muito bonitinho, muito fofo mesmo e fico olhando aquela cena que se repete na mesma hora com um pouco de inveja daquela menininha. 

Eu nunca tive avô. Quer dizer, ter tenho, é claro, mas eles já eram falecidos quando nasci, o que quer dizer que nunca vivi esse relacionamento que só os avôs têm com suas netinhas. E eu queria muito ter tido um avô presente na minha vida, não só in memorian. E o engraçado é que, não sei se é assim na família de todo mundo, mas as estórias vão se repetindo na minha família. Meu filho não tem avô vivo. Meu sogro - que seria um ótimo avô pro Miguel, tenho certeza - faleceu bem antes de eu engravidar. E ele manifestou várias vezes sua vontade de ser avô novamente. Dizia até que me daria um elefantinho de ouro - sou louca por elefantes! - a cada neto que eu lhe desse... Imagina... 

Fico um pouquinho melancólica quando penso que meu filho não tem seus avôs vivos pra pegar em sua mãozinha e levá-lo pra passear, pra fazer suas vontades. Não sei, mas deve ser diferente avó de avô. Fico melancólica um tanto porque eu gostaria que ele vivesse essa relação de avô-neto e outro tanto, talvez o maior deles, porque não tenho meu pai aqui pra ver o Miguel. Eu adoraria ver o Seu Mariano se relacionando com seus netos, não só o Miguel mas com as meninas da minha irmã também. Imagino aquele coração que muitas vezes não se derreteu nem por nós, suas filhas, se desmanchando todo com as gracinhas dos netos, principalmente as do meu filho já que ter uma criança do sexo masculino seria novidade na vida do meu pai, tanto quanto foi na minha. Imagino meu pai levando meu filho pro botequim com ele, pra jogar conversa fora junto com os amigos loucos do avô, mesmo contra minha vontade. Imagino os dois assistindo aos jogos do Vasco, imagino meu pai rindo todas as vezes que meu filho fala um palavrão ou xinga alguém mesmo se eu estivesse repreendendo o Miguel. Imagino meu pai cortando as frutinhas que o Miguel tanto gosta de comer, assim como o avô, sentados na cozinha juntos. Consigo enxergar o Miguel falando pro meu pai: "Vovô, posso ir a feira com você comprar frutinha?" 

Enfim, eu sempre quis muito ter um avô. E não tive. Quando conheci o Hugo, pensei que ainda bem que o pai dele era vivo pra eu poder dar um avô pro meu filho, caso decidisse tê-lo. Ledo engano, ele se foi também. E o que dói mais, é essa falta danada que o meu pai me faz, é essa vontade de ter visto meu pai no papel de avô. E hoje, por causa dessa falta e por poder imaginar todas as cenas que se formam em minha mente quando penso no Seu Mariano junto com o sacana do Miguel é que vejo que é realmente possível, como já dizia Renato Russo, ter saudade do que eu ainda não vi. Ah, Pai... Como eu gostaria de ter você aqui comigo... Como eu gostaria que você conhecesse meu marido, conhecesse seu neto. Como eu gostaria de ver você sendo avô. Fica pra próxima. Por hora, só pra você não esquecer do meu amor, receba, onde quer que você esteja  -e não sei explicar, mas sinto que você está aqui agora, bem perto de mim - meu beijo e ouça sua filha dizer: eu te amo! E pros sortudos que ainda tem por perto seus avós, seus pais e aquelas pessoas que amam, fica a dica: aproveitem cada momento, porque a vida é linda mas é breve. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As Pontes de Madison



Eu amo cinema. Minha vida seria menos feliz se não fizesse parte dela essa arte pela qual sou tão apaixonada. Cinema e música são duas coisas que são quase essenciais pra mim. Meu programa predileto é ir ao cinema com o Namorado e já procurei iniciar o Miguel nessa paixão. Pelo que vejo, Miguel também será um apaixonado, ele já curte muito ir ao cinema. 

Muitos filmes são inesquecíveis pra mim. Muitos marcaram época em minha vida, muitos têm cheiro de flashback, uns marcaram pela sensação que deixaram registrada na minha alma ao deixar a sala de projeção: medo, angustia, felicidade, amor. Mas tem um filme, em especial, que me marcou muito pela sensibilidade,  pela grandeza do sentimento que me atingiu quando o vi a primeira vez, por sua história de amor linda. Engraçado que não vi "As Pontes de Madison" no cinema. E esse filme merecia ter sido visto em uma tela enorme, no escuro, sem interrupções. Ainda assim, mesmo tendo assistido o filme em minha casa, fiquei tão tocada, tão mexida, que após o término do filme, ainda me vi chorando por uns bons 15 minutos. 

A primeira vez que vi "As Pontes de Madison" foi há alguns anos, depois disso já o assisti de novo algumas vezes. Meu sentimento é sempre o mesmo, minha emoção também. Choro a mesma quantidade de vezes, nas mesmas cenas, só que toda vez que estou tranquila e preparada pra carga emocional que sinto ao ver o filme de novo, consigo achar mais e mais poesia e beleza nessa obra de arte.

Pra variar, Meryl Streep foi indicada ao Oscar por sua atuação nesse filme e Clint Eastwood estava maravilhoso. Excelentes atores, nos levam, através de uma história linda, a refletir sobre amor verdadeiro, sobre a importância da família, sobre do quanto podemos abrir mão em nossa vida e se devemos ou não abrir mão de um grande amor, faz refletir sobre escolhas. Mais ainda, faz pensar a respeito da intensidade com que certas coisas acontecem em nossas vidas e, de tão intensas, mesmo que durem apenas 4 dias, deixam marcas eternas. 

Nos quatro dias em que o amor aconteceu pra Francesca e Robert, ela redescobre a mulher que ficou escondida por suas escolhas. Escolhas pelas quais ela é responsável. Somos nossas escolhas e não podemos nos livrar disso onde quer que a gente vá. Há certas coisas que, hoje, uma mulher casada, não posso viver. Tenho responsabilidade com minha família, com a vida que escolhi levar. Não digo isso com um quê de arrependimento ou com uma pontinha de quem acha que está perdendo alguma coisa. De jeito nenhum: escolhi estar casada com esse homem, construindo essa vida que estamos levando. Mas é preciso ter plena consciência de que escolher é não poder ter tudo. Não se pode ter tudo. Fato. E a personagem do filme sabe disso. No caso da Francesca, uma mulher que parecia invisível para o marido e filhos, seu encontro com esse grande amor, foi um encontro com ela mesma, foi como se se tornasse visível novamente. E é lindo observar isso tudo acontecendo. 

Em determinado momento do filme, quando Robert e Francesca estão em seu último dia juntos, ela fala pra ele:  "Ninguém entende que quando uma mulher resolve casar e ter filhos, por um lado sua vida se inicia, por outro termina. Ela constrói uma vida de detalhes e simplesmente pára, fica imóvel para que seus filhos se movimentem. E quando eles se vão, levam sua vida de detalhes com eles. Espera-se que você retome sua vida. Mas do que era mesmo que você gostava? Ninguém perguntou nesse meio tempo. Nem eles. Nem o marido. Nem você mesma."  

Essa parte me marcou muito. É muito importante que a gente nunca perca quem realmente somos, independente de nossos filhos, de nosso marido ou da vida que a gente leva com nossa família. Não quero olhar pro Hugo um belo dia e me perguntar porque ainda estou casada com ele. Não quero, quando meu filho tiver sua própria vida, seus amigos, sua vida social, olhar pro Hugo e perguntar: "E agora? O que a gente vai fazer? Do que a gente gosta mesmo, além de cuidar do Miguel?" É por isso que não deixo de sair a sós com ele, não deixo de viajar. Mesmo que doa um pouquinho. 

Enfim, esse filme é lindo demais e dá tema pra muitas e muitas reflexões. Todo mundo deveria assistir. É mais tocante pra alguns que pra outros, é claro. Mas, mesmo que a história não seja tão comovente pra você quanto é pra mim, só a atuação desses dois monstros do cinema já vale o tempo dedicado ao filme.  Pra mim, é imperdível. Está na minha listinha dos 10 melhores ever










segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Vida que segue






É engraçado pensar que só 3 anos e pouco depois que o Miguel nasceu, algumas coisas da vida antiga que eu levava começam a voltar pro lugar. Esse final de semana que passou foi o primeiro em que eu e o Namorado não trabalhamos no sábado e ficamos em casa juntos, como nos velhos e bons tempos em que nossa vida era só nossa. 

Eu e Hugo trabalhamos aos sábados, de 15 em 15 dias, e antes de termos o Miguel nos programávamos  para trabalhar nos mesmos sábados de forma que tivéssemos um final de semana inteiro pra gente. Com o Miguel em nossas vidas, esse planejamento acabou e deu lugar a outro, justamente contrário: fizemos nossa escala de forma que eu ficasse em casa no sábado em que ele tivesse que trabalhar e vice-versa. Assim, um de nós sempre estaria disponível pra ficar com o Miguel sem ter que pedir ajuda pra minha irmã, meu cunhado ou pra Taninha. Um bebê pequeno sempre precisa de colo e minha mãe não poderia me ajudar se tivesse que ficar com o Miguel quando era um bebê. Então, meu final de semana com o Hugo se resumiu, durante esses três anos, ao domingo. Passávamos os sábados separados porque quando ele estava em casa, eu estava trabalhando e quando ele estava trabalhando era eu que estava em casa. 

De uns 3 meses pra cá, observando que Miguel já é uma criança que não precisa de colo, não pede colo e que gosta de ficar vendo seus filmes e brincando com seus bonecos e carrinhos em seu quarto, pensamos na possibilidade de igualarmos novamente nossas escalas para termos o final de semana inteiro juntos. Minha mãe já dá conta de ficar com ele sem mais ninguém por perto. Então, esse final de semana que passou, depois de 3 anos, passamos juntos, inteirinho juntos. E é muito legal observar agora, depois que a fase inicial de furacão total já passou, que, aos pouquinhos, estamos conseguindo retomar velhos hábitos, coisas que gostávamos de fazer e que não pudemos nesse período inicial da vida do Miguel. 

Pode parecer uma coisa à toa, uma bobeira, mas ter um final de semana inteiro juntos - é claro, com a presença do meu filho, não estamos mais só nós dois - foi maravilhoso. Teve um gostinho de reaver algo que se perdeu, sabe? Foi como encontrar um amigo que não vemos há muito tempo. Eu tive uma sensação gostosa de ter uma parte da minha vida antiga de volta e foi muito bom. Deu pra acreditar que, é verdade, nossa vida nunca mais vai ser igual a vida de um casal sem filhos, mas que, mesmo devagar, a gente vai recuperando algumas coisas que nos davam prazer. 

E aí, começo a observar algo muito bonito que está começando a acontecer com meu filho... Cada vez mais observo o Miguel indivíduo, separado do papai e da mamãe. Estou vendo acontecer, bem na minha frente, uma transformação que começa a ficar mais palpável agora: meu filho está se mostrando pro mundo. Mais que isso, Miguel está desbravando esse mundo corajosamente. Miguel está começando a dizer a que veio, colocando pra fora seus gostos e desgostos. Miguel está abrindo a boca pra dizer "NÃO" e "SIM" , pra mim, pra ele mesmo, pra vida. 

É chegada a hora de ficar bem atenta pra não perder nem o menor dos detalhes porque meu filho está ganhando esse mundo, está tendo seus próprios interesses e eu estou achando lindo ver suas asinhas, ainda pequenas e curtas, nascerem em suas costas. Asas que daqui um tempo vão estar grandes e vistosas, asas que o Miguel vai abrir e que vão levá-lo por aí, voando pra lugares em que nem sempre eu estarei. Tudo bem, só quero que Deus me conceda a graça de ver, mesmo que de longe, meu filho voando alto, livre, senhor de si, dono de suas escolhas, do seu nariz e da sua vida. E eu, que decidi ser mãe tarde, só peço, com todo meu coração, que eu esteja viva pra ver esse voo do meu filho e que seja um voo bonito, seguro e cheio de amor.